domingo, 16 de abril de 2017

Educação Artística


 1.     A Arte Barroca
 2.     A Arte Contemporânea no Brasil
 3.     A Arte Na Pré-História
 4.     A Arte Renascentista
 5.     Arte Brasileira do Século Xix: O Neoclassicismo
 6.     Arte Colonial Brasileira
 7.     A História Educativa em Arte
 8.   ARNHEIM, Arte & Percepção Visual - Uma Psicologia da Visão Criadora
 9.     BARBOSA, Ana Mae T. B. Teoria e Prática da Educação Artística.
10.     BARBOSA, Ana Mae. Inquietações e Mudanças no Ensino da Arte
11. BARROS. A Cor no Processo Criativo
12.  CAUQUELIN, Anne. Teorias da Arte
13.  Classicismo
14.  CUNHA, Susana Rangel Vieira da. Como Vai a Arte na Educação Infantil?
15.  DANTO, Arthur C. Após o Fim da Arte. A Arte Contemporânea e os Limites da História
17.  FUSARI, Maria R.; FERRAZ, Maria H. Arte na Educação Escolar
18.  HEINICH, Nathalie. A Sociologia da Arte
19.  HERNANDEZ, Fernando. Cultura Visual, Mudança Educativa e Projeto de Trabalho.
20.  HERNANDEZ, Fernando. Catadores da Cultura Visual.
21. Metodologia do Ensino da Arte
22.Os Significados da Arte e da Filosofia da Arte
23.  OSINSKI, Dulce. Arte, História e Ensino: Uma Trajetória
24.  Principais Movimentos Artísticos do Século XX
25. DONDIS, Sintaxe da Linguagem Visual 
          Sociologia da Arte
          Links:


            A ARTE BARROCA
             O caráter transitório que marcou os primeiros tempos do período moderno é alvo de um amplo estudo que se esforça em considerar as permanências e transformações experimentadas neste período. A expansão marítima, o Renascimento, a descoberta do Novo Mundo, as novas religiões protestantes, a consolidação do poder monárquico integram uma gama de acontecimentos complexos que irão reverberar nas diversas instâncias de ordem social, política e econômica.
            Na esfera artística, temos a ascensão de novos padrões estéticos que procuravam superar todo aquele rigor proveniente dos princípios de simetria e equilíbrio valorizados pelo Renascimento. Entre outras mudanças, percebemos o surgimento de pinturas e esculturas marcadas por formas retorcidas e tensas. A preocupação em reforçar o racionalismo e equilibrá-lo com as emoções perde campo para uma arte mais emotiva e cotidiana.
            Foi nessa tendência que a arte barroca ganhou espaço e passou a inaugurar um novo período na arte europeia, que já havia experimentado dos valores estabelecidos pela renascença. Na chamada arte barroca notamos uma preocupação menor com as formas e as linhas utilizadas na criação de uma pintura ou escultura. A valorização das cores e a contraposição de luzes e sombras tinham grande importância na demonstração dos gestos e estados de espírito do homem.
            Na trajetória do barroco também devemos contabilizar o papel exercido pela Igreja, preocupada naquele momento em frear os avanços do protestantismo e da renascença. O enfraquecimento do poder católico promoveu a disseminação dessa arte sinuosa e dramática utilizada como meio de reafirmação dos valores cristãos por meio de imagens que pretendiam causar impacto semelhante ao das esculturas. Não por acaso, o barroco nasce na Itália, centro do poder católico, e ganha igual força entre os países ibéricos.
            A história e atributos de santos e mártires católicos se viam representados com bastante frequência na pintura, nas esculturas e construções do período. Os elementos eram dispostos de uma maneira pouco assimétrica, assumindo na maioria das vezes uma organização diagonal. Paralelamente, podemos também destacar um tipo de realismo que tentava captar situações cotidianas vividas por pessoas simples, propondo um contraste à reprodução das autoridades monárquicas que se firmavam na época.
            Na pintura barroca podemos destacar algumas importantes obras como “Cristo em Casa de Marta e Maria” (1578), do pintor italiano Tintoretto; “Deposição de Cristo” (1602), de Michelangelo Merisi da Caravaggio; “Espólio” (1579), do pintor espanhol El Greco; “A Lição de Anatomia do Doutor Tulp” (1632), do artista holandês Rembrandt Harmenszoon van Rijn; e “Moça com brinco de pérola” (1665), do pintor Johannes Vermeer.
            Na escultura e na arquitetura também possuímos um grande acervo de obras barrocas onde damos especial destaque a obras como “Êxtase de Santa Teresa” (1645 – 1652), do escultor italiano Gian Lorenzo Bernini; a “Igreja de Santa Maria della Pace” (1656 – 1657), projetada por Pietro de Cortona; “San Carlo alle Quattro Fontane”, do construtor italiano Francesco Borromini.
Por Rainer Sousa
Graduado em História

A ARTE CONTEMPORÂNEA NO BRASIL

     O Brasil acompanha os movimentos artísticos internacionais com uma menor distância de tempo. Tal qual no exterior, a Arte Contemporânea começa a mostrar-se a partir da década de 50. Na década de 60 surge o Tropicalismo e sua contestação à política vigente através da arte; a década de 70 caracteriza-se pelas noções de conceito e tecnologia a serviço da arte; já na geração 80 produz-se uma arte de caráter festivo e alegre.
     Em 20 de outubro de 1951, um acontecimento deu abertura a uma grande movimentação no campo artístico brasileiro, a realização da primeira Bienal de São Paulo que contou com 1.854 obras representando 23 países. Uma proposta de Ciccillo Matarazzo para a realização de uma grande mostra internacional inspirada na Bienal de Veneza.
            A década marca também o ressurgimento, do Abstracionismo: Geométrico e Informal. O primeiro propõe a ruptura com a arte figurativa, baseando-se no neoplasticismo de Piet Mondrian. É adotado em São Paulo pelo Grupo Ruptura, em 1952, e no Rio de Janeiro com o Grupo Frente, em 1954. O segundo, não se organiza em torno de grupos e teorias. Na verdade, seu pressuposto básico é a liberdade individual de cada artista para a expressão de sua subjetividade. Inspira-se nas idéias e experiências do pintor Wassily Kandinsky.
  O Neo-concretismo foi o movimento das artes plásticas, genuinamente brasileiro, que começa em 1957, no Rio de Janeiro, alguns artistas aliam sensualidade ao Concretismo. Um expoente do movimento é o artista Hélio Oiticica.
       Os anos 60 favoreceram o declínio da abstração e o surgimento de uma produção artística que capta o consumo e a comunicação de massa, sugeridos pela influência da Arte Pop americana, além de promover opinião política e a militância por conta da repressão, da censura e pela referência do Tropicalismo.
     A arte da década de 70 afasta-se da política e dos problemas sociais. É caracterizada pela emblematização da reflexão, da razão, do conceito e tecnologia. A Exposição Internacional de Arte por Meios Eletrônicos / Arteônica dá abertura à arte tecnológica, realizada com ajuda de computador. A Fundação Nacional de Arte (FUNARTE) é criada nesse período dando grande incentivo à produção artística brasileira.
     O momento de transição para a década de 80 foi marcado pela insígnia das diretas já, pela retomada da pintura e pelas mudanças no panorama artístico, marcado por grandes exposições como: Tradição e Ruptura, 1984; A Trama do Gosto, 1987 (organizadas pela Bienal de São Paulo); A Mão Afro-Brasileira, 1988 (organizada pelo Museu de Arte Moderna de São Paulo).
A arte efêmera também é fruto desse momento utilizando os mais diversificados materiais para compor o objeto artístico. Para o poeta, ensaísta e crítico de arte, Ferreira Gullar (agosto,2002),
   [...] A arte conceitual não propõe nada. Apenas adotou, como fundamento ideológico, o caráter efêmero que o consumismo impôs à sociedade atual [...] fazer da arte expressão do efêmero é chover no molhado. Efêmeros somos nós mesmos e quase tudo a nossa volta.
     A arte contemporânea brasileira dos anos 90 desenvolve características da arte que está sendo feita em outros países, como, por exemplo, fazer o público participar, até mesmo interferir na obra de arte. Atitude apresentada nas diversas feiras internacionais de Artes Plásticas assim como nas diversas bienais. 

    No Brasil, Adriana Varejão pinta fachadas de azulejaria portuguesa sangrando como se em carne viva, criando um potente comentário sobre a história colonial e seus rastros de sofrimento. Ernesto Neto constrói com náilon, espuma e enchimentos, verdadeiras metáforas de nossos órgãos e peles.
     Em meio a múltiplas possibilidades de usos de materiais, espaços e tempos, a arte contemporânea não separa a rua e o museu. O coreógrafo Ivaldo Bertazzo mescla tradições étnicas milenares com o gestual urbano de crianças e jovens de favelas brasileiras. O músico Naná Vasconcelos utiliza com precisão sons do corpo e voz de milhares de pessoas e afirma que Vila-Lobos é um “genuíno músico popular, já que consegue fazer ecoar os sons do povo, ainda que de forma sinfônica”.
      Dessa forma, pode-se concluir que todos os fatos sociais que envolvem a humanidade, acabam por refletir na arte. A evolução humana é fator preponderante para o desenvolvimento e até mesmo para a significação deste termo. Até pouco tempo atrás, estas manifestações artísticas que hoje são consideradas arte, não o eram. Prova disso são as Bienais de arte que nos surpreendem a cada nova edição. 
       Como o exemplo da artista paulista Renata Lucas, que interagiu a sua obra com a arquitetura. Para a 27ª Bienal de São Paulo, Renata Lucas duplicou uma calçada na R. Brigadeiro Galvão, na Barra Funda, zona oeste de São Paulo. Em cima da calçada original, ela fez outra. Duplicou também a linha de postes de iluminação que já existia no local e o conjunto de arbustos e vegetação já existentes. Diz a artista: “Meus trabalhos partem de uma característica do lugar (forma, material, aspecto uso) e constroem algo quase igual, porém diferente. É uma realidade se sobrepondo a outra em camadas de tempo; os eventos se embaralham, tornando-se mais ou menos reais”.
       Felizmente, a arte tem essa liberdade, ou melhor, a arte é essa liberdade suprema de manifestação do que se sente, se pensa e se vive.
         A ARTE NA PRÉ-HISTÓRIA
Consideramos como arte pré-histórica todas as manifestações que se desenvolveram antes do surgimento das primeiras civilizações e portanto antes da escrita. No entanto isso pressupõe uma grande variedade de produção, por povos diferentes, em locais diferentes, mas com algumas características comuns.
    A primeira característica é o pragmatismo, ou seja, a arte produzida possuía uma utilidade, material, cotidiana ou mágico-religiosa: ferramentas, armas ou figuras que envolvem situações específicas, como a caça. Cabe lembrar que as cenas de caça representadas em cavernas não descreviam uma situação vivida pelo grupo, mas possuía um caráter mágico, preparando o grupo para essa tarefa que lhes garantiria a sobrevivência.
      As manifestações artísticas mais antigas foram encontradas na Europa, em especial na Espanha, sul da França e sul da Itália e datam de aproximadamente de 25000a.C., portanto no período paleolítico. Na França encontramos o maior número de obras pré históricas e até hoje em bom estado de conservação, como as cavernas de Altamira, Lascaux e Castilho
                Arquitetura
    Os grupos pré-históricos eram nômades e se deslocavam de acordo com a necessidade de obter alimentos. Durante o período neolítico essa situação sofreu mudanças, desenvolveram-se as primeiras formas de agricultura e consequentemente o grupo humano passou a se fixar por mais tempo em uma mesma região, mas ainda utilizavam-se de abrigos naturais ou fabricadoscom fibras vegetais ao mesmo tempo em que passaram a construir monumentos de pedras colossais, que serviam de câmaras mortuárias ou de templos. Raras as construções que serviam de habitação.
  Essa pedras pesavam mais de três toneladas, fato que requeria o trabalho de muitos homens e o conhecimento da alavanca.
 Esses monumentos de pedras foram denominados "megalíticos" e podem ser classificados de: dólmens, galerias cobertas que possibilitavam o acesso a uma tumba; menires, que são grandes pedras cravadas no chão de forma vertical; e os cromlech, que são menires e dólmens organizados em círculo, sendo o mais famoso o de Stonehenge, na Inglaterra.
        Também encontramos importantes monumentos megalíticos na Ilha de Malta e Carnac na França, todos eles com funções ritualísticas.
                      Escultura
   A escultura foi responsável pela elaboração tanto de objetos religiosos quanto de utensílios domésticos, onde encontramos a temática predominante em toda a arte do período, animais e figuras humanas, principalmente figuras femininas, conhecidas como Vênus, caracterizadas pelos grandes seios e ancas largas, são associadas ao culto da fertilidade;
Entre as mais famosas estão a Vênus de Lespugne, encontrada na França, e a Vênus de Willendorf, encontrada na Áustria foram criadas principalmente em pedras calcárias, utilizando-se ferramentas de pedra pontiaguda.
     Durante o período neolítico europeu (5000aC - 3000dC) os grupos humanos já dominavam o fogo e passou a produção de peças de cerâmica, normalmente vasos, decorados com motivos geométricos em sua superfície; somente na idade do bronze a produção da cerâmica alcançou grande desenvolvimento, devido a utilização na armazenagem de água e alimentos
                Pintura
     As principais manifestações da pintura pré-histórica são encontradas no interior de cavernas, em paredes de pedra e a princípio retratavam cenas envolvendo principalmente animais, homens e mulheres e caçadas, existindo ainda a pintura de símbolos, com significado ainda desconhecido. Essa fase inicial é marcada pela utilização predominantemente do preto e do vermelho e é considerada portanto como naturalista.
    No período neolítico a pintura é utilizada como elemento decorativo e retratando as cenas do cotidiano. A qualidade das obras é superior, mostrando um maior grau de abstração e a utilização de outros instrumentos que não as mãos, como espátulas.
     Por volta de 2000aC as características da pintura a apresentavam um nível próximo à de formas escritas, preservando porém seu caráter mágico ou religiosos, celebrando a fecundidade ou os objetos de adoração (totens).


A ARTE RENASCENTISTA
INTRODUÇÃO 
Na medida em que o Renascimento resgata a cultura clássica, greco-romana, as construções foram influenciadas por características antigas, adaptadas à nova realidade moderna, ou seja, a construção de igrejas cristãs adotando-se os padrões clássicos e a construção de palácios e mosteiros seguindo as mesmas bases. 
ARQUITETURA 
Os arquitetos renascentistas perceberam que a origem de construção clássica estava na geometria euclidiana, que usava como base de suas obras o quadrado, aplicando-se a perspectiva, com o intuito de se obter uma construção harmônica. Apesar de racional e antropocêntrica, a arte renascentista continuou cristã, porém as novas igrejas adotaram um novo estilo, caracterizado pela funcionalidade e portanto pela racionalidade, representada pelo plano centralizado, ou a cruz grega. Os palácios também foram construídos de forma plana tendo como base o quadrado, um corpo sólido e normalmente com um pátio central, quadrangular, que tem a função de fazer chegar a luz às janelas internas 
ESCULTURA 

Pode-se dizer que a escultura é a forma de expressão artística que melhor representa o renascimento, no sentido humanista. Utilizando-se da perspectiva e da proporção geométrica, destacam-se as figuras humanas, que até então estavam relegadas a segundo plano, acopladas às paredes ou capitéis. No renascimento a escultura ganha independência e a obra, colocada acima de uma base, pode ser apreciada de todos os ângulos. 
Dois elementos se destacam: a expressão corporal que garante o equilíbrio, revelando uma figura humana de músculos levemente torneados e de proporções perfeitas; e as expressões das figuras, refletindo seus sentimentos. Mesmo contrariando a moral cristã da época, o nu volta a ser utilizado refletindo o naturalismo. 
Encontramos várias obras retratando elementos mitológicos, como o Baco, de Michelangelo, assim como o busto ou as tumbas de mecenas, reis e papas.
PINTURA 
Duas grandes novidades marcam a pintura renascentista: a utilização da perspectiva, através da qual os artistas conseguem reproduzir em suas obras, espaços reais sobre uma superfície plana, dando a noção de profundidade e de volume, ajudados pelo jogo de cores que permitem destacar na obra os elementos mais importantes e obscurecer os elementos secundários, a variação de cores frias e quentes e o manejo da luz permitem criar distâncias e volumes que parecem ser copiados da realidade; e a utilização da tinta à óleo, que possibilitará a pintura sobre tela com uma qualidade maior, dando maior ênfase à realidade e maior durabilidade às obras. 
Em um período de ascensão da burguesia e de valorização do homem no sentido individualista, surgem os retratos ou mesmo cenas de família, fato que não elimina a produção de caráter religioso, particularmente na Itália. Nos Países Baixos destacou-se a reprodução do natural de rostos, paisagens, fauna e flora, com um cuidado e uma exatidão assombrosos, o que acabou resultando naquilo a que se deu o nome de Janela para a Realidade. 
As obras abaixo são de Antonio Allegri (Corregio) e refletem bem o espírito do renascimento, caracterizadas por elementos que remontam ao passado clássico, elementos religiosos e por grande sensualidade, destacando a perfeição das formas e a beleza do corpo, junto a presença de anjos.  
http://www.historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=215                                                                                           
ARTE BRASILEIRA DO SÉCULO XIX: O NEOCLASSICISMO
Por Danilo Sá de Moura
            RESUMO
            O Brasil no século XIX passa por suas mudanças mais profundas. No império, o estilo neoclássico contribui para divulgar de forma idealizada, as grandes conquistas do país. A Academia Imperial de Belas Artes vai marcar uma nova fase no método de ensino, baseado exclusivamente nas teorias neoclássicas.
            A arte brasileira, antes, incentivada principalmente pela igreja católica, baseava sua produção ao redor do tema religioso, no século XIX com o advento da arte neoclássica, retorna aos antigos temas clássicos, voltados para o homem.
            O texto pretende analisar de forma preliminar o neoclassicismo no Brasil e sua importância para o país no século XIX.
PALAVRAS-CHAVE: Neoclassicismo, Arte brasileira, Academia Imperial de belas Artes.
            A CHEGADA DA MISSÃO ARTISTICA FRANCESA NO BRASIL
            O inicio do séc. XIX no Brasil é marcado com a chegada do príncipe regente e da corte portuguesa no ano de 1808, estabelecida no Rio de janeiro, esse estado a partir de então, por ordens de D. João VI, começa a passar por suas mais profundas transformações políticas, econômicas, culturais e sociais com o objetivo de igualar o Brasil aos países Europeus:
            Como o Rio de Janeiro era, desde 1808, a nova sede do Império, Dom João VI devia dotar a cidade de uma infraestrutura que refletisse, substancial e simbolicamente, a grandeza da monarquia europeia. Dedicando o segundo decênio do século XIX á transformação da antiga colônia em reino, o regente toma certo número de medidas que permitem ao Brasil reduzir sua dependência de Portugal. (Albuquerque, A. C.; Duque, A. F.; Soares, R. A Pintura em Foco: O Neoclassicismo em uma Abordagem Historiográfica. Ano. II, N. 1, p. 5. 2008).
            No âmbito artístico, a maior mudança aconteceu com a chegada, em 26 de março de 1816, da missão artística francesa, um grupo de renomados artistas, sob a liderança de Joachim Lebreton, que vieram ao Brasil com o propósito de fundar uma Academia Imperial de Belas Artes e atualizar o cenário artístico brasileiro, que ainda se encontrava ligado à arte colonial de grande cunho religiosa. Efetivamente, esta academia seria inaugurada somente em 1826, entretanto, mudou a concepção estética do país, disseminando um ensino baseado nos idéias do neoclassicismo, conforme aponta Pereira (2008:15), “A Academia inaugurou no país o ensino artístico em moldes formais, em oposição ao aprendizado empírico dos séculos anteriores.”
            Faziam parte da missão o pintor e desenhista Jean-Baptiste Debret, o pintor especialista em paisagem Nicolas Antoine Taunay, o gravador Charles Simon Pradier (que logo regressaria à França em 1818), o escultor Auguste-Marie Taunay, o arquiteto Grandjean de Montigny e admitidos posteriormente os dois escultores e gravuristas Marc e Zépherin Ferrez. Da procedência desta missão, destacam-se duas:
            A primeira afirma que, por sugestão do conde da Barca, o príncipe Dom João requer ao marquês de Marialva,[...] a contratação de um grupo de artistas capaz de lançar as bases de uma instituição de ensino em artes visuais na nova capital do reino. [...] Marialva chega a Lebreton, que se encarrega de formar o grupo. A outra versão afirma que os integrantes da missão vêm por iniciativa própria, oferecendo seus serviços à corte portuguesa. [...] partidários de Napoleão Bonaparte, os artistas se sentem prejudicados com a volta dos Bourbon ao poder. Decidem vir para o Brasil e são acolhidos por D. João [...]
            A ACADEMIA IMPERIAL DE BELAS ARTES
          O ensino na Academia Imperial de Belas Artes, com uma instrução voltada aos fundamentados do estilo neoclássico, proporcionou aos alunos o conhecimento da produção técnica da obra de arte, além de ampliar o repertório cultural e atualizar o cenário artístico brasileiro com a Europa:
            O modelo de ensino da Academia Imperial seguia os cânones da Ecole des Beaux-Arts, de Paris. Seus primeiros professores traziam na sua formação os conceitos e fundamentos da tradição neoclássica francesa (...) e, as difundiram entre os alunos da academia, como o ideal, a meta para todo jovem estudante de arte, tornar-se um grande artista.
            Assim como qualquer outra instituição de ensino, a AIBA (Academia Imperial de Belas Artes) baseava seu currículo metodológico em teorias e regras rigorosas de aprendizado, cópia de obras originais dos grandes mestres da Europa, desenho de observação, memorização, modelo nu. Estava lançado o modelo de ensino que se disseminaria por todas as escolas do país e que caracterizaria o século XIX:
            No ensino, nessa orientação predominava basicamente o exercício formal da produção de figuras, do desenho do modelo vivo, do retrato, da cópia de estamparias, obedecendo a um conjunto de regras rígidas. No texto legal, o ensino da arte nos moldes neoclássico era caracterizado como acessório; um instrumento de modernização de outros setores, e não como uma atividade com importância em si mesmo.
            De fato, a AIBA passaria por bons momentos com a direção de duas pessoas, os quais introduziram algumas mudanças, foram eles: o pintor e professor de desenho Félix Émile Taunay (diretor entre 1834 a 1851) e o pintor, arquiteto, poeta e dramaturgo gaúcho Manuel de Araújo Porto Alegre (diretor entre 1854 a 1857). Taunay foi quem organizou as exposições gerais e ofereceu como prêmio, bolsas de estudos à Europa para os alunos que mais se destacassem. Porto Alegre se preocupou com o sistema de ensino da Academia. A AIBA, prova com esses dois personagens, um período de grande estabilidade.
            A partir do penúltimo decênio do século XIX, a Academia passa por crises financeiras, grande aperto em oferecer bolsas de estudos e dificuldades em realizar as exposições gerais. O sistema de ensino e algumas situações precárias de estudo já estavam sendo duramente criticadas até mesmo por alunos, e especialmente pelo maior crítico de arte da época: Gonzaga Duque, um não adepto do neoclassicismo:
            Ah! Se o artista em lugar de encher a sua tela decorativa de tanta riqueza de estofos, colunas de mármore, e tapetes e flores e ânforas, tivesse pintado uma paisagem do Amazonas, a mata virgem daquela região vastíssima! Talvez tivesse interpretado o assunto.
            Em 1980, com o período republicano e o crescente pedido de modernização, a academia passa a se chamar Escola Nacional de belas Artes, novos professores e diretores são admitidos, entretanto, essas mudanças ainda não foram suficientes:
Na verdade, não houve grandes mudanças na estrutura curricular nem nos métodos de ensino. O que houve foi principalmente uma grande mudança no quadro docente. Os velhos mestres – como Vitor Meireles e Pedro Américo – foram aposentados, e uma nova geração assume a escola.
            A PINTURA NEOCLÁSSICA NO BRASIL
            Com a chegada da missão artística francesa, o estilo acadêmico neoclássico é afirmado e desde então, a preferência se faz por obras que privilegiem e enunciem as qualidades artísticas questionadas pela antiguidade clássica; o equilíbrio, a clareza, a proporção, o belo, temas heróicos, alegorias e idealização. Desse modo, é classificado como inadequada e de mau-gosto a arte colonial barroca, com seus excessos de emoção e inspiração religiosa.
            Assim, passam a ser consideradas de mau-gosto e vistas como liberdades inadmissíveis a representação de anjos, apóstolos, da virgem e de Cristo como mulatos ou caboclos, como vazia o mestre colonial Manuel da Costa Ataíde. (...) Foram igualmente banidos os frutos e folhagens autóctones usados na talha decorativa barroca e a arquitetura cheia de curvas foi substituída por formas retilíneas e estáticas.
            No Brasil Império (1822 – 1889), era necessário reafirmar (no sentido de reorganizar) uma identidade nacional, difundir através da arte os grandes marcos e conquistas da nação, para fortalecer o sentimento de patriotismo, tendo em vista, a existência de uma grande quantidade de pessoas iletradas, a arte mais uma vez, assume um papel pedagógico. O neoclassicismo vai atingir seu ápice na segunda metade do século XIX, com a produção de telas de grandes dimensões descrevendo cenas históricas, além de alegorias e personagens brasileiros retratados como heróis.
            O discurso visual possuía uma função pedagógica, primordial na inspiração de virtudes e ideais civilizatórios. (...) A visão era apreciada enquanto instrumento de conhecimento mais confiável e legítimo, e a arte tornava-se fundamental na consolidação de valores como ordem, patriotismo e civilidade, tão caros a uma nação em construção.
            Para a execução de qualquer obra neoclássica é necessário uma estrutura, ou seja, um estudo minucioso e científico do objeto ou tema a ser representado, e esse estudo se dá através do desenho, conforme aponta Argan (1992. p, 25), “O projeto é desenho, o traço que traduz o dado empírico em fato intelectual”.
            Neste estilo de composição é imprescindível a harmonia dos objetos dentro do campo visual, todas as figuras são dispostas de modo a nivelar o peso que adquirem nesse espaço, dessa forma, o equilíbrio é atingido. O nu feminino volta a fazer parte do repertório artístico, remetendo à concepção estética dos antigos gregos. Esse gênero de pintura, conforme a norma, é oriunda da imaginação do artista, ou seja, idealizada, não representando uma ligação direta com o mundo real, muitas das vezes o nu está codificado em uma alegoria, para não escandalizar a sociedade da época.
            Na obra abaixo, “A Carioca”, do artista Pedro Américo, vemos um exemplo de
alegoria, o Rio Carioca é representado pela imagem de uma figura feminina, todo o cenário é proveniente do pensamento de um idealizador, não existe de fato, mas é a personificação de objetos ou matérias desprovidas de vida. A tonalidade do corpo da personagem remete ao mármore das esculturas clássicas, sua posição direta ao espectador, somado ao movimento voluptuoso que toca os cabelos, produz com quem observa uma experiência estética do belo ideal inexistente na natureza.
            Para o Brasil, que passava por muitas transformações políticas no século XIX, o neoclassicismo teve a função de fortalecer o povo brasileiro através do patriotismo, o destino não estava mais submetido às ordens e desejos de um Deus como acontecia no barroco colonial, agora, o homem impregnado pela filosofia clássica volta a se tornar a medida de todas as coisas:
            Os artistas voltam-se para a antiguidade clássica, procurando nos modelos gregos e romanos, o equilíbrio que convinha a uma sociedade laica, liberta dos ideais da Contra Reforma e desejosa do fausto europeu, buscado a todo custo. (...)
            A ARQUITETURA NEOCLÁSSICA NO BRASIL
            A influência neoclássica também se faz sentir na arquitetura brasileira, e o agente transmissor deste estilo é a própria AIBA, em um primeiro momento com o arquiteto e professor, membro da missão artística francesa Grandjean de Montigny e posteriormente com seus discípulos, que irão erguer obras monumentais. No Brasil, esse estilo arquitetônico se divide em dois grupos: Os grandes centros litorâneos e nas províncias. No primeiro caso, desenvolve-se um tipo de arquitetura mais complexa e fiel os padrões europeus, pois contava com maior número de mão-de-obra especializada e materiais para construção importados da Europa:
           
(...) nos centros maiores do litoral, especialmente Rio de Janeiro, Belém e Recife que tinham contato direto com a Europa, desenvolveram um nível mais complexo de arte e arquitetura e se integrou nos moldes internacionais da sua época
            A arquitetura nas províncias apresenta-se menos rebuscada que nas cidades litorâneas, o estilo neoclássico adorna apenas superficialmente as residências, e mesmo assim, o barroco colonial ainda é visível em alguns elementos destas casas, principalmente na materialidade empregada para a construção. Isso acontece por dois motivos; a falta de materiais adequados, que inviabilizou a sutileza da arquitetura neoclássica; e segundo, a carência de mão de obra especializada, o que implicou em cópias muitas vezes toscas das grandes arquiteturas litorâneas pela mão de obra escrava:
         As residências urbanas nas Províncias constituíam cópias imperfeitas da arquitetura dos grandes centros do Litoral, pois ainda que seus construtores e proprietários pretendessem estar realizando obras neoclássicas, na maioria dos exemplos esta vinculação com a temática e linguagem do neoclássico era muito superficial. (...) Mas as transformações arquitetônicas se limitavam à superfície; papéis decorativos importados da Europa, pinturas aplicadas sobre as paredes de terra para assemelhar-se aos interiores europeus, onde muitas vezes se pintavam fingimentos, sugerindo uma ambientação neoclássica jamais realizável com as técnicas e matérias disponíveis no local.
         Podemos concluir que, mesmo com o neoclassicismo no panorama da arte brasileira do século XIX, não significa que tenha deixado de existir o barroco dos antigos grandes mestres, muito pelo contrário, ambos os estilos acontecem concomitantemente, e juntos, oferecem uma nova possibilidade de construção, que, a propósito, será muito utilizada ao longo no século, principalmente com o advento do ecletismo na arquitetura.
         No entanto, a expansão do neoclassicismo não significa que formas mais tradicionais,
ligadas às raízes coloniais, tenham desaparecido. Nas províncias e também na capital, igrejas e seu recheio em telha, imaginária e pintura, prolongaram ainda por bom tempo as formas coloniais, se bem que numa conotação mais classicizante. No Rio de Janeiro, por exemplo, ainda se constroem inúmeras igrejas ao longo do século XIX, como a igreja de São Francisco de Paula, em que os estilos rococó, pombalino e neoclássico se complementam nas fachadas e na decoração interna.

            ARTE COLONIAL BRASILEIRA
      Arte colonial brasileira é o termo pelo qual se categoriza toda a obra artística produzida no Brasil, durante o período em que o país permaneceu como colônia de Portugal. De modo geral, a arte classificada como colonial brasileira é aquela produzida entre os século XVI e XVII, com destaque para a Arquitetura e decoração de interiores.
   Após a chegada dos europeus e a sua consequente ocupação do litoral, iniciou-se a construção das primeiras vilas, como por exemplo São Vicente, no litoral paulista. Atualmente, as cidades de Olinda e Iraguassu (PE), Parati (RJ), Laguna (SC), Cidadede Goiás (GO), Cachoeira e São Sebastião (SP) e outras no interior de Minas Gerais ainda conservam as construções desse período. Casas, igrejas e solares representam parte da história do país e são protegidos como Patrimônio Histórico, Cultural e Artístico do povo brasileiro.
     A arquitetura era bastante simples, sempre com estruturas retangulares e cobertura de palha sustentada por estruturas de madeira roliça inclinada. Essas construções eram conhecidas por tejupares, palavra que vem do tupi-guarani (tejy = gente e upad = lugar). Com o tempo os tejupares melhoram e passam os colonizadores a construir casas de taipa.
     Com essa evolução, começam a aparecer as capelas e os centros das vilas, dirigidas por missionários jesuítas. Nas capelas há crucifixo, a imagem de Nossa Senhora e a de algum santo, trazidos de Portugal.
  As primeiras cidades construídas pelos portugueses não possuíam um planejamento urbano definido, tendo casas construídas muito próximas das outras. Os materiais empregados variavam de acordo com a localização: no litoral utilizava-se pedra e cal; no interior, barro batido, madeira e barro ou pedra.
      Além das cidades litorâneas, outro ponto importante de ocupação eram as fazendas onde se produzia açúcar, o melaço e a cachaça. Alguns artistas dedicaram-se a retratar as cenas das fazendas e engenhos, especialmente Fran Post (século XVII), Debret (século XIX) e, já no século XX, Cícero Dias e Vicente do Rego Monteiro.
    A arte religiosa, assume grande expressividade nesse período. Com o intuito de catequizar os índios, e manter os preceitos da igreja católica, os portugueses construíram várias igrejas replicando àquelas que existiam em Portugal.
      A arquitetura religiosa foi introduzida no Brasil pelo irmão jesuíta Francisco Dias, que trabalhou em Portugal com o  arquiteto italiano Filipe Terzi, projetista da igreja de São Roque de Lisboa.
     As pinturas e esculturas desse período eram feitas por padres e jesuítas, seguindo o estilo Maneirista. A partir do século XVII começou-se a utilizar o estilo que ficaria mais associado ao tipo de arte empregado na decoração de igrejas de todo Brasil colonial, o estilo Barroco.
http://www.infoescola.com/historia-do-brasil/arte-colonial-brasileira/


A HISTÓRIA EDUCATIVA EM ARTE
1.A História Educativa em Arte que temos
Transcrição do texto do livro "Metodologia do Ensino de Arte" . Maria Heloísa Ferraz e Maria F. de Resendi e Fusari. Cortez,1993
As práticas educativas surgem de mobilizações sociais, pedagógicas, filosóficas, e, no caso de arte, também artísticas e estéticas. Quando caracterizadas em seus diferentes momentos históricos, ajudam a compreender melhor a questão do processo educacional e sua relação com a própria vida.
No Brasil, por exemplo, foram importantes os movimentos culturais na correlação entre arte e educação desde o século XIX. Eventos culturais e artísticos, como a criação da Escola de Belas Artes no Rio de Janeiro e a presença da Missão Francesa e de artistas europeus de renome, definiram nesse século a formação de profissionais de arte ao nível institucional. No século XX, a Semana de 22, a criação de universidades (anos 30), o surgimento das Bienais de São Paulo a partir de 1951, os movimentos universitários ligados à cultura popular (anos 50/60), da contracultura (anos 70), a constituição da pós-graduação em ensino de arte e a mobilização profissional (anos 80), entre outros, vêm acompanhando o ensino artístico desde sua introdução até sua expansão por meio da educação formal e de outras experiências (em museus, centros culturais, escolas de arte, conservatórios, etc.).
Isto nos faz ver que as correlações dos movimentos culturais com a arte e com a educação em arte não acontecem no vazio, nem desenraizadas das práticas sociais vividas pela sociedade como um todo. As mudanças que ocorrem são caracterizadas pela dinâmica social que interfere, modificando ou conservando as práticas vigentes.
Dentre as mais relevantes interferências sociais e culturais que marcam o ensino e aprendizagem artísticos brasileiros podemos destacar:
a.      os comprometimentos do ensino artístico (desenho) visando a uma preparação para o trabalho (operários), originado no século XIX durante o Brasil Imperial e presente no século XX;
b.      os princípios do liberalismo (ênfase na liberdade e aptidões individuais) e o positivismo (valorização do racionalismo e exatidão científica), por um lado, e da experimentação psicológica, por outro, influenciando na educação em arte, ao longo do século XX;
c.      o caos, os conflitos, os tecnicismos e a dependência cultural delineados no ensino de arte após a implantação da Educação Artística nas escolas brasileiras na década de 70 (Lei de Diretrizes e Bases 5692/71)
d.      a retomada de movimentos de organização de educadores (principalmente as associações de arte-educadores), desde o início dos anos 80;
e.      a discussão e a luta para inclusão da obrigatoriedade de Arte na escola e redação da Nova Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional, após a Constituição Brasileira de 1988;
f.       a retomada das investigações e experiências pedagógicas no campo da arte; sistematizações de cursos ao nível de pós-graduação;
g.      as novas concepções estéticas da arte contemporânea modificando os horizontes artísticos e consequentemente a docência em arte;
h.      os debates sobre conceitos e metodologias do ensino de arte realizados em caráter nacional e internacional, a partir dos anos 80.
A preocupação com a educação em arte tem mobilizado pesquisadores, professores, estetas e artistas, os quais vêm procurando fundamentar e intervir nessas práticas educativas. No Brasil, desde o final dos anos 80 têm-se divulgado inúmeros trabalhos desta ordem, tanto aqueles elaborados aqui quanto os de outros países. São propostas que refletem atuações em arte e são baseadas:
a.      nas necessidades psicológicas dos alunos ou em suas necessidades e problemas ambientais, comunitários e sociais;
b.      no ensino e aprendizagem pensado a partir da própria da própria arte, como um sistema de conhecimento do mundo; no conhecimento da arte advindo de fazer artístico e também da apreciação e história da arte;
c.      nas articulações dos atos perceptivos e verbalizadores dos alunos como base da experiência estética;
d.      nos alcances e limites  da interdisciplinaridade e entre os diversos métodos de ensinar a aprender os conhecimentos em arte;
e.      nas necessidades de mudanças da formação do educador em arte, visando à melhoria da qualidade de escolarização desde a infância.
A História que estamos considerando, portanto, é aquela que está sendo desenvolvida por professores e alunos em suas práticas e teorias pedagógicas. E, observando a história do ensino artístico, percebemos o quanto nossas ações também estão demarcadas pelas concepções de cada época. Para este estudo apresentaremos uma síntese das tendências pedagógicas mais influentes no ensino de arte e sua relação com a vida dos brasileiros.
Com a criação da Academia Imperial de Belas artes no Rio de Janeiro, em 1816, tivemos entre nós a instalação oficial do ensino artístico, seguindo os modelos similares europeus; nessa época, a maior parte das academias de arte da Europa procurava atender à demanda de preparação e habilidades técnicas e gráficas, consideradas fundamentais à expansão industrial. Aqui, como na Europa, o desenho era considerado a base de todas as artes tornando-se matéria obrigatória nos anos iniciais de estudo da Academia Imperial. No ensino primário o desenho tinha por objetivo desenvolver também essas habilidades técnicas  e o domínio da racionalidade. Nas famílias mais. abastas as meninas permaneciam em suas casas, onde eram preparadas com aulas de música e bordado, entre outras.
Nas primeiras décadas do século XX o ensino de arte, no caso, desenho, continuou  a apresentar-se com este sentido utilitário de preparação técnica para o trabalho. Na prática, o ensino de desenho nas escolas primárias e secundárias fazia analogias com o trabalho , valorizando o traço, o contorno e a repetição de modelos que vinham geralmente de fora do país; o desenho de ornatos, a cópia e o desenho geométrico visavam à preparação do estudante para a vida profissional- e para as atividades que se desenvolviam tanto em fábricas quanto em serviços artesanais.
Os programas de desenho do natural, desenho decorativo e. desenho geométrico eram centrados nas representações convencionais de imagens;. os conteúdos eram bem discriminados, abrangendo noções de proporção, perspectiva, construções geométricas; composição, esquemas de luz e sombra. Nas Escolas Normais os cursos de desenho incluíam ainda o "desenho pedagógico", onde os alunos aprendiam esquemas de construções gráficas para "ilustrar" aulas". 
Do ponto de vista metodológico, os professores, seguindo essa "pedagogia tradicional" (que permanece até hoje), encaminhavam os conteúdos através de atividades que seriam fixadas pela repetição. e tinham por finalidade exercitar a vista, a mão, a inteligência, a memorização, o gosto e o senso moral. O ensino tradicional está interessado principalmente no produto do trabalho escolar e a relação professor e aluno mostra-se bem mais autoritária. Além disso, os conteúdos são considerados verdades absolutas.
A partir dos anos 50, além do Desenho, passaram a fazer parte do currículo escolar as matérias Música, Canto Orfeônico e Trabalhos Manuais, que mantinham de alguma forma o caráter e a metodologia do ensino artístico anterior. Ainda nesse momento, o ensino e a aprendizagem de arte concentram-se apenas na "transmissão" de conteúdos reprodutivistas. desvinculando-se da realidade social e das diferenças - individuais. O conhecimento continua centrado no professor, que procura desenvolver em seus alunos também habilidades" manuais e hábitos de precisão, organização e limpeza.
A. "Pedagogia Nova", também conhecida por Movimento da Escola Nova, tem suas origens na Europa e Estados Unidos (século XIX),sendo que no Brasil vai surgir a partir de... 1930) e ser disseminada a partir dos anos 50/60 com as escolas experimentais. Sua ênfase é a expressão, como um dado subjetivo. e individual em todas as atividades, que passam dos aspectos intelectuais para os afetivos. A preocupação com o método, com o aluno, seus interesses, sua espontaneidade e o processo do trabalho caracterizam uma pedagogia essencialmente experimental, fundamentada na Psicologia e na Biologia.
Diferentes autores vêm marcando os trabalhos dos professores de Arte, no século XX, no Brasil, firmando a tendência da "Pedagogia Nova", Entre eles destacam-se John Dewey (a partir de 19(0) e Viktor Lowenfeld (a partir de 1939), dos Estados Unidos, e Herbert Read (a partir de 1943), da Inglaterra, Com a publicação de seu livro Educação pela Arte (traduzido em vários países), Read contribuiu para a formação de um dos movimentos mais significativos do ensino artístico. Influenciado por esse movimento no Brasil, Augusto Rodrigues liderou a criação de uma "Escolinha de Arte", no Rio de Janeiro (em 1948), estruturada nos moldes e princípios da "Educação Através da Arte":
Estava muito preocupado em liberar a criança através do desenho. da pintura. Comecei a ver que o problema não era esse, era um problema muito maior. era ver a criança no seu aspecto global, a criança e a relação professor-aluno, a observação do comportamento delas. o estímulo e os meios para que elas pudessem, através das atividades, terem um comportamento mais criativo. mais harmonioso.
As crianças vinham cada vez mais, e as idades eram as mais diferentes. Felizmente, tínhamos duas coisas muito positivas para um começo de experiência no campo de educação, através de uma escola. A experiência era feita em campo aberto, e a diferença de idades também foi outra coisa fundamental para que eu pudesse entender, um pouco, o problema da criança e o da educação através da, arte. Deveríamos ter um comportamento aberto, livre com a criança; uma relação em que a comunicação existisse através do fazer e não do que pudéssemos dar como tarefa ou ensinamento, mas através do fazer e do reconhecimento da importância do que era feito pela criança e da observação do que ela produzia. De estimulá-la a trabalhar sobre ela mesma, sobre o resultado último, desviando-a, portanto, da competição e desmontando a idéia de 2 que ali estavam para ser artistas (Dimento de Augusto Rodrigues, 1980, p.34.
As palavras de Augusto Rodrigues podem sintetizar as ideias da Escola Nova, que via o aluno como ser criativo, a quem se devia oferecer todas as condições possíveis de expressão artística, supondo-se que, assim, ao "aprender fazendo". saberiam fazê-lo. também, cooperativamente, na sociedade.
A "Pedagogia Tecnicista", presente ainda hoje, teve suas origens partir da segunda metade do século XX, no mundo, e a partir de 1%0/ 1970, no Brasil.
Na "Pedagogia Tecnicista", o aluno e o professor ocupam uma posição secundária, porque, o elemento principal é o sistema técnico de organização da aula e do curso: Orientados por uma concepção mais mecanicista, os professores brasileiros entendiam seus planejamentos e planos de aulas centrados apenas nos objetivos que eram operacionalizados de forma minuciosa. paz parte ainda desse contexto tecnicista o uso abundante de recursos tecnológicos e audiovisuais, sugerindo uma "modernização" do ensino. Nas aulas de Arte, os professores enfatizam um "saber construir": reduzido aos seus aspectos técnicos e ao uso de materiais diversificados (sucatas, por exemplo), e um "saber exprimir-se" espontaneístico, na maioria dos casos caracterizando poucos compromissos com o conhecimento de linguagens artísticas. Devido à ausência de bases teóricas mais fundamentadas, muitos valorizam propostas e atividades dos livros didáticos que, nos anos.70/80, estão em pleno auge mercadológico, apesar de sua discutível qualidade enquanto recurso para o aprimoramento dos conceitos de arte.
Ao lado das tendências pedagógicas tradicional, escolanovista e tecnicista, surge no Brasil, entre 1961/1964, um importante trabalho desenvolvido por Paulo Freire, que repercutiu. politicamente, pelo seu, método revolucionário de alfabetização de adultos. Voltado para o diálogo educador-educando e visando à consciência crítica, influencia principalmente movimentos populares e a educação não formal. Retomado a partir de 1971, é considerado nos dias de hoje como uma "Pedagogia Libertadora", em uma perspectiva de consciência crítica da sociedade.
A partir dos anos 80, acreditando em ,um papel específico que a escola tem com relação a mudanças nas ações sociais e culturais, educadores brasileiros mergulham em um esforço de conceber e discutir práticas e teorias de educação escolar para essa realidade. Conscientizam-se de como a escola se configura no presente, com vistas a transformá-la rumo ao futuro. E nos convidam a discutir as ações e as ideias que queremos modificar na educação em arte, como um desafio c compromisso com as transformações na sociedade. !J
Começa a se "desenhar" um redirecionamento pedagógico que incorpora qualidades das pedagogias tradicional, nova, tecnicista e libertadora e pretende ser mais "realista e crítica. Suas concepções podem ser sintetizadas nos seguintes aspectos:
(...) agir no interior da escola é contribuir para transformar a própria sociedade. Cabe à escola difundir os conteúdos vivos, concretos, indissoluvelmente ligados às realidades sociais. Os métodos de ensino não partem de um saber espontâneo, mas de urna relação direta com a experiência do aluno confrontada com o saber trazido de fora, () professor é mediador da relação pedagógica - um elemento insubstituível. É pela presença do professor que se torna possível urna "ruptura" entre a experiência pouco elaborada e dispersa dos alunos, rumo aos conteúdos culturais universais, permanentemente reavaliados face as realidades sociais (Cenafor, 1983, p. 30)
A educação escolar deve assumir, através do ensino e da aprendizagem do conhecimento acumulado pela humanidade, a responsabilidade de dar ao educando o instrumental para que ele exerça uma cidadania mais consciente, crítica e participante. Tem-se buscado elaborar, discutir e explicitar: então, uma "Pedagogia-Histórico-Crítica" (Saviani, 1980), ou seja, uma prática e teoria da educação, escolar mais realista, mais "Crítico-Social dos Conteúdos" (Libâneo, 1985) sem deixar de considerar as contribuições das outras perspectivas pedagógicas. Essa pedagogia escolar procura propiciar a todos os estudantes o acesso e contato com os conhecimentos culturais básicos e necessários para uma prática social viva e transformadora.
Uma pedagogia que leve em conta esses objetivos, no dizer de Dermeval Saviani, valorizará a escola;
Não será indiferente ao que ocorre em seu interior; estará empenhada em que a escola funcione bem; portanto, estará interessada em métodos de ensino eficazes. Tais métodos se situarão para além dos métodos tradicionais e novos, superando por incorporação as contribuições de uns e de outros. Portanto, serão métodos que estimularão a atividade e iniciativa doa alunos, sem abrir mão, porém, da iniciativa do professor; favorecerão o diálogo dos alunos entre si e com o professor, mas sem deixar de valorizar o diálogo com a cultura acumulada historicamente; levarão em conta os interesses dos alunos, os ritmos de aprendizagem e o desenvolvimento psicológico, mas sem perder de vista a sistematização lógica dos conhecimentos, sua ordenação e gradação para efeitos do processo de transmissão-assimilação dos conteúdos cognitivos.
Não se deve pensar, porém, que os métodos acima indicados terão um caráter eclético, isto é, constituirão uma somatória dos métodos tradicionais e novos. Não. Os métodos tradicionais assim como os novos implicam uma autonomização da pedagogia em relação à sociedade. Os métodos que preconizo mantêm continuamente presente a vinculação entre educação e sociedade. Enquanto no primeiro caso professor e alunos são sempre considerados em termos individuais, no segundo caso, professor e alunos são tomados como agentes sociais (Saviani, 1980, pp. 60-61).
Libâneo (1985) também contribui para este "desenhar" do novo redirecionamento pedagógico, ressaltando a natureza do trabalho docente hoje, no qual "um saber, um saber ser e um saber fazer pedagógico" devem "integrar os aspectos material/formal do ensino e, ao mesmo tempo, articulá-los com os movimentos concretos tendentes à transformação da sociedade".
Percebendo a relevância de conhecer o processo histórico do ensino de arte e nele saber interferir com consciência, Ana Mae Barbosa apresenta-nos importantes análises e sínteses nessa área, em seus livros Arte-Educação no Brasil(1978), Recorte e Colagem: Influências de John Dewey no Ensino da Arte no Brasil (1982), Arte-Educação: Conflitos e Acertos (1984), História da Arte-Educação (1986), O Ensino da Arte e sua História (1990). Preocupada com a democratização do conhecimento da arte (isto é, com a necessidade de assumirmos o compromisso de ampliar o acesso da maioria da população aos domínios estéticos e artísticos, por meio de uma educação de qualidade), Ana Mae contribui com relatos e reflexões que podem conduzir nosso trabalho de professores a posicionamentos mais claros. Ela considera fundamental a recuperação histórica do ensino de arte para que se possam perceber "as realidades pessoais e sociais, aqui e agora  e lidar criticamente com elas". Essas ideias aparecem nitidamente em todos os seus livros, que nos convidam a discutir e encontrar formas de ação na atualidade.
Uma das ações que está em processo, hoje, e que vem se afirmando por sua maior abrangência cultural, refere-se a um posicionamento teórico-metodológico, conhecido entre nós por "Metodologia Triangular". Esta proposta, difundida e orientada por Ana Mae Barbosa, e que está sem dúvida interferindo qualitativamente no processo e melhoria do ensino de arte, tem por base um trabalho pedagógico integrador de três facetas do conhecimento em arte: o "fazer artístico", a "análise de obras artísticas" e a "história da arte". Este trabalho vem sendo desenvolvido e pesquisado, desde o início dos anos 90, em São Paulo, no Museu de Arte Contemporânea da USP (MAC-USP) e no sul do país, pela Fundação lochpe e Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), dentre outras instituições de ensino.
Acreditamos que a consciência e a interferência sobre o processo educativo (e, neste caso, mais especificamente, de arte) é fundamental para o professor, para os alunos de Magistério, enfim, para todos que estão envolvidos com uma educação que se pretende transformadora. A consciência histórica e a reflexão crítica sobre os conceitos, as ideias e as ações educativas de nossa época possibilitam nossa contribuição efetiva na construção de práticas e teorias de educação escolar em arte que atendam às implicações individuais e sociais dos alunos, àS suas necessidades e interesses, e, ao mesmo tempo, proporcionem o domínio de conhecimentos básicos. da arte.
O compromisso com tal projeto educativo exige um competente trabalho docente. No caso da ação educativa em arte com crianças, o professor terá de entrelaçar a sua prática-teoria artística e estética a consistentes propostas pedagógicas. Em síntese, é preciso saber arte saber ser professor de arte junto a crianças.
http://www.arteducacao.pro.br/Artigos/educativa.htm

Rudolf Arnheim

Arte & Percepção Visual – Uma Psicologia da Visão Criadora,
Gestalt é uma palavra alemã “intraduzível”, algo como forma ou configuração. A psicologia da Gestalt (não confundir com um ramo da psicoterapia desenvolvido depois) começou a ser estabelecida no início do século XX. Arte e Percepção Visual é a maior obra que aplica os conceitos dessa corrente às obras de arte visuais.
Lançado em 1954 e consistentemente revisado em 1974, o livro de Rudolf Arnheim se mantém ao longo dos anos como bibliografia básica em cursos de artes, design e comunicação visual.
Sem nenhum rigor, poderia dizer que a psicologia da Gestalt (ou psicologia da forma) descobriu que “o todo é maior que a soma das partes”. Ou seja, uma experiência não pode ser definida pela enumeração de suas componentes. A apreensão da realidade é influenciada por algumas leis da mentes humanas. Por isso a “visão criadora” do título. Cada pessoa organiza os estímulos que chegam através da visão por meio de leis comuns.
Quatro princípios da psicologia da Gestalt podem ajudar a explicá-los: tendência à estruturação; segregação figura-fundo; pregnância da boa forma; constância perceptiva. Todas se referem a tendência natural para a estabilidade.
Sobre a tendência à estruturação, as formas são agrupadas de acordo com semelhança e proximidade, na forma mais simples. A segregação figura-fundo é “fácil” de entender. Afinal, uma figura só existe inscrita em um fundo. Ou é possível ver um triângulo amarelo no fundo de mesma cor? Um experimento que causa algum desconforto é a clássica figura cálice-rostos.
A pregnância da boa forma é uma característica da percepção humana que faz com que uma configuração qualquer seja percebida mais facilmente da forma simples e equilibrada. O exemplo ao lado é salutar? Pq vemos um triângulo e um retângulo, ao invés de uma forma irregular com 10 lados ou três formas diferentes? É a tendência pela “boa forma”. As coisas são “vistas” da maneira mais simples e fácil.
Tamanho, forma e cor tendem a se manter. Por isso, pelos mecanismos de compreensão da constância perceptiva, os seres humanos “ignoram” algumas mudanças puramente visuais, como a aparente mudança de tamanho de um objeto ao mover-se pelo espaço, as condições de iluminação em relação à cor, e a forma, em relação ao ângulo.
A minha descrição não passa de uma “pincelada” sobre o valor destas quase 500 páginas. O livro é dividido em dez capítulos: 1. Equilíbrio; 2. Configuração; 3. Forma; 4. Desenvolvimento; 5. Espaço; 6. Luz; 7. Cor; 8. Movimento; 9. Dinâmica; e 10. Expressão.
Cada capítulo possui de dez a vinte seções, abordando problemas como: Peso; Direção; O que é uma parte?; Projeções; Interação entre o plano e a profundidade; Consequências educacionais; Linha e contorno; Transparência; Sombras; A busca da harmonia; As revelações da velocidade; Experimentos sobre tensão dirigida; Composição dinâmica; Simbolismo na arte; etc.
A compreensão da psicologia da Gestalt e a investigação realizada por Arnheim podem ser utilizadas para uma melhor prática do design gráfico, como no design de revistas, por exemplo. Já escrevi aqui sobre diagramação sequencial de revistas, usando como exemplo a revista Realidade #7. A imagem mostra como as leis da simplicidade, associadas à disposição espacial,  fazem com que os desenhos abaixo sejam lidos como um objeto em sucessão temporal.
O LP ao lado, design de Josef Muller-Brockmann, por exemplo. Mesmo com essa sobreposição  de cores, simulando camadas transparentes (que está na moda, vejo em todo canto), as formas são compreendidas como círculos.
É claro que a maioria dos conceitos e descobertas da psicologia da forma são praticadas naturalmente por todas as pessoas. Afinal, são variações de outras experiências humanas mais comuns e triviais (sem juízo de valor aqui). Mas, antes de serem a formulação de obviedades, a pesquisa, compreensão, discurso e debate contidos neste livro significam o refinamento da própria vida.


BARBOSA, Ana Mae Tavares Bastos.

Teoria e prática da educação artística.
"Não é possível conhecer um país sem conhecer e compreender sua arte - essa é a opinião da professora Ana Mae Barbosa, da Escola e Comunicações e Artes da USP. "Um país só pode ser considerado culturalmente desenvolvido se ele tem uma alta produção e também uma alta compreensão dessa produção", declara. "A linguagem visual nos domina no mundo lá fora e não há nenhuma preocupação dentro da escola em preparar o aluno para ler essas imagens. O público quer conhecer; falta educação para a arte".
Na opinião de Ana, os professores do ensino fundamental e médio costumam priorizar a linguagem científica e discursiva, mas é preciso que o aluno tenha também uma alfabetização visual para compreender a linguagem que o rodeia em outdoors, na televisão, no computador. "É importante entender arte, que é a representação do país por seus próprios membros", ela ressalta. "E a configuração visual do país é dada pelas artes plásticas".
Ana afirma que até a década de 50 a educação era baseada na expressão artística, no ato de fazer, mas que desde então se iniciou uma mudança metodológica no ensino das escolas, que tentam preparar melhor os alunos para ver e entender as obras de arte. "O público em geral sabe que a arte contemporânea, a que está nos museus é o código erudito, o código do poder. Sem dominar esse código ele se sente longe do poder sobre a sua própria cultura".
Ana considera a produção cultural do país "muito boa", mas acha que os artistas brasileiros estão escondidos do público. "Eles têm espaço nas galerias, e também nas feiras internacionais, mas só são mesmo valorizados depois de fazer sucesso no exterior", declara. A professora considera uma "perversidade terrível" com o público o fato de os museus possuírem grandes acervos e mantê-los guardados por falta de espaço, quando deveriam manter as obras expostas permanentemente.
E o que as artes plásticas estão dizendo do país, atualmente? "Estão perguntando: onde está a nossa salvação?", responde Ana. "Todo projeto com as classes menos favorecidas, crianças de rua, crianças prostituídas, têm começado pela arte", pondera, lembrando também do contato do fotógrafo Sebastião Salgado com o Movimento dos Sem-Terra. "A arte está escondida, mas presente em todos esses movimentos de recuperação social. Graças a iniciativas pessoais e não-governamentais, está acontecendo".
A professora está organizando o curso de aperfeiçoamento Aprendizagem da Arte e Cultura Contemporânea, que ocorre de março a junho e é destinado àqueles que querem melhorar sua apreciação pessoal das obras de arte e, principalmente, para professores que querem ensinar arte para seus alunos e não têm diploma universitário ou equivalente no currículo. O curso que Ana organiza inclui ateliês e aulas sobre história da arte e metodologias de ensino e aprendizagem da arte.
Os alunos farão trabalhos artísticos, buscando referências na produção contemporânea e aprenderão a ler e analisar as obras de arte com referenciais históricos. "O fazer é muito importante para despertar a capacidade perceptiva para as nuances da construção artística", explica a professora. "Ao mesmo tempo, nossa história da arte pretende entrecruzar a linha do tempo com a análise das obras e da relação entre seus elementos, para tentar construir seu significado", conclui."
Entrevista concedida por Ana Mae Barbosa para a Agência USP de Notícias.
Barbosa, Ana Mae

Inquietações e mudanças no ensino da arte
AS MUTAÇÕES DO CONCEITO E DA PRÁTICA
A aprendizagem da Arte é obrigatória pela Lei de Diretrizes e Bases - LDB - no Ensino Fundamental e no Ensino Médio, no entanto, essa obrigatoriedade não é suficiente para garantir a existência da Arte no currículo. Somente a ação do professor pode torná-la essencial para favorecer o crescimento individual e o comportamento dos cidadãos. Ao Poder Público cabe propiciar meios para que os professores desenvolvam a capacidade de compreender, e conceber a Arte.
A falta de um aprofundamento dos professores de Ensino Fundamental e Médio pode retardar a Nova Arte. A Arte-Educação tem sua missão de favorecer o conhecimento das diversas formas de Arte.
MUDANÇAS NO ENSINO DA ARTE
A Arte-Educação mudou nos seguintes aspectos:
1- Maior compromisso com a cultura e com a história.
2- Ênfase na inter-relação entre o fazer, a leitura da obra e a contextualização histórica, social, antropológica e estética da obra. Só um saber consciente e informado torna possível a aprendizagem em Arte.
3- Influir positivamente no desenvolvimento cultural dos estudantes pelo ensino-aprendizagem da Arte. A Arte na Educação como expressão pessoal e como cultura é um importante instrumento para identificação cultural e o desenvolvimento individual. Por meio da Arte, é possível desenvolver a criatividade, percepção, imaginação, senso crítico, apreensão da realidade.
4- Pretende-se ampliar a criatividade com leituras e interpretações de obras de Arte.
5- Necessidade de alfabetização visual, onde não se restringe a análise da obra, mas, em que contexto está inserida.
6- Compromisso com a diversidade cultural é enfatizada pela Arte'Educação pós-Moderna.
7- Reconhecer que o conhecimento da imagem é de fundamental importância para desenvolvimento da subjetividade e desenvolvimento profissional.
TRANSFORMAÇÕES NO ENSINO DA ARTE
Embora a Arte seja uma disciplina de extrema importância, ela ainda não é vista como tal. A defesa do ensino de Arte na escola já reuniu inúmeros argumentos, quase todos alheios ao processo que compreendem a atividade artística, seus produtos, ações e reflexões. Dentre os argumentos, podemos citar:
1- Aprendizagem da Arte para desenvolvimento moral da sensibilidade e criatividade.
2- Ensino da Arte como forma de recreação.
3- Arte-Educação como artifício para ornamentação da escola.
4- Arte como apoio da aprendizagem e memorização dos conteúdos de outras disciplinas.
5- Arte como benefício para acalmar e relaxar.
As transformações nas concepções que tem orientado o ensino de Arte nas últimas décadas enfrentaram o desafio de refletir sobre esses processos, que desfiguravam o conceito de Arte na educação. O ensino de Arte na escola não está em busca de soluções, mas de questionamentos.
A ARTE E SEU ENSINO, UMA QUESTÃO OU VÁRIAS QUESTÕES?
A Arte é um grande desafio pois, nos coloca questões que nos permite utilizar diversas áreas do conhecimento, ela desafia, questiona, e levanta hipóteses.
A Arte contemporânea é discutida por vários estudiosos e especialistas. Ela é complexa e consequentemente seu ensino também. É necessário investimentos na significação da Arte, do Artesanato e cio design nas escolas, nas pesquisas, no artista e no educador juntos, e rejeição da segregação cultu­ral na educação como afirma Paulo Freire.
CONCEITOS E TERMINOLOGIA
Na escola, ensinar e aprender são frutos de um trabalho coletivo. Os professores de Arte devem conhecer desde os conceitos fundamentais da linguagem da Arte até a linguagem artística em que se trabalha. É preciso conhecer seu modo especifico de percepção, como são construídos os sentidos a partir das leituras, como aprimorar o olhar, ouvidos e corpo. Para Perrenoud, o papel do educador é mediar objeto de conhecimento e o aprendiz. Uma mediação sempre será a articulação entre as histórias pessoais e coletivas dos aprendizes de Arte. O educador deve ser capaz de criar situações que possam ampliar a leitura e compreensão das pessoas, sobre sua cultura e seu mundo. No ensino da Arte, é preciso pensar em desafios instigantes e estéticos.
CAMINHOS METODOLÓGICOS
A Arte-Educação entendida como disciplina - A visão mais contemporânea do ensino da Arte valoriza a construção e a elaboração como procedimento artístico, enfatiza a cognição em relação à emoção e procura acrescentar a dimensão do fazer artístico á possibilidade de acesso e compreensão do patrimônio cultural da humanidade. Há uma proposta para que o ensino de Arte seja elaborado a partir de três ações básicas - Proposta Triangular do Ensino de Arte (experimentação, decodificação e informação):
1- Ler obras de Arte - a leitura de obras de Arte envolve o questionamento, a busca, a descoberta e o despertar do senso crítico dos alunos.
2- Fazer Arte - ação do domínio da prática artística.
3- Contextualizar - domínio da leitura da Arte e outras áreas do conhecimento.
A EDUCAÇÃO DO OLHAR NO ENSINO DA ARTE
O papel da Arte na educação está relacionado aos aspectos artísticos e estéticos do conhecimento. Expressar o modo de ver o mundo nas linguagens artísticas dando forma e colorido é uma das funções da Arte na escola. A educação estética tem como lugar privilegiado o ensino da Arte, entendendo por educação estética as várias formas de leitura, de fruição que podem ser possibilitadas às crianças no seu cotidiano.
OLHAR E VER
Nossa visão é limitada, vemos o que compreendemos e o que temos condições de compreender, o que nos é significativo. O sentido vai ser dado pelo contexto e pelas informações que o leitor possui. O olhar de cada indivíduo está impregnado de experiência e vivências anteriores que lhes são significativas.
IMAGEM
É comum nas escolas de Educação Infantil trabalhar com leitura de imagens sem, muitas vezes entender esse processo de leitura. É preciso compreender como a criança lê essas imagens e o que ela interpreta.
LEITURAS
As leituras mostram a diversidade de significados, o quanto os contextos, as informações, as vivências de cada leitor estão presentes ao procurar dar um sentido para a imagem.
EDUCAÇÃO DO OLHAR
É preciso educar o olhar da criança desde a Educação Infantil. O ensino da Arte contemporânea busca possibilitar atividades interessantes e acessíveis às crianças.
MULTICULTURALIDADE E INTERDISCIPLINARIDADE
O prefixo "multi" indica um trabalho entre muitas disciplinas e o prefixo "inter" a inter-relação entre duas ou mais disciplinas. Os trabalhos interdisciplinares na maioria das vezes são realizados sob a forma de projetos, o que é extremamente positivo em se tratando de Arte. A educação multicultural envolve o desenvolvimento de competências em muitos sistemas culturais, e seu objetivo é promover a igualdade por intermédio da mudança educacional.
MULTICULTURALIDADE E UM FRAGMENTO DA HISTÓRIA DA ARTE/EDUCAÇÃO ESPECIAL
Uma das culturas minoritárias presentes no espaço da educação escolar é a do portador de necessidades especiais.
O maior desafio de uma pedagogia multicultural é aprender a lidar com a diversidade, compreendendo que o portador de necessidades especiais pode criar e recriar sua própria cultura, no entanto o conservadorismo se esquece disso.
INTERDISCIPLINARIDADE
O professor de Arte tem um papel importante como elo de ligação, entre outras disciplinas, no entanto deve ser respeitado tanto como os outros. A disciplina de Arte não é inferior às outras.
TECNOLOGIAS CONTEMPORÂNEAS E O ENSINO DA ARTE
Vivemos num mundo rodeado de imagens, tantas que nem temos tempo se assimilá-las. Nesse contexto, é importante desenvolver a competência de saber ver e analisar as imagens para que ela adquira significado. É importante conhecer todos os meios tradicionais quanto os tecnológicos.
IMAGEM ESTÁTICA E IMAGEM EM MOVIMENTO
O uso de novas tecnologias na escola é defasado, mas não pode ser deixada de lado em detrimento do tradicionalismo. A imagem ganha a cada avanço tecnológico, mais possibilidades de apropriação e re-significação. A preocupação com a aprendizagem em Arte deve estar sempre presente com os meios tradicionais ou com recursos tecnológicos modernos. O uso de mais de um meio pode gerar imagens interessantes e significativas para os alunos, o que não pode é o professor ser resistente às mudanças.
APRENDIZAGEM DA ARTE E O MUSEU VIRTUAL DO PROJETO PORTINARI
Os museus virtuais se multiplicam na Internet e são instrumentos de educação. Diferencia os atuais formatos utilizados por instituições para a inserção de museus e acervos no espaço virtual, caracteri­zando os objetivos de cada uma das estruturas.
O conhecimento de projetos virtuais pode ser uma experiência riquíssima vivenciada por professo­res e alunos.
INTERNET: CULTURA E PODER
A Internet é um instrumento de ação artística cultural, por sua capacidade de levar imagens, do­cumentos, textos, com extrema rapidez, e que de­vem ser explorados nos trabalhos com Arte, pois possibilitam o contato com produções artísticas de diferentes momentos e culturas.
A FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE ARTE
Estamos passando por uma fase de retomada de uma identidade profissional do professor de Arte, que deve refletir sobre a prática pedagógica em busca de um maior domínio das ações educativas. Os cursos de formação de professores de Arte de­vem encarar o desafio de propiciar a seus alunos uma inserção na linguagem artística e reflexões críticas, e sua formação deve ser sempre contínua.
ENSINO DE ARTE
A autora aponta que há necessidade de um en­sino de Arte sequencial, para que o aluno seja pre­parado para engajar-se no mundo artístico-estético com certa autonomia, e espírito crítico.
http://profleandrolopes.blogspot.com.br/2010/03/barbosa-ana-mae-inquietacoes-e-mudancas.html


                              Lilian Ried Miller Barros
                                                     
A Cor no Processo Criativo – Um Estudo sobre a Bauhaus e a Teoria de Goethe




Introdução
A Cor no Processo Criativo de Lilian Ried, trás como tema a escola de arte Bauhaus e quatro mestres que lecionavam estudos sobre cores e formas, Johannes Itten, PaulKlee, Wassily Kandinsky e Josef Albers, e consolidando este estudo a teoria de Goethe sobre as cores também é tratado com muita importância.
A Escola Bauhaus

A Bauhaus foi uma escola de arte que surgiu no inicio do século XX, fundada em 1919 e extinta em 1933 devido ao governo nazista considerar a arte degenerada pela política cultural do partido. Esta escola estava a frente do seu tempo, a Bauhaus tinha como objetivo a democratização da arte, por meio da produção industrial. Os quatro mestres que serão tratados no decorrer deste texto eram professores da Bauhaus cada um com teorias semelhantes, mas com características didáticas diferentes, enquanto Itten e Albers ocupavam-se com o desenvolvimento de metodologias de ensino, Kandinsky e Klee desenvolviam verdadeiras teorias sobre a composição plástica e seus elementos. Apesar de esses mestres lecionarem na Bauhaus não se restringem apenas a isso eles também já deram aulas em outras escolas e tiveram outras ocupações. A Bauhaus acabou assumindo metodologias de trabalho propostas por esses grandes mestres, essas metodologias despertava nos alunos uma transcendência na arte, a libertação de conceitos estabelecidos por outras entidades de ensino.
Johannes Itten (1888-1967)
Johannes Itten nasce em Thun, na Suiça, em 1888. Entre 1904 e 1908 estuda em Berna para formar-se professor de ensino elementar. Em 1909, inicia seus estudos de arte na Escola Superior de Arte em Genebra. Em 1913, vai para Stuttgard estudar pintura. Em 1919 é convidado para lecionar na Bauhaus. Em 1961, Itten publica seu livro “A arte da cor”, onde ele aborda toda a sua experiência com as cores. Itten estabelece três metas para ensinar na Bauhaus:
Libertar as forças criativas para o trabalho genuíno e autônomo.
Incentivar a orientação vocacional por meio de exercícios.
Integrar os princípios objetivos e subjetivos dos elementos do design. Esses três métodos segundo Itten era fazer com que os alunos estivessem ligados a suas próprias percepções, e deixar a padronização ensinada por outras escolas de artes, aquilo que ele chama de trabalho genuíno.
Itten propunha diversos exercícios para seus alunos dentre eles estavam exercícios de contraste, que era a base fundamental em seus ensinamentos, exercícios de visualização de cenas imaginarias fazendo com que os alunos tomassem consciência de três fases no decorrer: experiência, percepção e habilidade. Itten identifica o temperamento do alunos através dos trabalhos desenvolvidos em sala de aula, a partir de preferências cromáticas. Os impressivo-naturalistas apresentavam um desenho preciso nos mínimos detalhes, os construtivo-intelectuais construíam os objetos do desenho tentando conter e geometrizar tudo deforma clara, os espiritual-expressivos eram aqueles que se guiavam por sentimentos intuitivos. O ensino das cores de Itten recebe uma introdução sobre a natureza física da cor. Itten chama de agente da cor o pigmento e também fala do efeito cromático da cor. O efeito cromático é o efeito que a cor tem em nós é a realidade psicofisiológica da nossa percepção. Itten também aborda o efeito que as cores causam sobre nós quando sobrepostas em outras cores, onde existe uma alteração em nossa percepção. Um exemplo que podemos mostrar é um quadrado cinza claro parece mais escuro num fundo branco do que num fundo preto, e maior no fundo preto do que no branco. As cores para Itten também são um grande agente de temperamento na personalidade do artista levando a uma forma de orientação vocacional. Itten chama essas paletas de individuais de timbre subjetivo. Itten também desenvolve quatro palhetas de cores e intitula de primavera, verão, outono, inverno onde o artista cria uma relação entre elas e a partir delas desenvolve com mais harmonia seus trabalhos. A harmonia cromática para Itten era a avaliação da justaposição de duas ou mais cores, a harmonia deve buscar a satisfação do olho humano, evitando que este produza as cores que estão faltando na composição, a harmonia é um estado de equilíbrio psicofisiológico. Itten também descreve a importância do circulo cromático em seus estudos, e desenvolve a teoria dos sete contrastes cromáticos:
De Cores Puras – contraste entre cores vivas, puras e saturadas, tem destaque especial quando o brando e o preto participam da composição.
Claro-escuro – este contraste explora o uso de luminosidade o valor tonal das cores.
Quente-frio – alcança seu efeito mais intenso quando a oposição se faz entre as cores laranja-vermelho e azul-verde. Mas as cores podem variar por exemplo um roxo pode representar frio ao lado do vermelho mais quente ao lado do azul.
Complementar – ocorre ao juntarmos os matizes diametralmente opostos no circulo cromático. A mistura dessas cores fazem com que elas se anulem formando um tom acinzentado.
Simultâneo – seu efeito deriva do efeito das cores complementares.
De Saturação – trata-se do contraste entre cores vivas e cores acinzentadas.
De quantidade/extensão – o contraste de extensão refere-se às áreas ocupadas por duas ou mais cores.
Paul Klee (1879-1940)
Paul Klee nasce em Munchenbuchsse, Suiça em 1879, inicia sua formação musical, tornando-se membro logo cedo, como violinista. A partir de 1898 inicia se sua carreira artística em artes plásticas. Muda-se pra Munique e se casa com Lily Stumpf pianista.25 de novembro de 1919 Klee é convidado a se a juntar aos mestres da Bauhaus e desenvolve sua teoria elementar da criação. Diferente de Itten e Albers, Klee não teve formação de pedagogo e a partir de suas experiências artistas desenvolve sua metodologia de ensino na Bauhaus. A teoria da criação proposta por Klee foi a menos dogmática dentro da Bauhaus, sua preocupação principal era a criação de formas, por meio da interpretação das forças geratrizes da natureza. A teoria de cores também proposta por Klee teve algumas influências de outros mestres como Kandinsky e Goethe, para Klee o arco-íris é o ponto de partida de sua teoria um fenômeno excepcional em sua concepção. No arco-íris pode se ter as sete cores do circulo cromático. O arco-íris é uma representação linear das cores. Klee também relaciona as cores do circulo cromático como pares de cor verdadeiros os pares das complementares e de pares falsos aqueles cuja mistura não resulta num cinza absolutamente neutro. Os pares de cores verdadeiras são verde – vermelho, amarelo – violeta e azul – laranja, esses três pares se ligam por linhas diametrais que passam pelo centro do circulo, onde esta o cinza. Os pares de cores falsas são as que não se encontram diametralmente, se traçarmos uma linha reta entre essas cores elas não passam pelo meio do circulo onde esta o cinza. Klee assim como Itten também ensina aos alunos a totalidade cromática e demonstra a importância das três cores primarias em equilíbrio para a satisfação visual.
Wassily Kandinsky (1866-1944)
Nasceu em 1866, em Moscou, na Rússia. Sua primeira vontade foi ser músico. Entretanto, formou-se em direito e economia política na Universidade de Moscou. Aos30 anos, encantado com um quadro de Monet, abandonou a carreira jurídica. Em1900, em Munique, formou-se pela Academia Real. Mergulhado nessa intensa atividade cultural de Munique Kandinsky elabora sua primeira obra teórica, o livro Do espiritual na arte. Nesta obra Kandinsky concebe sua teoria das cores, atribuindo a estas propriedades simbólicas. Nessa mesma época funda o movimento artístico Der Blaue Reiter (“O cavalo Azul”), onde representa a primeira manifestação do expressionismo abstrato.    Em 1922 Kandinsky é convidado a lecionar na Bauhaus, sempre procurando adicionar princípios místicos a ilusão da infinidade cósmica no plano bidimensional, sempre levava a abstração como uma expressão da síntese da natureza em suas obras. Kandinsky desenvolve sua teoria das cores e ela se apresenta em primeiro lugar nas aulas da Bauhaus, Kandinsky analisa as cores e descreve a cada uma com um significado único, primeiro ele divide as cores em dois grandes grupos as cores frias e quentes, ou calor e frieza do tom colorido. No livro Do espiritual da arte cada cor tende a uma temperatura e movimento como um som musical, segue um resumo de sua narrativa:
Amarelo
Movimento: o amarelo possui um movimento irradiante e excêntrico e representa um salto para além de todo limite, a dispersão da força em torno de si mesma. Simbolismo: uma cor essencialmente material e terrestre, uma cor fascinante e extravagante, uma explosão de energia, um desperdiçar das forças. Temperatura: Kandinsky caracteriza como a cor mais quente de todas. Som Musical: sons extremos agudos. Estado de Espírito: a cor da loucura e delírio, uma explosão emocional, um acesso de fúria. Uma cor que possui uma forte intensidade e atormenta o homem.
Azul
Movimento: o azul possui um movimento de distanciamento do homem físico, possui um movimento concêntrico. Simbolismo: uma cor imaterial, capaz de despertar no ser humano um profundo desejo de pureza e de contato com o divino. Temperatura: é considerada a cor mais fria de todas. Som Musical: sons graves. Estado de Espírito: o azul trás consigo a paz e a calma, mais também detecta um estado de tristeza a medida que se escurece na direção do preto.
Branco
Movimento: o branco possui um movimento excêntrico mais não tão ativo quanto ao amarelo. Simbolismo: esta cor simboliza pureza, a alegria, o inicio e a eterna possibilidade, a esperança, um nada antes de todo nascimento, antes de todo começo. Temperatura: o branco assim como o preto não é nem quente nem frio. Som Musical: o branco assim como o preto significa o silêncio. Estado de Espírito: representa o momento de expectativa ou de dúvida diante de uma possibilidade imprevisível.
Preto
Movimento: o preto realiza um movimento concêntrico, é a ausência de resistência. Simbolismo: esta cor simboliza a morte e a um “nada sem possibilidades”. Temperatura: o preto assim como o branco não é nem quente nem frio. Som Musical: assim como o branco o preto significa o silencio absoluto
Estado de Espírito: cor associada a morte, assim como um cinza que vai adquirindo ao escurecer, o desespero e a sufocação e a profunda tristeza presente no azul.
Verde
Ausência de Movimento: o verde é o ponto de equilíbrio entre as forças do amarelo e do azul, e por uma cor ter o movimento concêntrico e a outra movimento excêntrico as duas se anulam. Simbolismo: é a cor mais calma entre todas as cores. Representa passividade saudável, repleta satisfação, é tonificante e representa a cor da natureza em seu movimento de maior vitalidade e exuberância. Temperatura: não é quente nem fria, está em equilíbrio. Som Musical: o verde soa como um violino, tocando em escalas medianas, sem extremos de graves ou agudos. Estado de Espírito: representa um estado de satisfação e realização pleno, sem desejos, portanto, imóvel e passivo, tedioso.
Vermelho
Movimento: o movimento do vermelho não possui direção, parece mais um borbulharem si mesmo, Kandinsky vê nessa cor uma imensa e irresistível potência. Simbolismo: o vermelho é a cor autoconfiante, transbordante de vida, ardente, agitada, efervescente, ao misturar-se com o preto o vermelho adquire a cor marrom, que se classifica como uma cor dura, estagnada, quase sem vida. No entanto, também considera o marrom uma cor potente, na sua sonoridade interior, capaz de expressar uma beleza interior que não pode ser traduzida em palavras. Temperatura: é também uma cor quente, embora também tenha potencialidades para se tornar uma cor fria. Som Musical: representa o som impertinente de uma fanfarra, com instrumentos como a trombeta, com sua potencia e seus agudos Estado de Espírito: com uma mistura ao amarelo o vermelho evoca força, impetuosidade, energia, decisão, alegria, triunfo. Já em um tom médio o vermelho representa um estado de alma no qual há paixão, um vermelho mergulhado no azul representa uma paixão abafada, uma brasa que se apaga na água.
Laranja
Movimento: o movimento em si mesmo, que caracteriza o vermelho, transforma-se, com a adição do amarelo, em irradiação e expansão. Simbolismo: na junção dessas duas cores, a simbologia do vermelho e do amarelo se unem, resultando numa cor menos acida que o amarelo, material, ativa, que não tende para a profundidade. Temperatura: é uma cor quente.
 Som Musical: soa como uma poderosa voz de contralto, ou como um sino. Estado de Espírito: o laranja representa a saúde e a força.
Violeta
Movimento: o violeta possui um movimento concêntrico, característico do azul. Simbolismo: segundo Kandinsky, tanto o violeta como o laranja possuem um equilíbrio precário, a determinação dos limites dessas duas cores é imprecisa. Até onde um laranja pode ser considerado laranja e não amarelo? Qual é o limite do violeta entre o vermelho e o azul? Temperatura: é uma cor fria. Som Musical: o violeta é comparado as vibrações surdas do corne inglês. Estado de Espírito: o violeta representa um vermelho sem energia, apagado, triste e doentio.
Josef Albers (1888-1976)
Josef Albers antes de estudar arte atuou como professor do ensino elementar na Alemanha. Aos 25 anos inicia seus estudos na Real Escola de Arte. Em 1920 a 1923freqüenta a Bauhaus como aluno e em 1928 assume a responsabilidade pela direção do curso preliminar na Bauhaus. A metodologia de Albers explora o aprendizado por meio da percepção direta, e não por teorias do sistema cromático. Albers coloca a pratica na frente da teoria. Albers propõe diversos exercícios para a sensibilização do aluno. Cada exercício é explicado e ilustrado, não para fornecer uma resposta especifica, mas para sugerir uma forma de estudar. O objetivo de Albers é, portanto enxergar o que acontece entre as cores, ou seja, entender a interação cromática. Albers adota os exercícios com recortes de papel por razões praticas e fazendo um paralelo com a sensações tátil de temperatura, Albers introduz a noção das falsas sensações que o nosso corpo pode nos transmitir. Albers abrange muito em seus estudos a essas falsas sensações e faz vários experimentos colocando cores sobre fundos de outras cores, para perceber essas diferenças.
Johann Wolfgang Von Goethe (1749-1832)
Goethe nasce em Frankfurt, filho de uma rica família burguesa. Estuda direito mais sempre teve interesse em varias áreas. Em 1790, com 41 anos, Goethe olha de forma decidida através do prisma, para começar suas investigações sobre as cores. Goethe cria sua teoria sobre as cores, teoria que vem a ser contraditórias as teorias de Newton, teorias que muitas vezes não foram aceitas mais como ele mesmo disse, mesmo que as suas tentativas não fossem um sucesso fez com que outras pessoas pudessem estudar mais sobre o assunto.
A teoria das cores de Goethe, intitulada Doutrina das cores, continua sendo até hoje, como bem argumentada Israel Pedrosa, um livro incomodo. Se tornou um ponto departida para todo o aprofundamento do fenômeno cromático.
Conclusão
 Este livro não apenas mostra os significados das cores mais também aborda assuntos muito importantes, desde o surgimento de diversas teorias de cores desenvolvidas por esses 5 grandes mestres até a forma como aplicavam suas teorias na escola Bauhaus com exceção de Goethe. A forma como é tratado as cores, desde nossa percepção até fenômenos psicológicos que elas nos causam é abordado, revelando para nós algo que pode ser incorporado ao design trazendo satisfação e harmonia as peças a serem criadas

https://pt.scribd.com/doc/34903471/Relatorio-Livro-a-Cor-No-Processo-Criativo

CAUQUELIN, Anne.

Teorias da Arte
Entrevista com Anne Cauquelin
Nessa entrevista, a filósofa Anne Cauquelin discute o conceito de arte contemporânea, procurando refletir sobre o impacto da internet na arte. Ou seja, pensa como as mudanças na esfera pública estão transformando o fazer artístico.
Em 1992, em seu livro Arte contemporânea: uma introdução, a senhora falava que a multiplicidade de obras e de títulos acerca da arte geravam certa confusão sobre o que seria exatamente arte contemporânea. Como a senhora identificou esta situação? E de lá para cá, que mudanças ocorreram neste cenário?
Eu creio que a situação se congelou. Quando lancei este livro, e talvez nos dois anos que se seguiram, o que eu havia escrito se tornou realidade no mundo todo, mas ficou, ao mesmo tempo, paralisado. O que tínhamos era uma logo “arte contemporânea”, mais do que uma arte em movimento. Era uma espécie de pacote com características daquilo que as pessoas faziam e aquilo com o quê se preocupavam – o que chamei, em outro livro, de palavras de ordem. Palavras de ordem que são quase injunções: é preciso praticar o vazio ou expor o vazio, é preciso fazer isto, é preciso fazer aquilo, e, implicitamente, os artistas o faziam. Então, tínhamos um pacote de obras, um pacote de atividades, que se assemelhavam entre si e às palavras de ordem, e que então se congelaram assim. E, neste momento, começamos a chamar isto de arte contemporânea, e continuamos a chamar isto de arte contemporânea mesmo que as coisas não tenham se mexido. O que eu percebo, agora, é que temos grandes museus de arte contemporânea, galerias de arte contemporânea, revistas de arte contemporânea... Só que isto é uma estrutura, uma estrutura em movimento, então não se pode falar de um museu de arte contemporânea como se fosse um lugar onde se colocam coisas contemporâneas dentro.
Além desta ideia de que os museus não podem ser tratados apenas como "caixas onde se coloca coisas contemporâneas", a senhora também afirma que os museus são, eles próprios, "atuadores" que compartilham da função de autor.
No fundo, aquele que expõe a obra é também o autor da obra: o galerista, o museu – também o museu é autor, é um ser. É claro que isso muda completamente o modo de se ver o museu, ou seja, de vê-lo como um ser vivo, um organismo.
Isto significa dizer que a arte, mais do que um resultado, passou a ser uma atitude?
Sim, é justamente isso que estamos falando – como se fosse possível criar um museu para atitudes... E tem aí a questão do virtual, que é mais um modo de ser, um modo de viver, do que a realização de obras propriamente ditas. E esse modo de vida está o tempo todo em deslocamento, ele se mexe o tempo todo. Ser contemporâneo, então, é seguir esse movimento, é não permanecer em uma atitude fixa.
A senhora já afirmou outras vezes que considera que a internet, atualmente, tem papel fundamental sobre a esfera da arte, e que a comunicação é o grande "organizador desorganizado" da arte contemporânea. Por que? Que fatores contribuíram para esta mudança e que leis regem, hoje, este sistema?
Costuma-se dizer que os artistas de maior valor são os mais citados na rede. Esta é a resposta da arte ao novo. Eu tento prevenir que a comunicação da obra na rede não é uma explicação da influência que ela tem. Porque o que temos hoje é um pensamento flutuante de obras que chegam pela web. Os artistas não são melhores assim, tampouco as obras. A quantidade de coisas que nos chegam assim é, sobretudo uma expansão de si, uma subjetividade que é colocada na obra mas, bom, ela não está lá – está em outro lugar. Eles podem até crer que isso agrega alguma coisa, mas acho que não agrega nada.
Poderíamos então dizer que, com a internet, a obra de arte caminha para o desaparecimento?
Creio que sim. São duas coisas: em primeiro lugar, é muito fácil de perder alguma coisa na web. As coisas desaparecem – elas estão lá, em algum lugar, mas não as encontramos sempre que queremos. Em segundo, uma outra coisa, mais interessante: o fato de que fitas de vídeo – que são objetos reais – não podem ser conservadas por muito tempo. Há um desaparecimento progressivo das coisas que são registradas pela tecnologia – o audiovisual, os CDs, tudo isso –, e que, no entanto, são ferramentas de trabalho.
Importante referência no pensamento teórico sobre a arte contemporânea – Anne Cauquelin é filósofa, escritora e artista. Doutora e professora emérita da Universidade de Picardie, na França, publicou, entre outros, Teorias da arte (2005), Arte Contemporânea: uma introdução (2005), A invenção da paisagem (2007) e Frequentar os incorporais (2008), além dos romances Potamor e Les prisons de César. É, ainda, redatora-chefe da revista Revue d´esthétique.
Entrevista retirada do site Fundação Iberê Camargo
            CLASSICISMO
            Introdução 
            O classicismo é um movimento cultural que valoriza e resgata elementos artísticos da cultura clássica (greco-romana). Nas artes plásticas, teatro e literatura, o classicismo ocorreu no período do Renascimento Cultural(séculos XIV ao XVI). Já na música, ele apareceu na metade do século XVIII (Neoclassicismo).
            Características do Classicismo:
- Valorização dos aspectos culturais e filosóficos da cultura das antigas Grécia e Roma;

- Influência do pensamento humanista;
- Antropocentrismo: o homem como o centro do Universo;
- Críticas as explicações e a visão de mundo pautada pela religião;
- Racionalismo: valorização das explicações baseadas na ciência;
- Busca do equilíbrio, rigor e pureza formal;
- Universalismo: abordagem de temas universais como, por exemplo, os sentimentos humanos.
            Principais representantes do Classicismo dos séculos XIV ao XVI:

- Na literatura destacou-se o escritor português Camões, autor da grandiosa obra Os Lusíadas. Podemos também destacar os escritores: Dante Alighieri, Petrarca e Boccacio.

- Nas artes plásticas, podemos destacar: Leonardo da VinciMichelangeloRafael Sanzio, Andrea Mantegna, Claudio de Lorena entre outros.
            Principais representantes do Neoclassicismo na música do século XVIII:

- Wolfgang Amadeus Mozart

- Joseph Haydn

- Ludwig van Beethoven 


Susana Rangel Vieira da Cunha

Como vai a Arte na Educação Infantil?  
Desenhar, brincar, poetar. Manchar, riscar, construir, se encantar. Transformar um fragmento de vidro em uma joia rara, rabiscos em dragão alado, pensamentos em formas. Buscar o dizível no invisível. Modos singulares de ver, sentir, expressar e (re)inventar o mundo. A criança, depois de desenhar uma série de formas e riscos (des)ordenados, diz: Eu, mamãe, a barraca e o gato. Faz-de-conta! Picasso reúne um guidão e o selim de uma bicicleta: Cabeça de touro. Assemblage, ressignificações de objetos. Arte!
A arte faz de conta. Crianças, artistas, fazem de conta que um rabisco, um objeto, um fragmento, um pensamento se transforme em uma outra coisa. Tanto as crianças, quanto àqueles adultos que persistem em deslocar a ordem estabelecida do mundo, compartilham de um pensamento similar, no sentido de que ambos propõem simulacros ou fingem que uma coisa é outra coisa. Artistas e crianças, percebem o mundo e dão sentido a ele através de formas singulares. Utilizam seus sentidos de forma mais aguçada do que a maioria dos adultos que deixaram para trás esta capacidade humana de ver, imaginar e simbolizar.
Por muitos motivos, e em um determinado período da infância (mais ou menos por volta dos 6-7 anos) a maioria das pessoas abandona seus infindáveis processos de elaborar enunciados poéticos. Por outros motivos, alguns adultos persistem em suas buscas de alterar os sentidos das coisas, insistindo em transformar o ordinário em extraordinário, o vulgar em diferente. Aqueles que persistem em nos provocar com suas produções, sejam elas as mais tradicionais, como a pintura e o desenho, sejam as performances e as instalações, são denominados, na sociedade ocidental, de artistas. Os artistas brincam com o cotidiano, com a história, com os mitos e com os nossos pensamentos. Reconstroem significados em torno do já visto e do supostamente sabido. De muitos modos, os artistas, através de suas produções anteciparam saberes das ciências, como o Futurismo (1909), por exemplo, que vislumbrou a lei da relatividade de Albert Einstein. Ou expressaram dores e massacres da humanidade como Guernica (1937) de Picasso e a instalação 111 (1992) de Nuno Ramos; ou visualizaram os principais fundamentos de pensadores como fez Gustav Klimt (1862 – 1918) ao “traduzir” a sensualidade das mulheres da teoria de Sigmund Freud (1856-1939). Enfim, artistas e suas produções formulam conhecimentos sobre o mundo, conhecimentos e saberes que só podem ser ditos e propagados através das linguagens não verbais.
O que me pergunto e pergunto a vocês é: Se todos nós estruturamos, nos anos iniciais de nossas vidas, o pensamento simbólico-poético, similar aos dos artistas, então, por que a maioria das pessoas desiste de transformar a obviedade do cotidiano? Entendo que são muitos fatores: sociais, culturais e econômicos que estancam as possibilidades de re-significar o que está aí no mundo e singularizar ações, pensamentos e modos de ser. Em um contexto cultural mais amplo, podemos pensar o quanto as produções culturais imagéticas, que circulam nos mais variados meios, modulam nossos modos de ser e de pensar. Imagens que produzem pontos de vista sobre o mundo e ao mesmo tempo anestesiam nossos sentidos em relação ao “diferente”, ao estranho, ao inusitado. As imagens disponibilizadas cotidianamente, através dos meios de comunicação e das corporações de entretenimento, acabam se tornando as principais referências para que as crianças elaborem seus imaginários e construam suas imagens, tendo em vista que outros repertórios visuais, como os das artes visuais e de outras produções culturais, não participam frequentemente de suas vidas.
Edith Derdik (1989), alerta sobre o quanto os imaginários infantis estão sendo mediados e formulados pelas diversas produções culturais, dizendo que cada vez mais a conduta infantil é marcada pelos clichês, pelas citações e imagens emprestadas. “A TV traz o mundo para você”. O imaginário contemporâneo é entregue a domicílio. A criança é submetida a um profundo condicionamento cultural, e é sobre estes conteúdos que a criança vai operar. A ilustração, o desenho animado, a história em quadrinhos, a propaganda, a embalagem são representações que se tornam quase realidades. O elefante desenhado é mais verdadeiro e presente do que o verdadeiro elefante que mora no zoológico, onde a criança raramente vai. Vivemos hoje sob o signo da ficção e da paródia[1].
Em um contexto mais específico da educação formal, seja da Educação Infantil ao ensino universitário, na maioria das vezes, o ensino de arte e também outras áreas do conhecimento, ao invés de promover ações pedagógicas que levem crianças e adultos ao universo da criação e estruturação da linguagem visual, acaba tolhendo os modos singulares dos alunos entenderem e expressarem suas leituras e relações com o mundo. Desde modo, em diferentes contextos socioculturais e nas salas de aula, nossa sensibilidade e nossas formas expressivas estão se escoando, fugindo de nossas vidas, sem que possamos exercitar nossos processos sensíveis e criativos. Por que isso acontece na em Educação Formal, em especial na Educação Infantil? Não tenho a intenção de buscar as respostas na brevidade deste texto, mas pretendo contribuir com algumas reflexões, que venho desenvolvendo nos últimos 10 anos, em torno dos modos de ensinar e aprender arte na Educação Infantil.
Das concepções de arte às práticas pedagógicas
Baseada em estudos de várias pesquisas realizadas[2], posso afirmar que as concepções de arte dos professores direcionam seus modos de ensiná-la, sendo que estes modos de compreender e ensinar arte estão disseminados em várias outras instâncias, como nos museus, nas publicações especializadas, nos documentos oficiais governamentais (leis, diretrizes curriculares, programas escolares, etc.), entre outros materiais. O depoimento de uma aluna/professora de Educação Infantil, resume a estreita relação entre os modos de conceber e ensinar arte, segundo ela: “Nós professoras transmitimos a visão de arte que temos aos nossos alunos. Se acreditamos que não somos capazes de desenhar ou que só é possível desenhar estereótipos, estaremos permitindo que nossos alunos também pensem assim.” De muitos modos, as pedagogias da arte vão absorvendo e validando as idéias sobre arte que se refazem historicamente. Por exemplo, os discursos sobre arte como símbolo de distinção social, e os artistas, como seres de exceção, são produzidos sistematicamente por nossa cultura e aceitos nos contextos escolares - da educação infantil ao ensino universitário - sem que haja contestação ou um esforço analítico-crítico que provoque uma mudança significativa em termos de desmistificar a ideia de genialidade dos artistas. Esta visão é perceptível nas salas de aula quando ouvimos as educadoras elogiarem determinadas produções infantis como se fossem frutos de um ”dom”, assim, a concepção de criação espontânea, do gênio que cria do nada, está ali reforçada pela educadora, que na maioria das vezes não se dá conta de quanto ela incorpora os discursos produzidos pela nossa sociedade.
Os resultados da pesquisa mostram que as experiências vivenciadas pelas minhas alunas do curso de Pedagogia – Habilitação em Educação Infantil, no ensino de arte no 1º e 2º graus, ainda centra-se na estética das belas-artes que dá um sentido universal e imutável à produção artística e geram por sua vez metodologias baseadas em abordagens empiristas e/ou inatistas. Em relação às professoras que já atuam na Educação Infantil, a pesquisa também indica que as concepções sobre arte moldavam os pressupostos dos planejamentos, das metodologias, da escolha dos materiais, das avaliações e da relação dos alunos/as com esta área do conhecimento. Ou seja, conceitos funcionalistas e essencialistas sobre arte estendiam-se no cotidiano da sala de aula em atividades de colorir desenhos mimeografados (formas geométricas, personagens de histórias, números, letras), exercícios de cópias de diferentes linhas (pontilhadas, em ziguezague, ondulada, etc.) amassar papéis e outros materiais, colar sobre as formas desenhadas pelas professoras, colagens com sucata, manipulação de massas (argila e plastilina). Além destas atividades, há o “ensino de técnicas” diversificadas como desenhar sobre lixa, ou assoprar sobre o papel tinta em um canudo, sendo que tais técnicas são descontextualizadas dos processos de constituição da linguagem visual e desarticuladas entre si. Tais procedimentos metodológicos têm, a finalidade de “ensinar a fazer bem um desenho”, por isto eram e são fornecidos “modelos” para serem copiados. Para as professoras e consequentemente para as crianças, o padrão de excelência do bem feito eram as reproduções mais próximas ao real ou ao modelo, sendo que a interpretação ou qualidade expressiva não eram valorizadas e muitas vezes eram “corrigidas”, pois distorciam o modelo. A concepção pragmática tem por objetivos desenvolver habilidades motoras e destrezas para a escrita, bem como a utilização do desenho para fixar a grafia de letras e números. Hernández (2000) se refere a esta concepção como a racionalidade industrial, cujo objetivo é o desenvolvimento de habilidades e destrezas, assim como os critérios do gosto vinculado às Artes[3]. Assim, por exemplo, uma professora de um Maternal 1, utiliza o desenho para que as crianças, mesmo na fase dos rabiscos e dos borrões, iniciem exercícios visando à escrita. Segundo a professora:
Esse aqui (um desenho que eu havia selecionado para conversarmos durante a entrevista) também foi um que eu propus, que é um bingo (o jogo de bingo) no caso seria para trabalhar a escrita e não desenho. Esse aqui (um outro desenho) foi uma proposta de atividade que as crianças provaram diferentes sabores, então era para fazer um doce e um salgado e depois elas nomeavam o que eles tinham desenhado.
Nas escolas infantis pesquisadas, muitas professoras desenvolviam propostas para que as crianças iniciem o processo de alfabetização muito cedo, pois acreditam que o objetivo da escola infantil é de preparar para escolarização inicial. Na maioria das vezes, as práticas pedagógicas no campo das artes visuais na Educação Infantil ainda estão fundadas nas concepções pedagógicas de Friedrich Froebel, introduzidas no Brasil em 1896 quando foi criado em São Paulo, junto a Escola Normal, o primeiro Jardim da Infância. No que se refere às atividades expressivas vigentes hoje na Educação Infantil, percebo muitas semelhanças apontadas por Moysés Kuhlmann (1998) em sua pesquisa sobre as atividades pedagógicas desenvolvidas no Jardim de Infância Caetano de Campos, como por exemplo
A criança dos 4 aos 6 anos, no jardim, educaria a mão e o olho, desenvolveria hábitos de asseio, urbanidade, império sobre si mesma, aguçaria o engenho, interpretaria os números e as formas geométricas, inventaria combinações de linhas e imagens e as representaria com o lápis. (...) As mãos, órgãos mais importantes no que respeita ao trabalho ativo, deveriam ser forçadas a brincar desde o princípio, e também a desenvolver exercícios manuais.[4]
Com algumas modificações, as orientações froebelianas são ainda hoje consideradas como “as atividades de artes” na educação infantil.
Convivendo com um ensino extremamente pragmático, tecnicista e de “resultados”, há uma outra concepção de ensino de arte na educação infantil onde as crianças vivenciavam momentos de livre criação e são solicitadas a criarem espontaneamente, sem desafios que mobilizassem seus processos expressivos. Nas escolas pesquisadas, por exemplo, um dos procedimentos metodológicos desenvolvidos habitualmente são as atividades livres, onde eram disponibilizados alguns materiais, como folhas tamanho ofício, canetinhas hidrocor, giz de cera, revistas e papéis diversos, sucatas e, às vezes, argila tintas e pincéis para que as crianças realizem suas produções. Mesmo sendo atividades livres, as crianças realizavam suas produções gráfico-pictóricas em momentos específicos das rotinas diárias - a hora de artes – e eram dirigidas pelas professoras. Os relatos das professoras sobre suas concepções de ensino de arte mostram que suas pedagogias em arte se aproximam das concepções expressivistas, iniciadas com o movimento intelectual e artístico Romântico (séc. XVIII até o século XIX) no qual funda a ideia da arte como expressão e comunicação dos sentimentos. As ideias do pensador de Jean-Jacques Rousseau (1712-1722) sobre a natureza pura e inocente da criança, na qual o adulto não deveria interferir, deixando que os sentimentos interiores viessem à tona, contribuem para que se desenvolva a ideia de livre expressão no ensino de arte. Posteriormente, no século XX, Herbert Read, em 1943, formula a base teórico-pedagógica acerca da expressão infantil enfatizando os processos expressivos, a espontaneidade, a auto-expressão e a projeção dos sentimentos e emoções. No Brasil, Augusto Rodrigues, em 1948, inspirado nas concepções de Read, funda o movimento das Escolinhas de Arte, propagando a ideia de que as crianças devem se expressar livremente, cabendo ao professor criar um ambiente adequado onde elas possam desenvolver suas potencialidades criativas. Todas estas concepções expressivistas e outras como as de Viktor Lowenfeld (1939) e John Dewey (1900) constituíram ideias e pedagogias em arte, hoje reelaboradas na maioria das escolas infantis como atividades livres. As pedagogias expressivistas, em geral, por deixarem as crianças “livres”, acabam tornando as crianças reféns de si próprias, repetindo suas f(ô)rmas anos após anos. As imagens 4, 5, 6 e 7 ilustram os resultados desta pedagogia, onde os desenhos, independente das singularidades de cada crianças, são muito semelhantes.
Imagem 4, 5, 6 e 7 - Desenhos livres de crianças , Jardim A (2004)
Os modelos predominantes do ensino da arte na educação infantil oscilam entre o diretivismo técnico (saber fazer) e o laissez-fare (exprimir livremente sem interferência do professor). Ambas as abordagens, uma por considerar a criança como tábula rasa e a outra por considerá-la como portadora de potencialidades expressivas/criativas inatas, esvaziavam o sentido da aprendizagem em arte, pois não oportunizam o conhecimento sobre a própria arte, sobre a linguagem visual, sobre os materiais ou mesmo possibilita o desenvolvimento do imaginário infantil. A partir destas abordagens, as crianças aprendem que precisavam de modelos para se expressar, que existem “erros” ao utilizar um material, que as folhas retangulares com margens são os únicos suportes possíveis para desenhar. Aprendem que alguns têm o “dom” inato para as artes e outros são incapazes para formularem sua simbologia. Aprendem a serem silenciosos e subservientes ao amassarem cautelosamente bolinhas de papel crepom do mesmo tamanho. Aprendem a respeitar modelos e posturas quando tem minutos cronometrados para executarem os “trabalhinhos” de artes. Aprendem a ser consumidores e não produtores de imagens ao colorirem os modelos mimeografados dos adultos. Aprendem a não serem sujeitos que podem sentir, pensar e transformar.
As produções visuais (pintura, desenho, escultura, colagem, entre outras) resultantes destas abordagens acabam gerando estereótipos formais, espaciais, colorísticos, temáticos e também conceituais que dificilmente serão transformados em representações singulares. Adestrar a mão ou deixar que as crianças explorem livremente materiais não pode ser considerado uma proposta pedagógica em arte. Tais procedimentos levam as crianças a repetirem formas mecanicamente e a passarem o resto de suas vidas desenhando árvores com maçãs, casinhas, nuvens azuis e morros marrons. E assim, as crianças perdem a possibilidade de conhecer, ver e representar o mundo a partir de outros referenciais e repertórios imagéticos.
As pedagogias em arte, observadas durante a pesquisa, careciam de propostas que desafiassem o imaginário infantil, buscassem os conhecimentos visuais das crianças, explorassem a linguagem visual nas formas de produzir, entender e ler as imagens, bem como investigassem as possibilidades dos materiais. Além disso, notava nas entrevistas com as professoras que suas atividades não se desenvolviam a partir de um planejamento e de uma fundamentação que justificasse os procedimentos adotados, ao passo que nas outras áreas do conhecimento como Estudos Sociais ou Ciências, haviam propostas planejadas e articuladas entre si.
A maioria das professoras entrevistadas relatou o quanto é difícil elaborarem planejamentos em arte, tendo em vista que em suas formações acadêmicas em Pedagogia e no 2° grau tiveram poucos conhecimentos sobre fundamentos, concepções e metodologias em artes. Aliada à formação precária nesta área do conhecimento, as professoras não tiveram em suas vidas a oportunidade de experienciar situações expressivas, de exploração de materiais, contato com diferentes repertórios imagéticos ou de leituras de imagens. Ou seja, a carência de experiências nas áreas expressivas acarreta equívocos nas práticas pedagógicas junto às crianças. Além disso, os gestores educacionais e até mesmo as escolas, investem pouco em cursos de formação continuada nas áreas de artes visuais, música, teatro e dança.
Entendo que as dificuldades enfrentadas pelas professoras de educação infantil em conceber, planejar e desenvolver propostas em artes visuais se deve ao pouco conhecimento que elas têm nesta área ao longo de sua escolarização (não só na graduação, mas em outros níveis de ensino). Assim, muitas vezes, suas pedagogias em arte estão baseadas nas concepções de arte que circulam, tais como: arte é dar liberdade, arte depende de habilidades, arte é um dom, entre outras concepções que formam o senso comum sobre o que é arte e como ela deve ser ensinada.
Outras imagens, outras abordagens
Como foi referido anteriormente, a cultura contemporânea, com seus inúmeros artefatos imagéticos contribuem para a formulação dos nossos imaginários e pontos de vista sobre o mundo. A quantidade de imagens a que estamos expostos, além de ensinar comportamentos, modos de conduta, hábitos, valores vem produzindo uma apatia nos olhares. Michel de Certeau (2000), nos anos 70, em suas análises sobre as práticas ordinárias do cotidiano aponta para o olhar que é instaurado a partir das imagens que inundam nossas vidas produzindo um olhar cancerizado, doente, passivo.[5]
As imagens estão aí, dentro e fora das escolas, suas configurações e ensinamentos são cada vez mais persuasivos e poderosos. Os modos de ver o mundo, a nós mesmos e os outros estão sendo modulados pelos vários meios midiáticos e pelas produções artísticas, então, a questão das imagens e da visualidade deveriam fazer parte das discussões educacionais. No entanto, as práticas pedagógicas em arte na Educação Infantil ainda carecem de uma visão mais contemporânea de educação Embora os pressupostos teóricos e conceituais no campo da educação tenham se transformando nas últimas décadas e estudos de Paulo Freire, Jean Piaget, Lev Vygotsky, Emília Ferreiro, entre outros, rompam com a visão inatista e pragmática do ensino, as concepções vigentes do ensino de arte na educação infantil, ainda estão ancorados na visão de que as crianças são portadoras inatas de criatividade e inventividade, ou que as atividades em artes deveriam desenvolver habilidades visando o controle visual e manual para preparar para a escrita.
As abordagens atuais no ensino arte na Educação Infantil não estão possibilitando outros olhares sobre uma área do conhecimento que trabalha basicamente com a transformação, a incerteza de modelos, a investigação matérica bem como das linguagens não verbais e a abertura ao inusitado. A situação em que se encontra o ensino de arte na Educação Infantil, e também em outros níveis de ensino, não está contribuindo para que as crianças possam elaborar sua linguagem expressiva entendida aqui como uma forma de ler e representar suas relações singulares com o mundo.
Diante deste quadro, é necessário que se pense o ensino de arte na Educação Infantil conectado com teorias mais atuais do pensamento pedagógico contemporâneo, sejam elas as proposições dos autores mencionados acima e de outros autores que abordam a centralidade da cultura no campo educacional, como Henry Giroux, Peter McLaren, Shirley Steimberg, Joe Kincheloe, Fernando Hernàndez.. Meu entendimento é que há uma enorme distancia entre o que está sendo desenvolvido nas escolas e os fundamentos destes autores, entretanto, as imagens estão aí, dentro e fora das escolas, suas configurações e ensinamentos são cada vez mais persuasivos e poderosos. Os modos de ver o mundo, a nós mesmos e os outros estão sendo modulados pelos vários meios midiáticos, então, a questão da constituição da linguagem visual e da visualidade infantil deveria ser um dos objetivos do ensino de arte na Educação Infantil. Entendo que a função da Arte na educação é de provocar questionamentos e desencadear uma outra educação do olhar, uma educação que rompa com o estabelecido, com as normas e convenções sobre o próprio mundo. Uma educação em arte que faça com que as pessoas continuem buscando e dando sentido poético à vida.
Referências Bibliográficas:
CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano:1: Artes do Fazer. Petropólis: RJ. Vozes, 1994.
DERDYK, Edith. Formas de pensar o desenho: desenvolvimento do grafismo infantil. São Paulo: Editora Scipione, 1989.
DUARTE Jr. João Francisco. O sentido dos sentidos: a educação (do) sensível. Criar Edições, 2001.
DUBORGEL, Bruno. Imaginário e Pedagogia. Lisboa: Instituto Piaget, 1992.
HERNÁNDEZ, Fernando. Cultura Visual, mudança educativa e projeto de trabalho. Artes Médica Sul, 2000.
KUHLMANN Jr, Moysés. Infância e educação infantil: uma abordagem histórica. Porto Alegre: Mediação, 1998.
VIEIRA DA CUNHA, Susana (org). Cor, som e movimento: a expressão plástica, musical e dramática no cotidiano da criança. Cadernos de Educação Infantil n 8. Porto Alegre. Ed. Mediação, 1999
_____________ Revista Projeto: Artes Plásticas, v.3,n.5, 2001
[1]DERDYK, Edith. Formas de pensar o desenho: desenvolvimento do grafismo infantil. São Paulo: Editora Scipione, 1989, p.53.
[2]Entre 1997-2000 desenvolvi a pesquisa Transformações nos saberes sobre a arte e seu ensino junto às educadoras de Educação Infantil e as alunas de graduação em Educação que frequentavam a disciplina Arte na Educação na Faculdade de Educação da UFRGS. Posteriormente, entre 2001 e 2004, realizei outra pesquisa com crianças e professoras de Educação Infantil de EMI de Porto Alegre com o intuito de conhecer as pedagogias em arte na Educação Infantil. Este estudo gerou a tese Educação e Cultura Visual: Uma trama entre imagens e infância, defendida em 2005 no PPGEDU da Faculdade de Educação da UFRGS.
3]HERNÁNDEZ, Fernando. Cultura Visual, mudança educativa e projeto de trabalho. Artes Médica Sul, 2000, p.44
[4]KUHLMANN Jr, Moysés. Infância e educação infantil: uma abordagem histórica. Porto Alegre: Mediação, 1998, p.141-142
[5]CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano: 1. Artes do fazer. Trad. Ephraim Ferreira Alves. Petropólis, RJ: Vozes, 1994, p.4
Susana Rangel Vieira da Cunha é Graduada em Artes Visuais, Mestre e Doutora em Educação. Professora e pesquisadora da Faculdade de Educação da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul/Porto Alegre) na área de Infância, Formação de professores, Artes e Cultura Visua


DANTO, ARTHUR C.

Após o fim da arte. A arte contemporânea e os limites da história
Em Após o fim da arte , Arthur C. Danto afirma que a arte – ou pelo menos uma determinada ideia de arte – chegou ao fim. A tese não é nova: Hegel já havia anunciado algo parecido no começo do século XIX. Nem Hegel nem Danto estavam anunciando um tempo em que não se fazem mais obras de arte, ou onde os artistas deixariam de existir ou de ter um papel relevante: isso seria uma idiotice, pois, como na época de Hegel, hoje artistas continuam produzindo obras de arte – cada vez mais, é verdade, dentro de um sistema de relações cada vez mais movido pela lógica do mercado e da mercadoria, o que caracterizaria um período “neoliberal” da arte.
O fim da arte, segundo Danto, não significa o fim das obras de artes, mas sim de um tipo de arte que fazia parte de uma história (ou de uma narrativa), pautada pelas noções de estilos e movimentos, e pela crença de que existia uma linha evolutiva entre eles – linha que seria preciso compreender para interpretar e avaliar qualquer obra de arte particular. Em outras palavras, o que acabou foi o laço que unia a arte à História, laço que estava na base de todos os manifestos e movimentos do século 20, pelo menos até meados dos anos 60. A partir daquele momento, e cada vez mais, o único compromisso dos artistas seria com a liberdade absoluta, liberdade inclusive de repetir, colar, reler, citar etc, do jeito que quiserem.
Existe até uma corrente pomposamente chamada de “apropriacionista”, a que se filia, por exemplo, o artista Mike Bildo, que se apropria de imagens alheias para supostamente lhes atribuir um novo sentido. Desta forma, Bildo faz cópias idênticas de obras de Marcel Duchamp e Andy Warhol e as intitula ”No Duchamp” e “No Warhol”, por exemplo. Entenderam? Para mim, sinceramente, isso é um embuste, uma palhaçada, uma tolice. Jorge Luis Borges, no conto Pierre Menard, autor del Quijote, cria um personagem que reescreve palavra por palavra o Dom Quixote de Cervantes, atribuindo assim um novo sentido à obra. É, evidentemente, uma ironia. Bildo é uma espécie de Menard que se levou a sério – e o mais grave é que todo mundo bateu palmas.
Aspas de Danto: “É parte do que define a arte contemporânea que a arte do passado esteja disponível para qualquer uso que os artistas queiram lhe dar. O que não lhes está disponível é o espírito em que a arte foi realizada.” [e isso faz toda diferença].
Ora, levando-se Danto a sério, a implicação direta disso é que não existe mais critério para se estabelecer o que é ou não é arte. Se a técnica e o talento deixaram de ter importância, se não existe diferença visível, por exemplo, entre um objeto do cotidiano e um objeto de arte, o que determina o valor de um artista passa a ser sua capacidade de inserção no sistema da arte, através de uma rede de relacionamentos com marchands, galeristas, curadores, colecionadores – sistema que expeliu, por desnecessários, os críticos. Esse sistema dita o que vale e o que deixa de valer, segundo movimentos que têm muito mais a ver com a Bolsa de Valores do que com a ideia convencional de arte. Ao mesmo tempo, o aspecto sensorial da arte perdeu importância frente ao seu aspecto filosófico: o papel da arte passou a ser refletir sobre si mesma. O próprio Danto assume que o modelo vigente “impossibilita a definição de obras de arte com base em certas propriedades visuais que elas possam ter”. Ele vai além, numa sentença que considero verdadeira e estarrecedora (estarrecedora porque tristemente verdadeira): “O que quer seja a arte, ela já não é basicamente algo para ser visto”.
Danto – e, como ele, Hans Belting, em O fim da História da Arte – sugere que o fim da arte começou a acontecer nos anos 60, com a Pop Art e Andy Warhol. Até ali, as obras de arte eram pensadas e avaliadas fundamentalmente em termos estéticos. Toda a arte moderna apresentou questões estéticas, mesmo quando discutia as condições, os meios e os métodos da representação. E foi quando esse predomínio da estética, por algum motivo, deixou de corresponder ao que se produzia, é que o conceito de moderno se tornou insuficiente, e se buscou um substituto: pós-moderno ou contemporâneo (mas não contemporâneo no sentido puramente temporal, já que continuaram existindo artistas preocupados com a estética).
Danto sugere que existiram duas grandes narrativas sobre a arte, isto é, duas grandes modelos que estabeleciam como a arte deve ser: a de Giorgio Vasari, no sec. XVI, correspondente à arte mimética, e a de Clement Greenberg no século 20, correspondente à arte moderna. Os dois modelos bastam para entender a arte de vários séculos, sua natureza e sua função. A narrativa de Greenberg, responsável pela teorização do modernismo, teria deixado de fazer sentido para a arte dos nossos dias. “Contemporâneo”, escreve Danto, “passou a significar uma arte produzida dentro de uma estrutura de produção jamais antes vista em toda a História da Arte”. A minha conclusão é que hoje não existe mais uma narrativa que permita compreender o passado, o presente e o futuro da arte – a não ser a narrativa do mercado.
É por isso que, desligada da História, uma boa parcela da arte contemporânea caiu num processo de repetição vazia. Para muita gente, a superação das questões modernas representou um vale-tudo, um contexto em que tudo é arbitrário. A questão é: quem arbitra o valor nesse cenário, que Danto descreve como sendo de “desordem informativa” e “entropia estética”? O artista, para ter uma existência social neste modelo, não estaria abrindo mão de sua soberania para se tornar mais facilmente assimilável pelas correntes da moda? Esse pacto econômico que fundamenta o sistema da arte e excluiu a reflexão crítica – a ponto de hoje qualquer pensamento questionador ser recebido a pedradas pelos próprios artistas – não estaria mergulhando num divórcio suicida entre arte e sociedade? A anunciada Bienal do Vazio não seria um sintoma de que algo vai mal?

            Fundamentais para o seu posicionamento em relação ao objeto, a experimentação, exploração, manipulação e transformação de diferentes materiais constitui um alargamento e diversidade de situações e experiências de aprendizagem e desenvolvimento.
            Este meio de comunicação é uma corrente que é capaz de levar a criança a reproduzir, num suporte material, as ideias que esta idealiza.
            A contribuição nítida para o desenvolvimento da motricidade fina está intimamente ligada ao domínio da expressão motora. Fundamental é o educador ter consciência que esta vertente e a expressão motora são indissociáveis.
            É importante o educador assumir um papel em que estimule construtivamente o desejo de aperfeiçoar e fazer melhor. O resultado final deve corresponder sempre, às capacidades e possibilidades da criança em passo com a sua evolução.
            Esta vertente é muitas vezes banalizada e sugerida apenas para ocupar o tempo. Porque esta é uma atividade de fácil acesso, nitidamente ligada ao desenho, depende do educador torná-la numa atividade educativa.
            Serão apresentadas técnicas, algumas de mais fácil utilização em sala de aula do que outras. As formas de expressão plástica mais utilizadas são o desenho, a pintura, a digitinta, o recorte e a colagem. Serão apresentadas outras mais para aumentar este leque de escolhas
            Educação Visual e Plástica divide-se em dois sectores. A Educação Visual e a Educação Plástica.
            A arte visual é uma arte bastante ampla, em que abrange qualquer tipo de representação visual. Outras formas visuais dramáticas costumam ser incluídas em outras categorias, como teatro, música ou ópera, apesar de não existir fronteira clara. É o caso da arte corporal e a arte interativa ou mesmo o cinema e o vídeo.
            As artes que normalmente lidam com a visão como o seu meio principal de apreciação são assim designadas de artes visuais. Por excelência, consideram-se artes visuais as seguintes: pintura, desenho e gravura. As artes espaciais como a escultura e a arquitetura podem ser consideradas artes visuais, embora sua matéria-prima não seja a imagem bi-dimensional.
            No que diz respeito à educação plástica, artes plásticas ou belas-artes são as formações expressivas realizadas utilizando-se de técnicas de produção que manipulam materiais para construir formas e imagens que revelem uma concepção estética e poética em um dado momento histórico. O surgimento das artes plásticas está diretamente relacionado com a evolução da espécie humana.


FUSARI, Maria R.; FERRAZ, Maria H.

Arte na educação escolar
O ensino e a aprendizagem da arte fazem parte da produção artística em todos os tempos.
A mudança da educação tradicional para o processo de aprendizagem do aluno também ocorreu no âmbito do ensino de Arte. As pesquisas de vários campos das ciências humanas sobre o desenvolvimento da criança e sobre o processo criado, sobre a arte e outras culturas. Na confluência da antropologia, filosofia, psicologia, psicanálise, critica da arte, da psicopedagogia e das tendências estéticas surgiram princípios inovadores para o ensino de artes plásticas, musica, teatro e dança que valorizam a livre expressão e a sensibilização para a experimentação artística visando o potencial criador.
A necessidade e a capacidade da expressão artística enquadrada em palavras de ordem, em aplicação mecânica das atividades das crianças, geram deformações na ideia original e banalização do deixa fazer, deixar a criança fazer arte, sem nenhuma intervenção. Esse objetivo de facilitar o desenvolvimento criador da criança, no entanto desencadeou uma indiscriminada ideia vaga e imprecisa sobre a função da educação artística. 
Na década de 60, arte-educadores, questionavam a ideia do desenvolvimento espontâneo, inaugurando uma nova tendência, com o objetivo era precisar o fenômeno artístico como conteúdo escolar, articulando-se em dois movimentos: a revisão critica da livre expressão e a investigação, na pedagogia, na psicologia cognitivista, na própria produção artística, entre outras.
No inicio dos anos 70, os Estados Unidos afirmavam que o desenvolvimento artístico é resultado de formas complexas de aprendizagem. A tarefa do professor era propiciar essa aprendizagem por meio da instrução, buscando meios para transforma ideias, sentimentos e imagens num objeto material, estabelecimento de conceitos solidificam e fundamentam dentro do currículo escolar, definindo contornos com base em características ao fenômeno artístico. A partir daí, pesquisas ressaltara as que investigam o modo de aprender dos artistas.
O ensino da arte é identificado pela visão humanista e filosófica que demarcou as tendências tradicionais e escolanovistas. Que apesar de contrapor as proposições, métodos e entendimento dos papeis do professor e do aluno, influenciaram ações escolares de Artes.
Na primeira metade do século XX, disciplina de Desenho, Trabalhos Manuais, Música e Canto Orfeônico, faziam parte dos programas escolares. O ensino de arte era voltado ao ensino técnico, o professor transmitia aos alunos códigos, conceitos e categorias.
A disciplina de Desenho apresentada sob a forma de Desenho Geométrico, Desenho Natural e Desenho Pedagógico era considerado aplicação imediata e a qualificação para o trabalho. 
Teatros e danças eram reconhecidos como parte de festividades e celebração de datas. A música, o Canto Orfeônico preparado pelo compositor Heitor Villa-Lobos, na década de 30 difundia ideias de coletividade e civismo. Esbarrando na atividade pratica dos professores e transformou-se em aulas de musicas baseada em aspectos matemáticos e visuais com a memorização de peças orfeônicas de caráter folclórico, cívico e exaltação. Isso por 30 anos, quando o Canto Orfeônico é substituído pela Educação Musical, pela LDB de 1961.
Entre os anos 20 e 70 o ensino da Arte volta-se para o desenvolvimento natural da criança valorizando suas formas de expressão e de compreensão do mundo, enfatizando repetições de modelos, e deslocando a ênfase para os processos de desenvolvimento do aluno e sua criação.
Desenho e Artes Plásticas BUSCAM A ESPONTANEIDADE, AUTONOMIA E DESCOBERTA, BASEANDO-SE NA AUTO-EXPRESSÃO DOS ALUNOS.
Com a Educação Musical a musica pode ser sentida, tocada dançada, cantada. Utiliza-se jogos, instrumentos de percussão, todas e brincadeiras buscava-se um desenvolvimento auditivo, rítmico, expressão corporal e a socialização das crianças que são estimuladas a experimentar, improvisar e cria.
A semana Da Arte Moderna, em 1922, tenta-se trabalhar-se a arte fora das escolas, cresce os movimentos culturais. As artes plásticas ganham novas expressões, surgem museus em todo o país. Obras deixam de ser só eruditas, mas se popularizam, aproximando e influenciando a Arte escolar. Até 1960, havia poucos cursos de formação de professores nesse campo, e professores de quaisquer matérias ou pessoas com alguma habilidade na área poderiam assumir as disciplinas de Desenho, Desenho Geométrico, Artes Plásticas e Musica.
Em 1971, a LDB, a arte é incluída no currículo escolar com o titulo de Educação ARTÍSTICA, mas é considerada atividade educativa e não disciplina, foi um avanço, mas os professores não estavam habilitados essa contradição demonstrou o enfrentamento de dificuldades da base na relação entre teoria e pratica.
Faculdades de Educação ARTÍSTICA foram criadas para cobrir o mercado, mas não estavam preparadas, os professores tentavam equacionar objetivos inatingíveis, com atividades múltiplas, envolvendo exercícios musicais, plásticos, corporais, sem conhecê-los bem e justificados e divididos apenas por faixas etárias.
Entre 70 e 80, antigos professores e os recém-formados viram-se responsáveis em educar alunos em todas as linguagens artísticas tornando-se polivalentes em Artes, o que diminuiu a qualidade de cada forma de arte.
A partir de 80 constituiu-se o movimento Arte-educação com finalidade de conscientizar e organizar profissionais ampliando as discussões sobre a valorização e o aprimoramento do professor. Novos andamentos a ação educativa foram propostas por universidades, associações de arte-educadores, entidades publicas e particulares.
Em 1988, a Constituição Federal retira a obrigatoriedade da área, porem, e a LDB de 1996 revoga e considera a Arte obrigatória na educação básica. O inicio do movimento arte educação evolui-0se pra discussões que geraram concepções e novas metodologias para o ensino e a aprendizagem da arte nas escolas. Identificado por Arte e não mais Educação Artística, é estruturada no currículo escolar como área com conteúdos próprios ligados a cultura artística a não mais atividade. Trata-se de estudos sobre a educação estética do cotidiano, encaminhando o pedagógico-artístico a integração de fazer- artístico, a apreciação da obra de arte e a contextualização histórica ( produção, fruição e reflexão).
Sem uma consciência clara de sua função e da arte como área de conhecimento com conteúdos específicos, professores não conseguem formular um quadro de referências conceituais e metodológicas para alicerçar sua ação pedagógica.

HEINICH, Nathalie.

A sociologia da arte
No texto. a autora aborda a arte não como uma manifestação natural, mas um fenômeno construído por meio da história e das práticas. Dessa maneira, a sociologia da arte "[...] não deveria mais ter necessidade de petições de princípio por se interessar pelos diferentes públicos, pela sua morfologia, seus comportamentos, suas motivações, sua emoções" (pág. 71). Assim o estudo da recepção nos leva a uma melhor compreensão.
O autor comenta a obra de Pierre Bourdieu que se tornou o iniciador da pesquisa estatística para o mundo da cultura, fazendo uma crítica sobre a crença no caráter inato das "disposições cultivadas", para pôr em evidência o papel primordial da inculcação familiar, relacionando a noção marxista de capital econômico a de capital cultural, denunciando o fato de que os museus, ao invés de serem instrumentos de uma possível democratização ao acesso à arte, agravam a superação entre não conhecedores e iniciados, da mesma forma que as universidades, ao invés de trabalhar para a democratização do acesso ao saber, só fazem aprofundar a distância entre dominantes e dominados.
1 SOCIOLOGIA DO GOSTO
Neste capítulo o autor coloca as ideias de Bourdieu que entende como um sistema de disposições duráveis uma "estrutura estruturada estruturante", isto é, um conjunto coerente de capacidades de hábitos e de marcadores corporais, que forma o indivíduo pela inculcação não consciente e a interiorização de modos de ser próprio do meio. Sem essa noção seria difícil apreender o que faz a verdadeira "barreira à entrada" nos locais de alta cultura.
1.1 Práticas Culturais
Segundo o autor a mensuração estatística das práticas culturais, refere-se a frequentação. Duas interpretações são propostas por Bourdieu e citadas pelo autor para explicar o fenômeno: ou se trata de uma democratização do público, pela abertura dos museus a novas categorias sociais, mais numerosas e menos selecionadas, ou se trata de uma intensificação da prática pelas mesmas categorias sociais, atraídas com mais frequência para os museus pela multiplicação das exposições assim como pelo aumento do tempo consagrado ao lazer. Assim: [...] democratização dos públicos trata-se de uma possibilidade social de acesso à cultura das populações menos favorecidas, que as políticas públicas visam a partir dos anos 60, particularmente pela abertura das casas de cultura e o desenvolvimento da ação ou ainda a preocupação com o não- público (pág 78).
Dessa maneira essa questão da democratização constitui objeto de discussão comum para políticos e sociólogos, representando duas direções possíveis a prática e a teórica.
1.2 Percepção Estética
Sob esse aspecto o autor comenta que Bourdieu abre um caminho interessado pelo uso social do fotografo, a abordagem estatística fora completada por um método mais qualitativo, à base de entrevistas em profundidade, que será em seguida utilizado por sociólogos da arte e da cultura em seus trabalhos de campo. Assim: "a sociologia da recepção antecede a sociologia do gosto, questionando não as preferências estéticas, mas as condições que permitem ver emergir um julgamento em termos de beleza (ou de feiura, de arte ou não-arte" (pág.82).
Dessa maneira, tanto as propriedades objetivas das obras com os quadros mentais receptores, e os contextos pragmáticos de recepção são requisitados na probabilidade de ver qualificado um objeto em termos estéticos, a descrição dessas mudanças, e a explicitação de suas lógicas, fornecendo às sociologia um programa de pesquisa rico em possibilidades.
1.3 Admiração Artística
De acordo com Heinich, a sociologia da arte se inclina a uma sociologia de valores "[...] é que a arte se torna objeto de investimentos bem maiores do que aqueles de que se ocupam tradicionalmente os especialistas, quando se interessam pela origem, pelo valor e sentido das obras" (pág. 84). Assim encontra-se no registro de valores uma estética não apenas como possível qualificação das obras, ou de seus autores, paralelamente à moral, à sensibilidade, à racionalidade econômica ou ao sentimento de justiça.
Assim sendo, as rejeições importam tanto quanto admiradores, os não iniciados quanto os iniciados, o mau gosto tanto quanto o bom gosto, e as pessoas tanto quanto as obras, mesmo que a vida dos artistas seja menos expressiva que seus quadros.
2 MEDIAÇÃO
De acordo com o autor o termo refere-se a tudo que intervém entre uma obra e sua recepção e tende a substituir distribuição ou instituições, podem-se distinguir várias categorias de mediadores como: as pessoas, instituições, palavras e pelas coisas, embora estejam, na realidade, estreitamente ligadas.
2.1 Pessoas
Segundo o autor uma obra de arte não se torna tal como é sem que antes não entre pela rede de atores complexa, (marchads para negociá-la, colecionadores, críticos, peritos, avaliadores etc.). Assim: [...] entre uma arte orientada para o mercado e uma arte orientada para os museus. Essa sociologia do mercado da arte poderá igualmente se concentrar em certas categorias de atores, tais como os peritos ou agentes de leilão (pág. 89).
Assim, a atividade dos críticos pode ser o objeto de uma sociologia da recepção, e não apenas de uma história da fortuna de crítica tal como é praticada tradicionalmente nos estudos literários. Pode tratar-se de pôr em evidência, na continuidade dos trabalhos de Pierre Bourdieu, a ligação entre a posição social ou política dos críticos e de suas posições estéticas.
2.2 As Instituições
As pessoas exercem frequentemente sua atividade no quadro de instituições que a história da arte demonstrou bem isso tem sua história e sua lógica próprias. Assim, a economia é convocada quando demonstra como as administrações concorrem para o encarecimento dos custos do espetáculo ao vivo, por meio de subvenções que elevam as expectativas de qualidade para além das possibilidades oferecidas pelo mercado.
2.3 As palavras e as coisas
O estudo das mediações para além da ação das pessoas e das instituições " as palavras, os números, as imagens, os objetos também acabam por interpor-se entre uma obra e os olhares postos nelas ( pág. 94).
Assim, a edição de arte hoje parte integrante do ambiente estético, misturando as imagens com as palavras que comentam, informam e avaliam.
2.4 Teorias da Mediação
Segundo o autor, a mediação contribui, algumas vezes, para a produção das obras, quando os procedimentos de credenciamento, fazem parte integrante da proposição artística, fazendo da arte um jogo a três, entre produtores, mediadores e receptores.
Sendo assim, as relações improváveis entre mundos separados, mas com mediadores, no sentido de operadores de transformações, ou de traduções, que fazem a arte por inteiro, ao mesmo tempo em que a arte os faz existir. Assim, podemos entender a mediação como tudo o que se interpõe entre a obra e seu espectador, nessa perspectiva, outras abordagens são suscetíveis de conferir um suporte teórico a essa noção.
Dessa maneira, o conceito de campo como foi elaborado por Pierre Bourdieu, pode articular-se a uma problemática da mediação, nesse conceito de campo, a propósito do campo artístico sendo que o campo da verdade, é totalmente autônomo, pois os autores vivem forçosamente em vários campos ao mesmo tempo, dentre os quais alguns são mais abrangentes ou mais poderosos que outros.
A teoria da mediação permite compreender o que pode ser o funcionamento em rede, mais não esclarece muito a respeito de sua estruturação. A teoria dos campos, o contrário, interessa-se pelas estruturações, mas quase não oferece ferramentas para descrever as transformações e as associações. A teoria do conhecimento ao mesmo tempo, a cadeia das mediações e articulação estruturada.
2.5 Uma Hierarquia Específica
De acordo com o autor, não se pode compreender a especificidade dos fenômenos artísticos sem levar em conta a estratificação dos públicos, indissociável dos efeitos de elitismo, traduzidos em termos de distanciamentos temporais entre os momentos e modalidades do sucesso.
Assim, a sociologia da dominação desvela as desigualdades, ela é menos bem equipada para conceber as interdependências que os atores e as instituições têm em redes de credenciamento cruzadas onde mesmo os mais poderosos não podem fazer.
3 PRODUÇÃO
3.1 Morfologia Social
Segundo Heinich, as profissões artísticas e o desafio da análise sociológica relacionam-se a investigação, numa perspectiva etnometodológica, ao critério da autodefinição considerando como artista todos aqueles que assim se declaram. Assim, os critérios clássicos em sociologia das profissões são poucos utilizáveis. A atividade artística, [..] ela pode se apreendida e exercido sem passar por um ensino oficializado, e as estruturadas de afiliação coletivas tornaram-se praticamente inexistentes a partir do fim das corporações e do declínio das academias num universo individualizado ( pág 111).
Essa pesquisa terminou na tentativa de relacionar as variações da tendência estética, em função do efeito de geração, com o objetivo de explicar por meio de determinantes de uma geração as escolhas de expressão artísticas.
3.2 Sociologia da Dominação
Projeto materialista clássico consiste em explicar a obra de arte não pelas características de seus mecenas ou do seu contexto de recepção, mas pelas propriedades de seu produtor. Este, entretanto, não é mais considerado enquanto individuo psicológico, como na estética tradicional, nem enquanto membro de uma classe social, como na tradição marxista, mas enquanto alguém que ocupa certa posição no "campo de produção restrita" a que pertence sua criação. A esse parâmetro coletivo que é o campo corresponde de modo equivalente o parâmetro individual. “[...] como é o caso da sociologia bourdieusiana, que penetrou amplamente o mundo da cultura”. Toda pessoa dotada de notoriedade torna-se, como "dominante", o fomentador ou o cúmplice de um exercício ilegítimo aos olhos do sociólogo de legitimação (pág. 114). 
Dessa maneira a redução da pluralidade das dimensões de um campo, e da própria pluralidade dos campos, a um princípio de dominação, quase não permite levar efetivamente em consideração a pluralidade dos princípios de dominação, a sociologia da dominação, que tem em foco as estruturas hierárquicas, pouco facilita concreta das interações efetivas, muito mais complexas do que ugere ua redução a uma relação de forças entre dominantes e dominados.
4 SOCIOLOGIA INTERACIONISTA
Segundo o autor a descrição empírica da experiência real faz com que ela se apresente como essencialmente coletiva, coordenada, isto é, submetida a pressões materiais e sociais exteriores aos problemas especificamente estéticos, opera uma desconstrução das concepções tradicionais superioridade intrínseca das artes e dos gêneros maiores, individualidade do trabalho criador, originalidade ou singularidade do artista. Assim, o estabelecimento de fatos é indispensável a um reconhecimento das representações como tais, o sociólogo deve escolher entre duas opções do primeiro estágio em conformidade com o projeto positivista do modo de dizer a verdade que as representações dissimulam, em conformidade com o projeto crítico, que consiste em destacar as lógicas próprias à formação e à estabilização das representações.
5 SOCIOLOGIA DA IDENTIDADE
Segundo o autor mais do que a estatística e a observação direta das condutas, é a análise dos discursos e das imagens que fornece a base metodológica de tais análises, para além de uma explicação das posições sociais, a sociologia dos produtores de arte pode consistir em uma compreensão das representações dos atores, buscando a compreensão lógica dessas diferentes representações que veiculam certo número e sociólogos da arte. Por outro lado compreende esses criadores, como seus admiradores, demonstram repugnância em pensar sua trajetória em termos de carreira. Essa noção implica, ao mesmo tempo, uma personificação dos fins personificação dos fins perseguidos pela pessoa e uma estandardização dos meios, de posto em posto.

HERNANDEZ, Fernando.
Cultura visual, mudança educativa e projeto de Trabalho.
A arte pode atuar como mediadora para enfrentar muitos problemas da atualidade, principalmente os de interesse dos educadores. Ela não é uma disciplina marginal, muito menos uma matéria específica de um campo do conhecimento. A cultura visual pode contribuir para a compreensão do ser humano e das transformações do mundo. Pode inclusive emancipar o homem, desde a infância até a vida universitária. Essas são algumas das ideias defendidas pelo professor Fernando Hernández, titular da Faculdade de Belas Artes da Universidade de Barcelona, na Espanha, que mantém uma relação acadêmica com educadores brasileiros desde 1993.
Em seu recente livro, Cultura visual, mudança educativa e projeto de trabalho, editado pela Artmed, Hernández fala sobre o ensino da arte. O texto, que teve sua primeira edição em 1997, com o título Educación y cultura visual, foi revisado com o objetivo de aproximar-se da realidade do Brasil, estabelecendo alguns elos com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) e a bibliografia brasileira, além de introduzir algumas questões que foram contempladas de modo diferente na primeira versão de seu trabalho.
Sobre a cultura visual e a educação, Hernández discute as concepções práticas dos docentes, analisa o porquê da arte ser considerada uma disciplina sem importância e revela alguns caminhos para estimular a paixão dos alunos pelo aprender. Em muitos momentos do texto, o autor mostra o valor da compreensão no ensino e como é possível favorecê-la.
Longe de oferecer soluções acabadas, o professor questiona, reflete e duvida de importantes conceitos e ideias no campo da educação escolar, que precisa ser repensada, já que a escola atual, diz ele, responde em boa parte a problemas e necessidades do século XIX. "Falar da compreensão da cultura visual torna-se ridículo num momento em que o que parece contar são as guerras políticas e econômicas do mundo das comunicações, quando se trata de determinar quem vai controlar e colocar a seu serviço os benefícios do mercado da globalização na qual seus interesses irão circular por todo o planeta sem travas nem concorrência", constata Hernández.
Entretanto, olhando a realidade numa perspectiva diferente, o autor especifica outra dimensão. "A cultura visual não se torna um tema banal se prestarmos atenção às mudanças operadas na gestão dos museus, que atuam cada vez mais como espaços de consumo e, portanto, de produção de valores e produtos culturais (e de mercadotecnia) diversificados em função dos diferentes tipos de públicos potenciais". Para reforçar a proposta do livro, Hernández argumenta: "Não estamos diante de uma disciplina marginal se olharmos as páginas econômicas dos jornais, onde se oferecem conselhos para investir no mercado da arte ou se estuda os resultados econômicos da indústria do desenho, da publicidade e do lazer audiovisual."
Nessa linha de raciocínio, o autor tece algumas críticas aos planejadores da educação e à visão distorcida sobre o aprendiz. Segundo ele, esses profissionais são incapazes de conceber os alunos fora do quadro — "consumidores de imagens que devam aprender a decompor em elementos de linguagem ou de produtores artesanais de algumas imagens que hoje podem ser elaboradas com maior diversidade e qualidade a partir das possibilidades oferecidas pelos novos suportes tecnológicos".
A crítica de Hernández também enfoca os modelos curriculares que tendem a olhar para trás ao reivindicar a aprendizagem de conteúdos conceituais próprios dos movimentos educativos dos anos 60, fazendo uma referência a Eisner (Educando la visión artistica, editado pela Paidós, em 1995) e Gardner (Educación artística y desarrollo humano, Paidós, em 1994), influenciados pela psicologia cognitiva do processamento da informação.
Para o autor, tal posição permite uma situação muito comum nas escolas médias espanholas, em que os alunos estudam "diferentes tipos de linhas e texturas como aprendizagens prioritárias para responder e interpretar a atual cultura da imagem". E continua Hernández: "Essa opção curricular, além de uma enorme falta de respeito intelectual aos adolescentes, ainda que, em princípio, apresente o valor de superar a fase anterior, a meio caminho entre o expressionismo e o desenho geométrico, caracteriza-se por não olhar para o presente e virar a cabeça para outro lado, não levando em conta a realidade polimórfica, especular e virtual em que agora vivemos".
Em função dessas considerações, o livro procura recuperar o sentido na educação. Como diz o próprio autor, é uma tentativa de "restabelecer o significado do saber escolar, baseado em algumas disciplinas concebidas como compartimentos estanques em torno das quais se apresenta uma distribuição dos conteúdos, num marco rígido de espaço e de tempo."
Depois de situar o sentido e a finalidade de seu trabalho no primeiro capítulo, Hernández, no segundo, fundamenta sua proposta a partir de dois eixos que definem "o visual". De um lado como mediador de significados e de outro o papel da interpretação desse visual que favorece o desenvolvimento do conhecimento.
"Partindo de uma perspectiva psicológica, ou psicopedagógica, a aprendizagem no campo do conhecimento artístico exige um pensamento de ordem superior (a referência é a Vygotsky, em seu livro El Desarrollo de los Procesos Psicológicos Superiores, editado pela Crítica, de Madrid, em 1979) e a utilização de estratégias intelectuais como a análise, a inferência, o planejamento e a resolução de problemas ou formas de compreensão e interpretação etc.", explica o autor, ressaltando ainda que a atividade vinculada ao conhecimento artístico estimula, além da habilidade manual, os sentidos, a mente, a identidade em relação às capacidades de discernir, valorizar, interpretar, compreender, representar e imaginar.
O terceiro e quarto capítulos abordam a educação artística na Espanha. O objetivo é contextualizar historicamente as mudanças e estruturas de racionalidade que a guiaram na reforma curricular de 1990. Apesar do enfoque naquele país, Hernández faz alguns paralelos com a experiência brasileira no ensino de arte. Isso foi possível, segundo o autor, graças a duas fontes, que permitiram situar, dialogar e compreender a trajetória da educação artística no Brasil: o trabalho de Ana Mae Barbosa (1987) e Lucimar Bello (1998).
A fim de dialogar com as mudanças que ocorreram neste final de século, o livro também discute o conhecimento artístico, seu papel na educação, para permitir uma maior compreensão e as perspectivas para a arte no ensino. Analisa ainda um tema considerado muito difuso pelo autor: a avaliação. A proposta de seu texto é fazer uma revisão e apresentação de várias perspectivas para poder interpretar o que o aluno aprende nesse campo.
No último capítulo do livro, o leitor poderá encontrar propostas práticas para a sala de aula sobre a compreensão da cultura visual. Hernández mostra três exemplos com base nas discussões do livro. Nesse sentido, o autor parte de uma reflexão sobre a dificuldade de compartilhar e publicar experiências educativas. "Se o leitor encontrar alguma utilidade ou inspiração nesses exemplos, deverá traçar seu próprio trajeto e fazer sua adaptação. Mas essa certeza não elimina as dúvidas, e explicitá-las não é um fato gratuito, pois permite uma reflexão sobre o papel que podem ocupar os exemplos e os materiais curriculares dos quais nos utilizamos nos livros-texto ou em outros meios de ensino", orienta.

HERNANDEZ, Fernando
Catadores da cultura visual. Proposta para uma nova narrativa educacional
Há livros sobre ensino de arte que custam muito a ler e que não deixam memórias, outros que se leem com algum esforço e que deixam algumas marcas e finalmente há os outros: aqueles que se leem com prazer e que nunca mais nos saem da cabeça. O livro de Fernando Hernandez ‘Catadores da Cultura Visual: Proposta para uma nova narrativa educacional’ pertence ao último grupo. Foi traduzido para português do Brasil e editado pela Editora Mediação em Porto Alegre - RS. Porto Alegre tem sido um local onde se têm feito grandes desafios no ensino de arte artística e não é surpresa nenhuma que este livro venha de lá.
Fernando Hernandez, neste livro, apresenta a sua convicção no poder da educação artística e de um modo bem honesto e frontal, como é o seu jeito de ser e de escrever, desafia-nos a subverter, a ir mais além e a ousar abordar a leitura e compreensão de imagens de uma outra maneira. Através de uma proposta muito fora do comum, baseada na metáfora dos ‘catadores’.  Catadores no sentido de recolectores, aqueles que procuram, encontram e transformam. Não é deveras maravilhoso este pensamento? O ensino de arte como processo de procura, encontro e transformação? Não é isso que aspiramos todos os dias?
Fernando Hernandez parte dos estudos da cultura visual e talvez por isso o seu livro se centre mais na análise das imagens do que na produção, para o autor a nossa grande finalidade educativa deveria ser a de questionar e facilitar experiências reflexivas e críticas. Experiências que promovam a compreensão das imagens tanto a partir dos sentidos e pensamentos como a partir dos seus contextos históricos e do seu papel na construção de identidades. Fernando Hernandez é daquelas raras pessoas que convencem o leitor com gentileza e paciência. Ele explica, pouco a pouco, os seus conceitos, continua expondo as suas ideologias e, suavemente, vai ‘prendendo’ o leitor, apelando para a necessidade de mudança, fazendo o leitor entender as razões para o câmbio, a urgência em desenvolver novos saberes. Chegamos ao meio do livro e sentimo-nos verdadeiramente perdidos, reconhecendo as nossas faltas, o nosso conservadorismo, a nossa ‘acomodação’ e rotinas.
Bem, mas a leitura do livro não é nenhuma sessão de terapia, é, antes de mais nada, um manifesto poderoso, um manifesto a favor da mudança. E o autor sugere algumas linhas: umas já enunciadas por outros e outra bem sua, a linha de Fernando Hernandez, que não é baseada em mais uma teoria de gabinete, mas sim baseada em experiências reais, onde o modelo de Hernandez foi testado com meninos e meninas verdadeiros em escolas de verdade e, no livro, existem relatos contando algumas dessas experiências. No final do livro rendemo-nos à evidência, à sua proposta para a compreensão crítica e performativa das representações da cultura visual e só nos apetece mudar a nossa vida profissional radicalmente, refazer as aulas e reinventar o currículo da educação visual à luz das suas ideias e das suas sugestões. 
Se há livros que deixam marcas este é um deles, acredito que o impacto dele em muitos professores de arte e nos futuros professores do Brasil possa vir a ser importante e que também chegue a Portugal porque nós aqui, mais do que nunca, precisamos rever as nossas práticas e questionar os nossos conceitos perante os desafios que a sociedade europeia nos está a colocar. 

Metodologia do Ensino de Arte
.A História Educativa em Arte que temos
·         Determinantes sócio-culturais

2.Que História da Educação Escolar em Arte queremos fazer

Transcrição do texto do livro "Metodologia do Ensino de Arte" . Maria Heloísa Ferraz e Maria F. de Resendi e Fusari. Cortez,1993
Determinantes Sócio-Culturais
As práticas educativas surgem de mobilizações sociais, pedagógicas, filosóficas, e, no caso de arte, também artísticas e estéticas. Quando caracterizadas em seus diferentes momentos históricos, ajudam a compreender melhor a questão do processo educacional e sua relação com a própria vida.

No Brasil, por exemplo, foram importantes os movimentos culturais na correlação entre arte e educação desde o século XIX. Eventos culturais e artísticos, como a criação da Escola de Belas Artes no Rio de Janeiro e a presença da Missão Francesa e de artistas europeus de renome, definiram nesse século a formação de profissionais de arte ao nível institucional. No século XX, a Semana de 22, a criação de universidades (anos 30), o surgimento das Bienais de São Paulo a partir de 1951, os movimentos universitários ligados à cultura popular (anos 50/60), da contracultura (anos 70), a constituição da pós-graduação em ensino de arte e a mobilização profissional (anos 80), entre outros, vêm acompanhando o ensino artístico desde sua introdução até sua expansão por meio da educação formal e de outras experiências (em museus, centros culturais, escolas de arte, conservatórios, etc.).

Isto nos faz ver que as correlações dos movimentos culturais com a arte e com a educação em arte não acontecem no vazio, nem desenraizadas das práticas sociais vividas pela sociedade como um todo. As mudanças que ocorrem são caracterizadas pela dinâmica social que interfere, modificando ou conservando as práticas vigentes.

Dentre as mais relevantes interferências sociais e culturais que marcam o ensino e aprendizagem artísticos brasileiros podemos destacar:
 

Os comprometimentos do ensino artístico (desenho) visando a uma preparação para o trabalho (operários), originado no século XIX durante o Brasil Imperial e presente no século XX;
Os princípios do liberalismo (ênfase na liberdade e aptidões individuais) e o positivismo (valorização do racionalismo e exatidão científica), por um lado, e da experimentação psicológica, por outro, influenciando na educação em arte, ao longo do século XX;
O caos, os conflitos, os tecnicismos e a dependência cultural delineados no ensino de arte após a implantação da Educação Artística nas escolas brasileiras na década de 70 (Lei de Diretrizes e Bases 5692/71)
A retomada de movimentos de organização de educadores (principalmente as associações de arte-educadores), desde o início dos anos 80;
A discussão e a luta para inclusão da obrigatoriedade de Arte na escola e redação da Nova Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional, após a Constituição Brasileira de 1988;
A retomada das investigações e experiências pedagógicas no campo da arte; sistematizações de cursos ao nível de pós-graduação;
As novas concepções estéticas da arte contemporânea modificando os horizontes artísticos e consequentemente a docência em arte;
Os debates sobre conceitos e metodologias do ensino de arte realizados em caráter nacional e internacional, a partir dos anos 80.

A preocupação com a educação em arte tem mobilizado pesquisadores, professores, estetas e artistas, os quais vêm procurando fundamentar e intervir nessas práticas educativas. No Brasil, desde o final dos anos 80 têm-se divulgado inúmeros trabalhos desta ordem, tanto aqueles elaborados aqui quanto os de outros países. São propostas que refletem atuações em arte e são baseadas:

Nas necessidades psicológicas dos alunos ou em suas necessidades e problemas ambientais, comunitários e sociais;
No ensino e aprendizagem pensado a partir da própria da própria arte, como um sistema de conhecimento do mundo; no conhecimento da arte advindo de fazer artístico e também da apreciação e história da arte;
Nas articulações dos atos perceptivos e verbalizadores dos alunos como base da experiência estética;
Nos alcances e limites da interdisciplinaridade e entre os diversos métodos de ensinar a aprender os conhecimentos em arte;
Nas necessidades de mudanças da formação do educador em arte, visando à melhoria da qualidade de escolarização desde a infância.

A História que estamos considerando, portanto, é aquela que está sendo desenvolvida por professores e alunos em suas práticas e teorias pedagógicas. E, observando a história do ensino artístico, percebemos o quanto nossas ações também estão demarcadas pelas concepções de cada época. Para este estudo apresentaremos uma síntese das tendências pedagógicas mais influentes no ensino de arte e sua relação com a vida dos brasileiros.
Tendências Pedagógicas Na Educação Em Arte
Com a criação da Academia Imperial de Belas artes no Rio de Janeiro, em 1816, tivemos entre nós a instalação oficial do ensino artístico, seguindo os modelos similares europeus; nessa época, a maior parte das academias de arte da Europa procurava atender à demanda de preparação e habilidades técnicas e gráficas, consideradas fundamentais à expansão industrial. Aqui, como na Europa, o desenho era considerado a base de todas as artes tornando-se matéria obrigatória nos anos iniciais de estudo da Academia Imperial. No ensino primário o desenho tinha por objetivo desenvolver também essas habilidades técnicas e o domínio da racionalidade. Nas famílias mais abastadas as meninas permaneciam em suas casas, onde eram preparadas com aulas de música e bordado, entre outras.
A "Pedagogia Tradicional" E As Aulas De Arte
Nas primeiras décadas do século XX o ensino de arte, no caso, desenho, continuou a apresentar-se com este sentido utilitário de preparação técnica para o trabalho. Na prática, o ensino de desenho nas escolas primárias e secundárias fazia analogias com o trabalho , valorizando o traço, o contorno e a repetição de modelos que vinham geralmente de fora do país; o desenho de ornatos, a cópia e o desenho geométrico visavam à preparação do estudante para a vida profissional- e para as atividades que se desenvolviam tanto em fábricas quanto em serviços artesanais.
Os programas de desenho do natural, desenho decorativo e. desenho geométrico eram centrados nas representações convencionais de imagens;. Os conteúdos eram bem discriminados, abrangendo noções de proporção, perspectiva, construções geométricas; composição, esquemas de luz e sombra. Nas Escolas Normais os cursos de desenho incluíam ainda o "desenho pedagógico", onde os alunos aprendiam esquemas de construções gráficas para "ilustrar" aulas".
Do ponto de vista metodológico, os professores, seguindo essa "pedagogia tradicional" (que permanece até hoje), encaminhavam os conteúdos através de atividades que seriam fixadas pela repetição. E tinham por finalidade exercitar a vista, a mão, a inteligência, a memorização, o gosto e o senso moral. O ensino tradicional está interessado principalmente no produto do trabalho escolar e a relação professor e aluno mostra-se bem mais autoritária. Além disso, os conteúdos são considerados verdades absolutas.
A partir dos anos 50, além do Desenho, passaram a fazer parte do currículo escolar as matérias Música, Canto Orfeônico e Trabalhos Manuais, que mantinham de alguma forma o caráter e a metodologia do ensino artístico anterior. Ainda nesse momento, o ensino e a aprendizagem de arte concentram-se apenas na "transmissão" de conteúdo reprodutivistas. Desvinculando-se da realidade social e das diferenças - individuais. O conhecimento continua centrado no professor, que procura desenvolver em seus alunos também habilidades" manuais e hábitos de precisão, organização e limpeza. 
A "Pedagogia Nova" E As Aulas De Arte
A. "Pedagogia Nova", também conhecida por Movimento da Escola Nova, tem suas origens na Europa e Estados Unidos (século XIX),sendo que no Brasil vai surgir a partir de... 1930) e ser disseminada a partir dos anos 50/60 com as escolas experimentais. Sua ênfase é a expressão, como um dado subjetivo. E individual em todas as atividades, que passam dos aspectos intelectuais para os afetivos. A preocupação com o método, com o aluno, seus interesses, sua espontaneidade e o processo do trabalho caracterizam uma pedagogia essencialmente experimental, fundamentada na Psicologia e na Biologia.

Diferentes autores vêm marcando os trabalhos dos professores de Arte, no século XX, no Brasil, firmando a tendência da "Pedagogia Nova", Entre eles destacam-se John Dewey (a partir de 19(0) e Viktor Lowenfeld (a partir de 1939), dos Estados Unidos, e Herbert Read (a partir de 1943), da Inglaterra, Com a publicação de seu livro Educação pela Arte (traduzido em vários países), Read contribuiu para a formação de um dos movimentos mais significativos do ensino artístico. Influenciado por esse movimento no Brasil, Augusto Rodrigues liderou a criação de uma "Escolinha de Arte", no Rio de Janeiro (em 1948), estruturada nos moldes e princípios da "Educação Através da Arte":

Estava muito preocupado em liberar a criança através do desenho. Da pintura. Comecei a ver que o problema não era esse, era um problema muito maior. Era ver a criança no seu aspecto global, a criança e a relação professor-aluno, a observação do comportamento delas. o estímulo e os meios para que elas pudessem, através das atividades, terem um comportamento mais criativo. Mais harmonioso.

As crianças vinham cada vez mais, e as idades eram as mais diferentes. Felizmente, tínhamos duas coisas muito positivas para um começo de experiência no campo de educação, através de uma escola. A experiência era feita em campo aberto, e a diferença de idades também foi outra coisa fundamental para que eu pudesse entender, um pouco, o problema da criança e o da educação através da, arte. Deveríamos ter um comportamento aberto, livre com a criança; uma relação em que a comunicação existisse através do fazer e não do que pudéssemos dar como tarefa ou ensinamento, mas através do fazer e do reconhecimento da importância do que era feito pela criança e da observação do que ela produzia. De estimulá-la a trabalhar sobre ela mesma, sobre o resultado último, desviando-a, portanto, da competição e desmontando a ideia de 2 que ali estavam para ser artistas (Dimento de Augusto Rodrigues, 1980, p.34.

As palavras de Augusto Rodrigues podem sintetizar as ideias da Escola Nova, que via o aluno como ser criativo, a quem se devia oferecer todas as condições possíveis de expressão artística, supondo-se que, assim, ao "aprender fazendo". Saberiam fazê-lo. Também, cooperativamente, na sociedade.
A "Pedagogia Tecnicista" E As Aulas De Arte
A "Pedagogia Tecnicista", presente ainda hoje, teve suas origens partir da segunda metade do século XX, no mundo, e a partir de 1%0/ 1970, no Brasil.

Na "Pedagogia Tecnicista", o aluno e o professor ocupam uma posição secundária, porque, o elemento principal é o sistema técnico de organização da aula e do curso: Orientados por uma concepção mais mecanicista, os professores brasileiros entendiam seus planejamentos e planos de aulas centrados apenas nos objetivos que eram operacionalizados de forma minuciosa. Paz parte ainda desse contexto tecnicista o uso abundante de recursos tecnológicos e audiovisuais, sugerindo uma "modernização" do ensino. Nas aulas de Arte, os professores enfatizam um "saber construir": reduzido aos seus aspectos técnicos e ao uso de materiais diversificados (sucatas, por exemplo), e um "saber exprimir-se" espontâneo, na maioria dos casos caracterizando poucos compromissos com o conhecimento de linguagens artísticas. Devido à ausência de bases teóricas mais fundamentadas, muitos valorizam propostas e atividades dos livros didáticos que, nos anos.70/80, estão em pleno auge mercadológico, apesar de sua discutível qualidade enquanto recurso para o aprimoramento dos conceitos de arte.
Descrição: http://www.arteducacao.pro.br/_media/img/sq_icon/icone1-2.pngQue História Da Educação Escolar Em Arte Queremos Fazer
Ao lado das tendências pedagógicas tradicional, escolanovista e tecnicista, surge no Brasil, entre 1961/1964, um importante trabalho desenvolvido por Paulo Freire, que repercutiu. Politicamente, pelo seu, método revolucionário de alfabetização de adultos. Voltado para o diálogo educador-educando e visando à consciência crítica, influencia principalmente movimentos populares e a educação não formal. Retomado a partir de 1971, é considerado nos dias de hoje como uma "Pedagogia Libertadora", em uma perspectiva de consciência crítica da sociedade.

A partir dos anos 80, acreditando em um papel específico que a escola tem com relação a mudanças nas ações sociais e culturais, educadores brasileiros mergulham em um esforço de conceber e discutir práticas e teorias de educação escolar para essa realidade. Conscientizam-se de como a escola se configura no presente, com vistas a transformá-la rumo ao futuro. E nos convidam a discutir as ações e as ideias que queremos modificar na educação em arte, como um desafio c compromisso com as transformações na sociedade.

Começa a se "desenhar" um redirecionamento pedagógico que incorpora qualidades das pedagogias tradicional, nova, tecnicista e libertadora e pretende ser mais "realista e crítica. Suas concepções podem ser sintetizadas nos seguintes aspectos:

(...) agir no interior da escola é contribuir para transformar a própria sociedade. Cabe à escola difundir os conteúdos vivos, concretos, indissoluvelmente ligados às realidades sociais. Os métodos de ensino não partem de um saber espontâneo, mas de urna relação direta com a experiência do aluno confrontada com o saber trazido de fora, () professor é mediador da relação pedagógica - um elemento insubstituível. É pela presença do professor que se torna possível urna "ruptura" entre a experiência pouco elaborada e dispersa dos alunos, rumo aos conteúdos culturais universais, permanentemente reavaliados face as realidades sociais (Cenafor, 1983, p. 30)

A educação escolar deve assumir, através do ensino e da aprendizagem do conhecimento acumulado pela humanidade, a responsabilidade de dar ao educando o instrumental para que ele exerça uma cidadania mais consciente, crítica e participante. Tem-se buscado elaborar, discutir e explicitar: então, uma "Pedagogia-Histórico-Crítica" (Saviani, 1980), ou seja, uma prática e teoria da educação, escolar mais realista, mais "Crítico-Social dos Conteúdos" (Libâneo, 1985) sem deixar de considerar as contribuições das outras perspectivas pedagógicas. Essa pedagogia escolar procura propiciar a todos os estudantes o acesso e contato com os conhecimentos culturais básicos e necessários para uma prática social viva e transformadora.

Uma pedagogia que leve em conta esses objetivos, no dizer de Dermeval Saviani, valorizará a escola;

Não será indiferente ao que ocorre em seu interior; estará empenhada em que a escola funcione bem; portanto, estará interessada em métodos de ensino eficazes. Tais métodos se situarão para além dos métodos tradicionais e novos, superando por incorporação as contribuições de uns e de outros. Portanto, serão métodos que estimularão a atividade e iniciativa doa alunos, sem abrir mão, porém, da iniciativa do professor; favorecerão o diálogo dos alunos entre si e com o professor, mas sem deixar de valorizar o diálogo com a cultura acumulada historicamente; levarão em conta os interesses dos alunos, os ritmos de aprendizagem e o desenvolvimento psicológico, mas sem perder de vista a sistematização lógica dos conhecimentos, sua ordenação e gradação para efeitos do processo de transmissão-assimilação dos conteúdos cognitivos.

Não se deve pensar, porém, que os métodos acima indicados terão um caráter eclético, isto é, constituirão uma somatória dos métodos tradicionais e novos. Não. Os métodos tradicionais assim como os novos implicam uma autonomização da pedagogia em relação à sociedade. Os métodos que preconizo mantêm continuamente presente a vinculação entre educação e sociedade. Enquanto no primeiro caso professor e alunos são sempre considerados em termos individuais, no segundo caso, professor e alunos são tomados como agentes sociais (Saviani, 1980, pp. 60-61).

Libâneo (1985) também contribui para este "desenhar" do novo redirecionamento pedagógico, ressaltando a natureza do trabalho docente hoje, no qual "um saber, um saber ser e um saber fazer pedagógico" devem "integrar os aspectos material/formal do ensino e, ao mesmo tempo, articulá-los com os movimentos concretos tendentes à transformação da sociedade".

Percebendo a relevância de conhecer o processo histórico do ensino de arte e nele saber interferir com consciência, Ana Mae Barbosa apresenta-nos importantes análises e sínteses nessa área, em seus livros Arte-Educação no Brasil (1978), Recorte e Colagem: Influências de John Dewey no Ensino da Arte no Brasil (1982), Arte-Educação: Conflitos e Acertos (1984), História da Arte-Educação (1986), O Ensino da Arte e sua História (1990). Preocupada com a democratização do conhecimento da arte (isto é, com a necessidade de assumirmos o compromisso de ampliar o acesso da maioria da população aos domínios estéticos e artísticos, por meio de uma educação de qualidade), Ana Mae contribui com relatos e reflexões que podem conduzir nosso trabalho de professores a posicionamentos mais claros. Ela considera fundamental a recuperação histórica do ensino de arte para que se possam perceber "as realidades pessoais e sociais, aqui e agora e lidar criticamente com elas". Essas ideias aparecem nitidamente em todos os seus livros, que nos convidam a discutir e encontrar formas de ação na atualidade.

Uma das ações que está em processo, hoje, e que vem se afirmando por sua maior abrangência cultural, refere-se a um posicionamento teórico-metodológico, conhecido entre nós por "Metodologia Triangular". Esta proposta, difundida e orientada por Ana Mae Barbosa, e que está sem dúvida interferindo qualitativamente no processo e melhoria do ensino de arte, tem por base um trabalho pedagógico integrador de três facetas do conhecimento em arte: o "fazer artístico", a "análise de obras artísticas" e a "história da arte". Este trabalho vem sendo desenvolvido e pesquisado, desde o início dos anos 90, em São Paulo, no Museu de Arte Contemporânea da USP (MAC-USP) e no sul do país, pela Fundação lochpe e Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), dentre outras instituições de ensino.

Acreditamos que a consciência e a interferência sobre o processo educativo (e, neste caso, mais especificamente, de arte) é fundamental para o professor, para os alunos de Magistério, enfim, para todos que estão envolvidos com uma educação que se pretende transformadora. A consciência histórica e a reflexão crítica sobre os conceitos, as ideias e as ações educativas de nossa época possibilitam nossa contribuição efetiva na construção de práticas e teorias de educação escolar em arte que atendam às implicações individuais e sociais dos alunos, às suas necessidades e interesses, e, ao mesmo tempo, proporcionem o domínio de conhecimentos básicos. Da arte.

O compromisso com tal projeto educativo exige um competente trabalho docente. No caso da ação educativa em arte com crianças, o professor terá de entrelaçar a sua prática-teoria artística e estética a consistentes propostas pedagógicas. Em síntese, é preciso saber arte e saber ser professor de arte junto a crianças.


OS SIGNIFICADOS DA ARTE E DA FILOSOFIA DA ARTE
A REFLEXÃO FILOSÓFICA E A ARTE
            1 – O Pensamento Antigo
            A filosofia tem seu inicio na cultura grega. Os primeiros filósofos procuraram descobrir os elementos construtivos das coisas através da Natureza, criando assim o pensamento filosófico primordial. Os Sofistas contribuíram com o pensamento reflexivo-crítico.
            Sócrates foi o primeiro a questionou o que a pintura poderia representar, o que a arte acrescentaria aos valores morais, profissões, governo e comportamento social.
            Platão, discípulo de Sócrates, problematizou a atividade artística. Posteriormente, Aristóteles, discípulo de Platão, escreveu a Poética, a primeira obra de teoria sobre a arte.
            2 – De Plotino a São Tomaz
            Depois de algum tempo sem contribuições na filosofia da arte, Plotino concede à arte uma importância metafísica e espiritual, ao contrario do pensamento cristão inicial, que acreditava na arte como desvio do caminho espiritual.
            Com o tempo voltou-se a tradição platônica, com atenção a importância filosófica e teológica da ideia de beleza. Para São Tomaz de Aquino é um dos aspectos fundamentais do ser, voltando a unir a ideia de Belo com a de divindade.
            No medievo, a beleza é essencialmente de Deus, qualquer relação com a arte é considerada meramente coincidência.
3 – A Filosofia do Belo
No Renascimento houve a união teórica do Belo com a Arte, sendo a Natureza a fonte da verdadeira beleza que dará origem a obra de arte.
Após admitir que a beleza está esparsa nas coisas que nos deleitamos, Alexander Gottlieb Baumgarten fundou a filosofia da Estética (Teoria das Artes Liberais), sendo a ciência do Belo e da Arte.
Em si, o estudo da estética é a filosofia da arte.
“A arte (...) obedecendo a determinados princípios, tem por fim produzir artificialmente os
múltiplos aspectos de uma só beleza universal (...).”
            Estética e Filosofia da Arte
            1 – A Estética
            A filosofia da estética é vincular o estudo do Belo a uma perspectiva definida.
            O Belo se manifesta principalmente pelas impressões visuais e auditivas para uma visão interior.
            Mais próxima do sentimento do que da razão, para Addison, essa visão interior constitui uma faculdade inata, especifica, que é privilegio do homem. Já para Hutecheson o Belo é espiritual, mas sua produção depende de sensibilidade.
            Relacionamos o Belo com uma determinada ordem de impressões, sentimentos, emoções, cujo deleite se basta a si mesmo, nesse caso, o ele é uno, completo e consistente por si só. Estética é derivada de aithesis, que significa o que é sensível ou o que se relaciona com a sensibilidade. 
            Para Baumgarten, o fundador da Estética, em seu inicio, tinha o objetivo de estudar o Belo e suas manifestações na arte. Com o domínio da sensibilidade, percepção, sentimentos e imaginação é essa disciplina, considerada um conhecimento inferior com relação aos outros estudos da época. A autonomia do domínio do Belo se deve a Emmanuel Kant. O Belo agrada sem conceito e nos causa uma satisfação desinteressada. A Estética ganha maior importância com três modalidades de experiências propostas:
Cognoscitiva - conhecimento Intelectual;]
Pratica - fins morais; e
Estética – intuição e/ou sentimento que satisfazem.
            A experiência estética é o Belo que se traduz nos aspectos subjetivos – conceito de Estética Psicologista: efeitos causados em cada individuo particularmente - e aspectos objetivos – que provem do próprio objeto: simetria, proporção, cores, etc.
            Essa experiência tem caráter valorativo, mostra valores subjetivos do ser humano a ele mesmo.
            Fenomenologia traz o conceito de contemplação, manifestação subjetiva, sensitiva e involuntária.
            2 – Filosofia da Arte
            Mesmo tentando separar e reconhecendo as diferenças entre Arte e Estética é perceptível que a Estética abrange muitas outras coisas além da Arte e o contrario, também, é verdadeiro.
A Arte reproduz a história e os valores sociais de cada época. A Estética dialoga com a Filosofia da Arte questionando os valores morais.
            A própria arte traz a renovação da reflexão filosófica. A filosofia complexa de uma obra de Arte simples leva a refletir sobre todos os tipos de valores, tanto individuais, quanto coletivos.
“Quais são, finalmente, as conexões da Arte com a sociedade, a história e a cultura?”
Hoje o interesse pela arte é o maior já visto na história.
            O Belo E A Arte
            1 – Kállos, tékne, póiesis
Kállos – Belo, Tékne – Ars, artis: técnica e Póieses – Principio subjetivo da arte como se conhece hoje.
            Póiesis tem mais proximidade do que é chamada Arte com a idéia de criação parecida com a criação da humanidade por Deus. Atualmente do que Ars, palavra que dá origem a Aris e que por sua vez origina Artis, Arte que é o mais próximo do conceito de técnica.
            O Belo para os gregos era composto de três qualidades: estética (prazer momentâneo e involuntário), moral (verdade ‘superior’, equilíbrio das faculdades moralmente elevadas) e espiritual ou intelectual (conhecimento teórico).
            É a qualidade de elementos em estado de pureza, com elementos puros adequados aos sentidos e composições equilibradas. Estado de pureza da alma.
Sócrates afirma que tudo que é útil é belo e que a beleza é patrimônio de almas equilibradas.
O objetivo da obra é tão ou mais importante que as outras características, pois traz uma verdade universal, por eles considerada divina.
            Essa divindade advém do fato que a arte das Musas era utilizada para fomentar as virtudes e acalmar as paixões. 
            O homem vive em busca de paz e prazer que muitas vezes só encontramos em alguma apreciação artística, os gregos afirma que essa é uma procura da alma livre que foi aprisionada no mundo material e vislumbra o mundo superior através dessas expressões. Aristóteles entendeu que a mimese, ou imitação, da realidade que é a essência comum nas artes. 
            O vislumbre do Belo traz o desejo de valores melhores.
            2 – A doutrina Platônica
            Platão, com a renovação por Plotino criou uma atitude e um estado de espírito em relação à Beleza e à Arte.
            A tese metafísica é a ideia de que a essência é eterna e tem diferentes roupagens de acordo com a época. O amor leva a alma a vislumbrar um estado anterior de amplitude. O belo é o bem implícito com o impulso de amor.
            Essa tese é abordada por varias culturas de formas diferentes, no Japão, o Bushido, o espiritismo, de Allan Kardec, a cultura chinesa fazem referencia a essa ideia.
Com isso o ser humano trava uma eterna batalha entre o sublime e sua parte mais voltada para a matéria, contra pré-conceitos, uma bipolaridade que a história tem referencias marcantes.
            As impressões sensíveis fugazes e ilusórias são transmitidas pela matéria.  A arte liberta a alma dessa matéria, volta a origens superiores e traz a paz que sempre procuramos.
“O Amor, a serviço do Bem, acende na alma humana o desejo de imortalidade, fazendo-a passar do conhecimento dos belos corpos ao das belas ações, das belas almas aos belos conceitos, até que, no pináculo da contemplação, revela-se-lhe ‘O oceano da beleza universal’, que confina a realidade em si, e onde, finalmente, ela pode aplacar a sua infinita inquietação.”
            Platão acreditava que as escultura e pinturas eram razas de conceito, por isso afirmava que os artesões que fabricavam ferramentas úteis produziam mais arte do que os escultores e pintores e já os poetas e músicos haviam recebido inspiração divina e produziam a verdadeira arte capaz de deixar o homem com o desejo de melhor seu potencial humano.
            A arte nesse período tem um papel de prepara o homem para voltar a sua origem que é superior a matéria, ou seja, a poesia é a mimese da beleza de um plano superior e sua dignidade se encontra no ato de incutir o bem moral.
            4 - Atividade Artística e Contemplação
            Entre a arte como póiesis e a ideia do belo existe um longo caminho que encurtou no período de Aristóteles.
            A natureza é independente do homem e tem sua beleza real, já a arte é uma criação humana, por isso reflete um pouco de artificialidade.
            A matéria (Hyle – madeira ou material) necessita de uma forma (morphos), um principio ativo, para produzir um ser perfeito. Sendo essas mesmas causas aplicadas à arte e se identifica como ideia concebida pelo artista. Tanto o movimento natural quanto o prático (artístico) saem da mesma fonte.
            As representações poéticas aproximam-se da natureza, como forma simplesmente alguma coisa ou como mimese. 
            “A tragédia, imitação de uma ação completa, acabada, necessita de caracteres: representa o essencial do destino humano naquilo que tem de grande, nobre e exemplar. O seu efeito estético, a catarse (Kátharsis), mostra-nos que essa representação exemplar estende a sua influência ao plano moral da vida.”
            A catarse consiste na purificação dos sentimentos humanos, trazendo o prazer dentro da moral. Já Feio por ser moralmente distorcido provoca o riso.
            “É que o belo na arte não coincide com a beleza exterior dos objetos, mas sim com a maneira de apresentar as coisas ou ações, a natureza assim ou o homem.”
Plotino introduz a beleza supra-sensível, sendo imutável e eterna e a alma que se agrada ao contemplá-la assemelha-se a ela. Nesse caso a beleza é a alma das coisas. Para ele, o feio é a ausência de forma, pois tudo que tem forma é belo.
            A arte nos leva a conhecer a verdade através de seus signos. A arte, nesse caso é um principio espiritual. Os pensadores cristãos acreditam que o belo e o verdadeiro se encontram apenas em Deus.  O homem deseja possuir o bem, apreender a verdade através da apreciação do belo, por estar mais próximo da verdade. A arte consiste na boa execução das obras, mas não está diretamente relacionada com a Beleza.
Joanna Lustosa.

OSINSKI, Dulce.

Arte, história e ensino: uma trajetória
Investigar a trajetória do pensamento educativo em arte, abordando diversas perspectivas, da escola da tradição, passando pelas academias de influência clássica e renascentista, até chegar às tendências contemporâneas. Essa é a proposta da pesquisadora e artista plástica Dulce Osinski, professora na Universidade Federal do Paraná, em seu livro Arte, História e Ensino - uma trajetória, editado pela Cortez Editora.
Preocupada em estimular pesquisas e, sobretudo, auxiliar arte-educadores e estudantes de arte na compreensão de sua própria prática pedagógica, a professora dividiu seu livro em oito grandes períodos, procurando identificar influências e procedimentos que permitiram elaborar uma sistemática para o ensino da arte. Em um capítulo do livro, mostra justamente como essa prática é recente na história da humanidade. Segundo Osinski, os conhecimentos artísticos foram transmitidos pela tradição "desde o período Paleolítico, palco das primeiras manifestações artísticas, até o Renascimento".
Em outro momento do livro, a pesquisadora explora os caminhos que consolidaram a ideia de "laicização" da arte, quando o homem se afastou dos dogmas religiosos e descobriu o mundo, colocando-se no centro das investigações. As academias, nesse contexto, ganham importância por desempenharem um papel educacional fundamental. Segundo a autora, a partir daí surge a preocupação com o ensino da arte no currículo das escolas e a ampliação dos museus de arte.
O ambiente da industrialização, em que artesãos mostram-se incapazes de competir com as máquinas, é abordado em dois capítulos do livro, quando Osinski examina um ensino da arte preocupado em conciliar aspectos artísticos e industriais, culminando numa concepção utilitarista. Apesar disso, as novas ideias "liberaram de vez o artista de cânones preestabelecidos, valorizando a expressão individual", criando um ambiente propício para os movimentos de vanguarda.
Em seu exame sobre a educação pela arte, a professora explica que a banalização da livre expressão e o despreparo de professores geraram um decréscimo do nível de qualidade das atividades pedagógicas em arte e até implicaram em desprestígio desta disciplina frente às demais do currículo escolar. Mas o que marca o livro de Osinski, que finaliza abordando as tendências contemporâneas da arte-educação, é a sua postura diante das questões artísticas: "A compreensão de que a manifestação artística é multifacetada, não possuindo valores hierárquicos condicionados ao seu caráter mais erudito ou popular, tem sido de grande importância para que se vislumbre, para a arte-educação, novos caminhos mais afinados com as realidades socioculturais das diferentes comunidades."
PRINCIPAIS MOVIMENTOS ARTÍSTICOS DO SÉCULO XX
         O século XX é marcado por profundas mudanças históricas, as quais afetaram drasticamente o comportamento político-social do nosso tempo. Foi onde acentuaram-se as diferenças entre a alta burguesia e o proletariado, dando maior força ao capitalismo e fazendo surgir os primeiros movimentos sindicais, como algumas das consequências do Pós Guerra.Mediante todo o acúmulo de acontecimentos pertencentes à esse período, cheio de contradições e complexidades, é possível encontrar um terreno farto para a criação de novos conceitos no campo das artes.
         Assim, os movimentos e as tendências artísticas, tais como o Expressionismo, o Fauvismo, o Cubismo, o Futurismo, o Abstracionismo, o Dadaísmo, o Surrealismo, a Op-art e a Pop-art expressam, de um modo ou de outro, a perplexidade do homem contemporâneo.
         O Expressionismo surge como uma reação ao Impressionismo, pois no primeiro, a preocupação está em expressar as emoções humanas, transparecendo em linhas e cores vibrantes os sentimentos e angústias do homem moderno. Enquanto que no Impressionismo, o enfoque resumia-se na busca pela sensação de luz e sombra.
         O Fauvismo  foi um movimento que teve basicamente dois princípios: a simplificação das formas das figuras e o emprego das cores puras, sem mistura. As figuras não são representadas tal qual a forma real, ao passo que as cores são usadas da maneira que saem do tubo de tinta.  O nome deriva de ‘fauves’ (feras, no francês), devido a agressividade no emprego das cores.
         No Cubismo podemos observar a mesma despreocupação em representar realisticamente as formas de um objeto, porém aqui, a intenção era representar um mesmo objeto visto de vários ângulos, em um único plano. Com o tempo, o Cubismo evoluiu em duas grandes tendências chamadas Cubismo Analítico e Cubismo Sintético. O movimento teve o seu melhor momento entre 1907 e 1914, e mudou para sempre a forma de ver a realidade.
         O Futurismo  abrange sua criação em expressar o real, assinalando a velocidade exposta pelas figuras em movimento no espaço. Foi um movimento que desenvolveu-se em todas as artes e exerceu influência sobre vários artistas que, posteriormente, criaram outros movimentos de arte moderna. Repercutiu principalmente na França e na Itália, onde diversos artistas se identificaram com o fascismo nascente.
         O abstracionismo  é a arte que se opõe à arte figurativa ou objetiva. A principal característica da pintura abstrata é a ausência de relação imediata entre suas formas e cores e as formas e cores de um ser. A pintura abstrata é uma manifestação artística que despreza completamente a simples cópia das formas naturais.
         No Dadaísmo, podemos encontrar um movimento que abrange a arte em todos os seus campos, pois não foi apenas uma corrente artística, mas sim, um verdadeiro movimento literário, musical, filosófico e até mesmo político. Embora a palavra dada em francês signifique cavalo de madeira, sua utilização marca o non-sense ou falta de sentido que pode ter a linguagem (como na fala de um bebê). A princípio, o movimento não envolveu uma estética específica, mas talvez as principais expressões do Dadaísmo tenham sido o poema aleatório e o ready-made.
         O intuito deste movimento era mais de protestar contra os estragos trazidos da guerra, denunciando de forma irônica toda aquela loucura que estava acontecendo. Sendo a negação total da cultura, o Dadaísmo defende o absurdo, a incoerência, a desordem, o caos.
         O Surrealismo foi um movimento artístico e literário surgido primeiramente em Paris nos anos 20, inserido no contexto das vanguardas que viriam a definir o modernismo no período entre as duas Grandes Guerras Mundiais.
         A priori, a característica deste movimento era unir uma combinação do representativo, do abstrato, do irreal e do inconsciente. Segundo os surrealistas, a arte deve se libertar das exigências da lógica e da razão e ir além da consciência cotidiana, buscando expressar o mundo do inconsciente e dos sonhos.
         O surrealismo é também uma espécie de mecanismo que não se limita a transcrever passivamente o sonho e sim descobrir um modo de acionar o inconsciente mediante ao “automatismo psíquico”. Dessa maneira, uma ideia segue a outra sem a consequência lógica das demonstrações usuais e sim automaticamente. Técnicas como a escrita automática da literatura, da colagem e a decalcomania, em relação às artes plásticas, tornaram-se muito populares entre os surrealistas que as utilizavam na produção dos seus jogos de associação livre de sentidos.

Sintaxe da Linguagem Visual,

Donis A. Dondis
A tradução do título do livro da designer e professora Donis A. Dondis é enganador. Sintaxe da Linguagem Visual é uma “tradução” muito inadequada, que pode fazer um leitor desavisado não se interessar ou, pior, evitar o livro.
Na verdade, o título original é “A Primer of Visual Literacy”. Uma tradução correta seria algo como “Princípios de alfabetismo visual”. O nome do livro vem da reivindicação da autora de que “se a invenção do tipo móvel criou o imperativo de um alfabetismo verbal universal, sem dúvida a invenção da câmera e de todas as suas formas paralelas, que não cessam de se desenvolver, criou, por sua vez, o imperativo do alfabetismo visual universal, uma necessidade que há muito se faz sentir.” Mas a autora não se limita a diagnosticar o problema. O livro é uma solução muito bem sucedida.
Depois do prefácio do qual foi retirado o excerto acima, e de um capítulo sobre alfabetismo visual, somos introduzidos à Composição: fundamentos sintáticos do alfabetismo visual, no caso: equilíbrio, tensão, nivelamento e aguçamento, vetor do olhar, atração e agrupamento, positivo/negativo.
No capítulo seguinte, Elementos Básicos da Comunicação Visual, a autora decompõe a matéria visual em Ponto, Linha, Forma, Direção, Tom, Cor, Textura, Escala, Dimensão e Movimento, e trata de cada um deles minuciosamente, sempre com exemplos.
Em seguida, Anatomia da Mensagem Visual trata dos níveis de expressão e recepção das mensagens visual: o representacional, o abstrato e o simbólico, e a interação entre os três níveis. Em A Dinâmica do Contraste, a autora discorre sobre a técnica mais importante no controla de uma mensagem visual, o Contraste, e sua aplicação aos elementos básicos da comunicação visual. Técnicas Visuais: Estratégias de Comunicação, traz dezenove pares conceituais como: Simetria/Assimetria, Simplicidade/Complexidade, Neutralidade/Ênfase e sua aplicação intencional a peças de comunicação, trazendo vários exemplos, principalmente de cartazes.
Síntese do Estilo Visual apresenta a noção de estilo e cinco grandes grupos: Primitivismo, Expressionismo, Classicismo, Estilo Ornamental, e Funcionalidade. Artes Visuais: Função e Mensagem, depois de falar sobre alguns aspectos universais da comunicação visual, traz seções dedicadas a cada uma das principais artes visuais: escultura, arquitetura, pintura, ilustração, design gráfico, artesanato, desenho industrial, fotografia, cinema e televisão.
Por fim, depois de todas as lições, a autora fecha o livro com um capítulo de título autoexplicativo: Alfabetismo Visual: Como e Por Quê. O livro foi originalmente registrado em 1973. São facilmente identificadas as influências da Psicologia da Forma, confirmada com a presença de Rudolf Arnheim na bibliografia. É uma pena que, apesar da iniciativa da autora de criar um guia para o alfabetismo visual, não seja prática constante no ensino básico a presença de disciplinas deste tipo. A preocupação da autora chega ao ponto de que cada capítulo traz ao final alguns exercícios de aplicação do conhecimento adquirido.
De qualquer forma, é um livro básico exemplar. Vale a compra para uso próprio, se você estuda design ou comunicação, ou simplesmente quer entender melhor o que vê à sua volta. Vale como guia, para quem precisa ensinar comunicação visual, seja para ensino médio ou superior. Seja para disponibilização para alunos ou mesmo como meta a ser seguida na construção de outro guia ou manual mais específico, como no meu caso (estou escrevendo o manual de diagramação de uma revista).


Sociologia da Arte
O campo de pesquisa da Sociologia da Arte são as relações identificáveis entre os conteúdos e as formas dos diversos gêneros e tipos de obra de arte e: as interpretações correntes da própria arte; os modos de apreciação por parte do público; a posição social do artista; ou variáveis macrossociológicas como: a estratificação social; a estrutura de classe; as formas de dominação; a organização política; os fenômenos de mudança social e cultura; a ideologia das classes dominantes e dominadas. Por “arte” entende-se, geralmente, a pintura e a escultura (as “artes plásticas”), a música, a dança, a literatura, o teatro e o cinema, embora no uso anglo-saxão e alemão, art ou Kunst refiram-se preferencialmente às artes plásticas.
Em princípio, costuma-se afirmar que tais relações são de interdependência, visto que se imputa à arte a capacidade tanto de influir sobre essas variáveis quanto de sofrer seus efeitos.
Apesar da vastíssima literatura produzida há mais de um século, a Sociologia da Arte continua sendo um dos ramos menos consolidados e sistemáticos da Sociologia contemporânea, no qual é difícil identificar a emergência de orientações definidas de pesquisa e de elaboração teórica. Poucos tratados de Sociologia dedicam a ela pelo menos um capítulo, e quando isso acontece, trata-se de textos que, mais do que efetuar a síntese de pesquisas realizadas, reafirmam a necessidade de estudar as relações entre a arte e a sociedade apelando para a constatação óbvia de que os conteúdos, as formas, as técnicas, os fins e as interpretações da arte sempre mudaram com as transformações da sociedade (da feudal à burguesa, da burguesa à socialista, ou da rural à industrial, da tradicional à moderna).
De fato, o estado de indeterminação da Sociologia da Arte parece refletir menos a relativa carência de pesquisas metodologicamente fundamentadas e mais a indeterminação real do seu objeto – a obra de arte – e a multiplicidade das interpretações que foram oferecidas pela estética e pela crítica de arte, desde os tempos dos gregos. Tais interpretações formam, até hoje, o substrato de categorias e de valores para qualquer presquisa de Sociologia da Arte.
Para os fins da pesquisa sociológica, mas não só dela, a obra de arte pode ser concebida como sistema de sinais-símbolo com várias dimensões, veiculado por uma base material (pintura, escultura) ou corporal (dança) ou sonora (música) ou por várias combinações delas (teatro, ópera, multimídia). As características essenciais desse sistema são:
a) o predomínio que nele subsiste do componente expressivo, em relação aos componentes instrumentais e cognitivos;
b) a atitude de estabelecer por si as regras da própria coerência interna, isto é, da própria sintaxe;
c) e, sobretudo, uma inesgotável ambiguidade do ponto de vista genético, semântico e pragmático
Nenhum outro tipo de sistema de sinais-símbolo possui todas essas características ao mesmo tempo.
As diversas teorias da arte elaboradas pela estética representam tentativas de resolver, a favor de diferentes tipos de observadores, a ambiguidade essencial da obra de arte, acentuando um ou outro ponto de vista – ou “dimensão” da obra – ou interpretando determinada dimensão de modo peculiar.
A doutrina platônica da arte como imitação da natureza (que depois ingressou na Sociologia da Arte sob a rústica pele da teoria do “reflexo”) acentuava a dimensão semântica da obra, relativa à correspondência entre ela, assumida como representação, e os objetos representados.
A dimensão genética, referente à relação entre o artista e a obra, é enfatizada por aquelas orientações da estética que vêem a arte como produto de faculdade especial do espírito, ou de refinamento superior da sensibilidade comum do homem; um autor dos mais representativos, neste caso, foi Nietzsche.
O movimento de origem romântica da “arte pela arte”, cujas demandas foram resumidas por Théophile Gautier em 1832, atribuía à arte um valor final, negava qualquer relevância aos juízos éticos, sociais ou políticos para a compreensão da obra, e punha em primeiro plano (ante verbum) o seu aspecto sintático, isto é, a correspondência orgânica entre os sinais que a compõem.
Enfim, a dimensão pragmática destaca-se dentre as teorias da arte que acentuaram primariamente sua função educativa, como propunha, por exemplo, a estética de Dewey.
Quem ingressa no campo da Sociologia da Arte vê-se diante de opções, escolhas e decisões a respeito do grau de relevância a ser atribuído a uma ou outra dimensão da obra, em torno das quais deverá desenvolver uma pesquisa que, sob muitos aspectos, pode ser análoga às da estética. Não são escolhas totalmente exclusivas, no sentido de que quem se compromete com uma dimensão da obra deva necessariamente renunciar às outras; mas cada uma corresponde a uma orientação de pequisa que não pode ser levada adiante sem que se suspenda, mantenha invariáveis ou coloque entre parênteses, todas as outras – como, de fato, ocorreu na história da Sociologia da Arte.
Dimensão Genética
A acentuação da dimensão genética equivale a colocar em primeiro plano o momento da produção da obra. Existem diferentes maneiras de se entender a “produção” de uma obra de arte. Se nos referimos à produção material da obra de arte, a pesquisa se orientará para fatores sociais que favorecem a criatividade dos artistas e que canalizam sua sensibilidade para determinados tipos, conteúdos e formas, delimitando seus interesses; em resumo, estudar-se-á a relação sociedade/papel-do-artista concentrando o foco da atenção no artista (Kavolis 1963, 1964).
Se nos referirmos, por outro lado, à produção econômica da obra de arte, a pesquisa se concentrará nos processos mediante os quais os administradores de galerias, os editores, os marchand, os críticos, os diretores de museus e colecionadores – e, só depois, os artistas – “valorizam” propositalmente, com sua atividade, certos objetos ou textos, independentemente (ou quase) do fato de eles possuírem ou não qualidades artísticas (o que, nessa perspectiva, se torna irrelevante), fazendo das obras de arte mercadorias que, através de contínuas adições de valor, são vendidas, acumuladas, trocadas por outras, tal como qualquer mercadoria (Poli 1975).
Dimensão Sintática
A acentuação da dimensão sintática leva os sociólogos, nas pegadas dos artistas e dos críticos que falam dos fins da arte, a discutir o valor relativo ou absoluto da arte. Para alguns, a arte é aquilo que é definido como tal em determinada sociedade: “em todos os tempos, o que é admirado, discutido e comprado por um público como arte é arte para esse público, desse tempo” (Adler 1969:616). Para outros, a arte é forma de atividade prático-intelectual orientada a produzir coisas “belas”, sem outro fim instrumental, ou a embelezar instrumentos sem a intenção de melhorar sua utilidade. Segundo alguns autores, essa última concepção se encontra em todas as épocas, em todas as sociedades, a partir de um nível mínimo de evolução sociocultural, e a consciência social distingue-a, sempre, claramente (Honigsheim 1958; Schmidt-Relenberg, in AA.VV. 1969).
Dimensão Semântica
A acentuação da dimensão semântica – referente à correspondência entre a obra de arte e a sociedade – deu origem ao setor mais amplo e variado de toda a Sociologia da Arte, comandado genericamente pela fórmula “a arte é o reflexo do seu tempo”. Derivado em parte do marxismo, esse modo de propor o problema da Sociologia da Arte vê na obra de arte sobretudo uma representação, mais ou menos fiel, do “ambiente social”.
Segundo a interpretação marxista mais difundida (Lukács), a representação só será plenamente bem-sucedida se for “realista” (isto é, se captar ao mesmo tempo a essência e a aparência da vida), mas é com frequência deformada em sentido naturalista (representação dos aspectos superficiais da vida) ou idealista (busca da essência abstrata da aparência). Nessa corrente, vista no seu conjunto, o símbolo apresenta-se bipartido. O que a arte “reflete”, expressa ou conhece (o representado de que a obra é representação na superfície ou na essência, ou a unidade de essência e fenômeno, para ficarmos com a interpretação de Lukács) é, para alguns, sobretudo uma estrutura social (normalmente, uma estrutura de classe ou a posição de uma classe em ascensão ou em declínio dentro dela), ao passo que, para outros, é, sobretudo, a cultura de uma sociedade ou de uma parte dela.
A Sociologia da Arte ligada à Teoria Crítica da sociedade, sobretudo na obra de Adorno, liga a arte moderna e contemporânea não a estruturas objetivamente descritas da sociedade burguesa, mas à cultura dessa sociedade, distinguindo nela um epítome pontual e obsequioso desta. Por outro ângulo ideológico, o mesmo pode dizer-se das muitas sociologias da arte derivadas da “história da cultura”, cujos ensaios mais conhecidos foram fornecidos pela obra de Alfred Weber, na Europa, e, nos Estados Unidos, pela obra do sociólogo de origem russa P.A. Sorokin (1937). Nelas, a arte nada mais é que o fragmento de um fluxo ondulatório, não progressivo mas cíclico, que atrai, segundo leis próprias, todos os elementos da cultura de uma época, imprimindo neles uma marca e um significado unitários – o que permite, justamente, que se salte de uma simples obra para o “espírito de uma época”.
A acentuação sociológica da dimensão semântica da arte, da correspondência entre a obra e a sociedade e/ou a cultura, reduz ao mínimo o papel original do artista. Nas interpretações mais grosseiras, parece que é a “sociedade” ou a “cultura”, não o artista como indivíduo real, que pinta, escreve, compõe. A objeção a semelhantes reduções do fenômeno artísitco é análoga àquela que é preciso propor contra a “explicação” psicanalítica da arte: a afirmação da burguesia financeira sob a Monarquia de julho “explica” tão pouco a Comédie humaine de Balzac quanto a neurose de Proust explica a Recherche – embora seja certo que nem a Comédie teria sido escrita daquele modo e naquela época sem o advento da burguesia financeira, nem a Recherche sem a neurose do autor. Mas o limite maior dessa proposição do problema de uma Sociologia da Arte, que termina por emergir também em suas variantes mais sofisticadas, é a concepção, nela implícita, da obra de arte como sistema de sinais fechado, seja em relação ao passado, à tradição artística, às técnicas de concepção e execução, seja em relação àquele que dela desfruta.
O peso que, na determinação da estrutura sintática da obra, exerce a tradição do mesmo gênero artístico desenvolvido dentro da mesma sociedade, ou em outras, ou de outros gêneros, é quase que ignorado, junto com a evolução das técnicas e dos instrumentos que também permitem, sugerem ou impõem a exploração de novos espaços plásticos ou psicológicos ou sonoros. Assim a diferença entre a música contemporânea e aquela anterior a Schoenberg é relacionada somente ao capitalismo em crise ou à fase extrema do imperialismo, e não também à maneira como a reflexão sobre a tradição musical e o uso dos meios da eletrônica revelaram novas vias para a imaginação musical. O sujeito que desfruta da obra de arte é reduzido a uma posição igualmente heteronômica, posto que ele não tem outra possibilidade senão a de compreender o “significado real” da obra, aquilo de que ela é representação. A criatividade do objeto percebido, o fato de que todo apreciador ou geração socioanagráfica ou cultural reinventa continuamente o significado de cada obra, pondo-o em relação com outros sistemas contingentes de sinais – com isso inventando, literalmente, fora de qualquer obra, seu texto irrepetível -, são pontos que ficam marginalizados.
Dimensão Pragmática
A acentuação da dimensão pragmática da arte ocorre, precipuamente, nos trabalhos que sublinham a função da obra de arte como instrumento ideológico (no caso de estruturas sociais avaliadas negativamente) ou pedagógico (no caso de estruturas sociais avaliadas positivamente) (Egbert 1970). Mais do que qualquer outra concepção sociológica de arte, esta, que se deve mais a críticos, artistas, militantes políticos e historiadores do que a sociólogos, tornou-se fator socialmente operante no campo da política e da prática da arte. Podemos encontrá-la, sob várias roupagens: na imposição de cânones artísticos com finalidade educativa e de edificação popular, por parte dos regimes autoritários; no debate sobre a arte como instrumento de integração e de luta de classe operária, desenvolvido na Alemanha e na Rússia entre 1918 e o início dos anos 1930 (AA.VV. 1973); no teatro-documento de Peter Weiss e de Rolf Hochuthy e, sob certos aspectos, no de Brecht; na discussão sobre a arte como crítica da sociedade, exemplificada nos romances de Günter Grass e Heirich Böll.
Uma questão continuamente proposta pela literatura especializada é: por que deveria ser cultivada a Sociologia da Arte? As respostas diferem, dependendo de se tomam como referência primária a arte ou a sociedade. No primeiro caso, a Sociologia da Arte é justificada pela contribuição que pode oferecer à compreensão dos múltiplos aspectos do fenômeno artístico, à análise da influência da arte sobre vários setores e componentes da sociedade, à elaboração de uma educação artísitca eficaz, à política dos governos em relação à arte. No segundo caso, ela é justificada pela contribuição que poderia dar à solução de problemas especificamente sociológicos, como a compreensão dos processos de comunicação, da natureza e dos pressupostos da interação social, da formação e manutenção dos vários tipos de coletividade, dos processos de mudança social (Barnett 1959).
Os pontos de maior interesse da relação arte/sociedade são:
O artista
Entende-se por “artista” não apenas os produtores originais, como o compositor ou o romancista, mas também os reprodutores, como o maestro, o pianista, a dançarina etc. O nível e o estilo de vida de grupos ou tipos ou categorias de artistas, o papel a eles reservado, as associações que formam, sua relação de dependência-independência em relação aos promotores, aos adquirentes, aos críticos, ao Estado, a sua subcultura, são aspectos fundamentais para a consideração sociológica do fenômeno artístico. Eles estão, além disso, estreitamente ligados à problemática dos intelectuais.
A obra
Não apenas o conteúdo e a forma, mas também cada elemento constitutivo, os objetos representados, os materiais, as técnicas empregadas, são todos elementos que podem ser conectados à sociedade e à cultura em que a obra nasceu. A Mesquita de Córdoba não diz apenas que os árabes se sobressaíram na arquitetura e na decoração e não na pintura e escultura porque a religião islâmica proibia a representação de pessoas. Um quadro de van Eick, não diz apenas que a representação de interiores burgueses corresponde à ascensão de uma nova classe européia. Ambos contém inúmeros detalhes, dos baixos-relevos em estuque que reproduzem versículos do Alcorão às vestes de Gli sposi Arnolfini, que foram propostos e impostos aos artistas pela tradição e pela sociedade de que eram membros, junto com os materiais e as técnicas de que deveriam se servir, também nos casos em que eles foram só ponto de partida para uma inovação.
O mercado
Diz-se que Beethoven foi um dos primeiros a exigir um justo preço para as suas obras, opondo-se à prática universal do mecenato (o artista sendo mantido pelo príncipe, no melhor dos casos, como maestro de capela ou poeta ou pintor da corte, em troca do monopólio sobre sua produção). A venda de serviços artísticos por dinheiro era, no entanto, uma prática corrente desde a Renascença; uma loja como a de Verrocchio ou de Perugino era uma verdadeira oficina de produção de “objetos” artísticos, com pessoal especializado em operações diferentes e dezenas de clientes dispostos a pagar. Todavia, não se pode falar propriamente em mercado de arte quando a obra é vendida e comprada apenas por um nobre. Só quando começa a difundir-se o costume de revendê-la, junto com o hábito de produzir obras independentemente do pedido do promotor ou do consumidor final é que se pode fazê-lo. Tal desenvolvimento verificou-se sobretudo a partir da segunda metade do século XIX, até alcançar em nossos dias, especialmente nas sociedades capitalistas, a forma de sistema complexo de “produção” e consumo da obra de arte, ativado por centros institucionais como as galerias, os editores, as revistas, os catálogos, as exposições etc.
A crítica de arte
Também os críticos interpretam e desenvolvem um papel social: alimentam o mercado; orientam o gosto alheio; decidem, até certa medida, sobre a popularidade de um autor ou de um período ou de uma escola; influenciam a política dos governos em relação à arte; reforçam ou contestam a educação artística oferecida pela escola; mantêm relações sociais com quase todos os agentes que de uma forma ou outra têm a ver com a fenomenologia da arte; escrevem e reescrevem as histórias da arte – uma condensação de memória coletiva da tradição artística, em que inclusões e exclusões são, em geral, socialmente condicionadas.
O colecionismo
O surgimento do hábito de recolher num único lugar grupos de obras de arte para a apreciação ou o enriquecimento privado; o seu declínio em favor do desenvolvimento do colecionismo, para possibilitar a apreciação pública (museus); o paralelo desenvolvimento do colecionismo particular, que em parte tem caráter de genuína busca da arte como elemento da vida cotidiana, e em parte caráter meramente comercial-financeiro (a obra como uma espécie de investimento, de seguridade). Todos esses são fenômenos que podem ser conectados a mudanças amplas e capilares das principais estruturas socioculturais, da estratificação social à organização da família, ao nível da escolaridade média, à industrialização.
O público
Os gostos, a composição sociodemográfica, a distribuição ecológica, a organização, os modos de apreciação das obras, a demanda, as reações, a distribuição dos gastos, as relações com os artistas e os críticos, o consenso e o dissenso em relação a determinada política da arte por parte dos públicos, correspondentes aos diversos gêneros e tipos de arte, ofereceram os materiais para um dos capítulos mais robustos desse ramo da Sociologia. A expansão e a diferenciação dos públicos leva a se falar em transformação da arte em cultura de massa.
A escola e a arte
A orientação e a extensão da educação artística nas escolas médias e superiores, a difusão e as características da educação artística junto às classes dominantes, médias e subalternas, a organização social das academias de artes plásticas, dos conservatórios, dos institutos de arte dramática, das escolas de dança, o ensino da História da Arte nas universidades, estão em relação de interdependência com as ideologias de governo e de oposição, com a estratégia política das duas partes, com as respectivas relações de força.
A política da arte
Por trás das licenças concedidas ou negadas a esta ou àquela mostra, das premiações ou das perseguições de artistas, das intervenções repressivas ou da permissividade da censura, da capacidade ou da incapacidade de defender o patrimônio artístico de uma nação, das declarações oficiais sobre a função social e a moralidade ou a imoralidade da arte, dos meios concedidos ou negados à escola para melhorar a educação artística, em geral é possível vislumbrar a presença de uma forma de dominação, a intenção de defender determinada estrutura do Estado, a estratégia de uma classe que protege a sua posição, os interesses de grupos e associações capazes de exercer poder ou influência. Desde a metade do século XIX o radicalismo social, sobretudo de esquerda, mas também de direita, tentou desmascarar tais relações na sociedade capitalista, esforçando-se ao mesmo tempo – sobretudo nos países em que chegou ao poder – para subertê-las a seu próprio favor, em nome de uma noção própria de uso político da arte.
A arte popular
Ao lado da arte produzida pelas ou para as classes cultas, existe desde sempre uma arte que circulava, em sua maior parte, no seio das classes historicamente consideradas não-cultas. Nos materiais artísticos produzidos por essas classes – os quais, em geral, estão em contato com a arte das elites, influenciam-na e por elas são recebidos, como no caso da pintura naif na segunda metade do século XX – a pesquisa sociológica busca os sinais da sua condição humana, da forma particular de criatividade que as distingue, os elementos de uma cultura oposta à dominante, ou dos modos como esta é vivida e remodelada pelas exigências da alteridade subalterna.
A arte como Sociologia
Muitas obras de arte – teatrais e literárias, pictóricas e cinematográficas – oferecem, não só conhecimentos relativos à sociedade que as expressou, mas também conhecimentos de ordem geral a respeito dos fenômenos da vida social de todos os tempos, como: os processos de estratificação social e de socialização; de controle social e de autoridade; de adaptação ao ambiente e de devoção religiosa. A arte, em todas as suas formas, é, pois, um recurso fundamental para a análise sociológica.
Do ponto de vista sociológico, a arte é, antes de tudo, um meio de comunicação social – um sistema de sinais que transmite informações “ambíguas”, relacionadas a classes de eventos tanto anteriores como posteriores à realização da obra. As funções a ela imputáveis devem, por isso, ser vistas tanto na intenção do promotor – ou de outros sujeitos que controlam a realização da obra (inclusive o artista), e se falará, então, de funções manifestas da arte – quanto dos efeitos realmente produzidos em vários tipos de coletividades, que serão chamadas funções latentes, não sendo de nenhum modo previsíveis com base nas intenções. As funções manifestas (ou intencionais) variam historicamente segundo o tipo de sujeito coletivo que controla a produção artística; mas funções análogas aparecem também em tempos diferentes, em outras sociedades, com sujeitos totalmente diversos.
Durante a Idade Média, sob o impulso e o controle da Igreja, a arte desenvolveu principalmente a dupla função justificadora e didascálica: justificava o domínio temporal e espiritual da religião e ilustrava, para massas em geral analfabetas, os episódios marcantes de sua história, os dogmas fundamentais, os heróis. Função análoga será desenvolvida pela arte, não mais a favor da religião, mas da doutrina política, depois do advento dos regimes socialistas em países com ampla população rural, como na Rússia e na China. Nas sociedades europeias, como nas orientais, a aristocracia sempre exigiu da arte a função de legitimação e confirmação da ordem social existente, bem como a sublimação das hierarquias. A burguesia em ascensão quis que a arte exprimisse o seu novo status, o poder e a riqueza conquistados com o desenvolvimento do capitalismo, os quais agora demandavam, em confronto com as ordens tradicionais, a sanção do próprio prestígio. Em conflito com a burguesia, os movimentos sociais emergentes das classes operárias e camponesas, e os artistas que neles se reconhecem, exigiam da arte, ao contrário, uma função crítica de denúncia e “desmascaramento” dos seus poderes políticos e ideológicos. Também nesse caso, função semelhante foi exigida da arte pelos primeiros embriões de oposição intelectual, nas sociedades socialistas, contra a “nova classe” dominante.
A mais comum das funções latentes imputáveis à arte é a de integração, através da difusão e do reforço de emoções, crenças, valores afetivos e morais. O problema é que a integração pode servir não só para reforçar a classe dominante, mas também para fortalecer as forças de oposição. São, pois, possíveis vários casos:
I – Aquele que controla determinada produção artística pertence à classe dominante e consegue o objetivo declarado de integrar a coletividade dominada; a função latente coincide, então, coma função manifesta ou intencional;
II – Aquele que controla a produção artística pertence ou se alia às classes dominadas e atinge o objetivo de integrar, por meio da arte, as forças de oposição; também aqui a função latente coincide com a manifesta, mas ambas servem para fins opostos em relação ao primeiro caso;
III – O mesmo tipo de arte controlado pelos dominantes (I) – por exemplo, o realismo socialista – induz reações emotivas e intelectuais que concorrem para integrar as forças de oposição, mais do que as do regime;
IV – O mesmo tipo de arte controlado pela oposição política ou intelectual – por exemplo, a Pop Art nos Estados Unidos, mais tarde o Hiper-Realismo – contribuiu para integrar, através de comercialização rápida, o sistema social ao qual queria se contrapor; nesses dois casos (III e IV), a função latente é contrária à manifesta.