1. A
Cultura Corporal na Educação Física escolar
2. A
Importância da Anatomia para o Curso de Educação Física
3. A
Importância da Fisiologia Humana na Educação Física
4. A
Avaliação do Ensino-Aprendizagem na Educação Física Escolar
5. A
Educação Física como componente Curricular...
6. Betti,
Mauro (Org.): Educação Física e Mídia
7. Castelani
Fº: Educação Física no Brasil: a história que não se conta
8. Educação
Física na Perspectiva dos PCNs
9. Educação
Física, Cultura e Sociedade
10. Neira
& Nunes: Pedagogia da Cultura Corporal
11. Plano
Anual de Educação Física
12. Scarpato:
Educação Física: como planejar as aulas na Ed. Básica
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Links:
ABORDAGENS DIDÁTICO-METODOLÓGICAS NA EDUCAÇÃO FÍSICA
ACIDENTES E PRIMEIROS SOCORROS NA EDUCAÇÃO FÍSICA
FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO
A CULTURA CORPORAL NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR
A palavra cultura remete-nos a significados próprios de um povo, de um
grupo, de suas tradições, de seus usos e costumes repassados e/ou seguidos
para um determinado fim. Algo a que damos importância, por julgarmos ser
imprescindível ao nosso “viver em sociedade”.
O termo
cultura é muito amplo, abrange múltiplos significados, no contexto social é
utilizado para especificar, dar sentido a algum termo: cultura familiar,
regional, religiosa, alimentar, artística, estética, esportiva, linguística,
corporal, etc. Hábitos que são incorporados por indivíduos inseridos em um
grupo social, costumes repassados de geração para geração, que servem para
identificar, caracterizar, aquilo que é próprio de um determinado grupo.
Compreende-se cultura como um conjunto de conhecimentos adquiridos. Pode-se
dizer que é o desenvolvimento da instrução mais apurada sobre determinado
assunto e esse entendimento possibilita contextualizar o saber.
Na sociedade
contemporânea vivenciamos uma cultura basicamente capitalista, onde os
indivíduos são direcionados ao consumo de bens e materiais. Essa cultura
capitalista, por vezes, torna o “ter” mais importante que o “ser”, ou seja,
indivíduos mais preocupados em produzir meios para acumular bens e menos
crítico reflexivo sobre as condições socioculturais do meio em que está
inserido. A escola está inserida em uma sociedade, seu corpo docente e
discente traz essa cultura social para o âmbito escolar, logo, o conhecimento
desenvolvido neste meio, também sofre influências de diferentes culturas.
DAOLIO
(2004) fez algumas colocações sobre o termo cultura relacionado à educação
física, com base na análise de abordagens pedagógicas de alguns autores
contemporâneos, evidenciando que em todo o fazer pedagógico há um conceito
implícito ou explicito, de cultura. “É possível perceber a utilização da
expressão “cultura” acompanhada de termos como “física”, “corporal”, “de
movimento”, “corporal de movimento”, e outros. Entretanto, essa utilização
aparece de forma superficial, por vezes incompleta ou de forma reducionista”
(Daolio, 2004, p.13).
A educação
física na escola tem alguns conceitos já formados, pré-estabelecidos, por
parte de educadores da área e de outras áreas, de pais e educandos, sobre sua
prática pedagógica e conhecimentos que devem ser explorados/desenvolvidos
nesta disciplina e até mesmo a forma de fazê-los. A cultura do jogar, do
competir, do atleta escolar, do padrão de corpo, das atividades que exploram
só o físico, etc. Essa “cultura educacional”, desenvolvida e fomentada na
educação física escolar, por alguns professores da área é, por vezes,
responsável por alguns conflitos entre educadores, que ao pensarem de forma
diferenciada não exploram “essa cultura” em suas aulas, gerando em alguns
contextos escolares a falta de reconhecimento da disciplina, devido a não
adotar essa concepção essencialmente prática. Vale aquela prática que produz
indivíduos aptos a competirem em uma ou mais modalidades esportivas, de modo
a representarem à escola na qual estão inseridos. Essa visão restrita
direcionada para o esporte, para a formação de atletas, ou aquela visão
enfocada no “fazer pelo fazer”, passada para a sociedade em geral, levam a
uma compreensão equivocada do sentido pedagógico que a disciplina deve ter no
referido contexto. Daí a vincular Educação Física a formação de atletas
escolares, para aqueles que reúnem as condições (físicas e motoras,
principalmente) que possibilitem torná-lo um competidor potencial, ou
vinculá-la a prática pela prática, para aqueles menos privilegiados,
“desprovidos das condições necessárias à formação de um atleta”,
restando-lhes, nesta perspectiva, o desenvolvimento de atividades sem
qualquer contexto. Entre outras concepções pedagógicas que fazem parte do
atual cenário da Educação Física.
Como tornar
claro, para a sociedade, o conhecimento de que trata a disciplina, se para os
próprios educadores isto ainda é confuso, ou ainda pior, por alguns nem
sequer é questionado?
Cada
educador trata este conhecimento com base em concepções próprias. Se
considerarmos que, durante o ensino fundamental o educando passa por
diferentes professores e concepções por eles adotadas (cultura física, de
movimento, de competição, etc.). A produção de conhecimentos ao longo deste
processo, fará com que o indivíduo construa, com base em suas vivencias, um
entendimento sobre o assunto, o qual poderá se alterar, dependendo das
relações que este indivíduo vai estabelecer ao longo de sua vida.
Daolio
(2004, p.72), propõe uma educação física que considere o indivíduo numa
relação intersubjetiva, como indivíduo socializado que compartilha o mesmo
tempo histórico do educador que faz a intervenção. Nesta perspectiva, o
indivíduo é considerado como parte importante, necessário e participante do
processo pedagógico a ser planejado pelo educador. Para possibilitar que o
indivíduo estabeleça relações entre subjetividades diferentes. O indivíduo é
pensado/considerado como ser que pensa, sente, se expressa, age, faz parte de
um grupo é sociocultural e deverá estar preparado para intervir no mundo,
portanto, não pode ser visto só como um corpo. Esta forma tão reducionista de
conceber o indivíduo, não contempla tudo o que representa em si.
O professor
de educação física quando desenvolve atividades corporais lúdicas,
recreacionistas e esportivas, danças, jogos, fora desta concepção do esporte
sistematizado, do rendimento acima de tudo, do trabalho meramente corporal,
da prática pela prática e visa esclarecer o educando para o conhecimento mais
reflexivo dos conteúdos trabalhados, leva o educando a perceber-se como um
todo. Ou seja, quando o professor leva-o a perceber o significado, o sentido
da atividade que vivencia, através da ação reflexiva e consciente de
diferentes práticas corporais. O porquê de realizá-lo, desta ou daquela
maneira? Que contribuições esta prática trará para sua vida? Com estes
procedimentos, o professor possibilita que o educando realmente se aproprie
de uma cultura corporal e estabeleça relações deste saber, com outros saberes
que fazem parte deste mesmo ser.
Daolio
(2004) sobre a “cultura” em Coletivo de Autores (1992, p.62) “[...] os temas
da cultura corporal, tratados na escola, expressam um sentido/significado
onde se interpenetram, dialeticamente, a intencionalidade/objetivos do homem
e as intenções/objetivos da sociedade”.
Quando o
professor adota uma prática pedagógica, com princípios diferentes daqueles
comumente adotados, sua disciplina deixa de ser reconhecida pela comunidade
escolar como “a educação física”, que necessariamente objetiva trabalhar o
corpo, que o explora visando obter músculos bem definidos, melhor performance
nas modalidades esportivas, para competir mais, etc. Passa a ser uma
disciplina reconhecida, respeitada e ter mais credibilidade, pelo processo
pedagógico que desenvolve. Possibilita despertar nos indivíduos, um olhar
diferenciado, sob outra ótica, fazendo-lhes perceber que o conhecimento de
que trata esta disciplina, não se restringe a mera prática corporal
esportiva.
Para o
Coletivo de Autores, a cultura corporal é vista como patrimônio da
humanidade, mas Daolio critica a falta de avanço na idéia de que os
conhecimentos produzidos ao longo da vida vão sendo atualizados e
ressignificados pela consciência e significado produzidos pelo ser humano. O
ser humano é o produto de uma determinada cultura e ao mesmo tempo, produtor
de cultura.
Chauí:
“(...) cultura é a maneira pela qual os humanos se humanizam por meio de
práticas que criam a existência social, econômica, política, religiosa,
intelectual e artística” (1994, p. 295). Geertz, utilizando uma metáfora de
Weber, define “a cultura como sendo uma teia de significados, que dá sentido
e orienta a vida de todos os homens em todos os momentos. Segundo este autor,
a cultura é essencialmente pública, porque os significados são públicos”
(1989). (Fensterseifer org., 2005, p.107). Para que o indivíduo construa essa
teia de significados, não lhe pode ser negado o direito ao conhecimento de
uma cultura corporal no sentido amplo, a que o termo refere-se.
Construir
esse conhecimento sobre a cultura corporal, implica oportunizar ao indivíduo
vivenciar de forma crítica, participativa, e acima de tudo reflexiva, a
diversidade da cultura corporal (dança jogos, recreação, esporte, ginástica,
etc.). Através das relações que o individuo estabelece entre essas vivências
e destas, com outros saberes que adquire, torna-o capaz de apropriar-se da
cultura corporal a ser desenvolvida na prática pedagógica escolar.
Referências
BETTI, M. Valores e Finalidades
na Educação Física Escolar: uma Concepção Sistêmica. Revista Brasileira de Ciências do Esporte. Santa Maria, v.16, n.1, p.14-21, 1994.
DAOLIO, J. Da Cultura do Corpo. Campinas:
Papirus, 1995.
FENSTERSEIFER, P. E.; GONZÁLEZ,
F. J. (Orgs.). Dicionário Crítico de Educação
Física. Ijuí: Ed. Unijuí, 2005.
LDBEN, Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional. Lei nº9. 394/96. Diário Oficial da União, Brasília,
1996.
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A IMPORTÂNCIA DA
ANATOMIA PARA O
CURSO DE EDUCAÇÃO FÍSICA
Desde épocas mais
remotas e primitivas, o corpo humano desperta a curiosidade dos seres
humanos, incitando‐os a buscar por esse conhecimento das mais diversas
formas. Os primeiros registros de explorações do corpo humano são do Antigo
Egito, através do processo de mumificação. Assim, com os diversos avanços
conseguidos aprofundar os estudos e conhecer essa fantástica e complexa
criação da natureza.
A partir das
constatações feitas, é percebido no meio acadêmico uma maneira viável de
proporcionar à população, de uma maneira geral, um conhecimento mais amplo,
porém básico do corpo humano e, consequentemente, de seu próprio corpo.
Através dos conhecimentos produzidos na disciplina de Anatomia Humana, pode‐se
potencializar esse (auto) conhecimento e (auto) percepção. Nessa perspectiva,
acredita‐se que um nível mais elevado de autoconhecimento eleva
proporcionalmente o autocuidado, bem como a capacidade de manutenção e
promoção de saúde em indivíduos de qualquer faixa etária.
Contudo, devido a uma
cultura estabelecida historicamente, a preocupação com o próprio corpo, no
qual esse é o principal instrumento de trabalho do educador físico e para
trabalhá-lo corretamente faz-se necessário estudar e compreender a sua
constituição e desenvolvimento de estruturas constituintes do mesmo, pois
muitas pessoas desconhecem o seu próprio corpo. Outras são acometidas por
patologias diversas que poderiam ser prevenidas com simples mudanças de
hábitos corporais. Nesse contexto os conhecimentos desta disciplina auxiliará
o educador físico a resolver estes problemas ajudando na prevenção,
manutenção da saúde e principalmente na qualidade de vida destas pessoas.
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IMPORTÂNCIA DA FISIOLOGIA HUMANA NA EDUCAÇÃO FÍSICA
Na educação
física e importante ter o conhecimento da fisiologia humana, para aplicação
do treinamento esportivo ou de qualquer atividade física, pois sabemos que
tem muita gente por ai dando aulas em academias e clubes sem obter o
conhecimento da fisiologia humana.
Um
profissional de educação física não consegue prescrever e aplica uma
atividades física ou um treinamento esportivo, sem o conhecimento especifico
funcional do corpo humano, por isso quer a fisiologia humana nos da toda
noção funcional do nosso corpo. Entende e compreender as reações do corpo do
atleta durante e depois de um treinamento esportivo ou de uma atividade
física é necessário, e fundamental entender a função do sistema funcional do
corpo humano, como por exemplo: homeostase e ritmos biológicos, para mante
estabilidade homeostase o atleta dever se orientado pelo profissional de
educação física a ingeri bastante água, e também orientá-lo a dormir bem a
noite, para que o ritmo biológico possa dá um resposta positiva. Durante um
treinamento esportivo ou qualquer atividade física, para que o atleta tenha
um desempenho aeróbio e anaeróbio positivo, e essencial conhecer
especificamente e controla os seguintes sistemas do corpo humano.
Sistema
circulatório: para que o profissional de educação física posso ter um
controle no atleta da frequência cardíaca em repouso ou em movimentos, e com
a pratica das atividades física ou treinamento esportivo, o atleta obtêm o
aumento das cavidades do coração com maior volume de ejeção de sangue
aumentando sua capacidade de rendimento. Sistema respiratório: o atleta sendo
bem orientado pelo o profissional de educação, ele tem o aumento na
capacidade da respiração levando maior volume de ar aos pulmões e
consequentemente oxigênio mais puro para o sangue alimentando melhor as células
e todo organismo. No sistema nervoso: harmoniza as conexões nervosas dando
mais relaxamento ao atleta, evitando o stress, a fadiga muscular. No sistema
motor: o atleta com uma boa orientação nos movimentos dará aos músculos mais
força, agilidade, flexibilidade, resistência, elasticidade, coordenação
motora, equilíbrio e alongamentos.
No sistema
renal: atleta deve ser bem orientado pelo profissional de educação física a
consumi proteínas ou aminoácidos, pois ajudam na recuperação e a síntese
proteica muscular. No sistema digestório: o profissional de educação física
deve orienta bem o atleta a conhecer os alimentos, e saber quanto tempo ele
passa para absorve, como por exemplo; gordura de 4 a 5 horas. Proteínas de 3
a 4 horas. Carboidratos de 2 a 3 horas (os ricos em fibras e que levam mas
tempo). No hormônio; o profissional de educação física tem que ter bastante
cuidado na orientação, principalmente se o atleta for pré-adolescente estando
na fase da puberdade, onde seu rendimento venha diminui por causa dos efeitos
hormonais.
Um
profissional de educação física que domina os conhecimentos da fisiologia
humana, com certeza vai estar preparado para o mercado de trabalho, sei que
no processo de aprendizagem da disciplina fisiologia humana para algumas pessoas
e complicado, mas acredito quer vivenciado a pratica de forma mais direta, se
torna menos complicadas.
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AVALIAÇÃO DO ENSINO-APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR
Introdução
Desde a sua implementação na escola, a Educação Física teve diferentes
objetivos pedagógicos e avaliativos, originando as tendências Higienista,
Militarista, Esportivista, Popular e Pedagógica, sendo essa última
diversificada em abordagens de ensino que contemplam antigas e novas
propostas de trabalhar os conteúdos, mas que apresentam embasamento
pedagógico, o que dificilmente ocorria no passado.
Analisar como se desenvolve o processo avaliativo na Educação Física escolar
pode proporcionar contributos para o aprimoramento científico da área, pois é
pouco estudado no Brasil, bem como fundamentar os direcionamentos avaliativos
existentes no âmbito educacional, delimitar as dificuldades atuais no ato
pedagógico, estrutural e avaliativo da disciplina, além de potencializar a
conscientização dos professores de Educação Física sobre a importância da
avaliação no processo de ensino-aprendizagem.
O estudo tem como objetivo analisar as práticas de avaliação do
ensino-aprendizagem na Educação Física escolar, tendo como referências as
tendências de ensino da disciplina.
Buscou-se descrever e analisar as práticas avaliativas na Educação Física
escolar, a fim de identificar as características da cultura do exame e da
avaliação nas tendências de ensino desse componente curricular. Realizou-se
pesquisa bibliográfica sobre as práticas de ensino e avaliação da Educação
Física na escola.
Foram utilizadas fontes secundárias de referência sobre a história da
Educação Física no Brasil, documentos oficiais e artigos de autores que
escrevem sobre o assunto. Para a coleta dos dados, buscou-se identificar, por
meio de um roteiro com itens pré-estabelecidos, a) objetivos de ensino nas
tendências; b) critérios de avaliação; c) aspectos avaliados; d) forma de
avaliação. Na análise dos dados, utilizou-se análise temática (MINAYO, 1999)
para formular categorias sobre as práticas avaliativas das tendências da
Educação Física na escola.
Avaliação
do ensino-aprendizagem na Educação Física escolar
A oficialização da prática da Educação Física nas escolas primárias do Rio de
Janeiro, então Município da Corte deu-se no ano de 1851 com a Lei nº 630
de 17 de setembro deste ano. Tal lei é conhecida como Reforma Couto Ferraz.
(BETTI, 1991; VALENTE; ALMEIDA FILHO, 2006).
Historicamente, a Educação Física era um instrumento de controle
médico-sanitarista que buscava manter a ordem e o desenvolvimento de crianças
e adolescentes por meio de hábito de higiene e exercícios ginásticos.
A Educação Física brasileira sofreu influência dos métodos ginásticos
surgidos na Europa. Os mesmos tinham um forte teor científico, eugênico e
militar, dando ênfase ao aspecto do corpo saudável, disciplinado e moralizado
(LIMA, 2008), como apresenta Soares (1994, p. 100) “A influência exercida
pelos médicos no pensamento e na prática educacional brasileira, de fato, foi
marcante e assentou-se ao longo de todo o século XIX, para tornar-se
determinante nas primeiras décadas do século XX”. Os principais métodos
ginásticos utilizados no Brasil, no período que vai do final do século XIX a
meados do século XX, foram o alemão, o sueco e o francês (BETTI, 1991;
SOARES, 1994).
Nesse período, a educação embasava-se em métodos de ensino autoritários e
repreensivos (FRADE, 1993). As práticas avaliativas na educação e na Educação
Física eram baseadas na cultura do exame, pois, visavam impor medo, como
forma de controle, seleção técnica e social (PERRENOUD, 1999; BOURIEU;
PASSERON, 1992; BRATIFISCHE, 2003, DARIDO, 1999), limitando-se a levantar as
atitudes e os hábitos de higiene dos alunos.
Como o militarismo, tendência seguinte, o principal objetivo da época era
treinar os alunos para o desenvolvimento de corpos fortes e saudáveis para a
promoção de soldado para defender a pátria. A avaliação na disciplina
analisava a aptidão física para o desempenho de guerra, priorizando os testes
de força, velocidade, resistência cardiorrespiratória, flexibilidade,
agilidade, destreza, dentre outras capacidades físicas dos estudantes. Lima
(2002, p. 163) apresenta a versão de que
os interesses higiênicos, embora muito alardeados, não eram o foco do Governo
Federal, que visava apenas a submissão e a obediência, pois esta era a forma
para assegurar uma melhor ordem moral e social; desse modo, através de
punição corporal, o objetivo era policiar o corpo para sustentar um estado de
guerra, associando educação e disciplina militar com a ginástica de
inspiração médico - higienista e militar-nacionalista.
No período após a Segunda Guerra, o Brasil foi fortemente influenciado pela
competição bipolar, países capitalistas versus países socialistas, que
utilizavam o esporte como instrumento de propaganda política e alienação
popular, voltado-a para a competição e o aprimoramento do gesto técnico.
Além do esporte, há nesse período maior diversificação nas suas atividades,
como a implantação da dança e da recreação (DARIDO, 2003). Com a Lei nº
4024/61, ela passa a ser obrigatória nos ensinos primário e médio, e
posteriormente são criados os Jogos Escolares Brasileiros, o que caracteriza
o vínculo com o movimento esportivista (VALENTE; ALMEIDA FILHO, 2006).
As aulas de Educação Física eram espaços para o aprimoramento das técnicas e
táticas esportivas e aptidão física relacionadas ao desempenho
competitivo/esportista de futuros talentos que iriam defender o esporte
nacional, excluindo os menos aptos e promovendo o mais habilidosos, as
avaliações das aulas focavam apenas os aspectos biomecânicos dos esportes e o
rendimento físico dos alunos (DARIDO; RANGEL, 2005, SOUZA, 1993),
predominavam práticas avaliativas da cultura do exame.
Percebe-se que as tendências Higienista, Militarista e Esportivista
apresentavam objetivos de ensino que priorizavam as capacidades físicas dos
estudantes, pouco considerando as atitudes, o conhecimento científico da área
e as práticas avaliativas visavam selecionar, classificar, punir e eliminar
os menos aptos por meio da cultura do exame.
Somente no final da década de 1970 e início de 1980, com o fim da ditadura
militar e abertura para novas ideias de educação, inicia-se um movimento de
mudanças das propostas pedagógicas para a Educação Física na escola de
caráter crítico, consciente e transformador.
Os estudos sobre o ensino da Educação Física e dos esportes no âmbito
educacional buscavam fundamentar-se também nas atitudes sócio-afetivas e
cognitivas dos estudantes, não mais apenas nas capacidades físicas.
Ocorria a diferenciação entre: a) as práticas corporais como forma de
manifestação social-político e cultural na escola, e b) a Educação Física
como componente curricular pedagógico. A primeira fundamenta-se na
necessidade de utilizar os elementos relacionados à Educação Física, tais
como as práticas corporais e manifestações culturais a fim de tentar
minimizar e/ou auxiliar na resolução de problemas que estão inseridos na
sociedade moderna, tal como prioriza a tendência da Educação Física Popular.
A segunda baseada no planejamento, ensino e avaliação para promover o
desenvolvimento dos estudantes em relação aos objetivos pré-estabelecidos,
fundamentados, em geral, nas abordagens de ensino da tendência Pedagógica.
Guiraldelli Junior (1988) classifica o período pertencente à tendência de
Educação Física Popular como forma de organização das classes populares para
o embate da prática social. O autor afirma que essa tendência privilegia “a
ludicidade, a solidariedade e a organização e mobilização dos trabalhadores
na tarefa de construção de uma sociedade efetivamente democrática”
(GUIRALDELLI JUNIOR, 1988, p. 34). As práticas avaliativas são baseadas em
relatórios e relatos de experiências e na observação sistemática das atitudes
dos participantes.
A tendência Pedagógica da Educação Física, caracterizada pelas abordagens de
atuação desse componente curricular na escola, apresentou novas propostas que
visavam diferentes objetivos de ensino e de avaliação.
Nessa tendência, as abordagens de ensino da Educação Física na escola podem
ser classificadas com objetivos de ensino voltados para a formação humana dos
estudantes, mas recebendo diferentes denominações, pois apresentam conteúdos,
metodologias e instrumentos de avaliação diferentes e são fortemente
influenciados pelas características da cultura da avaliação.
A introdução destas abordagens no espaço do debate da Educação Física
proporcionou uma ampliação da visão da área, tanto no que diz respeito à sua
natureza, quanto no que refere aos seus pressupostos pedagógicos de ensino e
aprendizagem. Reavaliaram-se e enfatizaram-se as dimensões psicológicas,
sociais, cognitivas, afetivas e políticas, concebendo o aluno como ser humano
integral. (DARIDO, 2003, p.23).
As abordagens Desenvolvimentista e Saúde Renovada tem como objetivos de
ensino das aulas prescrever, orientar e estimular a adesão aos exercícios
físicos e ao estilo de vida ativo (TANI et alli, 1988; NAHAS, 2003;
GUEDES, 1997, 1999). A avaliação, na primeira abordagem, está relacionada a
aquisição de padrões básicos de movimento, como andar, saltar, correr, dentre
outras, pois ela é mais utilizada na educação infantil e no ensino
fundamental para séries iniciais. A segunda prioriza, por estar inserida no
ensino fundamental de séries finais e no ensino médio, desenvolver um estilo
de vida ativo e o desenvolvimento da aptidão física relacionada à saúde, a
avaliação envolve trabalhos e provas sobre os conhecimentos
técnico-científico dos temas da área, a autoavaliação e atitudes sócio-educacionais
positivas nas práticas corporais e culturais das aulas.
As abordagens Psicomotora e Construtivista apresentam como foco o
desenvolvimento da criança em relação aos aspectos psicomotores, afetivos e
sociais, por meio de brincadeiras e jogos (CORRÊA; MORO, 2004). Nelas são
utilizadas observações das atitudes, afetivas e sociais, e o desenvolvimento
das capacidades psicomotoras.
Na abordagem Técnico-Desportiva, os esportes são utilizados como ferramenta
para enaltecer o desenvolvimento físico, social e educacional (TANI; BENTO;
PETERSEN, 2006), mesmo podendo fomentar, ou não, a competição esportiva e o
rendimento físico. As práticas avaliativas visam perceber as dificuldades e
avanços da aprendizagem dos estudantes tanto nos aspectos técnicos quanto
táticos dos esportes, além de estimular atitudes competitivas e cooperativas
que visem à valorização da formação do esportista justo, o conhecido fair
player.
A abordagem Humanista centra o ensino no estudante, pois orientando-o em sua
própria experiência busca-se desenvolver confiança e respeito. O
conhecimento, em geral, vem ao encontro de suas necessidades e a aprendizagem
é significativa quando suscita modificações nas atitudes (DARIDO, 2003).
Observamos que essa abordagem apresenta a autoavaliação, a observação
sistemática, o relato de experiências como forma de analisar os limites e
potencialidades dos estudantes nas aulas da disciplina.
Nas abordagens Crítico-Superadora, Crítico-Emancipatória, Concepção de Aulas
Abertas e Concepção Plural (COLETIVO DE AUTORES, 1992; DARIDO, 2003; KUNZ,
1994) a tematização das práticas e dos conteúdos valorizam os aspectos
sociais, políticos, históricos e culturais na disciplina. Nessas abordagens
as práticas avaliativas são semelhantes, em que buscam promover a avaliação
coletiva das atitudes e das reflexões sobre a sociedade, através de
relatórios, autoavaliação e observações sistemáticas.
Por meio de jogos, brincadeiras, atividades recreativas e lúdicas a abordagem
dos Jogos Cooperativos, inserida na perspectiva Formativo-Recreativa, busca
contribuir na formação da personalidade dos estudantes através do
aprimoramento motor sem, no entanto, valorizar a competição e o treinamento e
sim, priorizando o prazer e a coletividade (BATISTA, 2006). Nessa abordagem
são utilizados relatórios sobre as atitudes dos estudantes, autoavaliação e
avaliação das práticas realizadas.
Na lei Nº 9.394, do dia 20 de dezembro de 1996, a atual Lei de Diretrizes e
Bases, a Educação Física é um componente curricular que passou a ser
considerado com equidade de importância em relação às outras disciplinas
(BRASIL, 1996). Os Parâmetros Curriculares Nacionais são os indicativos sobre
como a Educação Física pode ser ministrada no ensino fundamental (BRASIL,
1997) e médio (BRASIL, 2000).
No ensino fundamental são privilegiados o desenvolvimento motor, afetivo e
social dos estudantes, no ensino médio não há direcionamentos para
potencializar o aprimoramento técnico-científico, a formação crítica e as
atitudes sócio-educacionais positivas dos estudantes.
A avaliação pelos Parâmetros Curriculares Nacionais apresenta divisões, assim
como nos conteúdos, em dimensões atitudinais, procedimentais e conceituais.
Na primeira, refere-se à analise de como os estudantes lidam com as situações
das aulas e com os companheiros de sala; na segunda, avalia-se como os eles
realizam as atividades propostas em sala, ou seja, perceber as habilidades
dos estudantes nas tarefas; a terceira está relacionada a como o conhecimento
que foi trabalhado em sala é aprendido pelos estudantes.
Na tendência Popular e na tendência Pedagógica os objetivos de ensino
priorizam as capacidades cognitivas, físicas, sócio-afetivas e educativas,
dependendo da abordagem de ensino, e apresentam características da cultura da
avaliação, tais como: avaliação formativa nas etapas diagnóstica, processual
e somativa; julgar para tomar decisões; planejar avaliações baseada em
objetivos; utilização de métodos qualitativos e quantitativos nas análises;
variedade de instrumentos de avaliação (BETTI; ZULIANI, 2002; DARIDO, 1999;
HADJI, 2001, RODRIGUES, 2003, VIANNA, 2000).
Não foi identificado, nos referenciais teóricos estudados, proposições de
práticas avaliativas de ensino-aprendizagem em relação a essas duas últimas
tendências que apresentassem traços da cultura do exame.
A dinâmica de compreensão da utilização dos objetivos de ensino e dos
instrumentos para a avaliação da disciplina tem feito com que, aos poucos,
ocorram mudanças de significado no entendimento de algumas práticas, como por
exemplo, o uso de testes físicos na Educação Física. Para Nahas (2003, p.
159) “Os testes de aptidão física não representam o fim do processo. São
apenas instrumentos para atingir objetivos da ‘educação para a atividade
física e saúde’ (isto é, encorajar os indivíduos a escolherem hábitos mais
ativos por toda a vida)”.
No entanto, ainda é possível, com frequência, percebermos atitudes típicas da
cultura do exame nas práticas avaliativas de ensino-aprendizagem na prática
de ensino dos professores de Educação Física, demonstrando que podem ocorrer
contradições entre a teoria e a prática dos docentes em relação às
proposições avaliativas das abordagens que fundamentam sua prática, em
decorrência, talvez, do enraizamento que as características do exame
produziram técnica e socialmente na formação educacional desses professores.
As práticas avaliativas estão relacionadas com os objetivos de ensino de
determinadas épocas, pois visam promover o desenvolvimento educacional dos
estudantes ou a seleção social e técnica. Por isso, observa-se que a cultura
do exame prevaleceu na prática de ensino e de avaliação das primeiras
tendências da Educação Física: Higienismo, Militarismo e Esportivismo.
Consideramos que as tendências recentes da Educação Física, Popular e
Pedagógica, apresentam avanços em relação às práticas avaliativas utilizadas
no início de sua implementação na escola e que cabe aos docentes escolher os
objetivos de ensino que se pretende buscar com sua ação pedagógica na escola
para utilizar os instrumentos avaliativos adequados que potencialize a
cultura da avaliação.
Por tanto, nas cinco tendências da Educação Física, Higienista, Militarista,
Esportivista, Popular e Pedagógica, a avaliação do ensino-aprendizagem foi
utilizada da seguinte forma:
Tabela 1. Objetivos
de ensino e as práticas avaliativas na Educação Física escolar
Considerações
finais
As práticas avaliativas perpassam o ensino da Educação Física de diversos
modos, pois historicamente se apresentou como prática vinculada a interesses
sócio-políticos que privilegiavam determinados objetivos de ensino e de
avaliação. Assim, dependendo do contexto, foram utilizados vários
instrumentos de avaliação que eram meios práticos de verificar se os
objetivos educacionais nas capacidades cognitivas, sócio-afetivas e
físico-esportivas foram atingidos.
Consideramos que compreender o contexto sócio-político das práticas
avaliativas de ensino-aprendizagem na Educação Física na escola pode
contribuir para a formulação de perspectivas de avaliação da disciplina e
potencializar a compreensão de inter-relacionar os objetivos de ensino e
avaliação.
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A EDUCAÇÃO FÍSICA COMO COMPONENTE
CURRICULAR:
TRAJETÓRIA HISTÓRICA E POSSIBILIDADES ATUAIS NO
ENSINO MÉDIO
1.
Introdução
A
condição da Educação Física como componente curricular na história da
educação brasileira, sempre esteve ligada às tentativas históricas de
consolidação de um modelo de política educacional ideal para o país. Essas
tentativas, sempre encontraram barreiras estruturais e impasses culturais
decorrentes da conjuntura política e do momento histórico que atravessava a
nação e nesse contexto, a Educação Física recebia no tratamento das
diretrizes da legislação as orientações para a sua natureza curricular, sendo
esta por sua vez, adequado a ideologia dominante. Souza Júnior, ao discorrer
sobre a História da Educação Física escolar no Brasil, nos apresenta um breve
histórico da inserção da Educação Física como componente curricular na escola
brasileira. De acordo com o autor, “a Educação Física é evidenciada sob a
forma de ginástica no ano de 1837 vindo a se tornar obrigatória em 1851 nas
escolas primárias do Município da Corte (Rio de Janeiro)” (2009, p.20). Em
1882, sob a orientação de Rui Barbosa nas discussões sobre a reforma do
ensino, aparece recomendada pelo parlamentar na condição de matéria de estudo
em horas distintas das do recreio e depois das aulas. Em 1928, surge a
proposta de aulas diárias em caráter obrigatório para todos os alunos, numa
proposta de Fernando de Azevedo. Em 1937, torna-se objeto de lei
constitucional como componente curricular. Atrelava o reconhecimento e
funcionamento escolar à condição da existência da Educação Física, do ensino
cívico e dos trabalhos manuais de caráter obrigatório nas escolas primárias e
secundárias como constava no artigo 131 da constituição. Entre as décadas de
1940 e 1960, no período político brasileiro que oscilava entre o nacionalismo
e a influencia desenvolvimentista do capital estrangeiro, a Educação Física
ficou sujeita, mais uma vez, a obrigatoriedade de acordo com a LDB 4.024 de
20 de dezembro de 1961 nos cursos primários e médios até a idade de 18 anos.
Na esteira da história, várias alterações nos textos legais são acrescentadas
como na LDB 5.692 que obrigava a inclusão da Educação Física nos currículos
plenos das escolas. No período de maior conflito político ideológico vivido
pelo país, a Educação Física nas escolas foi objeto de controvérsias quanto
ao seu formato de ensino que ora atendia as imposições de ordem militar, ora
atendia aos preceitos do desportivismo contribuindo esse contexto, para que a
disciplina perdesse a sua identidade, se é que ela ficou clara em alguma
época da história da Educação no Brasil, o que provocou com a abertura
política dos anos de 1980 e o surgimento de teorias educacionais que
apontavam para outros paradigmas educacionais, questionamentos e proposições
acerca da função sócio educacional da Educação Física no contexto escolar. A
LDB 9.394/96 no artigo 26, § 3º, condiciona a existência da Educação Física
como componente curricular obrigatório integrada à proposta pedagógica da
escola entre outras providencias entretanto, como Souza Júnior (2009, p.28)
ressalta em suas conclusões:
Os
conflitos não se acabaram e não se acabarão. Muitos continuam, alguns com
vieses mais recentes, como são os casos da presença, facultatividade ou mesmo
ausência da Educação Física e da diversidade e até antagonismos de propostas
pedagógicas atuais e outros que acompanham toda a trajetória de luta, de
conquista de reconhecimento, perfazendo a historia deste componente
curricular.
Ao
longo da história, os registros acerca da Educação Física como componente
curricular ficaram evidenciados na forma da legislação, porém a escola, os
professores e alunos nunca compreenderam muito bem essa estória da Educação
Física como componente curricular. O que isso significa? Educação Física não
é só brincadeira, jogo e esporte? Como fazer para integrar a disciplina ao currículo
escolar? O currículo é outra questão que nunca foi determinada pela gestão do
conhecimento produzido no contexto escolar, ele sempre foi fruto de
determinações tecnocráticas das secretárias de governo. Nesse sentido,
acreditamos que tanto o currículo escolar quanto a Educação Física precisam
se encontrar e construir uma relação didático pedagógica necessária para que
o processo de ensino aprendizagem se torne significante para ambos. Essa
crença se consolidou durante o tempo em que venho atuando no espaço escolar
com os vários níveis de ensino e, principalmente hoje com o ensino médio,
tenho percebido e vivido as situações pelas quais a escola, os alunos e os
professores se relacionam com a Educação Física. Não se trata apenas de
incluir as aulas no horário normal de aula ou de ministrar aula na sala de
aula, mas antes, trata-se de construir uma ação pedagógica com os alunos que
possa atender as necessidades de suas praticas corporais e dos conhecimentos
sobre o corpo e conduzi-los à autonomia para a cultura de movimento no
contexto social.
2.
O Contexto crítico da Educação Física escolar
Ao
final da década de 2000, serão completados trinta anos do surgimento do
Movimento Crítico Renovador da Educação Física no Brasil. Esse movimento teve
como características o questionamento das bases conceituais filosóficas,
epistemológicas e pedagógicas que norteavam as ações dos profissionais da
área. A produção teórica que ocupou o espaço da discussão dos meios e fins da
Educação Física, denunciou que a disciplina se tornara alienada dos seus
próprios valores, que estava a serviço do fortalecimento do sistema político
dominante e que, portanto, não se contextualizava com as necessidades de
formação do homem na perspectiva da totalidade. Nesse sentido, a Educação
Física era determinada por um conjunto de influências ideológicas externas
advindas de instituições que determinavam a sua estrutura como prática social
e/ou enquanto área do conhecimento. Dentre essas instituições, se encontravam
a instituição médica, a instituição militar e a instituição esportiva.
Caparroz (2007, p.28) considera que:
Esse
movimento acabava por percorrer a história da área, observando sua entrada na
escola, mas muito mais para retificá-la, ou seja, reinterpretá-la de forma a
confirmar certos pressupostos que tais análises apontavam, ou então para
negá-la.
O
autor afirma ainda que, os intelectuais da área enfatizavam que somente as
influências externas macroestruturais sociais, políticas e econômicas,
influenciaram o perfil da Educação Física no transcorrer de sua história e
que, de agora em diante, tudo que tinha sido considerado como cultura da
Educação Física na escola deveria ser negada e reconstruída em outras bases
culturais e pedagógicas. As questões de ordem interna e os conflitos de ordem
estrutural que influenciavam o seu perfil cultural, tais como: a formação profissional,
a evolução dos conhecimentos pertinentes à área, o tratamento pedagógico da
escola para a Educação Física como componente curricular, a postura crítica
dos profissionais da área, a cultura de relacionamento com as práticas
corporais, as condições de trabalho, as relações entre professores e alunos,
os investimentos públicos entre outros aspectos não foram levados em
consideração quando da formulação da crítica à Educação Física, segundo o
autor. O problema que se apresentava a partir de então se concentrava na
seguinte perspectiva: O que e como fazer para que a Educação Física se
contextualizasse com as mudanças sociais e culturais da nova conjuntura
democrática da sociedade brasileira decorrente da abertura política? A
solução para essa questão, assim como outras, ainda pairam atualmente, no
imaginário de muitos profissionais da área. Desse modo, as produções que
criticaram a Educação Física, também lançaram algumas proposições para a
mudança do perfil da prática pedagógica da Educação Física. Entretanto, a
viabilização dos modelos teóricos propostos encontrava algumas dificuldades
de concretização no espaço escolar. As proposições de cunho
Desenvolvimentista, Sócio construtivista, Humanista, Emancipatória para citar
algumas das tendências pedagógicas, enfocavam elementos teóricos da prática
pedagógica sem, no entanto, conseguir atingir o âmago da questão pedagógica
da Educação Física no ambiente escolar. Quem viveu o período das décadas de
1970 e de 1980 como profissional ou como aluno do ensino básico ou ainda como
aluno de um curso superior de Educação Física, pôde constatar que algumas
condições materiais objetivas interferiram no processo de transformação da
qualidade pedagógica da Educação Física, tanto quanto as condições
subjetivas. Entre estas, o processo de formação profissional voltado para a
reprodução de conhecimentos da área, o pragmatismo pedagógico, a dominância
do esporte como conteúdo das aulas, o atraso pedagógico da Educação Física em
relação às teorias educacionais, a falta de estrutura física das escolas e o
avanço das academias de ginástica como novo espaço de trabalho entre outras
condições sócio econômicas e culturais determinantes. Além do que, se os
alunos, os professores, os orientadores educacionais, os supervisores e os
diretores tivessem sido ouvidos quando da formulação da crítica sobre o que
acontecia na escola e considerando a visão daqueles que nesses contexto
estavam, sobre o que poderia ou deveria ser feito para melhorar as condições
de desenvolvimento da Educação Física, talvez a elaboração crítica partindo
da realidade do chão da escola e fosse sustentada por uma teoria subjacente a
essa realidade e não na forma de prescrição teórica, poderia ter encontrado
um respaldo positivo no circuito dos profissionais que atuavam nas escolas. A
idealização de uma Educação Física na escola por outras vertentes ideológicas
provocou uma estagnação no desenvolvimento desta como componente curricular,
pois enquanto os discursos se inflamavam, as questões pedagógicas da escola se
ressentiam de discussão e de intervenções significativas. Esse quadro
contribuiu para que a demanda esportiva ocupasse, de certo modo, o espaço da
Educação Física como componente curricular da escola. Segundo Caparroz (2008,
p.82):
Isso
parece não ter permitido a apropriação crítica das
contribuições/determinações, tanto a nível macro, como micro (da própria
escola, dos intelectuais de formação profissional de Educação Física etc),
que foram decisivas para a conformação da Educação Física como componente
curricular ao longo da história. Logo, a identidade histórica era desfeita,
criando cisões e indefinições durante todo o período dos anos de 1980 no
Brasil.
“No
ambiente escolar, a Educação Física se integra ao plano curricular a partir
do final do século XIX, e desde então se discute sobre a relevância
pedagógica da Educação Física” (MENDES, 2010 p.199). Nessa discussão a autora
ressalta “a importância da participação dos professores de Educação Física
nas tarefas pedagógicas realizadas por todos os professores das escolas”
(IDEM, p.200).
3.
Perspectivas atuais
Compreende-se a importância do professor de Educação Física no processo de
organizar didaticamente a sua prática pedagógica assim como os demais
professores, como um passo imprescindível para o reconhecimento político
pedagógico da Educação Física escolar. Nesse contexto, os professores e
professoras precisam compreender com relação à Educação Física que a sua
configuração curricular, o seu modelo de prática pedagógica, os seus métodos
de ensino, os seus fundamentos e critérios de avaliação que formam a sua
estrutura de disciplina escolar, precisam se contextualizar com as demandas
sócio educacionais atuais a fim de consolidar-se com um componente curricular
que se integra às necessidades de formação cultural dos educandos em todos os
níveis de ensino. Desse modo, as possibilidades pedagógicas da Educação
Física para consolidar-se como um componente curricular na atual proposta
para o Ensino Médio são viáveis, desde que ocorram as transformações nas
escolas no que diz respeito a forma de pensar o seu currículo, os seus
objetivos educacionais, a sua metodologia de ensino, os seus pressupostos
avaliativos, a sua integração cultural com a pesquisa educacional
contextualizadas com as concepções, princípios e diretrizes do projeto
político pedagógico institucional e com a percepção, vontade e trabalho do
professor. De acordo com o documento do Ensino Médio Inovador:
A
identidade do ensino médio se define na superação do dualismo entre propedêutico
e profissionalizante. Importa, ainda, que se configure um modelo que ganhe
identidade unitária para esta etapa da educação básica e que assuma formas
diversas e contextualizadas, tendo em vista a realidade brasileira. Busca-se
uma escola que não se limite ao interesse imediato, pragmático e utilitário
(BRASIL, 2009 p. 04).
Nesse particular, a Educação Física precisa se associar às mudanças propostas
para o ensino médio de modo que a vertente esportiva dominante seja
compreendida como mais uma possibilidade da ação pedagógica e, os
conhecimentos sobre o corpo possam ser evidenciados nas práticas corporais.
Mas,
o que pode tornar a Educação Física um componente curricular relevante no
ensino médio? Quais as características pedagógicas que tornam a Educação
Física um componente curricular?
Segundo Mattos e Neira (2000, p.25):
[...] para inserir a Educação Física dentro do currículo escolar e colocá-la
no mesmo grau de importância das outras áreas do conhecimento é através da
fundamentação teórica, da vinculação das aulas com os objetivos do trabalho,
da não improvisação e, principalmente, da elaboração de um plano que atenda
às necessidades, interesses e motivação dos alunos.
A
condição de realização dos aspectos acima citados, podem se constituir na
base organizacional para as experiências pedagógicas nas escolas que, em
sendo realizadas, podem ampliar as concepções do trabalho educacional além de
ampliar as discussões em torno da dimensão pedagógica da Educação Física como
componente curricular.
Várias questões estruturais relacionadas às aulas de Educação Física nas
escolas precisam ser repensadas a nível da organização curricular para que a
Educação Física possa desenvolver suas ações pedagógicas no mesmo tempo e
espaço que as outras disciplinas.
Uma
das questões que se apresentam é a sua inclusão no horário normal da escola,
pois nada justifica que as aulas de Educação Física sejam realizadas em
horário inverso à presença do aluno no ambiente escolar. Outro ponto para que
se discuta no aspecto da organização didática, diz respeito ao planejamento
das aulas e a metodologia aplicada no desenvolvimento das mesmas.
É
necessário compreender que, como uma disciplina curricular a Educação Física
permite uma variedade de abordagens de conteúdos que vão além da repetição
exaustiva da prática esportiva, além do que o tratamento pedagógico dado ao
esporte está desvinculado de seus valores históricos, sociais, científicos,
tecnológicos e culturais construídos ao longo do tempo.
Portanto, nas escolas de ensino médio, é de fundamental importância a postura
dos professores e professoras em assumir a disciplina como um componente
curricular que precisa ter os conhecimentos sobre o corpo sistematizados
através dos conteúdos tradicionais da Educação Física como o jogo, o esporte,
as danças, as lutas e a ginástica e dos conteúdos transversais relacionados
ao contexto interdisciplinar e às diversidades culturais e pelo contexto
cultural do corpo na sociedade contemporânea.
De
acordo com Barni e Schneider (2004, p.08):
Podemos observar que novas propostas de
prática pedagógica para Educação Física já se fazem presente no cenário
nacional, porém de forma ainda restrita. Para que a Educação Física no Ensino
Médio se torne reconhecida como um componente curricular relevante à formação
integral do aluno, é necessário que o profissional da Educação Física tenha o
domínio do conhecimento científico nas suas ações pedagógicas para
substanciar junto aos demais saberes escolares o valor da prática da Educação
Física para a construção de novos cidadãos.
Para
a condição acima citada vir a se tornar uma realidade pedagógica, é
necessário que a Educação Física no ensino médio se contextualize com os
conhecimentos científicos e se integre à proposta político pedagógica da
instituição escolar a fim de consolidar a sua ação educacional como um
componente curricular.
Desse modo, o desenvolvimento de experiências pedagógicas da Educação Fisica
no Ensino Médio é um dos fatores importantes para que a disciplina tenha
substancia pedagógica e possa oferecer outras possibilidades além da perspectiva
do esporte instrumental na esfera escolar. Segundo Kunz, (2003, p.22):
Para
que as mudanças concepcionais possam realmente começar a se manifestar, são
necessárias também, muitas experiências práticas (além do desenvolvimento,
ampliação e aprofundamento de pressupostos teóricos) em diferentes contextos
de ensino.
Nesse sentido, é fundamental que o foco do processo pedagógico seja
sustentado por pressupostos teóricos que fundamentem a ação do professor.
De
acordo com Reis, (2008, p. 04):
Verificam-se hoje quatro vertentes principais, as quais utilizam metodologias
significativas para o desenvolvimento da Educação Física no ambiente escolar,
chamadas de metodologia do ensino, aberta, crítico-superadora, construtivista
e críticoemancipadora, as quais juntas proporcionam ferramentas importantes
para a prática da Educação Física na escola.
A
questão que se apresenta é como a escola e os professores se sensibilizam com
relação a esses pressupostos e como os aplicam em suas práticas pedagógicas,
pois sem a concretização da prática pedagógica as teorias perdem sua razão
epistemológica.
No
contexto da análise epistemológica da Educação Física, a relação teoria e
prática precisa superar os dualismos e avançar para a práxis pedagógica no
âmbito escolar em todos os níveis de ensino. Betti (2005, P.183), propôs uma
Teoria da Educação Física concebida como um campo dinâmico de pesquisa e
reflexão. Nela, o autor confirma os impasses entre a concepção teórica e ação
prática e com base nesse estudo o autor afirma que:
A
teoria assim proposta poderia sistematizar e criticar conhecimentos
científicos e filosóficos, receber e enviar demandas à prática social, e às
Ciências e à Filosofia. A prática passaria a configurar-se como possibilidade
de mediação entre a matriz científica e a matriz pedagógica que se apresentam
no debate sobre a identidade epistemológica da Educação Física, entre a
teoria e a prática, entre o fazer corporal e o saber sobre esse fazer.
O
campo dinâmico de pesquisa e reflexão proposto por Betti, teria como função
essencial a crítica e a sistematização acerca dos conhecimentos sobre o corpo
e os fundamentos científicos e culturais da Educação Física transformando-a
em uma área de conhecimento e consequentemente, ultrapassando a concepção de
uma disciplina isolada das demandas da prática social, da ciência e da
filosofia. Essa condição praxiológica poderia contribuir para a consolidação
da Educação Física como componente curricular principalmente no ensino médio,
ciclo de aprofundamento do conhecimento em Educação Física.
4.
Considerações finais
De
acordo com as Orientações Curriculares para o Ensino Médio em suas
orientações para a Educação Física como componente curricular, é preciso
compreender os aspectos históricos que permeiam o imaginário cultural da
escola sobre a Educação Física além de compreender que:
A
identidade da Educação Física, assim como a identidade de qualquer
disciplina, é construída a partir de processos de negociação e disputa de
valores, concepções e perspectivas. Como toda disciplina do currículo, a
definição do papel da Educação Física dá-se a partir das negociações e das
disputas que ocorrem entre seus profissionais, mas também por aquelas
travadas por outros atores da escola (BRASIL, 2006, p.217).
No
contexto do Ensino Médio Inovador, no qual, as tendências pedagógicas
convergem para projetos integradores interdisciplinares, abre-se um espaço
institucional para que a Educação Física possa sair do isolamento pedagógico
histórico e consolidar-se como um componente curricular integrado ao processo
de formação cultural dos alunos através de abordagens pedagógicas
desenvolvidas na sistematização do conhecimento, na organização curricular
integrada e no envolvimento dos professores em assumir o desafio de trabalhar
a Educação Física como área de conhecimento.
Temos consciência que essas ações no contexto da Educação Física no Ensino
Médio se constituem em desafios a serem vencidos. A conquista deve ser feita
de lutas coletivas nas instituições públicas e privadas do ensino médio. O
engajamento dos professores e professoras do Ensino Médio nas proposições
acima citadas demanda tempo e depende da organização do projeto político
pedagógico institucional e da organização didática da Educação Física da
escola.
Esses desafios se consolidaram no ambiente escolar e na percepção dos
professores e professoras de Educação Física devido aos limites da produção
teórica da Educação Física que “não produziu investigações mais densas e
consistentes sobre a constituição, desenvolvimento e função da Educação
Física no interior da instituição escolar.” Caparroz (2007, p. 161).
Entretanto, não podemos considerar que o não desenvolvimento da Educação
Física escolar, principalmente no Ensino Médio, se deu apenas pelo
distanciamento teórico da prática pedagógica nas escolas.
Há
que se considerar também que, as escolas de ensino médio passaram a
direcionar os seus objetivos educacionais com vistas ao vestibular como é o
caso das instituições de ensino médio privado que vêem a Educação Física como
uma disciplina que ‘atrapalha’ a vida escolar do pré vestibulando e, de forma
anacrônica, utiliza o esporte como uma propaganda de suas potencialidades
educacionais. Nesse contexto de dificuldades estruturais, a construção da
identidade da Educação Física escolar ocorrerá, também, com as ações
pedagógicas que valorizem as praticas corporais assim como a construção do
conhecimento subjacente a sua linguagem. As práticas corporais como uma
linguagem cultural dos jovens na sociedade contemporânea, se manifestam em
vários espaços sociais e podem, assim como devem, ser discutidas, analisadas,
criticadas e terem a sua compreensão ampliada no espaço escolar pela ação
pedagógica da Educação Física no ensino médio.
As
Orientações Curriculares para o Ensino Médio consideram que:
Esses diversos usos feitos pelos alunos (muitas vezes a despeito da figura do
professor) também estão carregados de valores, sentimentos, subjetividade. O
entendimento que os alunos têm de si mesmos; do seu corpo e do corpo dos
outros; de seus valores e posicionamentos éticos e estéticos; de seus
projetos de vida pessoal e do lugar que a escola ocupa nesses projetos: todas
essas questões constroem o papel da Educação Física e dos lugares que pode
ocupar na vida dos alunos (BRASIL, 2006, p.218).
Desse modo, sugere-se para que se consolide como componente curricular, a
Educação Física no ensino médio terá que se estruturar de forma integrada ao
currículo escolar e ao projeto político pedagógico institucional e assim,
ampliar as possibilidades de desenvolver a sua prática pedagógica com os
elementos que se relacionem com o complexo cultural de vivências dos alunos,
além de buscar superar as dicotomias entre a teoria e a prática
consolidando-se com uma práxis cientifica.
Outras sugestões apontam para o desenvolvimento de experiências que possam
construir uma identidade pedagógica da Educação Física além de registrar a
sua organização didático pedagógica para fins científicos. É necessário,
pois, contextualizar as práticas corporais com a natureza e a cultura e estar
em constante interação com as mudanças sociais e com a evolução da ciência e
da tecnologia. Temos consciência que essa discussão não se encerra aqui e que
há muito que ser feito, tanto pela instituição escolar quanto pelo professor
e pelos alunos, na proposição da Educação Física como componente curricular
na estrutura do novo Ensino Médio no Brasil.
Referências.
· BARNI,
Mara Juttel e SCHNEIDER, Ernani José. EDUCAÇÃO FÍSICA NO ENSINO MÉDIO:
Relevante ou Irrelevante?Instituto Catarinense de Pós-Graduação –
www.icpg.com.br; 2004.
· BETTI,
Mauro. Educação física como prática científica e prática pedagógica:
reflexões à luz da filosofia da ciência. Rev. bras. Educ. Fís. Esp., São
Paulo, v.19, n.3, p.183-97, jul./set. 2005.
· Brasil–OCEM. (Orientações
curriculares para o ensino médio; volume 1) Linguagens, códigos e suas
tecnologias / Secretaria de Educação Básica. – Brasília: Ministério da
Educação, Secretaria de Educação Básica, 2006. 239 p.
·
BRASIL. Programa Ensino Médio Inovador- Documento Orientador.
Brasil; MEC, SEEB, 2009.
· CAPARROZ,
Francisco Eduardo. Entre a educação física na escola e a educação física
da escola: a educação física como componente curricular. 3ª Ed. –
Campinas, SP: Autores Associados, 2007.
· MATTOS,
Mauro G. & NEIRA, Marcos G. Educação Física na adolescência:
construindo o conhecimento na escola.São Paulo: Phorte Editora, 2000.
·
MENDES, Maria Izabel de Souza Mendes e col. Reflexões sobre o
fazer pedagógico da Educação Física. Motriz,Rio Claro, v.16 n.1 p.199-206,
jan./mar. 2010.
· KUNZ,
E. (Org.). Didática da Educação Física 1. Ijuí: Unijuí, 2003
·
REIS, Pedro Ferreira. Desafios da Educação Física escolar no
ensino médio frente à sociedade contemporânea.2008; Foz do Iguaçu, PR.
· SOUZA
JUNIOR, Marcilio. A história da Educação Física escolar no Brasil.
Refletindo sua inserção como componente curricular. Livro didático 3.
Organizadora: Terezinha Petrúcia da Nóbrega. – Natal, RN; Paidéia, 2009.
|
Betti, Mauro (org.)
Educação Física e Mídia: novos olhares, outras práticas.
Fernando Gonçalves Bitencourt*
Doutorando PPG em Antropologia Social – Membro do NAVI
Cássia Hack
Mestrando em Educação Física/UFSC
Mariana Mendonça Lisboa
Pós-Graduanda em Educação Física Escolar/UFSC
Antonio Galdino da Costa
Mestrando em Educação Física/UFSC
Marcio Romeu Ribas de Oliveira
Mestre em Educação Física/UFSC
Sérgio Dorenski Dantas Ribeiro
Mestrando em Educação Física/UFSC
(...) Esta resenha do livro organizado pelo Prof. Mauro Betti, que conta com uma apresentação do Prof. Regis de Morais e com textos dos Profs. Alfredo Feres Neto, Giovani de Lorenzi Pires, do próprio organizador e da Profa. Tatiana Passos Zylberberg objetiva apresentar criticamente o que se constitui como obra importante no momento atual da Educação Física e de suas relações analíticas com a mídia. Se esta é uma problemática de análise consolidada já nas primeiras décadas do século XX, sua articulação com a Educação Física, o esporte e com a análise do corpo – na medida em que estes fincam bases no universo simbólico midiático, seja como mercadoria, seja associando-se a mesma – é fenômeno que ainda demanda esforços para compreensão, o que está em consonância com o avanço das tecnologias de informação e comunicação, que atravessam a barreira da mera representação para o mundo inventado da virtualidade.
Estes não são meros problemas tecnológicos, tampouco dizem respeito apenas aos aficcionados por suas “maravilhas”, mas inserem-se no conjunto contemporâneo de problemáticas ligadas à produção de novas subjetividades, novas epistemes, modelos de viver e agir sobre o mundo. Nestes termos, toda pedagogia que se queira vivendo em seu tempo, como queria Paulo Freire, necessita refletir sobre estas tecnologias de informação e
comunicação, apropriar-se de sua técnica, seu conteúdo, seus meios de produzir e reproduzir
significados e interferir na possibilidade da recepção crítica. É com esta perspectiva que este
livro inicialmente se nos apresenta, uma contribuição na formação de nossa área na articulação crítica destes fenômenos da modernidade, e é o que tentaremos demonstrar a
seguir.
O trabalho foi realizado pelos membros do Observatório da Mídia Esportiva do Centro de Desportos da Universidade Federal de Santa Catarina. Um trabalho coletivo é sempre mais rico, mas corre o risco de algumas descontinuidades além de um esforço importante de comportar as divergências. Sendo assim, optamos por resenhar cada um dos quatro artigos em separado, na sequência em que se apresentam no livro, para fecharmos com uma perspectiva mais totalizante deste que, se constitui-se de diferentes artigos e enfoques, seduz pela profundidade e importância da temática. Vamos aos textos.
O texto1 -Cultura Esportiva e Mídia: abordagem crítico-emancipatória no ensino de graduação em Educação Física. - do Prof. Giovani de Lorenzi Pires é baseado na tese de doutoramento, que faz uma introdução ao tema partindo da perspectiva dos problemas e da relevância social, na sociedade contemporânea, da produção de sentidos dos elementos da cultura que são veiculados pela mídia. É na cultura de movimento (Transformação didático-pedagógica do esporte.), que a Educação Física “recolhe e trata didaticamente as práticas e os conhecimentos que, assim, são transformados em conteúdos programáticos de suas múltiplas intervenções profissionais” (p.19), sendo este campo da cultura também passível de ser espetacularizada e mercadorizada, tornando-se integrante do discurso midiático. A partir de uma perspectiva crítico-emancipatória de Educação Física, demonstra a necessidade de tematizar à mídia na formação dos seus profissionais, em que pese esta percepção ainda não seja generalizada na área. A pesquisa desenvolveu-se através de pressuposto teórico-metodológico de ensino, baseado em conceitos da Teoria Social Crítica e nos estudos culturais da corrente latino-americana da Sociologia da Comunicação.
Os conceitos que possibilitam este trabalho são: Indústria Cultural, Semi-cultura, Esclarecimento e Mediação para formação do receptor-sujeito. Segundo o autor, a articulação destes conceitos é pertinente
(...) na perspectiva de explicitar a racionalidade de sua indicação como pressupostos teórico-conceituais a uma intervenção crítico-emancipatória no âmbito da formação acadêmica em Educação Física, no que diz respeito ao tema que trata das relações crescentes entre a cultura esportiva e os meios de comunicação de massa. (p.29).
A metodologia de pesquisa teve suporte a partir de uma disciplina optativa no curso de graduação em Educação Física da UFSC, na qual procedeu uma pesquisa-ação em que elementos conceituais e técnicos foram tratados numa perspectiva de “fundamentar a compreensão crítica da realidade e para propor uma intervenção emancipatória” (p. 33) pertinentes à relação Educação Física, esporte e mídia. Os dados foram coletados através de pesquisa de opinião, produção de diário de campo, estratégias didáticas paracurriculares (mesa-redonda, pesquisa coletiva) e entrevistas. Estes dados foram analisados a partir da estratégia metodológica de análise de conteúdo, a luz dos fundamentos anteriormente mencionados. Constatada que as representações sobre mídia e esportes apresentavam poucas perspectivas críticas – implicando em mínima diferença comparando-se com alunos de outros cursos de graduação ou em formação inicial em Educação Física, citado como estudo prévio ao trabalho da tese – o estudo demonstrou a necessidade de incluir na formação de professores desta área os estudos sobre a temática, tornando-se necessário a apreensão dos meios técnicos e do universo simbólico (cultural e ideológico) para a formação de profissionais críticos e atentos aos elementos significativos construídos na relação esporte e mídia.
Finalizando, Pires solicita inserir seu estudo na busca coletiva de uma educação como emancipação, na convicção de que é impostergável “resgatar a crença iluminista em uma formação cultural capaz de levar a sociedade humana a um patamar de maior justiça social, constituída de cidadãos livres, esclarecidos, emancipados” (p.41).
O artigo (A internet como uma possibilidade do mundo da (in)formação sobre a cultura corporal.) escrito pela Profa. Tatiana Zilberberg objetiva reunir fundamentos teóricos que embasam a elaboração de um website com crianças e adolescentes, bem como apresentar a estrutura preliminar desse ambiente de aprendizagem que visa a reflexão crítica das mensagens contidas no discurso midiático sobre a cultura corporal.
Para explicar o cenário onde a mídia exerce forte influência nos conteúdos da cultura corporal, a autora tem como ponto de partida o conceito de modelo de mito. Dessa forma, afirma que a mídia, através do uso espetacularizado das imagens, acaba por produzir padrões de referência de movimentos e comportamentos que, cristalizados no “senso comum,” acabam excluindo as pessoas da prática de algumas manifestações da cultura corporal. Isso porque esse “modelo de mito” criado não condiz com as reais possibilidades da maioria das pessoas, conseguido/permitido apenas aos atletas com seus super-dons. Desconsidera-se as potencialidades individuais, sendo a única possibilidade válida/ validada socialmente sobre a cultura corporal, determinando o que uma pessoa pode ou não praticar – excluindo-as do acesso as manifestações culturais.
Sendo parte do universo simbólico que a cultura contemporânea oferece no nosso cotidiano, as imagens espetacularizadas produzidas pela mídia vão colonizando nossa “memória artificial”, levando a uma “programação dos sentidos” apoiado no entendimento de “programa visual”, em que se associam fatos a locais para melhor memorização. Como afirma a autora “a memória é então educada pelas imagens, que a mídia oferece para serem contempladas, que são na verdade questões ideológicas de cunho mercadológico, produzidas para narrar mitos que se cristalizam em modelos” (p.53). Dentro dessa perspectiva, o “Espetáculo do Corpo” é narrado/apresentado de forma fantástica e inesquecível, encenado em locais míticos e enfatizando os movimentos mágicos que potencializam a memorização e a construção dessa memória artificial, construindo o imaginário social a partir de seu consumo. Nesse contexto, a imagem ganha importância, afinal, muito mais do que uma decoração ou simples ilustração, ela se apresenta como uma mensagem em si, carregada de significados.
Buscando soluções para essa realidade, a autora baseia-se na obra Teaching for Understanding e propõe uma aprendizagem para compreensão, apresentando como possibilidade dessa educação o uso da internet, através da elaboração um website, denominado Mundo da (In)formação. Essa concepção contesta a educação conservadora, apontando para a reflexão, criação e transformação no processo de construção do conhecimento.
O projeto preliminar desse website é apresentado, tendo como ferramentas de impacto e interação com as crianças e adolescentes a utilização de oito personagens (Sara, Lara, Mara, Iara, Teco, Leco, Maneco e Piteco. A partir de descrições físicas foram projetados por Michel Zylberberg e são apresentam em duas versões: desenhos (digitalizados) e bonecos (protótipos de aproximadamente 40 cm de altura). que constituem a Turma da (In)formação, que ajudaria no processo de aprender para compreensão. Estes personagens são apresentados aos leitores e ganham “vozes” na narrativa utilizada através de problematizações, questionamentos e explicações, que são tecidas junto à escrita do texto num processo dialógico.
Fica evidente que, para além de recursos técnicos adequados, a produção de um website educativo, precisa estar baseado em reflexões e ações que levem em conta a complexidade dessa função, que, neste caso, visa contribuir para produção e transmissão de informações sobre a cultura corporal com crianças e adolescentes, de forma a promover uma reflexão crítica de seus conteúdos, principalmente no que diz respeito às representações construídas pela mídia e legitimadas no cotidiano social.
O terceiro artigo desta coletânea A virtualização do esporte e suas novas vivencias eletrônicas, do Prof. Alfredo Feres Neto, pode ser estruturado em três momentos: “eu-virtual; virtual; virtual-eu”. O primeiro, “eu-virtual”, trata do argumento central da sua tese, assim como das indagações que levaram o autor a pensar essas “virtualizações” no campo da Educação Física, entre elas a substituição da experiência vivida pela simulação, o afastamento entre os pares praticantes das atividades de lazer. A hipótese apresentada está na direção “das possibilidades de ampliação das interações intra e interpessoais” a partir da incorporação dos meios eletrônicos de comunicação no cotidiano. O objetivo se refere a essas novas vivências esportivas e suas implicações para a prática pedagógica da Educação Física. O prof. Feres Neto argumenta que “antes de execrar esta ou aquela tecnologia, é necessário entender que tipo de interação estaria ocorrendo”. Para o autor as virtualizações demandam novas maneiras de sensibilidade e inteligibilidade. O professor articula as suas “experiências de vida” para legitimar o uso da primeira pessoa do singular no texto. O texto têm como base para o estudo o livro “O que é o virtual” (1996), de Pierre Lévy.
O segundo momento, “virtual”, diz respeito ao referencial teórico, articulando a discussão sobre o “esporte telespetáculo”, a “falação esportiva” e os “esportes radicais”.
Sobre o esporte telespetáculo, o autor argumenta que existe um “embaralhamento” entre a prática efetiva e a participação enquanto telespectador, residindo aí uma nova experiência em relação ao esporte na sociedade contemporânea. A “falação esportiva” é uma idéia proposta por Umberto Eco, na qual o sujeito acredita ser um participante efetivo da prática esportiva quando dialoga a respeito do discurso televiso do esporte; esse paradoxo é mais um fator da ideia de “embaralhamento”, pois o sujeito acredita que estaria praticando o esporte quando se fala a respeito dos eventos esportivos. Para o autor, essas “novas vivências”, além de embaralhar o que a sociologia nos fala a respeito do esporte, também ampliam a noção de esporte no contemporâneo, através da intensificação das virtualizações no cotidiano, fazendo com que o sujeito se religue ao seu corpo através desses elementos, para o autor uma “experiência vital”.
O terceiro momento, “virtual-eu”, se concentra nessas novas vivências esportivas e a relação direta no sentido de subjetivação e objetivação, articulados com as idéias de mixagem e estéreo propaladas por Babin e Kouloumdjian, e articuladas no campo da Educação Física escolar a partir do livro do professor Mauro Betti, Janela de Vidro. Nesse momento o autor se preocupa como os/as professores/as de Educação Física podem levar essas novas possibilidades da sociedade contemporânea para o universo escolar. A intenção é de que essas experiências e vivências possam contribuir para o aumento da “inteligência coletiva” dos sujeitos envolvidos, proporcionando um processo de multidimensionalidade do esporte, acarretando novas articulações na Educação Física da escola.
O texto do professor Alfredo é importante para os/as professores/as de Educação Física que começam a se envolver com o campo da Educação Física e a Mídia, pois traz “as novas vivências esportivas” para entendermos os múltiplos caminhos da Educação Física nos espaços escolares, e também nos faz pensar sobre a posição do professor de Educação Física como um mediador desses processos na escola.
Finalmente o texto de Betti, Imagem e ação: a televisão e a educação física escolar aponta uma proposta de investigação científica, amparado por uma metodologia descritiva, interpretativa e crítica, que consubstancia os professores na sua ação pedagógica como reflexão. A partir de uma abordagem fenomenológica hermenêutica e utilizando-se da interpretação do discurso televisivo, elabora um estudo investigativo, com base na Pesquisa-Ação, onde fica evidente a necessidade de estabelecer um diálogo/interação entre as mídias e a Educação Física, seguindo método compreensivo, evidencia-se a integração de todas as faculdades humanas mobilizadas pelas imagens, uma vez que a pesquisa deu-se com objetivos de trabalhar para educar no meio e com o meio, proporcionando aos professores escolares, atitude de reflexão crítica diante das mídias e em particular, a televisão, tendo como objetivo aumentar o nível de conhecimento sobre a adequação de conteúdos e metodologias que permitam incorporar o discurso televisivo ao ensino da educação física, tendo em vista a força que exerce as mídias sobre o imaginário social dos homens, a partir do entendimento da cultura corporal de movimento(Para Betti, siginifica: "a parcela da cultura geral que abrange algumas das formas culturais que se vêm historicamente construindo, nos planos material, e simbólico, mediante o exercício (em geral sistemático e intencionado) da motricidade humana - jogo, esporte, ginática e práticas de aptidão física, atividades rítmicas/expressivas etc.".
Betti (2003) explica que se estabelece um problema pedagógico para a Educação Física a partir do volume de informação que chega pelas mídias a um grande número de pessoas e, em especial, para os alunos de educação física, na escola, pois essas informações influenciam, pelo menos, o seu consumo e o de imagens, a cultural corporal de movimento. As crianças e os adolescentes são telespectadores assíduos e isso ocorre exatamente numa fase crítica de sua formação (física e mental). Partindo deste problema, alerta para a necessidade da Escola considerar criticamente as produções das mídias, pois elas estão presentes na vida dos alunos e principalmente, por que são raras as propostas e relatos de experiência que tenha incorporado as mídias como estratégia ou conteúdo no ensino básico e que a preparação dos professores diante dos equipamentos - vídeo e televisão - é crucial nesta relação.
Assim, o progresso tecnológico no mundo contemporâneo vem provocando mudanças sociais e culturais e que o acesso aos objetos técnicos é desigual, agravando os contrastes sociais. As crianças e adolescentes menos favorecidas economicamente não sabem utilizar esses instrumentos à sua vantagem, assim, os conteúdos transmitidos por esses instrumentos midiáticos servem apenas para atender à lógica da economia mundial, seduzindo então, as crianças e adolescentes como consumidoras passivas, afetando a sua formação intelectual e crítica.
Neste aspecto, explica que urge refletir sobre as conseqüências do fenômeno televisivo para a educação, em particular para a Educação Física. Crê que os educadores deveriam superar a perplexidade e a inércia diante das mídias, exercendo um papel de mediador entre elas e os alunos, buscando uma reflexão crítica. Tarefa difícil para os educadores pois significa conjugar a linguagem audiovisual com a racionalidade e a reflexão crítica. Acredita nesta possibilidade por entender, a partir dos estudos de recepção que o (tele)espectador tem a capacidade de re-significar as mensagens pelas suas múltiplas e interativas possibilidades de mediações. Portanto, "a escola deve tornar-se, explícita e intencionalmente, mais um contexto de mediação que se interpõe entre alunos e as mídias".(p. 96).
Expõe a necessidade de se estabelecer um diálogo entre a escola/educação física e as mídias, a partir de uma articulação pedagógica entre vivência corporal/ conhecimento/reflexão, na perspectiva da cultura corporal de movimento. Junto ao discurso televisivo sobre o esporte (mixagem - imagem, palavra, som) forja-se um entendimento hegemônico sobre o esporte, pelo fato da televisão alcançar todas as classes em quase todos os locais. Portanto, a integração mencionada, há de considerar o aluno em sua totalidade e que o consumo de informações e imagens provenientes das mídias, faz parte desta cultura corporal de movimento contemporânea e representa seu discurso e a partir deste entendimento, decifrar os sentidos nele presentes e refletir criticamente sobre as repercussões na Educação Física.
Encerramos esta resenha reafirmando a importância das análises aqui concentradas, todas apoiadas em pesquisas caracterizadas pelo compromisso com o aperfeiçoamento da formação docente e com o estabelecimento de relações críticas e emancipadas entre a Educação Física e a mídia. Independente dos rumos teóricos e divergências gerais que se possa ter com um ou outro autor, o que temos é livro de muita qualidade e ótimas reflexões.
Castellani Filho,
Lino,
EDUCAÇÃO FISICA NO BRASIL: A História que não se conta
Esta obra trás a historia de um quebra cabeça no país, em que vários
interesses de profissionais para as vinculações da educação física, tendo
trabalhos publicados sobre os cursos de universidades de todo o Brasil, que
assim temos obra do professor Izenil Pena Marinho, que em 1940 formou-se os
diversos cursos e contextualizações sobre historia de educação física.
Mudanças nos fatos históricos contam com a educação física, como parte
da educação brasileira e também fazer parte da motricidade humana ela possa a
ter a atenção da época, onde ela é uma atividade fundamental a vida humana,
com a dança e o desporto faz com que haja eficácia nas atividades motrizes de
suas vidas. Florestan Fernandes, sociólogo, em 1987, tem com a educação como
um meio importante para a sociedade brasileira e assim a educação implantada.
A história caminha a participação da educação física em
congressos, simpósios, seminários, encontros e outros eventos e assim também
a participação dela com a bioligização, psicopedagogização que reflete na
educação física. É claro que não foi só isso a educação física respondeu por
vários momentos na historia do Brasil e da educação do país, que por sua vez
refletes no contexto social, econômico e cultural da nação, que por exemplo
formar o estimulo a ela concretizar a moral, cívica e eugenização da raça
brasileira, como também adestramento físico, cabendo a ela a recuperação da
força de trabalho do trabalhador, contudo busca uma explicação em 1964 e
reforma universitária em 1968 e assim dando a educação física para todos os
ramos de escolarização. A ela acompanha a historia do Brasil, também possuía
o controle familiar para controlar a raça negra com a branca dominante.
A obra de Lino Castellani Filho,
trás que a disciplina era rechaçada como atividade para o trabalho e o tempo
do lúdico e do espaço de tempo livre era valorizada pela classe dominante,
ela tinha um caráter de vida saudável do povo com planos sanitários e assim a
mulher valorizava a atividade física para o papel social. O decreto de lei de
número 3.199-14/04/1941, decreta que em artigo 5, que a mulher e sempre tinha
a ginástica voltada a preparação social ou função de mãe, maternidade, as
mesmas não poderiam praticar exercícios físicos fora das condições naturais
de seu corpo. Artigo 54, lei 3.199, trás a lei para integrar a mulher através
da ginástica, assim em 1979, elas então no judô com a aprovação do CND. O
projeto de numero 224, 1982, a escola recebe a ginástica em seus currículos
para ambos os sexos, então cabe a escola preparar a mulher a futura
maternidade e se desempenhar na economia, papel social, cultural e
desportivo, a lei 6.503 de 13/12/1977, deixa facultativo a pratica da
educação física em todos os graus de ensino, onde a legislação vê a mulher
apenas mãe, donas de casas no século XIX, está aí a importância da educação
da mulher para o desenvolvimento do pais. Neste século, o ensino
profissionalizante contribuía ao país da classe pobre, e asilos de menos
desvelados, esta educação foi considerada por Romanelli Fernando de Azevedo
como um afronto e discriminação social.
A reforma educacional torna-se a educação física obrigatória e
inevitável dizer só desenvolver o cérebro e deixar os indivíduos fisicamente
doentes, tornando assim não facultativo, passando a ser para as condições
físicas especiais, entretanto com as frustrantes reformas educacionais a
educação física aconteceu em 1920, em 1931 é obrigatória por Francisco Campos
nas escolas para eugenizar as raças, em 1937, foi obrigatória a educação
física e ensino cívico em todas as escolas normais, primarias e secundarias,
ela possui importância em 1935 como para ensinar o homem a servir a pátria, a
mesma é usada como ideologia do estado, para atender só interesses econômicos
e passa a ser facultativa Jô ensino superior, a educação física a serviço da
nação, longe de ser neutra regendo valores, diretrizes políticas, morais e
econômicas, a mesma é colocada na obra com instrumento de integração da
infância e da juventude na pátria e interesses sociais que são incorporados,
os problemas de segurança civil, era para proteger a pátria e assim era
o esporte e a ginástica o fator para preservar nossas imensas reservas vivas.
No entanto a educação física passa a ser organizada e tocada pelo exercito
para que então fosse uma organização propicia a defesa do patriotismo,
no entanto, a educação física era ministrada com a ginástica e dos esportes
para fortalecer a crianças e sua saúde, a pratica que evite doenças e
conservação do bem estar em 1940, com a contextualização industrial a
educação física, passa a ser obrigatória aos estabelecimentos e que todos os
alunos até os 21 anos cumprissem e os artigos 131 e 132, tem o objetivo de fazer
cumprir o adestramento físico para a economia, fortalecer a força de
trabalho, atender as forças econômicas, fazer o adestramento para que o homem
aumente a capacidade de produção.
A educação física passa a ter atenção pelos serviços dos aprendizados
industriais, onde de acordo com o decreto de numero 4.048 de 1942, deixa
claro, que o patrão deve educar o jovem para os serviços, pois em 1941, o
major Inácio Rolim, descreve a educação física nas classes trabalhistas,
dentre então o desporto de varias modalidades fará o trabalhador a ter
afinidade com a empresa e fortalecer o corpo e saúde após o trabalho. Ela
proporciona ao trabalhador força muscular, capacidade muscular, circulação e
melhor função digestiva no desporto, ensino a moral e cooperação e ajustamento
aos grupos ideia criada em 1943 pela recreação operaria, para garantir uma
performance solida para o trabalhador, com isso a educação física passa a ter
tendências tecnicistas que era atender o período técnico cientifico que
o Brasil recebeu, no entanto, a educação atende as ideias dos monopólios da
economia burguesa, portanto, a educação física na presença tecnicistas nas
leis 5.540/68 e 5.692/71, confirma a ela a objetividade de participação de
fortalecer a capacidade de produção. Para justificar o caráter político é que
os ministérios da indústria e do comercio e da fazenda obriga as grandes
empresas a implantar campos de futebol aos arredores das mesmas para então o
trabalhador interagir com as funções sociais e até colônias de férias são
feitas, contudo, é que pensava que o trabalhador iria trabalhar melhor e
produzir melhor. Entretanto, a educação vem substituir o rosto triste,
fechado para o alegre do trabalhador.
No que diz ao esporte possui a capacidade de desviar as frustrações do
povo com apologia do fanatismo e também o civismo a pátria, a educação física
escolar em 1960 passa a ser posta no ensino superior e assim o conselho
federal de educação percebe a importância dos exercícios físicos para
qualquer idade adequadamente em 1966, dois anos depois com a lei 5.540 de 28
de novembro de 1968, aparece a lei da reforma universitária, que o ensino
superior era incitar a incentivar atividade desportivas, o decreto de lei 705
de 25 de julho de 1969, passa a decretar a obrigatoriedade da educação física
para todos os ramos da escolarização e tudo que era colocado pelo Conselho
federal de educação. Se a educação física foi obrigada para os ramos da
educação, então com o decreto numero 869 de 12 de setembro de 69 era
determinada a educação moral e cívica, educação física era supervisionar os
clubes esportivos e atividades físicas por professores.
O autor desde já demonstra que em sua obra a educação física, passa
por dificuldades e assim como também seus estudantes, que por sua vez estas
barreiras fizeram assim como um exemplo de interferência dos contextos
sociais, econômicos, políticos e culturais da sociedade brasileira. Desde
então, a disciplina como esta foi uma das que sofreram influencias nas
questões higienistas da população nas cidades do Brasil, para tanto, como
situação econômica do país diversos estabelecimentos comerciais ficaram a
cargo de fazer em seus momentos de produção que adestrasse o corpo dos
trabalhadores para as melhorias da sua própria saúde e como aumento da
resistência para o trabalho nas indústrias, que neste caso receberam
dedicação e preocupação do ministério da indústria e da fazenda, que por sua
vez se a educação física é uma cultura seja ela social e corporal, esta nos
tempos do desenvolvimento do capitalismo faz-se presente um aproveitamento
desta para o desenvolvimento de uma nação. No âmbito da cultura de um pais, a
questão de segregação racial a educação física, aparece como precursora da
união entre povos e cores.
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Educação
Física na perspectiva dos parâmetros
curriculares
nacionais para o ensino fundamental
Introdução
Os Parâmetros Curriculares Nacionais
(PCNs) da Educação Física se constituem num referencial teórico que busca a
reflexão sobre os conteúdos curriculares a nível Nacional, Estadual e
Municipal. Tendo em vista orientar e garantir a coerência das políticas de
melhoria da qualidade de ensino, socializando discussões, pesquisas e
recomendações, além de nortear a prática pedagógica do docente desta área,
principalmente objetivando mostrar as formas e meios de adequação no que se
refere à construção do planejamento com vistas no projeto político-pedagógico
da escola, para que este se efetive de maneira dinâmica e concreta.
A proposta tem como base a
consideração dos aspectos socioculturais dos educandos, de modo a atender as
diferentes realidades encontradas em nosso país, haja vista que o referencial
tem validade a nível Federal, mesmo que por alguns Estados seja contestada a
sua aplicabilidade. A proposta enquadra os conteúdos na perspectiva da
cultura corporal de movimento, de maneira a considerar as experiências e
manifestações apresentadas pela clientela escolar local. Reforçando essa
ideia, Martins e Noma (2002) analisando o relatório de Jacques Delors e os
Parâmetros Curriculares Nacionais, afirmam que ambos foram elaborados a
partir da Conferência Mundial de Educação para Todos realizada em Jomtien, na
Tailândia em 1990, com o intuito de estabelecer um princípio educacional que
norteasse as propostas em questão, de modo a contemplar temáticas
relacionadas e educação sexual, ética, educação continuada, convívio social
entre outros, mostrando que a preocupação estava pautada em dar coerência
entre a educação e as diferentes realidades sociais, com vistas a formar
cidadãos capazes de desenvolver suas potencialidades. Os autores enfatizam
que para criar uma sociedade com cidadãos qualificados e criativos, deve-se
antes preparar os indivíduos conforme as constantes mudanças sociais.
Para tanto, esse trabalho elege como
objetivo geral analisar a proposta na perspectiva de cultura corporal
contidas nos Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental.
Essa pesquisa conjuga a análise documental e a revisão bibliográfica para
alcançar o objetivo proposto. A temática apresentada será abordada nos
dois tópicos que compõe o trabalho “Divisão e critérios de seleção dos
conteúdos” e “Conteúdos da Cultura Corporal”. Por fim, será realizada uma
análise e síntese das discussões nas considerações finais.
Divisão e critérios de seleção dos
conteúdos
A seguir será feita uma abordagem
acerca de como os PCNs tratam a questão dos conteúdos, principalmente na sua
relação com a cultura corporal de movimento. O primeiro critério trata da
questão da relevância social que tem por meta selecionar práticas da cultura
corporal de movimento que se estreitam com as características da sociedade
brasileira, com fins de interação sociocultural, o usufruto das
possibilidades de lazer, a promoção da saúde pessoal e coletiva. O segundo
critério tem relevância extrema na tocante que diz respeito às
características dos alunos, tendo como base primordial a questão extremamente
cultural, buscando considerar as diferenças entre regiões, cidades e
localidades brasileiras e suas respectivas populações, além dos níveis de
crescimento e desenvolvimento e as possibilidades de aprendizagem dos
educandos nesta fase de formação educacional. Portanto, em última instância,
procurou-se ater nas especificidades da área, com o objetivo de possibilitar
a utilização das práticas da cultura corporal de movimento de maneira ampla e
diferenciada (BRASIL, 1998).
Para Costa (2005) os
novos modelos da Educação Física tratam os conteúdos em termos culturais,
abarcados por fins antropológicos, ou seja, enfoca os indivíduos como seres
culturais. O mesmo autor complementa ainda afirmando que é função dos PCNs é
de assegurar aos alunos a prática da cultura corporal, de modo que possam construir
atitudes críticas e reflexivas acerca das práticas que compõe essa proposta.
Os conteúdos dos PCNs do Ensino
Fundamental são divididos em três blocos, para melhor contextualização e
aplicação no âmbito escolar: esportes, jogos, lutas, ginásticas, atividades
rítmicas e expressivas e conhecimentos sobre o corpo.
Tendo em vista que os PCNs (BRASIL,
1998, p.28) descrevem que “dentro desse universo de produções da cultura
corporal de movimento, algumas foram incorporadas pela Educação Física como
objetos de ação e reflexão”, dessa forma os conteúdos são justamente essas
produções que compõem a proposta do documento, ou seja, os esportes, jogos,
lutas, ginásticas, atividades rítmicas e expressivas e conhecimentos sobre o
corpo.
Em primeiro lugar, os PCNs abordam os
conteúdos dentro de uma perspectiva de cultura corporal do movimento, mas o
que vem a ser uma proposta pautada nesse paradigma?
Para que se possa falar de cultura
corporal, se faz necessário que se tenha conhecimento primeiramente de seu conceito.
Os PCNs (BRASIL, 1998, p.28) apresentam a cultura corporal como sendo os
“conhecimentos e representações que se transformaram ao longo do tempo.
Ressignificadas, suas intencionalidades, formas de expressão e
sistematização”.
É nesse sentido que a cultura
corporal tem sua relação com a Educação Física, pois no decorrer da história
foram-lhe atribuídas algumas práticas especificas que hoje são conteúdos da
área em questão, sendo neste caso o jogo, o esporte, a ginástica, a luta, as
atividades rítmicas e expressivas. Portanto, a Educação Física é atualmente
considerada como um forte instrumento de formação “integral” do ser humano
por contemplar culturalmente os múltiplos conhecimentos produzidos pela
sociedade a respeito do movimento.
Conforme os PCNs (BRASIL, 1998) a
cultura corporal tem seu valor no que se refere às atividades culturais de
movimento voltadas para a vida, com fins de se buscar o lazer, a expressão de
sentimentos, afetos e emoções, e com possibilidades de promoção, recuperação
e manutenção da saúde. Portanto, com essa visão de cultura corporal,
pretende-se dar subsídios, a partir desses conteúdos (ginástica, jogos,
lutas, esportes, etc.) no que se refere à fundamentação das propostas em
Educação Física.
De acordo com os estudos de Salerno
(2004), a cultura corporal consiste em conteúdos que permeiam as
manifestações das danças, ginásticas, lutas, esportes e os jogos, dessa forma
fazendo com que o aluno reflita, explore, crie, recrie e entenda o mundo
através da linguagem corporal. Portanto, percebe-se que um trabalho
fundamentado na perspectiva da cultura corporal visa desenvolver no aluno não
apenas a questão motora, mas principalmente a social, afetiva, emocional,
cognitiva, enfim, busca atingir o altruísmo, a visão crítica e reflexiva da
realidade concreta.
Portanto, a cultura corporal visa o
aluno para uma formação pautada numa perspectiva crítico-social, assim, com a
abordagem dos conteúdos de maior relevância, conjuntamente com a reflexão e a
capacidade de transformação de formas e visões da sua própria cultura,
busca-se um ensino voltado para a inclusão e democratização com valores
éticos e solidários (PINTO; SILVEIRA, 2001, p. 4).
Enfim, com base no Coletivo de
Autores (1992), a cultura corporal tem seu paradigma pautado na
busca da reflexão pedagógica sobre as representações que o homem vem
produzindo no decorrer de sua história a respeito do mundo, sendo assim, os
jogos, as danças, as lutas, os esportes e outros, podem ser identificados
através de representações simbólicas da realidade, pois foram historicamente
criadas e culturalmente desenvolvidas. Portanto, a prática pedagógica na
ótica da cultura corporal tem como objetivo fundamental contemplar os
conteúdos nos diferentes aspectos (históricos, sociais, técnicos, éticos,
fisiológicos, culturais e políticos) de forma abrangente, democrática e
contextualizada, fazendo com que os educandos possam enxergar as
possibilidades de transformações desta prática (PINTO; SILVEIRA, 2001).
Conteúdos da cultura corporal
De acordo com o documento em questão,
os conteúdos da cultura corporal de movimento que dizem respeito aos
conhecimentos sobre o corpo tem por finalidade explicitar a auto conquista
obtida pelos alunos mediante as práticas corporais, de forma a fazer com que
o aluno compreenda o seu corpo como um organismo integrado ao meio físico e
cultural. Para que esses conteúdos sejam abarcados com maior clareza se faz
necessário o estudo de alguns elementos, sendo: “os conhecimentos anatômicos,
fisiológicos, biomecânicos e bioquímicos que capacitam à análise crítica dos
programas de atividade e o estabelecimento de critérios para julgamento,
escolha e realização de atividades corporais saudáveis” (BRASIL, 1998, p.
68). Deve-se ressaltar que esses conhecimentos possuem certa superficialidade
em sua abordagem, buscando de forma sistemática serem trabalhados
conjuntamente com a formação de conceitos, atitudes e procedimentos ao fazer,
compreender, sentir e falar sobre as possibilidades e necessidades corporais
Tendo
como base os estudos de Martins (2005), constata-se que o conhecimento sobre
o corpo associado aos aspectos fisiológicos, biológicos está intimamente
ligado ao ambiente, sendo este último concebido no seu sentido amplo,
incluindo as oportunidades de vivências do corpo em situações que tenha como
característica a busca da resolução de problemas, objetivando assim a
superação dos conflitos que porventura surgirem.
Portanto,
fica aqui bem explicito a importância de se trabalhar esses conteúdos junto
às aulas de Educação Física, de forma a ampliar a cultura corporal de
movimento do aluno juntamente com a percepção e compreensão do seu corpo
mediante o meio em que o indivíduo está inserido.
Os
PCNs (Brasil, 1998, p.70) atribui-se ao esporte a seguinte definição:
[...]
considera-se esporte as práticas em que são adotadas as regras de caráter
oficial e competitivo, organizadas em federações regionais, nacionais e
internacionais que regulamentam a atuação amadora e a profissional. Envolvem
condições espaciais e de equipamentos sofisticados como campos, piscinas,
bicicletas, pistas, ringues, ginásios etc. (BRASIL, 1998, p. 70).
No
entanto, independente de suas características, o esporte sempre fez parte da
vida do homem, podemos constatar isso ao voltarmos lá nos gregos (Idade
Antiga) que atribuíam um grande valor às atividades físicas e esportivas da
época, isso tudo com intuito de se promover a formação físico-moral de seus
cidadãos. Constituído como um dos fenômenos sociais de maior significância
mundial, o esporte evoluiu juntamente com as transformações sociais e
tecnológicas, principalmente do século XIX em diante, dessa forma servindo
como discurso aos campos políticos, econômicos, culturais e educacionais
(KORSACAS; ROSE JR., 2002).
Reforçando
essa ideia Kunz (2003, p. 22) afirma que: “[...] fica evidente que o esporte
é em todas as sociedades atuais um fenômeno extremamente importante.
Defrontamo-nos com ele a toda hora e em todos os instantes, mesmo sem
praticá-lo”.
Desde
modo, perante tamanha importância, o esporte passa a ser concebido de acordo
com a sua forma de utilização, sendo em vezes voltado para o alto rendimento
e em outras para fins pedagógicos. Sendo assim, para que se possa explicitar
melhor essa diferenciação, especialmente no Brasil, tem-se como referência, o
texto da Lei nº 9.615 de 1998 que diz ser o esporte de rendimento praticado
“segundo as normas gerais e das regras de prática esportiva, nacionais e
internacionais, com finalidade de obter resultados e integrar pessoas e
comunidades do País com as de outras nações”. Por outro lado, de acordo com
Korsakas & Rose Jr. (2002) o esporte voltado para a educação tem por
característica ser uma modalidade praticada nos sistemas de ensino, clubes,
praças, com a finalidade de alcançar o desenvolvimento integral do indivíduo,
evitando a seletividade e a hipercompetitividade. Kunz (2003, p. 24) salienta
ainda que o esporte tem fortes ligações com o “desenvolvimento das sociedades
atuais, onde o rendimento configura-se no princípio máximo de todas as ações”.
Em
consonância a este contexto podemos elucidar que o esporte ganha muita força
e espaço nas aulas de Educação Física, pois além de estar fortemente ligado a
nossa cultura é também instrumento ideológico do sistema sócio-político
governamental, servindo muitas vezes de argumentos para se justificar a
inclusão da Educação Física como componente curricular.
Portanto,
quando em muitas vezes o fato da Educação Física ser interpretada como o
próprio esporte dentro da escola, isso se deve em grande proporção à visão de
muitos professores que colocam o esporte como um fim.
Não
se pretende afirmar que o esporte em si não seja instrumento que tem sua
valorização no que no que diz respeito a sua aplicação nas aulas de Educação
Física, pois muitos pedagogos da área em questão têm nas atividades
esportivas uma forma de justificar a inclusão da Educação Física no espaço
escolar, ressaltando a contribuição social a partir da interação de crianças,
assim fazendo com que as mesmas tenham uma visão diferente de mundo, tendo em
vista que no convívio social precisamos considerar que além de nós existem
“os outros”, devemos também respeitar determinadas regras e ter determinados
comportamentos, assim o fato de se aplicar o esporte nessa perspectiva tem seu
real sentido, pois existe uma função social a ser cumprida e através do
esporte pode-se desenvolver essa consciência (BRACHT, 1992). Por outro lado,
para Parlebas, (1980 apud BRACHT, 1992, p.59) essa visão pode ser modificada
mediante os objetivos que se impõe a aplicação do esporte na escola,
principalmente o institucionalizado e regulamentado que acaba imprimindo “no
comportamento as normas desejadas da competição e da concorrência”. Portanto,
se o esporte for literalmente produzido na escola acaba por moldar uma
atitude irreflexiva e inquestionável às regras, trazendo assim o acomodamento
e a falta de criticidade dos alunos perante a sua convivência enquanto
cidadãos livres. O mesmo autor diz ainda que isso tudo forja o aluno a ser um
“conformista feliz e eficiente”, pois como Bracht (1992, p. 59) diz: “[...] o
aprender as regras significa reconhecer e aceitar regras pré-fixadas”.
Os
PCNs ressaltam ainda que os professores devem através do esporte promover aos
alunos a capacidade de adaptação, no que diz respeito aos espaços e
materiais, fazendo com que os mesmos vivenciem situações de participação e
competição, assumindo os diferentes papéis durante a prática, além de
propiciar organizações de pequenos eventos.
Segundo
os PCNs (BRASIL, 1998) nos jogos existe a possibilidade de mudanças no que se
refere a sua forma de organização, e isso pode ser feito de acordo com as
necessidades e condições onde vai ser praticado. Além disso, o jogo pode
assumir caráter competitivo, recreativo ou mesmo cooperativo. Para o
documento, os alunos devem desenvolver através do jogo a capacidade de
usufruir do seu tempo de lazer e integração social, atitudes cooperativas,
criatividade, valorização de sua própria cultura. Escobar (1990 apud SALERNO,
2004, p.4), afirma que em relação ao jogo como instrumento pedagógico da
cultura corporal podemos dizer que o mesmo: “é uma invenção do homem, um ato
que sua intencionalidade e curiosidade resultam num processo criativo para
modificar, imaginariamente, a realidade e o presente” e que o jogo satisfaz
necessidades das crianças, especialmente a necessidade de ‘ação’.
Salerno
(2004), afirma ainda que o jogo sempre vem acompanhado de uma necessidade que
por fim gera uma ação, assim não se deve conceber o jogo como apenas uma mera
seleção de talentos a partir das técnicas apresentadas, mas sim proporcionar
aos alunos situações reais de reflexão e incessante busca de soluções para os
diversos problemas que possam surgir, de modo a desenvolver a crítica sobre a
prática. Reforçando essa ideia podemos nos apoiar em Oliveira (1985) que
afirma o seguinte:
O
jogo é uma forma de se exercitar – talvez a única – que atinge o ser humano
na sua totalidade. Jogando, mais do que qualquer outra atividade, as pessoas
têm oportunidade de se reconstituir como tais, reintegrando os segmentos
cognitivo, psicomotor e afetivo-social num todo que os comportamentalistas
teimam em negar (OLIVEIRA, 1985, p.54).
Portanto,
o jogo se configura como sendo um forte instrumento de manifestação histórico-social,
e na verdade é bem mais que isso, pois não se restringe apenas a esfera
escolar, além do que na sua prática as pessoas se relacionam socialmente,
identificando e elaborando uma enorme gama de situações que envolvem ora seus
direitos, ora seus deveres. Dessa forma, o jogo não está apenas inserido no
contexto dos esportes em geral, mas também nas relações sociais, nos
conflitos ideológicos, políticos, religiosos, pois através do jogo o
indivíduo, em última instância, se julga como “ser” e não como “objeto”
(OLIVEIRA, 1985).
Corroborando
com a ideia de Oliveira (1985), Betti (2001) afirma que trabalhar jogos com
os alunos pode possibilitar situações em que os mesmos precisem criar
soluções para resolver os problemas que poderão surgir dentro da escola, de
modo que esta circunstância possa também se repetir no dia a dia junto à
sociedade.
Tomando
como base este contexto, não resta dúvida de que o jogo tem extrema
importância como conteúdo nas aulas de Educação Física, principalmente se
trabalhado na perspectiva da cultura corporal, destacando a importância de
uma reflexão crítica sobre sua prática e as relações existentes com o meio a
que pertence.
Os
Parâmetros Curriculares Nacionais de Educação Física (BRASIL, 1998, p.70),
concebe lutas na seguinte visão:
As
lutas são disputas em que o(s) oponente(s) deve(m) ser subjugado(s) com
técnicas e estratégias de desequilíbrio, contusão, imobilização ou exclusão
de um determinado espaço na combinação de ações de ataque e defesa.
Caracterizam-se por regulamentação específica a fim de punir atitudes de
violência e de deslealdade. (BRASIL, 1998, p. 70).
Conforme
Salerno (2004) as lutas se configuram como algo mais além do que a própria
defesa ou mesmo o ataque, ela constitui-se de práticas que priorizam a
filosofia a ser seguida pelos que delas usufruem de forma a propiciar as mais
variadas vivências e experiências para que os alunos possam conhecer diversas
filosofias nas quais de prega o convívio com o outro de forma harmônica e a
busca da harmonia interna para que não seja necessário usar a força de uma
luta, mas sim a força para não precisar entrar em conflito.
De
acordo com os PCNs (BRASIL, 1998, p. 70) tem-se a seguinte definição para
ginásticas: “são técnicas de trabalho corporal que, de modo geral, assumem um
caráter individualizado com finalidades diversas”. Dessa forma a aplicação da
ginástica pode adotar variadas formas, pois pode ser utilizada como
treinamento de base, como meio de se buscar o relaxamento, ou mesmo na
conservação e recuperação da saúde, além de ser empregada ainda como prática
de lazer, competição e até como meio de convívio social.
Ressaltando
a valorização da ginástica como componente curricular Lorenzini e Tavares
(1998) afirmam que à relevância de se trabalhar a ginástica reside no fato de
que o aluno poderá aprender a resolver os problemas relativos ao movimento,
com maior liberdade, assim podendo vivenciar as mais variadas práticas
corporais, de modo que isso lhe permita criar novas formas de exercitações.
Fundamentados em estudos presentes nos Parâmetros
Curriculares Nacionais (BRASIL, 1998, p. 71) podemos ter as seguintes
definições para as atividades rítmicas e expressivas: “em relação à
expressão, essas práticas se constituem em códigos simbólicos, por meio dos
quais a vivência individual do ser humano, em interação com os valores e
conceitos do ambiente sociocultural, produz a possibilidade de comunicação
por gestos e posturas”. Já no que se refere ao ritmo o documento afirma que
“desde a respiração até a execução de movimentos mais complexos, se requer um
ajuste com referência no espaço e tempo, envolvendo, portanto, um ritmo ou
uma pulsação”.
Na
obra Metodologia do Ensino da Educação Física, elaborada por um Coletivo de
Autores verifica-se que a Educação Física trata do conhecimento denominado
cultura corporal que configura-se com temas ou formas de atividades. O estudo
desses conhecimentos visa aprender a expressão corporal como linguagem
(COLETIVO DE AUTORES, 1992).
Em
se tratando de ritmo e expressão não se pode deixar de fazer uma abordagem
acerca da dança, pois esta prática caracteriza muito bem os aspectos a que se
refere este bloco de conteúdos (atividades rítmicas e expressivas).
Pacheco
(1996) em seu estudo referente à dança na cultura corporal publicado nos
anais do I Encontro Fluminense de Educação Física Escolar descreve que:
Os
movimentos corporais sempre estiveram presentes no desenvolvimento histórico
humano, sendo uma necessidade de representação cultural e social do homem.
Parece uníssono o pensamento de que dança enquanto manifestação da cultura
corporal humana é passível de ser tematizada como conteúdo da educação física
escolar, bem como, de atender a objetivos e propostas pedagógicas da
instituição educacional. (PACHECO, 1996, p.28).
A
autora evidencia ainda que deve-se perceber a dança como um fenômeno
inseparável de suas dimensões sociais, culturais e históricas, onde o
significativo das relações humanas é construído e reconstruído. Portanto,
tomando como base este contexto, a dança tem extrema valorização por
proporcionar o desenvolvimento da “capacidade crítica, cooperação,
versatilidade e autonomia do grupo na elaboração de seus próprios movimentos,
produção coreográfica, superação de conflitos, discussão e expressão”
(PACHECO, 1996, p.29).
No
sentido educacional da dança Bregolato (2000, p. 145) assegura que ao
oportunizar os alunos momentos de elaboração de seus próprios movimentos, “a
dança desenvolve a iniciativa e autonomia, qualidades voltadas à liberdade de
ser e estar no mundo”. Ainda com fins educacionais, Salerno (2004) citam que
o trabalho deve ser realizado de modo a possibilitar aos alunos a compreensão
de seu corpo como sendo um instrumento que dá vida aos sentimentos e que tudo
isso deve ser encaminhado no ritmo de cada praticante, fazendo com que o
indivíduo possa compreender o seu mundo.
Considerações finais
Ao
passo que os Parâmetros Curriculares Nacionais têm por função exatamente
orientar e garantir a coerência das políticas de melhoria da qualidade de
ensino, além de nortear a prática pedagógica em Educação Física a nível
federal, (mas dando liberdade para que cada estado e município adotem outras
propostas de ensino) principalmente objetivando mostrar as formas e meios de
adequação a cada realidade local.
Os PCNs dentro da perspectiva crítica buscam uma
educação num contexto histórico-social, proporcionando ao indivíduo condições
para exercer sua cidadania. Nesse sentido, uma educação pautada nos PCNs deve
formar cidadãos conscientes, mas antes de tudo “ter” professores conscientes,
conscientes da necessidade de aprimorar seus conhecimentos, seja nas bases
teóricas que fundamentam a sua prática ou ainda na sua prática que sustenta a
sua teoria.
Referências
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EDUCAÇÃO FÍSICA, CULTURA E
SOCIEDADE
Mauro Betti
Introdução
Quando
se diz que a Educação Física é um fenômeno cultural, não se quer dizer que os
dados biológicos não estão presentes ou não são importantes, mas que estes
últimos não são suficientes para a compreensão, por exemplo, do esporte. Os
europeus do Renascimento ou os indígenas brasileiros à mesma época não
jogavam basquetebol ou futebol, embora do ponto de vista fisiológico-mecânico
possuíssem o potencial para fazê-lo. É claro que jogos com bola, atendendo ao
impulso lúdico que está na origem da própria cultura humana (HUIZINGA, 1980)
são registros bastante antigos na história, mas apenas em contextos
socioculturais específicos é que surgiram o basquetebol e o futebol tal como
os conhecemos hoje. O surgimento e ascensão do esporte como um importante
fenômeno sociocultural pode ser explicado pelos predicados intrínsecos
(lúdicos e agonísticos) presentes nas diversas modalidades esportivas,
aliados ao contexto de liberalismo e industrialização da Europa no século
XIX, daí espalhando-se para todo o mundo (BETTI, 2009a).
Cultura
Corporal de Movimento
Mas
o que é cultura? Temos dificuldade em compreender nossa própria cultura,
porque estamos nela imersos, ela nos aparece como um dado evidente, sobre o
qual não nos debruçamos a todo momento para uma análise sistemática.
DaMatta
(1978) considera que, ao estudar uma dada cultura, um antropólogo deve
realizar um duplo movimento: transformar o estranho em familiar, e, ao mesmo
tempo, o familiar em estranho. O primeiro é o movimento original da
Antropologia, ao final do século XIX, quando buscava compreender culturas
nativas. O segundo corresponde ao momento presente da Antropologia, que se
volta para a nossa própria sociedade, e então temos que estranhar o que nos é
familiar.
Lembra
Dartigues (1973) que Husserl (1859-1938), considerado o “pai” da fenomenologia
moderna, agradeceu aos antropólogos do seu tempo, já que concebia a
descoberta da essência dos fenômenos sociais e culturais como decorrentes de
uma compreensão prévia, logo, de um conhecimento, pelo sociólogo/historiador,
de culturas diferentes da sua – e os antropólogos penetraram em universos
culturais inteiramente estranhos ao homem europeu, os quais não poderiam ter
concebido, nem mesmo como pura possibilidade, se não tivessem ido investigar in
loco.
Uma
boa e didática ilustração do que poderia ser esse processo de estranhamento,
e que apresenta interesse para a Educação Física, é a matéria jornalística
exibida na televisão (matéria exibida no "Globo Repórter",
produzido pela TV Globo, em 9 de junho de 1999) sobre alguns aspectos da
cultura da Mongólia, país encravado na Ásia, entre a Rússia e a China.
Naquele país realiza-se anualmente, conforme a referida matéria, há quase
oito séculos, um “festival de esportes”, que inclui as modalidades: arco e
flecha, corrida de cavalo e luta. Na corrida, o percurso totaliza 56
quilômetros, tendo como cavaleiros meninos de 4 a 12 anos; exaustos, alguns
cavalos morrem de cansaço, literalmente. É o animal vitorioso, e não o
cavaleiro, quem recebe as honras. Na competição de luta, mais de 500
concorrentes se enfrentam sucessivamente, sem divisão de categorias por peso
e sem limite de tempo (algumas lutas chegam a durar duas horas), até que
apenas um deles permaneça em pé – o vencedor é aclamado como herói. Tais
fatos podem chocar defensores dos direitos dos animais, médicos, pedagogos
e/ou profissionais da Educação Física, porque confrontam valores
estabelecidos (mesmo que provisoriamente) em nossa cultura – tanto a cultura
no sentido mais amplo (a cultura ocidental, por exemplo), como em sentido
mais específico (a cultura profissional-pedagógica da Educação Física, por
exemplo). Todavia, se tomarmos a corrida de cavalos como exemplo, é preciso
considerar que saber cavalgar, num país em que a maioria da população possui
hábitos nômades, e onde há mais equinos que seres humanos, é habilidade
altamente valorizada, inclusive para crianças.
O
exemplo nos permite entender porque “cultura” pode ser definida como
“conjunto dos modos de vida de um grupo humano determinado, sem referência ao
sistema de valores para os quais estão orientados esses modos de vida”
(ABBAGNANO, 2000, p. 229). Tal definição aplica-se tanto a sociedades
complexas, tecnológicas, como a sociedades simples e rústicas.
Todavia,
na sociedade ocidental contemporânea, em especial nas últimas décadas, um
conceito que destaque o caráter semiótico da cultura parece ser mais
apropriado - qual seja, considerar a cultura como uma dinâmica de produção e
circulação de signos e sentidos. Para essa direção se volta o conhecido
trabalho de Geertz (1989), cuja importância foi destacada por Thompson
(1995), por ter reorientado a análise da cultura para o estudo do significado
e do simbolismo, adotando uma concepção simbólica de
cultura, que Thompson (1995, p. 176) caracteriza como: “padrões de
significados incorporados nas formas simbólicas, que inclui ações,
manifestações verbais e objetos significativos de vários tipos, em virtude
dos quais os indivíduos comunicam-se entre si e partilham suas experiências,
concepções e crenças” .
Levando
adiante tal entendimento, Thompson (1995, p.1981), propõe uma concepção
estrutural da cultura, que “dá ênfase tanto ao caráter simbólico dos
fenômenos culturais como ao fato de tais fenômenos estarem sempre inseridos
em contextos sociais estruturados”, e a por “análise cultural” entende o “estudo
das formas simbólicas”, que dizer “ações, objetos e expressões significativas
de vários tipos - em relação a contextos e processos historicamente
específicos e socialmente estruturados dentro do quais, e por meio dos quais,
essas formas simbólicas são produzidas, transmitidas e recebidas”.
Destaca-se,
nessa concepção, a dimensão semiótica e comunicativa da cultura (cultura e
comunicação são como duas faces da mesma moeda), e por outro lado, a
crescente midiatização da cultura contemporânea, já que as mídias são
atualmente as principais fontes de produção e transmissão de formas
simbólicas e construção de sentidos no mundo de hoje. Santaella (1996)
refere-se mesmo ao surgimento de uma nova cultura, que redefine a cultura de
massa e a cultura erudita: é a cultura das mídias, que cria sua
própria linguagem.
Então,
quando a matéria televisiva fala em “esporte” na Mongólia, refere-se a uma
forma simbólica que possui significados diferentes para os mongóis e para
nós, e que se situa em um contexto histórico e social específico.
Somos
seres cuja relação original com o mundo e com os outros é corporal-motora
(MERLEAU-PONTY, 1999). Possuímos uma infinita capacidade de “movimento
para...”, quer dizer, nossa motricidade é regida por intencionalidades.
Santin (1987) destaca que os elementos fundantes da Educação Física são: o ser
humano (uma totalidade indivisível) e o movimento, o
qual possui componentes/elementos intencionais internos e externos. Dentre
outros, são componentes intencionais internos do movimento
humano: o prazer intrínseco à execução dos próprios movimentos, a superação
de si próprio e a fruição estética; elementos externos seriam
aqueles que provém de fora do campo do próprio movimento, como troféus,
recompensas financeiras, bem como a busca de valores extrínsecos ao movimento
em si, como a saúde. E tais componentes intencionais internos e externos
podem ser articulados de diferentes modos, a partir de diferentes valores -
entendendo valor como uma possibilidade de escolha (ABBAGNANO,
2000). Por exemplo, a saúde pode ser promovida ou prejudicada, dependendo da
articulação que se faz entre os componentes intencionais do movimento, já que
ela não é, em si, um componente intencional interno do movimento humano.
É
a exercitação intencionada, e em geral sistemática, da motricidade humana
(que dizer, nossa capacidade de movimento para...) que foi
construindo, ao longo da história, as formas culturalmente codificadas que
hoje conhecemos como esporte, ginásticas, dança etc., as quais constituem os
meios e conteúdos que a Educação Física (que não surgiu previamente a estas
formas) articula a partir de diferentes intencionalidades pedagógicas. É a
este processo e produto que denominamos “cultura corporal de movimento”
(BETTI, 2003), já que não existe movimento sem um corpo que se movimente
(DARTIGUES, 1973). São estas também as formas culturais que interessam às
mídias, aos empresários, aos políticos, cada qual buscando extrair delas
diferentes valores, de acordo com suas intencionalidades.
Contudo, é importante explicar que o termo “intencionalidade” não é usado
aqui apenas com um conotação utilitarista no sentido de
obter, de modo consciente e previamente planejado, alguma vantagem de ordem
“prática” com alguma ação.
Vamos
a um exemplo. Didi, um dos maiores jogadores de futebol que o Brasil já
conheceu, atuante até início da década de 1960, descreveu, em entrevista à
televisão, a que eu tive a oportunidade de assistir, como inventou a “folha
seca”, um chute de longa distância no qual a bola se elevava muito e, já
próxima à meta adversária, descia rapidamente, enganando o goleiro. Pois bem,
tal modo de chutar a bola não foi fruto de um processo de “treino”, de
experimentação controlada com o propósito de criar um novo tipo de chute mais
eficiente para atingir o objetivo do futebol (“fazer gols”), mas decorreu do
fato de estar com o calcanhar machucado, o que o obrigou a chutar apoiado na
ponta dos pés, criando involuntariamente uma nova mecânica do chute. Quer
dizer, ele não “pensou”, não refletiu antecipadamente sobre como chutar a
bola nessa nova situação corporal que a contusão lhe impôs, mas o corpo
organizou a ação motora espontaneamente, intuitivamente – isto é exatamente o
que se chama intencionalidade operante (MERLEAU-PONTY,
1999), conceito que também Sérgio (2003) emprestou à fenomenologia
merleau-pontyana, para definir a motricidade humana como “intencionalidade
operante”. É claro que a biomecânica poderá explicar a “folha seca” nos
termos da Física, assim como professores de Educação Física e treinadores
esportivos poderão apropriar-se desse movimento e inseri-lo em uma pedagogia
de ensino/treinamento do futebol – estaríamos aí, então, no âmbito da cultura.
Mas tais procedimentos são posteriores, assim como, a posteriori,
o próprio Didi pode compreender racionalmente o que fez, e pode explicá-lo em
palavras.
O
depoimento de Didi, então, além de nos servir para exemplificar o conceito de
“intencionalidade operante”, também serve para nos mostrar de onde vem o
novo, onde está a fonte na qual a cultura corporal de movimento “bebe” a
matéria prima do seu dinamismo, pois, afinal, a cultura não é estática, ela
não apenas reproduz os jogos, os esportes, as danças, mas os produz, os
transforma, os cria e re-cria. Observemos as crianças em suas brincadeiras;
os jovens empobrecidos nas periferias e favelas improvisando jogos e danças;
famílias nos parques públicos rebatendo uma bola por sobre uma corda amarrada
entre duas árvores; nas praias, meninos e meninas fazendo malabarismos com
uma bola nos pés, ou deslizando por dunas de areia com pedaços de tábua
encerada. Aí encontraremos a exercitação mais original da
motricidade humana, e original em dois sentidos: como origem das
formas que adquirirão posteriormente codificação cultural, e original porque inovadoras,
não-codificadas, transgressoras em certa medida. “Brincar” de rebater uma
bola de plástico por sobre uma corda amarrada entre duas árvores é, nesse
sentido, mais original que o voleibol regulamentado como esporte
formal-federativo.
Nessa
mesma direção, Baitello Júnior (1999) evidenciou como, para os teóricos da
semiótica da cultura, o jogo/brinquedo, na qualidade de atividade não
direcionada a um fim utilitário, é um dos nascedouros da cultura humana.
As
mídias, a televisão e a cultura corporal de movimento
Mas
desde a década de 1960 entrou em cena uma novo elemento dinamizador da
cultura corporal de movimento: a televisão. Dotada de enorme capacidade
técnica para produzir discursos audiovisuais, cuja principal característica é
a espetacularização das imagens, a televisão, aliada a interesses comerciais,
encontrou no esporte a matéria-prima ideal, criando o esporte
telespetáculo, o qual pode ser definido, conforme Betti (1998) como uma
realidade textual relativamente autônoma (face à prática “real” do esporte)
que é construída pela codificação e mediação dos eventos esportivos efetuadas
pelo enquadramento das câmaras televisivas, edição das imagens e comentários,
sons e efeitos gráfico-computacionais que se acrescentam a elas. É regido
pela lógica da espetacularização, por sua vez ligada aos
interesses econômicos das grandes empresas midiáticas e às possibilidades
tecnológicas de produção e emissão de imagens.
É
tal “texto” audiovisual (predominantemente imagético) que se tornou produto
vendido pela televisão e por outras mídias (jornais, revistas, sites da
internet etc.) – o espetáculo esportivo em si e a “falação” (ECO, 1984) sobre
ele. Além disso, a possibilidade da associação do esporte a uma infinidade de
produtos, do açúcar (“energia”) aos serviços bancários (“velocidade”),
passando pelos materiais esportivos propriamente ditos (bolas, vestimentas
etc.) é amplamente explorada pela publicidade.
Contudo,
tal lógica da espetacularização -ao transformar o esporte em texto
predominantemente imagético e relativamente autônomo face à prática “real” do
esporte- traz uma importante consequência: a fragmentação/descontextualização
do fenômeno esportivo. As mídias fragmentam e descontextualizam a experiência
global de praticar esporte. Os eventos e fatos são retirados do seu contexto
histórico, sociológico, antropológico; a experiência global do ser-atleta é
fragmentada. Como tal descontextualização é sutil e compensada com
informações suplementares (closes, câmaras dispostas em diversos ângulos,
microfones captando sons no campo e na torcida, etc.), o telespectador tem a
falsa sensação de estar olhando por uma “janela de vidro”, quando na verdade
aprecia uma interpretação da realidade, mediada pelas câmaras televisivas
(BETTI, 1998). De fato, há diferenças profundas na experiência de assistir ao
esporte como testemunha corporalmente presente nos estádios e ginásios e na
sala de estar, pela televisão. Por outro lado valorizam os aspectos parciais
que mais lhes interessam para efeito de espetacularização, e acabam por
veicular uma concepção hegemônica do que é esporte: vitória a qualquer custo,
esforço máximo, disciplina, recompensa financeira etc. Aspectos como o
prazer, a sociabilidade e o conhecimento de si no confronto com outrem, por
exemplo, são neglicenciados.
É
então importante compreender que o interesse das mídias no esporte não se
fundamenta no interesse de estimular a prática esportiva, mas de vender a si
próprias, e, por sua vez, o esporte profissional torna-se cada vez mais
dependente das mídias, em especial da televisão. Atualmente, nenhum grande
evento esportivo é possível sem o envolvimento das empresas televisivas, que
divulgam os produtos e as marcas dos patrocinadores, por intermédio da
publicidade.
O
esporte telespetáculo ensaiou seus primeiros passos na Copa do Mundo de 1966
-o primeiro evento esportivo internacional integralmente explorado pela
televisão- e firmou-se nos Jogos Olímpicos de 1984, em Los Angeles, também os
primeiros Jogos Olímpicos que auferiram lucros financeiros. O esporte nunca
mais seria o mesmo após o surgimento da televisão ao vivo, o vídeo
tape, o close, os sistemas de satélite que fazem as imagens e
sons do espetáculo esportivo trafegar por todo o planeta.
Já
há alguns anos, pode-se constatar que as mídias passaram a investir também em
outras manifestações da cultura corporal de movimento, em especial as
ginásticas (aeróbica, localizada, com pesos etc.), associando-as a um modelo
de beleza corporal de magreza, para cujo alcance concorrem também as dietas
alimentares e intervenções cirúrgicas (prótese, lipoaspiração etc.). Dessa
associação resulta a possibilidade de vender inúmeros produtos:
esteiras-rolantes, equipamentos domésticos de ginástica, remédios “emagrecedores”,
além, é claro, de um sem número de publicações (em especial revistas de
“banca”) dirigidas prioritariamente ao público feminino, em cujas capas,
observem, sempre aparecem “chamadas” para programas de exercício e ginástica
que visam emagrecimento e/ou obtenção de fortalecimento muscular em
determinadas regiões do corpo (por exemplo, “levantar o bumbum”). É oportuno
lembrar que as academias, destacado espaço de atuação dos profissionais da
Educação Física, toma parte nesse mercado do corpo que, se
não é novo, foi expandido e tomou novos rumos sob o patrocínio das mídias.
Já
havíamos apontado (Betti, 2001, 2004) a decisiva influência das mídias (em
especial a televisão), no direcionamento de tendências da cultura corporal de
movimento, com importantes repercussões para a Educação Física, entendida
esta tanto como área de conhecimento como de intervenção profissional. São
essas tendências:
· (i)
Novas esportivizações: fenômeno que tende a assimilar diversas formas da
cultura corporal de movimento ao modelo do esporte espetáculo.
· (ii)
Progressivo distanciamento do esporte telespetáculo das demais formas da
cultura esportiva, afastamento este provocado pelas mídias e pelas grandes
corporações econômicas, as quais, cada vez mais, assumem o gerenciamento do
esporte como espetáculo televisivo; essa tendência distancia, na sua forma (embora
não no seu simbolismo) o esporte telespetáculo do esporte praticado em
contextos de lazer, educação e saúde.
· (iii)
“Confundimento” ou “entrelaçamento” entre os modelos de estética corporal e o
modelo do fitness (saúde/aptidão física); a vinculação valorativa
do exercício físico à saúde, que a tradição Educação Física conhece tão
bem, foi deslocada para o valor da beleza, segundo um padrão imposto
pelas mídias; em consequência, o exercício físico de modo geral, e em
especial as ginásticas, passa a revestir-se de certos sentidos:
emagrecimento, definição e hipertrofia muscular, sensualidade etc. Na
primeira tendência assistimos transformar-se em esporte o que surgiu como
jogo (por exemplo, o skate e o vôlei de praia), ginástica
(ginástica aeróbica) ou atividade na natureza (por exemplo, o surfe); na
segunda, temos o exemplo do esporte infantil, no qual as crianças não são
vistas em sua presentidade, mas em seu devir, como o que serão:
futuros Neymar; na terceira a motivação aparente (infelizmente, a
única que muitos profissionais da Educação Física levam em conta) de quem
procura as ruas e parques para caminhar ou correr, ou as academias para
“malhar”, é o emagrecimento e a construção do corpo “imaginado” (quer dizer,
fixado em imagens) pelas mídias.
A
atualização cultural da Educação Física
Se
as mídias exercem papel cada vez mais importante na construção de novos
significados e modalidades de entretenimento e consumo no âmbito da cultura
corporal, também constituem hoje a mais importante fonte de informações sobre
a cultura corporal de movimento para o grande público não especializado.
Jornais, revistas, sites da internet, vídeo
games, rádio e televisão difundem ideias sobre a cultura corporal de
movimento. Há muitas produções dirigidas ao público adolescente e infantil.
Pela televisão, as crianças tomam contato precocemente com as manifestações
corporais e esportivas do mundo adulto. Hoje, somos todos consumidores
potenciais do esporte-espetáculo, senão como torcedores nos estádios e
quadras, ao menos como espectadores pela televisão. Há aulas de ginástica
aeróbica pela TV; médicos e profissionais da Educação Física concedem
entrevistas expondo os benefícios e riscos do exercício físico, comentaristas
nos informam sobre táticas e regras nas partidas de futebol, voleibol ou
basquete, revistas femininas e para adolescentes sugerem exercícios para
emagrecer. Informações nem sempre corretas, nem sempre confiáveis, mas que se
sobrepõem pela baixa capacidade crítica da maioria dos telespectadores e
leitores. Tudo isso elevou o nível de informação publicamente partilhada na
área de Educação Física a um patamar nunca antes atingido na História. Com
isso, corremos o risco de, em algum momento, nos depararmos, nas escolas ou
nas academias, com alunos ou clientes que detém mais informações sobre um
dado aspecto da cultura corporal de movimento do que seus
professores/profissionais de Educação Física.
Contudo,
isso não é ruim, o que devemos fazer é examinar as possibilidades de usar as
mídias a nosso favor, pela sua capacidade de sintetizar informações, de atrair
a atenção, de seduzir pelas imagens, e, ao mesmo tempo, investir na formação
do leitor/telespectador crítico, que compreenda os mecanismos de
funcionamento e a linguagem das mídias, dotando-o de ferramentas para a
interpretação mais aprofundada e contextualizada do que vê, ouve e lê nas
mídias. Na Educação Física escolar, por exemplo, já há suficiente
fundamentação teórica e experiências concretas de uso de matérias televisivas
como ferramenta metodológica no contexto de programas de Educação Física (BETTI,
2006, 2009b).
Inspirando-nos
nas metáforas de Babin e Kouloumdjian (1989) já propusemos (BETTI, 1998) um
trabalho com “mixagem”, num primeiro momento, e depois, em “estéreo”.
Trabalhar com mixagem é associar as produções da mídia às
aulas “tradicionais”, fazendo referências às imagens e eventos esportivos
transmitidos pela TV, utilizando programas e trechos previamente gravados na
TV convencional, vídeos produzidos para finalidades educacionais, matérias
sobre a cultura corporal de movimento publicadas em jornais e revistas.
Trata-se aí do que Ferrés (1996) denomina educação com o meio.
Conteúdos ligados a técnicas, táticas, história, dimensões políticas e
econômicas do esporte, bem como relacionados a aspectos fisiológicos,
psicológicos e sociológicos das atividades corporais em geral seriam
enriquecidos com o audiovisual, associados a textos jornalísticos.
Trabalhar
em estéreo consiste em compreender a linguagem específica da
televisão, aprender a interpretar criticamente o discurso da televisão sobre
a cultura corporal em busca de sentidos. Implica também em aprender a
identificar os diversos modelos de práticas corporais e esportivas a partir
do próprio discurso televisivo. É o que Ferrés (1996) denomina educação
no meio.
Mais
recentemente, a popularização do computador pessoal, das câmaras digitais
portáteis e dos programas de edição de vídeo tornaram possível a produção de
materiais audiovisuais para muitas pessoas, mesmo que não "experts".
A possibilidade de postar tais produtos audiovisuais, digitais, na internet
(no Youtube, por exemplo), torna todos nós, além de receptores,
potenciais produtores de mensagens midiáticas. Com isso, constitui-se as três
frentes do campo que tem sido chamado "mídia-educação" (FANTIN,
2012): estudos e intervenções pedagógicas sobre as mídias
(análise dos conteúdos), com as mídias (apoio aos processos
de ensino e aprendizagem) e através das mídias (produção de
conteúdos).
Se
as mídias, em especial a televisão, faz crianças tomarem contato precoce com
as formas codificadas do esporte, se para uma garota jogar voleibol é sacar
“viagem” e “cortar” contra um bloqueio triplo, e se no imaginário de um
garoto ele é o Neymar quando chuta uma bola, mesmo que velha e esgarçada num
chão de terra, o professor/profissional de Educação Física que os recebe deve
considerar isso, e trabalhar a partir disso. Mas não pode
confundir este ponto de partida com o ponto de chegada, assim como deve saber
que este simbolismo presente na atividade esportiva de uma
criança, para cuja constituição as mídias são decisivas, não pode
confundir-se com a forma desta atividade; quer dizer, o
professor/profissional deve adaptar a forma de jogar futebol e voleibol para
que não haja discrepância entre o que a criança/aluno espera e o que lhes é
oferecido.
Como?
Por exemplo, resgatando o que é originalmente o voleibol: um jogo de rebater
a bola por sobre um obstáculo (que pode ser uma rede oficial ou uma corda),
cuja dinâmica deve ser preservada. Ora, se não é possível a uma criança
realizar o saque “por cima” com uma bola e altura da rede oficiais, talvez
ela poderá fazê-lo com a rede mais baixa, com uma bola maior e mais leve.
Nada há de errado em que um garoto vista a camisa 9 da seleção brasileira e
“sinta-se” o Neymar (de fato, ele o “é” nesse momento), o que importa é que
lhe seja dada a oportunidade de participar plena e ativamente do jogo de
futebol, chutando, passando e fazendo gols, e não apenas fique correndo de um
lado para outro, sem receber a bola, monopolizada pelos mais hábeis, como
sempre se vê nas “escolinhas” de futebol por aí. Para isso, é necessário à
Educação Física investir em uma pedagogia do esporte na qual
o esporte não seja um fim em si mesmo, e que, sem ignorar suas influências,
não se submeta contudo aos interesses das mídias e das grandes corporações
econômicas.
Da
mesma forma, o profissional da Educação Física que atua nas academias deve
considerar a busca pela beleza corporal como uma motivação aparente, por trás
da qual se escondem desejos mais profundos desse ser
(humano) tão e complexo e contraditório. Mas deve, sem dúvida, partir desta
motivação aparente (afinal, não há nada de errado com ela, pois não se trata
de fazer um juízo de valor) para revelar ao cliente/aluno como o exercício
físico (assim como o jogo, o esporte, a dança...) pelas suas propriedades
intrínsecas, pode propiciar uma experiência gratificante do ponto de vista
psicossocial, porque não há como exercitar apenas o físico.
Lembremo-nos aqui de Santin (1987): os componentes intencionais externos do
movimento (no caso, obter emagrecimento, definição muscular etc.) não podem
ser desarticulados dos componentes intencionais internos (por exemplo, o
prazer inerente ao próprio fato de movimentar-se).
Só
assim a Educação Física poderá atualizar sua tarefa
educativa. Só assim a Educação Física tornar-se-á elemento dinâmico da
cultura (CARMO JÚNIOR, 1998) e não mera técnica de intervenção sobre o
físico. Só assim ela será tanto educação como física.
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NEIRA, M.G & NUNES, M.L.F.
Pedagogia da
cultura corporal: crítica e alternativas
Para fomentar uma ação educativa mais reflexiva acerca dos novos
rumos da educação física no currículo da escola, os professores Marcos Garcia
Neira e Mario Luiz Ferrari Nunes acabam de lançar o livro Pedagogia da
cultura corporal – Crítica e alternativas. Neira e Nunes são professores da
Faculdade de Educação da USP e membros do Grupo de Pesquisa em Educação
Física Escolar. Com o livro, eles buscam contribuir para o debate da prática
escolar cotidiana, sugerindo formas de intervenção pedagógica específica a
cada comunidade. “Queremos que os professores, como sujeitos da educação,
rompam com a atual tendência de transformação dos educadores em meros
executores de propostas unificadas.”
Marcos Neira lembra que, hoje, a realidade escolar é outra.
Segundo ele, a escola, uma invenção da modernidade, foi feita e pensada para
atender a um determinado grupo de pessoas, que compartilhavam determinados
saberes, detentoras do que se pode chamar de “alta cultura” ou “cultura de
elite”. Ao longo do século 20, foi se transformando e incluindo
representantes de outras culturas. Porém, acrescenta o professor, o currículo
escolar, principalmente o da educação física, não tem acompanhado essas
mudanças.
As práticas corporais que estão presentes no currículo atual são
elitistas, como o futebol, o basquete, o vôlei e a dança rítmica,
consideradas práticas tradicionais do esporte, com seus códigos implícitos,
destaca o professor. “Por que não colocam no currículo o maculelê, a
capoeira, a catira?”, questiona Neira.
Para ele, ao analisar essas quatro modalidades esportivas
clássicas, nota-se que elas são brancas, euro-americanas, cristãs e
masculinas. “São produtos culturais hegemônicos de determinados grupos que se
apresentam na escola. Isso leva os jovens portadores de outros saberes da
cultura corporal, com outras formas de jogar, dançar e brincar, a não se
identificarem e se sentirem excluídos do universo escolar, com dificuldades
de adaptação e assimilação do saber imposto.” Os detentores da cultura do
maculelê, da capoeira e da catira são os povos afrodescendentes, mais
humildes, que não são legitimados pela sociedade dominante, diz Neira.
Os autores reafirmam no livro que há outras formas de se fazer
uma boa educação que não seja a centrada na formação de pessoas apenas para
brilhar na lógica neoliberal. Para eles, é preciso ter como ideal uma
sociedade que considere prioridade o cumprimento do direito que todos os
seres humanos têm de ter uma vida plena e feliz, com acesso ao patrimônio
cultural e histórico da humanidade. É preciso “compreender que dele faz
parte, sem uma postura de superioridade ou inferioridade, e entender os
diversos sentidos e processos imbricados nessa construção, como a igualdade,
direitos sociais, justiça social, cidadania e espaço público. Nesse novo
cenário, a educação não é um instrumento de metas econômicas, produtivistas,
empresariais e financeiras”, avaliam.
Neira ressalta que não se pode esquecer que o currículo é um
espaço de luta, confronto e formação de identidade. “Procuramos levar à
escola uma discussão crítica sobre as propostas do currículo, analisando o
que este tem proporcionado ao corpo e como tem legitimado algumas práticas em
detrimento de outras.”
Para Neira e Nunes, o livro não quer se apresentar como um
“guia”, mas sim estender aos educadores as vivências e os resultados de uma
pedagogia crítica da cultura corporal. “Enquanto a escola tem que ser vista
como um espaço de transformação social, visto que possibilita o diálogo entre
o conhecimento e a ação transformadora, a educação física se configura uma
forma específica de intervenção contra-hegemônica.”
Osasco – O livro surgiu a
partir de uma pesquisa-ação crítico-colaborativa, realizada na Escola Municipal
de Ensino Fundamental (Emef) Professor Anézio Cabral, em Osasco, com
financiamento da Fapesp. Segundo Neira, esse tipo de pesquisa envolve um
trabalho conjunto do professor da escola com o professor-pesquisador da
Universidade. “Neste caso, é o professor da escola quem traz as demandas e,
com o professor pesquisador, analisa, troca ideias, faz incursões com
diferentes abordagens.”
Neira ressalta que a proposta é levar para a escola um contexto
de pesquisa integrado. “É a Universidade colaborando com a escola, porque sem
essa oportunidade não há como fazer um trabalho de pesquisa. Só assim os
professores conseguirão desconstruir suas práticas e enxergar o que está por
trás de um currículo já preestabelecido”, ressalta. “A escola se beneficia
desse contato com o estudo, o acompanhamento e a modificação das práticas.
Não é uma experiência que se faz e vai embora.”
O trabalho de pesquisa vem se desenvolvendo desde 2005. Cabia aos
professores da escola se reunir com os pesquisadores, debater, modificar as
propostas e conversar sobre o andamento das atividades da semana. “Durante o
ano de 2005 e o primeiro semestre de 2006, acompanhei as aulas de um
determinado grupo, mas há épocas para fazer reuniões com os professores,
assim como um tempo para que estes venham até a Faculdade de Educação para
discussões temáticas”, explica Neira.
Desconstrução – O livro sugere
que os professores façam um mapeamento das práticas corporais da escola e seu
entorno. “Precisamos trazê-las para o interior do currículo, entender quem
faz parte da escola, quais são seus valores culturais”, esclarece Neira.
O professor conta
que foram identificadas “coisas belíssimas” no bairro de Osasco onde se
encontra a escola. Como exemplo, cita a descoberta das canchas de bocha,
canchas de malha e os tabuleiros de dama presentes em várias praças do
bairro. “No levantamento histórico feito pelas crianças e professores, vimos
que o bairro teve uma grande influência da colonização italiana”.
Mesmo a comunidade predominante sendo nortista e nordestina, ela
transita de alguma maneira por essas práticas corporais e a escola precisa
enxergar essa possibilidade. “Não adianta ela despejar práticas que não dizem
respeito à comunidade”, ressalta.
Outra temática trabalhada foi o tipo de dança conhecido pelos jovens.
A maioria, segundo o pesquisador, citou a novela “Rebelde”, do SBT, e o
samba-rock. Neira explica que essa novela tem um impacto muito grande entre
os jovens. “A ação na escola se deu a partir de um DVD do grupo musical da
novela, levado pelos alunos, cantado em espanhol e português. Fizemos uma
reflexão sobre a língua, de onde vem o espanhol, quem são os povos que falam,
que tipo de dança é aquela. Também pedimos que tragam contribuições de danças
conhecidas por eles e não somente do referencial da mídia.”
A brincadeira de roda foi um dos temas trabalhados pelos
pesquisadores. Neira conta que todos os envolvidos descobriram que sabiam
poucos exemplos de brincadeiras de roda. “A partir disso foi perguntado às
crianças quem sabia mais. As crianças começaram uma pesquisa com os
funcionários da escola, com as cozinheiras, faxineiras, secretárias.
Descobriram que várias senhoras conheciam outras brincadeiras. As novas
brincadeiras foram levadas até a sala de aula pelas próprias empregadas da
escola, que ensinaram as crianças a brincar. Estas escreveram no papel para
não esquecer. E assim todas as pessoas envolvidas naquele ambiente escolar
foram legitimadas como portadoras de cultura.”
|
PLANO ANUAL
DE EDUCAÇÃO FÍSICA
Apresentação
Atento a importância de dinamizar e otimizar o tempo e o espaço de uma
instituição educacional, este trabalho visa possibilitar maior diversidade de
atividades esportivas, culturais e recreativas, para assim despertar nos
aluno um sentimento de satisfação e realização e dispor uma gama maior de possibilidades
de lazer.
Tem- se a intenção de promover
atividades esportivas, recreativas e educacionais no horários regular de
aula, enfatizando o contexto educacional, lúdico e participativo, sem
exigências e limitações, com a perspectiva de motivar e atingir o maior
numero de aluno. Assim, demonstrar, possibilitar e desenvolver os vários
benefícios físicos, cognitivos, psicomotores e sócio- afetivo.
Diagnóstico
A prática esportiva é incentivada
pelos pais. Em estudo, Durand (1988), constatou que 95% dos pais mostram-se
favoráveis a que seus filhos realizem atividades, 86% acreditam ter essas
atividades uma importância às intelectuais. Os dados apresentados pelo autor,
são ainda mais significativos ao relatarem que 67% dos entrevistados entendem
que deveriam ocorrer nas escolas a prática de atividades físicas diariamente
e que 99% dos pediatras consideram positivas as praticas esportivas das
crianças.
Na busca de possíveis informações
sobre as possíveis contribuições que a prática de atividade física, dessa
forma estruturada e organizada, pode promover para o aluno, encontra-se em
Matsudo (2001), uma relação de benefícios proporcionados pelas atividades
realizadas em turmas de treinamento (ACD).
·
Biológicos: Diminuição da pressão arterial, controle do peso corporal,
resistência física, aumento da densidade óssea e melhora da força muscular.
·
Psicológicos: Aumento da autoestima, diminuição da depressão, redução
do isolamento social, aumento do bem- estar e alivio do stress.
·
Escolares: Aumento da frequência nas aulas, aumento da
responsabilidade, redução de distúrbios de comportamento, diminuição do uso
de drogas e melhora na relação com os pais.
Para Vargas Neto e Voser (2001), a
aventura esportiva é uma experiência enriquecedora e insubstituível, pois o
esporte fomenta nas crianças a maturidade, o crescimento e o desenvolvimento.
O outro fator relatado pelos autores como contribuição das atividades é o
combate à degeneração hipocinética, ao cada vez maior sedentarismo das
crianças, com horas de inatividade frente a televisão, computadores, e jogo
eletrônicos, atividades que podem entre outros problemas de saúde, gerar deformação
na coluna vertebral (Manné, Codina, 1992).
Objetivos Gerais
o
Desenvolvimento corporal
harmônico;
o
Aquisição do controle
corporal;
o
Desenvolvimento das
habilidades motoras;
o
Condicionamento dos sistemas
orgânicos a suprir demandas diárias e de emergência;
o
Desenvolvimento de habilidades
de utilização dos movimento como instrumento de comunicação e expressão;
o
Utilização sadia das horas de
lazer;
o
Aquisição de comportamentos e
valores referentes ao ajustamento pessoal e social;
Objetivos Específicos
Referentes a Esquema Corporal
o
Reconhecer as possibilidades
cinéticas do corpo, através de movimentos que o afetam com uma totalidade;
o
Reconhecer o corpo no seu todo
e diferenciar cada uma de suas partes por meio do movimento;
o
Realizar movimentos
independentes e interdependentes, com diversos segmentos do corpo;
o
Definir sua dominância
lateral;
Referentes a orientação
Espaço- Temporal
o
Orientar-se no espaço,
discriminando localização, direção e dimensão;
o
Movimentar-se, discriminando
diferentes momentos do tempo, seu curso regular e fracionamento;
o
Identificar e efetuar
movimentos, discriminando as diferentes velocidades e trajetórias no
deslocamento do corpo e objetos.
Referentes a Qualidades
Físicas
o
Estruturar movimentos que
requeiram a coordenação geral;
o
Estruturar movimentos que
requeiram coordenação seletivas;
o
Equilibrar-se em deferentes
situações, com ou sem deslocamento, controlando e ajustando sua postura;
o
Melhorar seu desempenho na
execução de atividades que requeiram força;
o
Melhorar seu desempenho na
execução de atividades que requeiram resistência;
o
Melhorar seu desempenho na
execução de atividades que requeiram flexibilidade, agilidade e velocidade;
o
Adquirir controle progressivo
dos movimentos que evidenciam os graus de tensão muscular.
Referentes a Expressão
Corporal
o
Representar, com movimentos
corporais, elementos e objetos do meio circundante;
o
Movimentar-se, adaptando-se a
diferentes ritmos;
o
Expressar-se compondo a
movimentação com um companheiro ou com o grupo;
o
Cria sua própria sequência de
movimentos, em atividades de respostas, vivenciando pensamentos e
sentimentos;
Referentes a Recreação
o
Cooperar nas atividades em
grupos;
o
Utilizar, nos movimentos de
lazer, habilidades motoras adquiridas;
o
Desenvolver habilidades de
modificar jogos a atividades para atender aos problemas sugeridos em relação
ao espaço, material e tempo disponíveis.
|
Educação física: Como Planejar as Aulas na Educação Básica
A Educação Física mudou. Não quer dizer que
esteja mais forte, mas mudou. Identifico forças antigas, fortemente
ideológicas, instaladas, agora, nos fragmentos denominados bacharelado e
licenciatura, tanto quanto identifico as novas forças. Para alguns, o
bacharelado abriga a velha Educação Física; a licenciatura, a nova. Falso! O
velho e o novo estão em ambos. E as novas gerações envelhecem ou rejuvenescem
também nos dois. Não me importa falar sobre os velhos velhos e os novos
velhos; é dos novos novos que pretendo falar, porque os vejo florescendo, às
vezes como meus alunos, às vezes como audaciosos autores, como os deste livro
que tenho a honra de prefaciar. Não que não existam os velhos novos, mas
estes constituem uma outra história de que não tratarei aqui.
Se a Educação Física é, à feição de seu
nascimento, ainda uma pedagogia, não pode ser ameaçada e até morta pelas
ciências de que se alimenta. Tais ciências, instaladas em parte nos
bacharelados e em parte nas licenciaturas, esmagam, oprimem, diminuem o
espaço pedagógico. Matam sua razão de existir quando deveriam enriquecê-la.
Tímida, a pedagogia encolhe-se. As avaliações da CAPES, a corrida desenfreada
pela produção nos cursos de Pós-Graduação, os trabalhos de conclusão de
curso, negligenciam o núcleo duro da Educação Física, que é a pedagogia.
Trata-se de ensinar e aprender, de educar,
isto é o que aponta seu nome de batismo.
Comprometida pelo próprio nome, a Educação Física
não se afirmou como ciência, quando já seria ciência sendo pedagogia.
Alimentou-se, sempre, das ofertas científicas de outras áreas, como a
fisiologia, a psicologia, a biomecânica e a sociologia. Com isso, tentou ser
forte, mas desmoronou, foi tolhida, coberta por essas áreas, e fragilizou-se.
Não fez da pedagogia uma ciência, porque oprimida, e não escapou do
engessamento de seu próprio nome. A história, porém, mostrou que, dentro da
Educação Física, pressões aconteceram para que um corpo científico próprio se
constituísse, além da pedagogia. Surgiram propostas: a Motricidade Humana, a
Cinesiologia, a Cultura Corporal de Movimento, todas alentadoras. Isto é, há
algo mais que o nome não poderia mais conter. A Educação Física é pedagogia,
porém é mais que pedagogia. Esse corpo próprio de conhecimentos, aliado às
contribuições científicas de outras áreas, sim, poderia constituir um núcleo
sólido que alimentaria a formação de graduados, quem sabe, nesse caso, de
bacharéis. O bacharel não é aquele que aplica, que clinica, que ensina; é o
que entende. Nossa área, porém, tem uma especificidade: aquele que entende,
quando aplica seus conhecimentos, quase sempre é ensinando. O escoamento do
conhecimento da área é a pedagogia, na maioria dos casos, mas não exclusivamente.
Portanto, um bacharelado faz sentido sim, quando é para formar o graduado que
aprende o que há de mais típico na área. A partir daí a pedagogia justifica o
termo Educação Física; é quando o especialista, quem sabe um bacharel, aplica
socialmente seus conhecimentos. Surge então o professor de Educação Física,
razão da existência de uma área que nasceu pedagogia e cresceu por dentro.
Área que, se não encontrar corpo próprio de conhecimentos, talvez pereça.
Há uma nova geração produzindo. Este livro é
um belo exemplo. Uma geração que mostra ser possível uma produção técnica e
científica que não se confunde com produções de outras áreas. Além disso, ela
mostra caminhos de intervenção social, para que os conhecimentos produzidos
na área específica, junto com os que vêm de outras ciências, possam ter bom
destino. Retoma, assim, o bom caminho da Educação Física e lhe confere
prestígio.
Nesta obra, faz sentido o termo Cultura
Corporal de Movimento. Não vejo com bons olhos a delimitação restritiva dos
conteúdos em jogo, esporte, dança, luta e ginástica, mas me animo com a ideia
de uma Cultura Corporal de Movimento em que conteúdos típicos possam ser
abrigados pela Educação Física. A dança, o esporte, as brincadeiras, entre
outros conteúdos, ganham um novo foco: o processo educacional está no centro
das atenções. Não se trata mais do esporte pelo esporte, mas da educação pelo
esporte.
Uma nova geração de pesquisadores fortalece
a ideia de constituir um corpo próprio de conhecimentos para a Educação
Física, quer seja aquele apontado pelo Coletivo de Autores, quer seja o
apontado por mim e Scaglia, entre outros. Ora, se, como afirmam os autores
desta obra, e eu os menciono, Marta Scarpato, Fernanda Ramirez, Luiz Sanches
Neto, Márcia Zendron de Campos, Luciana Lomakine, Wiliam Soares de Freitas,
Sandra Zotovici, Maria Georgina Marques Tonello e Priscila Alves, há algo
típico na Educação Física, que uma certa pedagogia pode ensinar, então se
justifica falar, como falei no início deste prefácio, dos novos novos.
As crianças e os adolescentes precisam
aprender, não importa se pela dança, se pelo esporte ou pelas brincadeiras, a
viver corporalmente, que é para isso que as ensinamos. Nós, professores,
ensinamos a viver. E é como corpo que vivemos, que manifestamos a vida de que
somos possuídos.
A instituição escolar respeita as
disciplinas que declaram o que ensinam; atura as que não declaram mas foram
impostas por lei. Declarar o que ensina não quer dizer ensinar bem; em onze
anos de ensino básico, o que aprendemos de matemática ou português não enche
um caderno. Não declarar e não ensinar, pior ainda. Pode-se ter uma ideia da
fragilidade da Educação Física escolar quando não há respostas convincentes
sobre o que ensina essa disciplina, afinal. Décadas se passaram sem que
acordássemos para a gravidade do problema. Diante do risco de extinção, há um
certo pânico. Vejo que os novos novos da nova geração saíram a campo para
declarar que há algo sim para ensinar. Não necessariamente ensinar da mesma
maneira como sempre ensinamos.
É preocupação da nova e boa geração de
profissionais de Educação Física a justificativa de sua existência. Afinal,
pode-se discutir a qualidade e a pertinência dos conteúdos de outras
disciplinas como Matemática, Português ou História, mas elas definem, série a
série, seus conteúdos, e isso contribui para a credibilidade que possuem no
sistema educacional. E quanto a nós, sequer sabemos dizer o que é Educação
Física. Há tempos eu digo, corpo é o que somos, não há outra possibilidade de
manifestação de vida que não seja corporal, não importa se árvore, bicho ou
gente. Viver é o que ensinamos nas escolas. Supõe-se que, aprendendo bem a
língua portuguesa, podemos viver melhor.
No caso da Educação Física, trata-se de
ensinar o conhecimento, dentre todos, o mais básico: ensinar a viver
corporalmente, ensinar a ser corpo. Somos uma disciplina que ensina a viver
corporalmente. Isso não é pouco; isso confere uma identidade a nossa área. No
entanto, significa ter de superar séculos de preconceitos. Geração após geração,
em cada povo, ensinaram-nos que esta vida é apenas uma passagem para algo
melhor, que não somos este corpo, que habitamos uma carcaça material que
perecerá com nossa morte.
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