sexta-feira, 20 de maio de 2016

Assistência Social - Artigos


1.    A Ação Investigativa na Prática Cotidiana do Assistente Social
2.    A Relação entre o Serviço Social e as Políticas Sociais,
3.    Como Segurar o Bebê com Segurança
4.    Conselho Municipal de Assistência Social
5.    Entidades de Assistência Social
6.    BARROCO, Maria L. S. Ética e Serviço Social Fundamentos Ontológicos
7.    Indicadores de Vulnerabilidade e Risco Social nas Famílias
8.    O Estudo Social em Perícias, Laudos e Pareceres Técnicos
9.    O Serviço Social no Brasil e sua Evolução Histórica
10.  Política Estadual de Enfrentamento à Violência
11.  Política Nacional de Assistência Social
12.  Quando Surgiu o Serviço Social no Brasil
13.  Vertentes da Reconceituação, Ruptura com o Conservadorismo e a Apropriação da Teoria Social de Marx
14.  Violência Doméstica



A AÇÃO INVESTIGATIVA NA PRÁTICA COTIDIANA DO ASSISTENTE SOCIAL
Vera Lucia Tieko Suguihiro *
* Professora Associada AC-B do Departamento de Serviço Social da Universidade Estadual de Londrina, doutora pela PUC-SP
Está sempre nos debates dos profissionais de Serviço Social a questão da busca de um projeto de intervenção que dê um novo significado à profissão de modo a responder, de forma não apenas coerente teoricamente mas também com eficiência, às demandas sócio profissionais que lhes são colocadas.
Essa busca de novos caminhos, apoia-se na verificação de que, via de regra, o assistente social esgota o seu trabalho profissional na operacionalização dos serviços à população, sem ir além da prática instituída. Nesse caso, o profissional perde a oportunidade de compreender os nexos da sua intervenção, bem como de evidenciar os limites e as possibilidades embutidas na sua ação cotidiana, passíveis de dar novos contornos a sua ação profissional.
Ao longo do desenvolvimento da sua ação, os assistentes sociais têm enfrentado diferentes dilemas na profissão. Alguns, aos quais se pode chamar de “falsos dilemas”, estão atrelados às características próprias da profissão e decorrem de sua situação na divisão sócio-técnica do trabalho na sociedade contemporânea. São essas atividades, as de caráter burocrático, assistencial, pragmático, que conformam a profissão como uma prática eminentemente interventiva.
A ênfase nessas atividades tem traduzido em respostas profissionais fragmentadas, trabalhadas nos limites instituídos socialmente. Nessa perspectiva, o assistente social dificilmente tem uma visão totalizadora da problemática que enfrenta, não acionando, portanto, o seu potencial para modificar o seu modo de intervir.
Outros dilemas têm por base a perspectiva de que a teoria dá conta de explicar a realidade, mas não instrumentaliza a prática cotidiana do assistente social. Nessa ótica, é facilmente embutida a contradição de um discurso crítico e uma prática baseada no senso comum e ainda, a efetivação da relação dicotômica entre profissionais que “pensam” e profissionais que “fazem”.
A superação desta tensão vai demandar dos assistentes sociais uma disponibilidade a não mais pensarem na prática profissional em si, independentemente de seus fundamentos e de suas determinações, assimilando, ao nível da racionalidade, a necessária unidade entre a teoria e a prática como determinantes complementares que incidem na ação particular dos profissionais, o que lhes vai possibilitar a garantia do movimento dialético pensamento/ação.
Assim, entendemos que a vida de todos os dias, se iluminada por uma teoria sólida, é uma fonte permanente de conhecimento capaz de gestar práticas sociais inovadoras. A partir dessa convicção, acreditamos que, no estudo reiterado e crítico das práticas cotidianas dos assistentes sociais, encontraremos um fio condutor para, além de conhecer e analisar as formas de pensar e agir, construir, com bases na teoria, as possibilidades de novas práticas.
Este processo de construção do saber profissional a partir de uma dinâmica deliberada de investigação e discussões, fundamenta-se no suposto de que um conhecimento sistematizado e rigoroso pode se concretizar pela via da reflexão-ação de sujeitos históricos. Essa forma de aproximação do saber parece-nos mais adequada no âmbito do serviço social, na medida em que, como caracteriza Myriam Veras Baptista:
“a especificidade que particulariza o conhecimento produzido pelo serviço social é a inserção de seus profissionais em práticas concretas. O assistente social se detém frente às mesmas questões que os outros cientistas sociais, porém o que o diferencia é o fato de ter em seu horizonte um certo tipo de intervenção: a intervenção profissional. Sua preocupação é com a incidência do saber produzido sobre a sua prática: em serviço social, o saber crítico aponta para o saber fazer crítico” (Baptista,1992:89)
É importante entender que o saber que deriva da prática profissional não se coloca imediatamente de modo pronto e acabado, mas é um conhecimento que se constrói: “desenvolve, traduz, codifica e decodifica um conjunto de questões que se colocam à prática profissional em determinado momento” (Baptista,1986:4), e delas extrai um saber.
A prática cotidiana dos profissionais de serviço social tem a revelar uma riqueza escondida sob a trivialidade das ações e da pobreza aparente das atividades rotineiras. Trata-se de assumir o movimento proposto por Lefebvre (Lefebvre,1991:44) que permite descobrir sob a trivialidade e atingir o extraordinário à partir do ordinário.
Tendencialmente, os profissionais têm se dedicado aos limites imediatamente colocados no cotidiano e não à “possibilidades ocultas”. Existem, nesse mesmo cotidiano, possibilidades que não estão ali claramente explicitadas, precisando, portanto, serem acionadas. Isto significa que nas questões do cotidiano, e muitas vezes no próprio limite enfrentado, estão embutidas possibilidades potenciais capazes de apontar para novas formas de ação.
O que percebemos é que, na prática, os limites vêm sendo tratados como condicionantes da ação, ou seja, a sua representação é linear e não contraditória. As dificuldades postas aos assistentes sociais, sejam de natureza teórica, sejam de natureza técnica e/ou política tendem a ser escamoteadas pelos limites institucionais.
Para tanto, se faz necessário apreender o movimento contraditório da prática profissional nos diferentes níveis das relações sociais, situar o profissional como trabalhador assalariado com vinculação institucional, com a função de emitir respostas qualificadas às demandas sócio profissionais, em suma, inserir o seu cotidiano particular no contexto da profissão, entendida como determinada pela divisão sócio- técnica do trabalho.
Há que se assinalar que, via de regra, os assistentes sociais têm desprezado a sua prática cotidiana entendendo-a apenas como espaço de mera sequência empírica de ações, na medida em que priorizam as práticas singulares, vivenciando o que foi sinalizado por Agnes Heller (Heller,1985:35) em sua análise da cotidianeidade: reagimos a situações singulares, respondemos a estímulos singulares e resolvemos problemas singulares.
Assim, o desafio está em apreender e desvelar os limites e as possibilidades potenciais presentes na dinâmica da vida cotidiana profissional.
Esta via de abordagem tem como respaldo a percepção de que a prática profissional se constitui em espaço privilegiado para apropriação das potencialidades da intervenção, na medida em que se vê frente as diferentes expressões da vida cotidiana, as quais formam um mosaico que, dependendo do modo que se debruçar sobre ele, permite uma apreensão totalizante da realidade nas suas variadas dimensões e, em consequência, a construção de uma prática de espectro abrangente.
Assim, para desencadear um processo de desvelamento do que se oculta nas práticas cotidianas dos assistentes sociais e, concomitantemente, apreender as possibilidades do “novo”, faz-se necessário a incorporação da ação investigativa como instrumento para o exercício profissional. A investigação possibilita o resgate e a reconstrução da ação cotidiana dos assistentes sociais, capturando suas determinações e seus nexos através de estudo reiterado e crítico da realidade social.
A inserção da perspectiva investigativa na ação impõe-se como exigência básica e angular da profissão e não mais como algo opcional. Neste sentido, o pesquisador deixa de ser mero observador do real, prevalecendo o primado da relação sujeito/objeto, dialetizado por uma teoria consistente capaz de ultrapassar o limite do objeto e construir um novo saber.
Nesta perspectiva, a ação investigativa permite romper com as práticas puramente descritivas de cunho factual, reducionista, ingênua e acrítica, para uma apreensão de “algo mais” do real investigado. Isto significa ajudar o profissional a traduzir no concreto cotidiano o seu conhecimento, tendo o espírito indagativo como condição fundamental para o exercício profissional.
Esta assertiva fundamenta-se na perspectiva apontada por Vázquez: “a prática é o fundamento e limite do conhecimento e do objeto humanizado que, como produto da ação, é objeto do conhecimento” (Vázquez, 1979:154), ou seja, a prática é o ponto de partida e a base para aferir e validar o conhecimento, como também estabelecer “o critério de sua verdade, precisando, para tanto, “plasmar-se, adquirir corpo na própria realidade, sob a forma de atividade prática” (Vázquez,1979:155).
Este processo constitui-se na elaboração teórica sobre os dados empíricos, com intuito de colocar em movimento um rigoroso esforço de criação intelectual para construção das categorias analíticas práticas. Essas categorias se constituem em ferramentas intelectuais que permitem não apenas analisar e explicitar a realidade social - mediante articulação com a teoria, ultrapassando o limite da acumulação de dados, para um reiterado questionamento do real – mas também construir um saber/fazer sobre esse real.
Na medida em que o homem sente a necessidade de produzir algo novo, encontra na práxis criadora o espaço que “permite enfrentar novas necessidade, novas situações” (Vázquez, 1979:247). Acrescentaríamos a essa reflexão de Vázquez que o “novo” não significa necessariamente “outro”, pode ser produto do “novo olhar” lançado sobre coisas já vivenciadas.
O criativo já está inscrito no cotidiano das práticas como uma possibilidade, mas a sua concretização implica em um exercício consciente de vontade dos profissionais.
Para enfrentar este desafio faz-se necessário contar com uma ação investigativa que tenha uma nítida preocupação com a prática, de forma a garantir um nível de reflexão que permita não apenas apreender o real imediato com suas contradições, mas também desvelar o que está oculto no aparente. Deve, ainda, possibilitar, além do resgate dialético das dimensões que dão movimento à prática profissional – dimensão do fazer e a do pensar – a percepção dos meios de sua superação.
A ação investigativa dá aos profissionais a oportunidade de pensar em si mesmos e ao seu fazer profissional. Isto requer dos profissionais disposição de analisar e refletir, de forma aberta e transparente, suas ações, seus dilemas e falsos dilemas, imbuídos pelo interesse em desenvolver uma ação planejada, resultante daquela reflexão, permitindo o enfrentamento de suas questões operativas principais. A intenção de desvelar as práticas ocultas do cotidiano só pode efetivar-se a partir da e na ação profissional.
Este momento caracteriza-se pelo encontro com o desconhecido. Isto significa ir além do discurso parcial, fragmentado, pela simples reprodução do já produzido, mas descobrir algo que ainda não foi partilhado na construção do saber. Deste modo, a ultrapassagem da totalidade parcial para totalidade mais complexa no interior da prática se faz pela relação pensamento/realidade.
É na própria ação cotidiana dos profissionais que se busca resgatar as categorias particulares, empíricas que dão movimento à sua intervenção, o que implica ir além da visão limitante e aparente do cotidiano, reconstruindo o objeto da intervenção, que antes parecia descontínuo, dando-lhe uma dimensão histórica.
Assim, a categoria da mediação é apreendida como expressão concreta do processo de passagem que o profissional realiza na medida em que supera a leitura do aparente imediato para imprimir uma direção crítica ao conjunto de suas práticas cotidianas.
A construção dessas categorias exige dos profissionais, o que Ianni (Ianni,1986:4) classificou como uma reflexão obstinada, interrogando o real reiteradamente para desvendar do real aquilo que não está dado, o que não é imediatamente verificado. Isto significa o encaminhamento da reflexão no sentido de superar o nível da aparência, tornando o objeto investigado cada vez mais rico e transparente, pela via da argumentação.
Essas categorias são elementos fundamentais que subsidiam a compreensão, a explicação e a recomposição do objeto investigado em sua totalidade. É necessário perseguir um circuito dialético de retorno às práticas cotidianas, ultrapassando assim, o limite da particularidade para a universalidade do conhecimento que a prática possibilitou construir.
A pista a ser perseguida para avançar nessa assertiva foi sinalizada por Konder quando afirma que,
“qualquer objeto que o homem possa perceber ou criar é parte de um todo. Em cada ação empreendida, o ser humano se defronta, inevitavelmente, com os problemas interligados. Por isso, para encaminhar uma solução para os problemas, o ser humano precisa ter certa visão de conjunto deles: é a partir da visão de conjunto que a gente pode avaliar a dimensão de cada elemento do quadro. Foi o que Hegel sublinhou quando escreveu: “A verdade é o todo”. Se não enxergamos o todo, podemos atribuir um valor exagerado a uma verdade limitada (transformando-a em mentira), prejudicando a nossa compreensão de uma verdade mais geral” (Konder, 1981:37)
Nesta perspectiva, a ação investigativa permite aos assistentes sociais em suas práticas cotidianas:
a) desdobrar as múltiplas determinações que constituem o cotidiano da prática profissional, num esforço de apreende-lo de forma diferente daquela percebida no momento da sua singularidade e na sua imediaticidade;
b) Avançar no desenvolvimento de estratégias pedagógicas capazes de mediar a dimensão do senso comum com a produção de conhecimento;
c) Colocar os profissionais em permanente diálogo com o pensamento crítico contemporâneo;
d) Subsidiar os profissionais na emissão de respostas qualificadas as demandas e necessidades da prática;
e) Apreender e traduzir, no concreto real, o conhecimento acumulado ao nível da teoria social e das teorias mediadoras;
f) Construir um conhecimento novo, crítico e criativo capaz de iluminar e subsidiar a prática cotidiana, possibilitando ao profissional apropriar-se de um saber para a construção de um fazer competente.
Assim, da interlocução entre as ações investigativas e as diferentes formas de pensamento e de ação acerca da situação concreta vivida no cotidiano dos profissionais, é que está a possibilidade de emergir um novo significado de prática.


A relação entre o Serviço Social e as políticas sociais, referenciada pelos determinantes históricos e o debate teórico da profissão.
            Na sociedade capitalista, em que os sujeitos sociais assumem posição frente ao processo de produção e reprodução do capital, o Serviço Social se materializa como profissão num processo socio-histórico rico em determinações que repercutem  na configuração da profissão e dos papéis desta na divisão social e técnica do trabalho.
            Ao longo da história, o Serviço Social foi estabelecendo imbricações com algumas instituições, sendo a principal delas o Estado  e assumindo posição , num contexto de tensões sociais da luta de classes, na construção e execução de políticas sociais advindas desse Estado.
            Ao se forjar enquanto  profissão institucionalizada, o Serviço Social também buscou construir o arcabouço teórico que lhe fundamente. À luz  de alguns expoentes deste, tecerei algumas considerações à cerca da relação desta profissão com as políticas sociais.
            Para discorrer sobre o Serviço Social e as políticas sociais, necessitamos nos valer da história e da delimitação dos papéis de sujeitos históricos coletivos e do Estado frente ao processo de produção e reprodução do capital.
            Numa dinâmica de busca por acumulação  cada vez maior, o capital através dos mecanismos de valorização constante, intercalados por crises, coloca-se como relação social em que capitalistas e proletários assumem posições antagônicas e fundamentais para a perpetuação do sistema capitalista. Essa relação antagônica, em que capitalistas são detentores dos meios de produção e proletários, detentores da força de trabalho, baseia-se na exploração  da força de trabalho destes últimos e na apropriação do mais valor (mais valia) resultante do trabalho excedente. Essa mais valia é usada pelo capitalista para aumentar a capacidade orgânica do capital e, portanto, seu potencial produtivo e de superexploração do trabalhador. Dessa mais valia também o capitalista extrai o salário que paga o trabalhador para a reprodução da sua força de trabalho ( alimento e vestuário, por exemplo), que é usada na continuidade da produção de mercadorias que rendem lucro ao capitalista no processo de circulação de mercadorias.
            Ao longo da história, para dar sustentação a produção,  o capital induziu a formação de uma superpopulação relativa de trabalhadores ou " exército de mão de obra" que contribui com o barateamento da mão de obra e para o aumento da acumulação capitalista. O aumento da composição orgânica do capital e, portanto, da tecnologia nas indústrias, foi também exigindo menos capital variável e contribuindo para a pauperização de milhões de trabalhadores. É desse processo que se intensificam as tensões sociais e que a classe trabalhadora, em vários momentos da história, exige melhores condições de trabalho e legislação que lhe garanta condições de sobrevivência.
             O Estado , enquanto instituição  que representa a classe dominante ( capitalista) contribui para o fortalecimento do sistema e se vê obrigado a fomentar  políticas sociais que contribuam para a reprodução da força de trabalho e para a contenção das tensões sociais.
Nesse sentido, Berhring (2007) relembra-nos o Estado de bem estar, como expressão importante do destaque que as políticas sociais tomaram pós-crise do capital no Pós-guerra mundial.
            A política econômica keynesisana, que defendia a intervenção do estado na Economia, bem como nas refrações da questão social, balizou a ação dos estados nesse período nos países centrais. Com mais alguns anos de avanço  nas forças produtivas e de crise no sistema, a teoria keynesiana é rebatida e substituída pelo Neoliberalismo, orientação assumida mundialmente para nortear os governos nas suas políticas macroeconômicas e na repercussão dela para as políticas sociais e para o enfrentamento da questão social.
            Cabe-nos delinear o papel que o Serviço Social, no seu processo de profissionalização, assumiu na divisão técnica e social do trabalho.
            Iamamoto (2007) argumenta que embora o assistente social não possua tarefa na produção, ou seja, não configure trabalho produtivo, o Serviço Social assumiu ao longo da história um papel importante na reprodução das relações sociais no capitalismo. Desde as suas protoforrmas, a profissão compôs o campo conservador, inicialmente como agentes da Ação social católica e posteriormente como agentes técnicos institucionais do Estado. A autora ressalta as variações dessa posição e do  comprometimento dos profissionais frente aos projetos societários existentes, mas assume a perspectiva de que a profissão esteve vinculada ao projeto conservador capitalista, vinculação esta que se processava no cotidiano da prática profissional, em ações assistencialistas que perdiam o foco da totalidade da problemática da questão social.
            Berring (2007) situa-nos ainda no curso da história, a estreita ligação da profissão com as políticas sociais, uma vez que os assistentes socais se profissionalizam assumindo tarefas técnico -administrativas na construção e execução de políticas sociais. A autora também situa o polêmico debate das políticas sociais no contexto da reconceituação da profissão que vai se dando  a partir dos anos 70 do século passado. Esse movimento da categoria expressa o entendimento e a consolidação da questão social enquanto objeto de estudo e trabalho da profissão e a orientação teórico-metodológica marxista que hegemoniza o pensamento teórico atual da profissão. E pelo reconhecimento da questão social e do aprofundamento das refrações dela que teoricamente o Serviço Social busca compreender as raízes dos conflitos entre o capital e o trabalho e sua expressão na sociedade capitalista. É nesse conjunto de mudanças que também se forja o projeto ético-profissional  do Serviço Social que aponta o compromisso  com as demandas históricas da classe trabalhadora, reconhecendo os limites da atuação no âmbito das políticas sociais para a solução da questão social e incorporando a análise de que  a supressão da questão social tem relação direta com a supressão da sociedade de classes como nos mostra Netto (2005).
            Essa importante virada no Serviço Social  brasileiro, vai na contramão de orientações teóricas das vertentes europeias e americana que projetaram os primeiros pensamentos e práticas profissionais no Brasil. Embora se discuta a viabilidade prática na nova conceituação do Serviço Social no Brasil diante do complexo quadro de crise do capital e do aprofundamento da questão social e dos limites das políticas sociais, é inegável que tal reconceituação  repercutiu na concepção  teórico-prática dos assistentes sociais e balizam a formação de profissionais contextualizados com as necessidades da atuação profissional.
            Esse processo de reconceituação se dá no bojo das reformas político-econômicas  que se processam pós-ditadura.  Com a implantação  de políticas neoliberais,  as políticas sociais ora ganham destaque pela centralidade na seguridade social, ora são tidas como centrais nos gastos públicos do Estado, onerando as despesas do mesmo. É nessa linha de focalização de políticas sociais para os pobres e redução de investimentos nas políticas sociais que os governos Collor, FHC e Lula orientam a atuação do Estado em contraposição as conquistas da Constituição de 1988.
            Nesse contexto, o Serviço Social é condicionado a elaboração e execução de políticas, programas, compensatórios que não atingem as refrações da questão social a contento, inserindo-se na malha da assistência social, porém ainda com perspectiva assistencialista. A profissão , por sua posição estratégica no planejamento e execução de políticas sociais tem papel importante na luta de classes, quando impulsionado pela correlação de forças num momento difícil para a classe trabalhadora e suas organizações políticas. O fortalecimento do projeto ético-profissional, em movimento, com a formação política e a articulação com as organizações políticas da classe trabalhadora, pode forçar os limites da política social nas condições objetivas e subjetivas atuais e acumular força social no conjunto da classe trabalhadora para a superação da sociabilidade capitalista e o alcance da emancipação humana.
BEHRING, Elaine & BOSCHETTI, Ivanete. Política Social: Fundamentos e história. 3 ed. São Paulo: Cortez, 2007.
(Biblioteca básica de Serviço Social. Vol. 2).
IAMAMATO, Marilda Villela; Relações Sociais e Serviço Social no Brasil: esboço de uma interpretação histórico-metodológica/ Marilda Villela Iamamoto, Raul de Carvalho- 20 ed. São Paulo: Cortez; [Lima, Peru]: CELATS, 2007.


COMO SEGURAR O BEBÊ COM SEGURANÇA
Consultora Maria Helena Capelli 
Estas são as palavras que resumem o cuidado que deve se ter ao segurar um bebê ao colo. Várias
são as considerações, uma vez que é um ser em desenvolvimento, ainda imaturo.
A coluna do bebê tem 24 ossos móveis empilhados uns sobre os outros e movimentada por um conjunto de músculos – é a “edificação do corpo humano”. É ela que sustenta o tronco, nos mantém eretos, nos sustenta e possibilita nos movimentarmos.
Também funciona como uma casca protetora para as estruturas nervosas que levam e trazem informações do corpo para o cérebro.
Algumas orientações são importantes pois a coluna se consolida nos três primeiros anos de vida . Cercar de atenções a coluna do bebê significa evitar futuros problemas.
Dentro do útero, um tipo de material cartilaginoso e extremamente flexível, forma a coluna vertebral, permitindo que o bebê coloque o pezinho na boca com maior facilidade. Depois do nascimento ela passa por um processo de adaptação e crescimento. As vértebras – como são chamados os ossos que a compõem, não crescem como os demais: são como círculos que aumentam com o diâmetro, expandindo-se. Nesta fase, determinados movimentos podem causar sérias lesões e devem ser evitados, como por exemplo, rotações bruscas do pescoço - que podem acontecer se o bebê for sacudido ou chacoalhado.
O pescoço é um dos pontos mais vulneráveis, na região das três primeiras vértebras cervicais. Devemos procurar manter a cabeça e o pescoço do bebê bem protegidos. Uma forma de garantir isso é manter o bebê na posição vertical, com as costas apoiadas em quem segura, enlaçando seu peito em um dos braços e sustentando a cabeça na outra mão.
Quando ele já conseguir firmar o tronco- o que ocorre por volta dos seis, sete meses- segurá-lo na altura dos quadris ou da cintura para que possa exercitar o equilíbrio.
Nos primeiros meses, olhando-se um bebê de perfil, percebe-se que sua coluna é quase imperceptível. Bem diferente de um adulto, onde se percebe uma linha sinuosa, formando três curvas: lordose cervical, toráxica e lordose lombar. No bebê, estas curvas vão aparecendo com o tempo, resultado de toda musculatura que envolve a coluna e dá sustentação aos ossos.
A tonificação desta musculatura segue o ritmo do desenvolvimento neuromotor da criança até firmar o pescoço, e com isso, estimular os músculos da região. Ao firmar-se em pé e dar os primeiros passos, em torno de um ano, estará exercitando todos os músculos ao longo da coluna do pescoço até o cóccix (último ossinho da coluna). A partir deste momento, se consolidam na criança as três curvas normais. 
Como estimular.
Ao longo de todo este processo, podemos ajudar o bebê a trabalhar a musculatura da coluna, através de brincadeiras e atividades corriqueiras. Tão logo ele firme o pescoço, coloque-o deitado de bruços, massageando suas costinhas. Também utilize outros recursos (mantendo-o na mesma posição) fazendo ruídos e chamando sua atenção, para que ele levante a cabecinha, tentando ver o que se passa à sua volta. Este movimento estimula os músculos do pescoço e da cabeça, favorecendo a formação natural da região cervical.
Quando deitado de costas, o bebê tem o hábito de puxar as perninhas para o alto, elevando o “bumbum”. É uma ótima forma de exercitar e fortalecer os músculos dos quadris e aqueles que envolvem a coluna- importantíssimos para a sustentação da criança quando ela ficar de pé e caminhar. Por isso, devemos encorajar o bebê a repetir este movimento, levando os pezinhos dele em direção à boca e fazendo cócegas na planta de seus pés.
Andar descalço sobre o chão - grama ou terra - é uma forma divertida de estimular a curvatura da sola dos pés. Uma criança com pé “chato ou plano” tem tendências a ficar com os “joelhos para dentro”. Esta postura pode gerar problemas de coluna posteriores.
Mais tarde, lá pelos três anos, o subir em escadas, escorregador, devem fazer parte das brincadeiras. Subindo e descendo nestes brinquedos a criança estará testando o equilíbrio e tonificando os músculos .
Ficar atento!                                
A observação da criança e seu desenvolvimento é muito importante na detecção e prevenção de problemas que mais tarde podem se apresentar, sendo, a grande maioria, de origem congênita. A escoliose é quando a coluna, vista de frente em vez de parecer um I parece um S. Quando há um desvio para os lados - na criança de um a quatro anos se chama de escoliose infantil. A luxação congênita de quadril (probleminha apresentado no nascimento) quando não tratada logo, também pode levar a uma escoliose.
Por este motivo, quando a visitadora ou os pais perceberem qualquer alteração na postura da criança devem encaminhá-la ao recurso de saúde mais próximo para receber as devidas orientações e tratamento.
Preste atenção!
Muito mais que cuidados com a fragilidade “física” do bebê , temos que ter cuidados com a fragilidade “psíquica”. 
Para o bebê, que em seu inicio de vida e durante alguns meses ,percebe o mundo por meio de experiências sensoriais- a forma como lhe seguram e acarinham, o tom de voz, a tensão ou o estado de quem o toca. O leite e a higiene, não podem, por si só, proporcionar o contato afetivo que ele tanto necessita. É importante o toque seguro e ao mesmo tempo suave dos carinhos que fazemos, da tranquilidade e paciência com que permitimos que mame, da forma como o seguramos ao colo. Tudo isso gera ao bebê bem-estar interno, causando-lhe sensações agradáveis e, por conseguinte , o desenvolvimento ideal, constituindo grandes chances de formar um adulto saudável.
O bebê vai percebendo com o tempo e à sua maneira, o quanto é querido por meio dessas vivências ,em que associa o colo ao momento prazeroso!
Nos primeiros meses de vida, o bebê vai configurando sua própria existência, e os pais e os cuidados dirigidos a ele são os conteúdos que os transformam em boas ou más experiências, levando a um desenvolvimento normal ou patológico. O bebê recebe os cuidados de fora, sente sua qualidade e os incorpora, devolvendo para o exterior suas impressões, ou seja, a forma como ele está se sentindo. Esse processo é um constante entrar e sair de informações que constroem nos fazem perceber o quanto é importante o que oferecemos ao bebê deixando para trás a idéia de que os bebês não guardam suas experiências. Por serem isentos das artimanhas de convivência dos adultos, eles estão abertos e receptivos a tudo que os rodeia, como verdadeiras “antenas” a captar detalhes que passam desapercebidos por nós ,gente grande. 
Portanto, vamos prestar atenção!
Nossos bebês não são sacos de embrulho ou simplesmente entulhos a serem transportados!
São bebês, crianças que exigem cuidados!

CONSELHO MUNICIPAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL
Flávia Franco Assessora Técnica da Unidade de
Assistência Social e Cidadania da FAMURS
Fonte: Assistência Social e Cidadania –
MBES, CNAS, LBA, PNUD, AJURIS, FAMURS - 1993
     O Conselho Municipal de Assistência Social embasado pela Lei 8.742 de 07/12/93 é a instância local de formulação de estratégias e de controle da execução da política de assistência social, inclusive nos aspectos econômicos e financeiros.
     A criação do Conselho Municipal de Assistência Social modifica profundamente a forma de organização das ações de assistência social nos municípios ao mesmo tempo que contribui para a democratização das mesmas. As principais mudanças são as seguintes: . Os municípios devem construir seus conselhos a partir de iniciativas local e autônoma (confirmada por lei municipal). . A estruturação de tais órgãos colegiados deve ser concebida como parte integrante da organização administrativa do Governo Municipal e não como um mecanismo externo de coordenação interinstitucional de prestadores de serviço de assistência social, e nem como órgão "consultivo" com representação exclusiva de usuários. . Nos Conselhos de Assistência Social a representatividade, na qual a sociedade civil (usuários, prestadores de serviço e profissionais da área), se faz presente e é dotada de poder deliberativo. No interior do Conselho, o Governo Municipal assume o papel de membro integrante em conjunto com outros segmentos.
     Compete aos Conselhos de Assistência Social:
     Atuar na formulação e controle da execução da política de Assistência Social; . Os conselhos de Assistência Social deliberam sobre o planejamento local de assistência social resultando no Plano Municipal de Assistência Social; . Fiscalizar o Fundo Municipal de Assistência Social; . Propor medidas para o aperfeiçoamento da organização e funcionamento dos serviços prestados na área de assistência social; . Examinar propostas e denúncias sobre a área de assistência social; . Somarem-se ao Poder Executivo na consecução da política de descentralização da assistência social; . Atuar na politica de assistência social e não na política partidária; . Acompanhar e avaliar os serviços prestados, a nível local, na área da assistência social; . Fiscalizar os órgãos públicos e privados componentes do sistema municipal de assistência social.
     Conselho: Organização e Estrutura
     Para a implantação do Conselho Municipal de Assistência Social é fundamental para que alguns pontos sejam definidos através de lei municipal.
     Os Conselhos Municipais de Assistência Social são compostos por representantes da administração pública, dos prestadores de serviços, dos profissionais da área e dos usuários. . importante: a participação dos usuários, dos prestadores de serviços e profissionais da área deve ser paritária (50%) em relação ao segmento governamental, conforme a Lei Orgânica da Assistência Social (Lei 8.742 de 07/12/93). . O número máximo de membros titulares de um Conselho é variável. Deve haver suplentes. . O conselho terá um presidente eleito entre seus membros titulares.
     Exemplo de Composição do Conselho de Assistência Social:
50% Administração Pública
50% prestadores de serviços profissionais da área usuários da assistência social
Estrutura dos Conselhos:
     . O Conselho Municipal de Assistência Social deverá ser criado por Lei Municipal; . O Prefeito Municipal deve encaminhar um projeto-de-lei para ser apreciado e aprovado pela Câmara Municipal de Vereadores para posterior sanção do executivo; . O Conselho Municipal de Assistência Social poderá ter a seguinte organização:
* Plenário ou colegiado Pleno;
* Secretaria Executiva;
* Comissões Técnicas .
     Os atos do Conselho serão homologados pelo Prefeito Municipal; . O Plenário reúne-se uma vez por mês ordinariamente e, extraordinariamente sempre que necessário; . O funcionamento do Conselho será baseado no Regimento Interno, que deverá ser elaborado e aprovado pelo próprio Conselho; . O Poder Executivo nomeia os conselheiros indicados pelos órgãos e entidades; . As reuniões devem ser abertas ao público; . O mandato dos Conselheiros deve ser definido no Regimento Interno.
     Algumas questões importantes sobre o Conselho Municipal de Assistência Social
01) O que é o Conselho de Assistência Social? É um órgão ou instância colegiada de caráter permanente e deliberativo; * integra a estrutura básica da secretaria ou órgão equivalente de assistência social; * tem sua composição, organização e competência fixados em lei; * consubstancia a participação da sociedade na administração e controle do sistema de assistência social.
02) Como funciona o Conselho? Como se observa nas atribuições, o Conselho é um órgão deliberativo, consultivo e permanente. O seu caráter deliberativo não implica, porém, que, o Prefeito ou o Secretário de Assistência Social seja um mero executor das decisões do Plenário.
O Conselho, como órgão do Poder Executivo, delibera fixando diretrizes para a atuação do Executivo, especialmente a Secretária ou Departamento da área de assistência social.
Cabe, no entanto, também ao Conselho auxiliar a Câmara Municipal na elaboração de leis, e o Prefeito na sua execução.
03) Como deve ser estruturado o Conselho: Deve contar com um plenário, integrado por todos os conselheiros, e com um Secretaria Executiva. A Secretaria deve ter suas atribuições definidas no regimento ou delegadas pelo plenário e, entre outras responsabilidades, deve acompanhar a execução das deliberações do Conselho e servir de apoio administrativo as suas atividades.
04) Quem pode encaminhar projeto de lei para a criação do Conselho? Nos termos do art. 61, parágrafo 1º, letra "e" da Constituição Federal, com aplicação aos Municípios pelo princípio da simetria, a iniciativa legislativa para criação do CMAS é exclusiva do Prefeito Municipal, já que se disporá sobre a criação, estruturação e atribuições de órgão da administração pública municipal.
05) Quando o Conselho deve ser instalado? A data para a instalação do Conselho deve ser marcada pelo Secretário Municipal da Assistência Social (ou dirigente do órgão equivalente), após a designação dos conselheiros feita pelas diversas representações, com a maior brevidade possível.
06) Quais são os pressupostos para a composição do Conselho? A Constituição do Conselho de Assistência Social deve ter como premissas: * a paridade do número de representantes dos usuários, prestadores de serviços e profissionais da área com o número de representantes dos segmentos do governo; * os representantes devem ter plenas condições para serem os legítimos defensores dos segmentos que representam.
07) Existe limite para o número de membros do Conselho? Não. Entretanto, recomenda-se que não seja excessivamente grande para evitar a dispersão e problemas na operacionalização e funcionamento.
08) Como se garante a paridade? A paridade entre o número de representantes dos usuários, prestadores de serviço e profissionais da área e o número total de representantes do governo, em seus 3 níveis é a garantia do efetivo exercício do controle social sobre a execução da política e dos planos de assistência social.
Por isso, a composição paritária o deve ser distribuída de forma a assegurar que 50% dos membros sejam representantes dos usuários, prestadores de serviço e profissionais da área e 50% dos representantes do Governo.
09) Representantes de diferentes esferas de governo podem participar do Conselho? Recomenda-se que os representantes sejam, em sua maioria, da esfera municipal de governo. Entretanto, não há veto a participação de outras esferas.
10) Quem são os prestadores de serviços? São representantes das entidades que atuam no setor de assistência social prestando serviço, atendendo à população.
Se não houver na localidade entidades que aglutinem os prestadores de serviços, os conselheiros devem ser escolhidos em reuniões convocadas para esse fim. Ex.: representante(s): de creches, de APAES, de albergues, etc.
11) Quem são os representantes dos usuários? São os representantes de organismos ou entidades privadas, ou de movimentos comunitários, organizados como pessoas jurídicas, que lutam na defesa de interesses individuais e coletivos na área de assistência social, ou escolhidos nas Conferências de Assistência Social. Ex.: representantes: associações comunitárias, clube de mães, sindicatos.
12) Como os representantes dos usuários são escolhidos? Devem ser iniciados pelos sindicatos, associações, movimentos comunitários podendo estes ser escolhidos em foro próprio.
13) Qual é o tempo ideal para o mandato dos conselheiros? Sugere-se que o mandato tenha a duração de dois anos, com possibilidades de recondução pelo menos uma vez.
14) O secretário de Assistência Social, ou autoridade equivalente, é presidente nato? O presidente do Conselho deve ser eleito pelos seus membros, pois a LOAS (Lei Orgânica da Assistência Social) não prevê membros natos.
15) Quem deve indicar os membros do Conselho? A indicação dos membros do Conselho é privativa das respectivas bases, entidades ou segmentos sociais. Assim, cabe ao prefeito escolher apenas os representantes do governo municipal.
Embora a representação de cada segmento seja indicada pelos dirigentes das entidades, nada impede que seja precedida de uma escolha, cujo processo fica a critério da entidade. A nomeação dos conselheiros deve ser formalizada por ato do Poder Executivo.
16) Os Conselheiros podem pleitear estabilidade no emprego enquanto exercem o mandato? A Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS) não estabelece vínculo funcional para os conselheiros.
17) Os Conselheiros podem ser substitutos antes do término de seu mandato? Qualquer das entidades do Conselho de Assistência Social pode substituir o seu representante, por motivos que não cabe ao gestor ou demais conselheiros discutir. O próprio Conselho, pela lei, ou por regimento interno, pode fixar motivos para a perda de mandato dos seus membros.
18) E se a Constituição do Estado, a Lei Municipal, a Lei Orgânica do Município, ou do Decreto transitório tiveram organizado o Conselho de maneira diferente da prevista na Lei Orgânica da Assistência Social? As normas gerais emanadas da União não podem ser modificadas ou descumpridas por norma legislativa estadual ou municipal, nem muito menos por ato normativo do Poder Executivo.
Assim, se alguma legislação local contraria a Lei Orgânica de Assistência Social (nº 8.742/93) quanto ao caráter, a composição, a competência ou a organização do Conselho, três alternativas estão ao alcance de todos: -Mudar a lei Estadual, Municipal ou o decreto, mediante mobilização da comunidade e dos parlamentares interessados no autêntico e legítimo controle social; -Fazer denúncia junto ao Ministério Público, provocando, assim, a sua atuação; -Promover ação judicial.
19) Quem deve fazer o Regimento Interno? O Regimento Interno deve ser elaborado pelo próprio Conselho. A prática tem ensinado que quanto antes se der a sua elaboração melhores serão os resultados, uma vez que para muitas questões surgidas no dia-a-dia, o regimento interno é o melhor instrumento para se encontrar as soluções.
20) Quais são os limites de Regimento Interno? O Regimento, como todo ato administrativo, não pode exceder os limites da lei. Deve contemplar os mecanismos que garantem pleno funcionamento do Conselho. Sua publicação deve observar a regra adotada para a publicação dos demais atos normativos do Executivo Municipal
21) Como se altera o Regimento Interno? A alteração se dará conforme o processo previsto no próprio Regimento, mas deverão ser respeitadas, se houver determinações existentes na lei ou no decreto criador do Conselho.

ENTIDADES DE ASSISTÊNCIA SOCIAL
            A política de assistência social é realizada por meio de um conjunto integrado de ações e de iniciativas públicas e da sociedade. Esta atuação da sociedade ocorre por meio das organizações e entidades de assistência social, que não possuem fins lucrativos e que desenvolvem, de forma permanente, continuada e planejada, atividades de atendimento e assessoramento, e que atuam na defesa e garantia de direitos.
            As entidades de assistência social fazem parte do Sistema Único de Assistência Social como prestadoras complementares de serviços socioassistenciais e como cogestoras, por meio da participação nos conselhos de assistência social.
            As entidades de atendimento são aquelas que prestam serviços, executam programas ou projetos e concedem benefícios de prestação social básica ou especial, dirigidos às famílias e indivíduos em situações de vulnerabilidade ou risco social e pessoal, conforme Resolução CNAS nº 109/2005, Resolução CNAS nº 33/2011 e Resolução CNAS nº 34/2011.
            As entidades de assessoramento prestam serviços e executam programas ou projetos voltados prioritariamente para o fortalecimento dos movimentos sociais e das organizações de usuários, formação e capacitação de lideranças, dirigidos ao público da política de assistência social, conforme Resolução CNAS nº 27/2011.
            As entidades de defesa e garantia de direitos prestam serviços e executam programas e projetos voltados prioritariamente para a defesa e efetivação dos direitos socioassistenciais, construção de novos direitos, promoção da cidadania, enfrentamento das desigualdades sociais, articulação com órgãos públicos de defesa de direitos, dirigidos ao público da política de assistência social, conforme Resolução CNAS nº 27/2011.

BARROCO, Maria Lucia Silva
Ética e serviço social fundamentos ontológicos
Desde os anos sessenta, no Brasil tem inicio um processo de erosão das bases do ethos tradicional do Serviço Social, propiciando uma renovação e um pluralismo capazes de evidenciar a dimensão político-ideológica da prática profissional para assim abrir uma vertente crítica.
Assim nos anos 60/70, os profissionais opta pela participação politica e cívica; amplia sua consciência social e recusa a ordem burguesa ideologicamente. Com a influência do movimento de reconceituação e da militância há uma aproximação do marxismo.
Na militância católica, faz opção pelos pobres atuando em atividades de educação popular e formação de quadros políticos junto á população. Num primeiro momento, influenciada por Althusser, que entende que deve abandonar o trabalho nas instituições, passando a desenvolver trabalhos na periferia, nas favelas criando assim novas formas de atuação militante.
No entanto começa a produzir uma literatura critica, voltada á busca de compreensão do significado da profissão e procura buscar elementos para superação crítica denuncia a pretensa neutralidade profissional e anuncia seu compromisso com as classes trabalhadoras.
Através do engajamento politico- partidário, resiste á ditadura, rompe com valores faz escolhas em valores emancipatórios, acredita na liberdade, move- se para intenção de ruptura em seus entraves. No fim da ditadura, começa a se organizar como categoria, muda as normas do III CBAS. Nesse sentido, quando indagamos sobre a ausência de uma reflexão ética sistematizada durante esse período, podemos nós enganar que nesse período não houve, durante esse período a construção de uma nova moralidade profissional.
A construção de uma nova moralidade profissional nos anos 60 e 70, está atrelada á participação politica em oposição ao tradicional, em suas novas formas antigas e reatualizadas o que aponta para a origem da nova ética profissional: sua subordinação imediata á opção política. Tem marcos históricos definidos uma primeira etapa, as décadas de 60 e 70 e a segunda, ilustrada pelas reformulações dos códigos de 1986 e 1993.
A primeira etapa é fundamental porque nela estão dadas as determinações da gênese da nova moralidade profissional construída na participação política, no trabalho com os movimentos populares, na influência das vertentes criticas do movimento da reconceituação latina- americano, na aproximação com marxismo e com os movimentos revolucionários, na militância católica progressista. Disso decorre uma prática característica da reconceituação, em sua origem: a exigência moral de assumir um posicionamento e face da desigualdade e dos “oprimidos”.
Em face dessa sociedade, enquanto homem e profissional, o assistente social tem que optar: ou aderir á mudança que se processa no sentido da humanização verdadeira do homem, de seu “mais ser”, ou acomodar-se em favor da permanência.
Através da pratica educativa desenvolvida junto aos movimentos populares, o estudante ou profissional de Serviço social desenvolve uma ação político- organizativa que retoma, em novas bases, ação educativa desenvolvida historicamente. 
Na década de 70, inicia-se uma nova etapa do marxismo cristão, marcada pela Teologia da Libertação e pela revolução Sandinista. A primeira sistematiza e articulação entre marxismo e cristianismo; a segunda realiza praticamente a fusão entre os princípios cristãos e o ideário socialista. A teologia da Libertação influencia a negação da concepção tradicional do Serviço Social, possibilitando a compreensão das determinações da classe à solidariedade com o “pobre”, que não é mais vista como “objeto de caridade e assistência”, os “oprimidos” passam a ser concebidos como sujeitos de sua própria libertação.
Ao enfatizar a unidade entre a ética, educação e politica, o assistente social constrói uma identidade muito próxima á do militante político instituído historicamente nos processos de organização dos movimentos e partidos revolucionários. Quando os valores e concepções instituídos em contexto revolucionários são transportados mecanicamente para outros contextos, perdem seu significado histórico, contudo o assistente social não trabalha com o Serviço Social, mas milita no Serviço Social.
As circunstâncias nas quais ocorrem as primeiras aproximações como marxismo fragilizam a possibilidade de uma apropriação ontológica do pensamento de Marx. O que se explica no contexto da ditadura, em que ocorre uma adequação entre o discurso cientifico neopositivista e os limites dados pela censura e pelo esvaziamento politico da universidade.
Nesses termos, consideramos que o marxismo rebate de modo contraditório no pensamento cristão; por um lado, quando é compreendido como filosofia, possibilita a vinculação com o humanismo, o que não se estabelece sem materialistas e a metafísica cristã. Ao mesmo tempo, é possível que ele tenha sido incorporado somente como ideologia, sem a remissão aos seus fundamentos ontológicos, o que é também uma forma fragmentada de apreensão do pensamento de marx.
O marxismo gerou uma serie de equívoco teórico- políticos que rebatem fortemente nas tentativas de elaboração de uma ética marxista.
Predominantemente, a ética marxista tradicional deriva a moral dos interesses de classe, reduzindo seus fundamentos á ideologia. De modo geral, não consegue apreender as bases ontológicas da ética e da moral na práxis e na vida cotidiana, evidencia uma ausência da dialética na sistematização ética. 
O debate ético, trazido por diferentes vertentes, apresenta uma face positiva, em termos da tentativa de efetuar uma critica ao determinismo e resgatar o papel ativo da consciência na transformação social em direção ao socialismo, permite que se evidenciem problemáticas de caráter ontológico, tais como a relação entre liberdade e necessidade, componente indispensável para uma apreensão dos fundamentos das dimensões ético-morais da realidade social.
O socialismo ético remete, em geral, a propostas politicas “reformistas” que se distanciam do marxismo revolucionário, para o qual a revolução politica é o eixo central da ultrapassagem do capitalismo. 
A liberdade emerge, então como “resultado necessário da necessidade, a teleologia e a escolha se reduzem á casualidade rígida”.
A vinculação orgânica entre a teoria marxista e a práxis politico revolucionária evidencia a unidade entre ética e política, entre ética e ideologia; porém as interpretações simplificadoras dessa unidade acabam por determinar que a ética fique subordinada, mecanicamente, á ideologia de classe. Esta é a concepção dominante no marxismo tradicional, o que será redimensionado nos anos 1950, com a crise do “marxismo oficial” de Stalin.
Dai decorre sua configuração utilitarista. Sua representatividade em face dos interesses do proletariado e da revolução permite que ela seja valorizada positivamente, mas, ao não se apreenderam as mediações entre os interesses e os valores, eles passam a ser concebidos numa relação casual, por isso paradoxalmente, a utilidade, nunca considerada por Marx como fundamento de uma boa ação, nem mesmo em seus piores sonhos, tornava- se, assim a pedra angular de uma ética que buscava seu nome.
Revolução Russa, a ética se objetiva na práxis revolucionaria e no conjunto das manifestações culturais. Assim, no contexto revolucionário, diante da necessidade de organizar as massas para o poder, de ampliar sua consciência de classe, a unidade entre ética e ideologia se afirma na práxis revolucionaria, objetivando as necessidades de conquista do poder.
Mas a práxis ético- politica é uma força dinâmica que necessita da critica teórica para se rever e superar suas contradições e limites, num processo teórico- pratico contínuo.
No momento em que liberdade fundamento objetivo da ação ética é reprimida, os valores éticos tornam- se abstrações que não têm uma base objetiva para se concretizar. Quando o marxismo passa a se consolidar como “doutrina oficial” inquestionável, a ética, por sua submissão á ideologia de classe, passa a exercer uma função coercitiva, prestando- se á dominação.
Ideologicamente, as ideias filosóficas são tratadas a partir da oposição entre materialismo, entendendo- se que toda filosofia pré- marxista é idealista e burguesa, genericamente concebida como “racionaria”. Entendendo que a moral nasce, espontaneamente, da condição de classe e concebendo as classes e concebendo as classes sob o ponto de vista moral, ou seja, a partir de uma relação entre bem e mal.
A imoralidade baseia- se na transformação do homem como valor de troca, como mercadoria; e hipocrisia burguesa no setor da moral tem a sua origem na tendência para ocultar e mascarar esta transformação.
As formas de incorporação do marxismo pelo Serviço Social só adquirem condições de ser reavaliadas na segunda metade dos anos 70, no âmbito da crítica superada do movimento de reconceituação. A parti desse marco, no contexto da reorganização política da sociedade civil, em defesa da democratização e da ampliação dos direitos civis e sócio- políticos, os valores éticos- políticos inscritos no projeto profissional de ruptura adquirem materialidade, oque se evidencia na organização política da categoria, na explicação da ruptura com o tradicionalismo profissional e no amadurecimento da reflexão de bases marxistas.
A produção marxista supera os equívocos das primeiras aproximações, o ethos profissional é auto representado pela inserção do assistente social na divisão sócio técnica do trabalho, como trabalhador assalariado e cidadão. A formação profissional recebe novos direcionamentos, passando a contar como um currículo explicitamente orientado para uma formação critica e comprometida com as classes subalternas. Assim através de sua função intelectual, o assistente social, dependendo de sua opção politica, pode configurar- se como mediador dos interesses do capital ou do trabalho, ambos presentes, em confronto, nas condições em que se efetiva a prática profissional.
Em 1982, e a elaboração do código de ética de 1986, expressão formal da ruptura ética com o tradicionalismo do serviço social. O código e a reformulação curricular de 1982 são marcos de um mesmo projeto que pressupõe o compromisso ético- político com as classes subalternas e a explicitação social da formação e da prática profissional.
Uma análise ética da produção da vertente de ruptura, anos 80, evidencia que a concepção ética presente nos anos anteriores permanece praticamente inalterada em suas bases de sustentação, ou seja, a subordinação imediata entre ética e politica, entre ideologia não é questionada.
Contudo o serviço Social busca difundir da ideologia das classes trabalhadoras. Esta sinalização do significado política- ideológico da prática profissional em sua dimensão educativa. A implementação do novo Currículo de serviço Social, em 1984. Seus pressupostos reafirmam a função ídeo-politica da ação educativa do Serviço Social e a possibilidade de sua contribuição na construção de uma nova hegemonia:
“O Serviço Social é uma prática profissional que tem uma relação mediata com o mundo da produção, sendo mediatizada via assistencial na ação educativa. È uma prática que, inscrita no campo político – ideológico, tem derivações na base econômica da sociedade. Portanto, o Serviço Social configura- se como uma atividade cujo significado está subordinado ao seu caráter político dominante. É uma prática que tem uma função social via trabalho fundamentalmente ao projeto da classe dominante, mas que hoje começa a buscar uma reorientação social dessa prática” ( ABESS, 1984:122). 
A ética é então definida em função do seu caráter histórico e de sua função na produção econômica da sociedade. No entanto a nova ética e definida como “resultado da inserção da categoria nas lutas da classe trabalhadora e, consequentemente, de uma nova visão da sociedade brasileira”.
O código expressa uma concepção ética mecanicista ao derivar, imediatamente, a moral da produção econômica e dos interesses de classe, não apreende as mediações, peculiaridades e dinâmicas da ética. Ao vincular, mecanicamente, o compromisso profissional com a classe trabalhadora, sem estabelecer a mediação dos valores próprios á ética, reproduz uma visão tão abstrata quanto que pretende negar.
Portanto, os marcos teóricos – políticos dos avanços vertente de ruptura nos anos 80 revelam uma defasagem em relação á teorização ética, o ethos tradicional do serviço Social foi sendo negado na prática, através da vivência cotidiana, nas várias dimensões que rebatem na ação profissional, constituindo uma nova moralidade profissional
A superação das fragilidades do Código de 1986 é objetivada em 1993, quando o Código é reelaborado, o que deixa claro que houve um avanço teórico, novo Código é marcado pela sensibilização da sociedade civil em face da questão ética na politica é na vida pública, levando ao impeachment do presidente, em 1992. Mas na verdade, a objetivação de uma insatisfação social cujas determinações não são superadas eticamente. O que está em jogo é a subordinação do país aos interesses políticos- econômicos do capitalismo internacional, ou seja, a sua adesão ao mundo globalizado e o programa neoliberal. 
Na década de 90, as consequências da logica excludente e destrutiva do capitalismo, aprofundadas no processo de globalização neoliberal, são visíveis mundialmente e particularmente no Terceiro Mundo. Entre muitos aspectos, eliminam- se toda estrutura e responsabilidade social do Estado em face da “questão social”.
A implantação desse projeto, no Brasil, opera em condições particulares não contando com uma proteção social que assegure minimamente os direitos sociais, apresentando índices de miséria similares aos países mais pobres e reatualizando as velhas estratégias de equacionamento moral da “questão social”. Assim , ao mesmo tempo ocorrem as privatizações e a desresponsabilização do Estado com as politicas publicas, vão surgindo, gradativamente proposta e programas governamentais pautados em apelos ético morais cuja seu funcionamento não seria nem terceiro setor nem a do Estado, mas ada solidariedade.
A assimilação da discussão ontológica ocorre gradativamente, nos anos 80, orientada pelo tema do cotidiano, da retificação, do método critico dialético. A partir de 90 fica evidente uma ampliação do recurso à filosofia que, despontada em tese e artigos voltados á reflexão sobre o método critico dialético, a cultura, a alienação, a práxis aponta novas possibilidades para a discussão ética.
Ontologicamente considerada, a superação do capitalismo é um processo desencadeado pelo proletariado, no sentido de sua autossupressão, ou seja, de superação da existência de classes sociais, da criação de condições para uma reapropriação universalizante da riqueza humana construída historicamente. 
È evidente que a supressão da sociedade burguesa supõe uma normatividade e a adesão consciente a valores éticos emancipatórios. A práxis politico – revolucionaria é uma das possibilidades de conexão dos indivíduos com o humano – genérico.
Marx pode apreender a natureza das mediações sócio–históricas, o que o diferencia das visões utópicas que ao tratar a moral, não o trabalho, como categoria primaria fundante do ser social entendem que a estrutura capitalista pode ser transformada somente a partir de uma transformação moral. Com base em sua ontologia, podemos afirmar que sua orientação de valor não se restringe á ideologia em seu sentido restrito.
A consciência de classe não pode ser entendida simplesmente, em termos de fatores organizacionais e ideológicos de esfera politica, por mais importante que elas possam ser, ou seja, numa sociedade, o que ela denomina com individualidade livre cada um é condição do livre desenvolvimento de todos, em suas palavras a terceira etapa constitui livre individualidade fundada no desenvolvimento universal dos homens e no domínio de sua produtividade social e coletiva assim como de suas capacidades sociais.
Ao mesmo tempo, tal desvelamento permite que as capacidades humanas sejam valorizadas como tal, isto é, as capacidades humanas construídas objetivamente tornam-se valores a ser reapropriados, donde a possibilidade de tornarem se ideologia para uma classe. 
Assim fica evidente que uma ética fundada em Marx tem um caráter revolucionário. Em termos da reflexão ética exige a criticidade radical e a perspectiva de totalidade em termos de valores se apoia na liberdade e na emancipação humana. Essa ética, logicamente só interessa aqueles que perseguem um objetivo que ultrapasse os quadros da ordem vigente.
Como fruto deste processo, em 1992, pela primeira vez na historia dos Congressos Brasileiros, a questão ética passa a compor o conjunto de painéis temáticos no VII CBAS.
Entendeu – se, sobretudo, a necessidade de estabelecer uma codificação ética que dessa concretude ao compromisso profissional, de modo a explicitar a dimensão ética da pratica profissional, afirmar seus valores e princípios e operacionaliza-las objetivamente em termos de direitos e deveres éticos.
O código é situado como parte do processo de renovação profissional no contexto da luta dos setores democráticos contra a ditadura, e em seguida, pela consolidação das liberdades políticas.
O homem é tratado como portador de direitos naturais anteriores á sua sociabilidade, entre eles o direito á propriedade e a liberdade. Liberdade, igualdade e propriedade são direitos naturais que devem ser garantidos legalmente através do contrato em que as partes são juridicamente iguais e livres para aceita ló ou não. A sociedade politica deva assegurar que todos tenham direito de desenvolver igualmente seus talentos e capacidades isso quer dizer cada qual chegará ao máximo do que e capaz. Neste sentido, a desigualdade social é justificada segundo o principio de que o nível de riqueza será diferenciado segundo o esforço e as capacidades de cada um.
Com o desenvolvimento da sociedade burguesa e a ampliação da alienação, igualdade e liberdade tornam- se valores universais abstratos que se configuram como valores positivos porque representam conquistas históricas, mas não podem realizar se, de fato, para o conjunto da sociedade.
Torna – se importante ressaltarmos que a questão social da democracia aparece sempre diretamente relacionada não só com a liquidação do sistema capitalista como, com igual ênfase, com a transição socialista.
A defesa da equidade explicita os limites da liberdade burguesa incompatível com a igualdade, a justiça social e a cidadania plena, pois a cidadania burguesa, no âmbito da democracia liberal, é suporte para a desigualdade.
O código de ética se opõe não apenas ao liberalismo, mas também ao humanismo cristão tradicional e ao marxismo anti–humanista. A fundamentação do código de 1993 apresenta–se como um alvo não apenas para os setores tradicionalmente conservadores, mas ainda para os setores profissionais vinculados ao pós-modernismo, coerente com seus fundamentos, o código trata de dimensão prático- operativa, tendo por eixo a defesa e a universalização dos direitos sociais e de mecanismos democráticos de regulação social.
Traduzindo seus valores e princípios para a particularidade do compromisso profissional, o código aponta para as determinações da competência ético- politica profissional.
O código traz inovações ao se manifestar a favor da eliminação de todas as formas de preconceito incentivando o respeito á diversidade, á participação de grupos socialmente discriminados a á diferenças no exercício profissional, sem ser discriminado, nem discriminar, por questão de inserção de classe social, gênero, etnia, religião, nacionalidade, opção sexual, idade e condição física, é inovador fundamentais á superação do moralismo. É nesse contexto que o projeto profissional de ruptura começa a ser definido como projeto ético político referendado nas conquistas dos dois códigos 86 e 93, nas revisões curriculares de 82 e 96 e no conjunto de seus avanços teóricos práticos construídos no processo de renovação profissional, a partir da década de 60.
Sendo assim, hegemonia que este Código sinaliza vincula-se á sua capacidade teórico prática de responder positivamente a tais desafios com isso, a ética componente básico, mas não exclusivo, de um projeto profissional contribuindo para a superação do histórico conservadorismo do Serviço Social.


INDICADORES DE VULNERABILIDADE E RISCO SOCIAL NAS FAMÍLIAS
A identificação de diferentes situações de vulnerabilidade e risco social devem levar em conta os recursos acumulados (ou sua ausência) por indivíduos, famílias e comunidades em simultâneo às oportunidades acessíveis para empregá-los. Assim, partindo da compreensão de que a vulnerabilidade social decorre de fenômenos diversos, com causas e consequências distintas, obtém-se uma visão mais abrangente das condições de vida e dos riscos sociais que atingem os vários segmentos populacionais, bem como das possibilidades de sua superação ou minimização.
Nessa perspectiva, é no confronto entre as características individuais e familiares – ciclo de vida, tipo de arranjo familiar, escolaridade, renda corrente, formas de inserção no mercado de trabalho e condições de saúde – e suas possibilidades de desfrute dos bens e serviços ofertados pelo Estado, sociedade e mercado que se definem suas efetivas condições de vida e possibilidades de mobilidade social. Como afirmaram Nussbaun e Sen (1998), “necessitamos saber não só do dinheiro que (as pessoas) possuem ou de que carecem, mas também se são capazes de conduzir suas vidas”. Ou seja, para se abordar o tema da qualidade de vida, faz-se necessário incorporar à análise os outros elementos que permitem a um indivíduo viver com dignidade e segurança.
Dessa forma, foram elencados alguns dos principais indicadores a serem analisados para se verificar o grau de vulnerabilidade e risco social de famílias. Nesse contexto, é necessário verificar dados pertinentes à constituição familiar, dinâmica das relações familiares, estrutura econômica, nível de escolarização, aspectos de saúde da família, caracterização do domicílio, antecedentes criminais de algum membro do grupo familiar, existência de violência familiar, mendicância, prostituição, etc.

Infraestrutura e Serviços Urbanos - Principais Indicadores:

-          condição de propriedade da habitação na qual reside a família;
-          edificação do imóvel no qual reside a família;
-          material predominante na edificação do imóvel;
-          sistema de abastecimento de água;
-          tratamento de água;
-          iluminação;
-          escoamento sanitário;
-          destino do lixo;
-          densidade domiciliar (número de moradores dividido pelo número de cômodos do domicílio);
-          acesso ao domicílio.

Educação - Principais Indicadores:

-          nível de escolaridade do chefe de família abaixo de 4 anos;
-          atraso escolar;
-          crianças entre 7 e 18 anos que não frequentam a escola;
-          analfabetismo;
-          indivíduos entre 19 e 24 anos que não frequentam a escola e não têm segundo grau completo.

Saúde - Principais Indicadores:

-          existência de deficientes;
-          gravidez precoce;
-          indivíduos dependentes de substâncias psicoativas (álcool e drogas);
-          indivíduos em atendimento especializado e/ ou tratamento psiquiatra.

Renda e Mercado de Trabalho - Principais Indicadores:

-          rendimento familiar (renda per capita);
-          idoso sem rendimento;
-          taxa de dependência (nº de indivíduos entre 15 e 65 anos ocupados dividido pelo total de moradores do domicílio);
-          inserção ocupacional do chefe do domicílio (situação do chefe de família no mercado de trabalho);
-          desemprego;
-          mulher chefe de família;
-          despesas com habitação;
-          despesas com alimentação;
-          despesas com medicamentos;
-          trabalho infanto-juvenil (domicílio no qual existem indivíduos com menos de 16 anos que trabalham).

Composição Familiar - Principais Indicadores:

-          existência de crianças e adolescentes;
-          existência de idosos;
-          existência de adolescentes em conflito com a lei;
-          existência de indivíduos (membros da família) em reclusão;
-          existência de situações de violência doméstica, abandono, negligência e maus tratos.

Saúde - Principais Indicadores:

-          existência de deficientes;
-          gravidez precoce;
-          indivíduos dependentes de substâncias psicoativas (álcool e drogas);
-          indivíduos em atendimento especializado e tratamento psiquiatra.
RACHEL FERNANDA MATOS DOS SANTOS
Assistente Social – CRESS 35.724

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O ESTUDO SOCIAL EM PERÍCIAS, LAUDOS E PARECERES TÉCNICOS
O Estudo social em perícias, laudos e pareceres técnicos: contribuição ao debate no judiciário, no penitenciário e na previdência social / Conselho Federal de Serviço Social, (org.). 8ª ed. – São Paulo: Cortez, 2008.
Esta resenha corresponde a obra O Estudo social em perícias, laudos e pareceres técnicos: contribuição ao debate no judiciário, no penitenciário e na previdência social, organizado pelo conselho Federal de Serviço Social através de ensaios de autores com ampla experiência em áreas de atuação fundamentais e complexas, como a Vara da Infância e da Juventude no Judiciário, Sistema Prisional, INSS, entre outros. Tem como objetivo contribuir com as reflexões e análises que vêm sendo desenvolvidas sobre o exercício profissional no campo sócio-jurídico, privilegiando o aprofundamento crítico sobre o Estudo Social que fundamenta pareceres e laudos no Judiciário e na Previdência Social, bem como o histórico, os princípios e os embates presentes na elaboração dos Exames Criminológicos no Sistema Prisional.
O texto traz reflexões acerca das expressões da questão social e sua especificidade dentro de cada campo de trabalho na construção do estudo social. Também sua historicidade e inflexões na contemporaneidade, e a partir dela, uma analise do estudo social articulada com o projeto ético-político do profissional do Serviço Social.
A construção do estudo social perpassa pela investigação, diagnóstico e intervenção, e estes tendo como referencial a formação ético-político, teórico-metodológico e técnico-operativo do profissional. Sua inserção no campo sócio-jurídico só foi possível através do Código Civil e do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), sendo estes o respaldo à nomeação ou solicitação de assistente social para oferecer seu conhecimento nesse campo de atuação.
O estudo social se apresenta como suporte fundamental para a aplicação de medidas judiciais dispostas no ECA e na legislação civil referente à família. O estudo social materializado no relatório social e / ou laudo social ou o parecer social se transforma em um instrumento de poder. O texto expõe com clareza o processo de construção desse instrumento de poder, caracterizado pelo saber profissional que constitui uma leitura da realidade do sujeito envolvido na ação judicial.
Dentro da temática do texto os autores expõem as dificuldades encontradas no fazer profissional relacionadas ao exercício da liberdade e da criatividade, e principalmente, à garantia de direitos humanos e sociais dentro de um sistema tido como disciplinador e de regulação social, de cunho coercitivo e moralizador.
O texto traz uma síntese informativa e indica leituras acerca do estudo social, da perícia social, do relatório social, do laudo social e do parecer social, sendo estes, metodologia de trabalho de domínio específico e exclusivo do assistente social.
O parecer social é visto com um instrumento de viabilização de direitos, neste sentido o texto traz a fundamentação legal na profissão e na legislação previdenciária. Através das experiências de profissionais inseridos no INSS, o texto explicita algumas restrições legais sofridas dentro da política previdenciária implantada seguindo o modelo neoliberal, ou seja, a lógica do seguro em detrimento da concepção de proteção social redistributiva. Há a especificação das principais situações de emissão do parecer social e seus elementos constitutivos dentro do INSS.
O exame criminológico é analisado no contexto do Sistema Penal do Rio de Janeiro e nas demandas dos profissionais inseridos neste campo de trabalho. A construção do exame criminológica perpassa pela discussão do “como fazer”, previsto no Código Penal (CP) e na Lei de Execução Penal (LEP). O resultado do fazer profissional, dentro de uma análise conjuntural, requer um desafio ético – a construção da identidade do preso e sua “caminhada dentro do sistema prisional (fechado – semiaberto - progressão de pena).
Os autores especificam que cabe ao Centro de Observação (órgão anexo ao sistema penal) a construção do exame criminológico e à Comissão Técnica de Classificação (CTC) nortear a forma do cumprimento da pena, bem como a observação do preso durante sua execução. São expostos alguns princípios da individualização da pena que regem as ações tanto da CTC quanto do Centro de Observação. A legislação prisional requer a presença do psicólogo, do psiquiatra e do assistente social dentro da CTC.
A abordagem dos autores traduz a realidade do sistema prisional, suas deficiências e o embate entre o fazer profissional respaldado por um projeto ético-político e o conceito contemporâneo do trabalho realizado dentro das unidades.
A presença de profissionais conhecedores do seu papel e embasados em seu Código de Ética se faz necessário considerando a prática da elaboração do exame com as questões que os profissionais se deparam no impasse cotidiano de “como fazer” um exame que atenda à exigência do Sistema de Justiça Criminal e que, além disso, e, principalmente, sirva ao preso, ao sujeito que justifica a presença dos profissionais no sistema prisional brasileiro.
“...entendemos que cada parecer constitutivo do exame criminológico pode oferecer ao Sistema de Justiça Criminal mais do que informações para assessorar o Juízo e o Ministério Público: cada sujeito ali retratado, cada estória interpretada remete as condições de vida ofertadas à população, dentro e fora dos muros de nosso país.” A citação do autor traduz a visão peculiar do profissional do Serviço Social: propositiva, criativa, indo além das informações vista a “olho nu”.
O texto concebe uma visão realista do fazer profissional dentro do campo sócio-jurídico com seus enfrentamentos e reflexões na produção do estudo social em perícias, laudos e pareceres técnicos. É uma leitura capaz de oferecer uma bagagem teórica riquíssima no conhecimento e análise do fazer profissional enquanto produção de instrumentais que vão nortear e materializar o saber profissional.


O SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL E SUA EVOLUÇÃO HISTÓRICA
José Ozildo dos Santos
            1 Apresentação
            O Serviço Social é uma profissão dinâmica que possui um curto, mas belo processo histórico. Seus fundamentos foram estruturados no final do século XIX, quando se consolidou o processo de industrialização, conhecido na história da humanidade como Revolução Industrial.
            Tal ‘revolução’ facilitou a consolidação do capitalismo, que ainda no final daquele século, adquiriu um novo perfil, deixando de lado seu aspecto concorrencial para adquirir seu estágio monopolista, gerando, desta forma, significativos impactos na estrutura societária.
            Nesse cenário de grandes questões sociais, surgiram as bases estruturadoras do Serviço Social, que, durante muito tempo, esteve a serviço da burguesia, recebendo forte influência da doutrina social, desenvolvida pela Igreja Católica.
            O presente artigo tem por objetivo apresentar, de forma resumida, o surgimento do Serviço Social, mostrando como ocorreu o seu processo de profissionalização.
            2 Revisão de literatura
            O Serviço Social como conhecemos na atualidade teve origem no final do século XIX, quando se intensificou a passagem do capitalismo concorrencial para o seu estágio monopolista. Esse processo, segundo informa Paulo Neto (2001), foi caracterizado por significativos impactos na estrutura societária, decorrentes do recrudescimento das contradições surgidas nesse sistema.
            Em seu princípio, o Serviço Social serviu aos propósitos da burguesia, que utilizou os primeiros profissionais da área, para, de forma indireta, amenizar os conflitos surgidos entre a crescente classe operária absorvida pelo sistema capitalista em ascensão, tanto na Europa quanto nos Estados Unidos da América.
            Acrescenta Paulo Neto (2001, p. 79), que:
Emergindo como profissão a partir do background acumulado na organização da filantropia própria à sociedade burguesa, o Serviço Social desborda o acervo das suas protoformas ao se desenvolver como um produto típico da divisão social (e técnica) do trabalho da ordem monopólica. Originalmente parametrado e dinamizado pelo pensamento conservador, adequou-se ao tratamento dos problemas sociais quer tomados nas suas refrações individualizadas (donde a funcionalidade da psicologização das relações sociais), quer tomados como sequelas inevitáveis do ‘progresso’ (donde a funcionalidade da perspectiva ‘pública’ da intervenção - e desenvolveu-se legitimando-se precisamente como interveniente prático-empírico e organizador simbólico no âmbito das políticas sociais.
            O Serviço Social, no princípio, possuía um caráter de filantropia, sem, contudo, apresentar um perfil profissional. Durante muito tempo, o mesmo assim se manteve, aderindo, posteriormente, aos dogmas da doutrina social da Igreja Católica, que deu um aspecto ‘humanista’ à profissionalização desta área, perfil este que foi incorporado no início do século passado, pelo Serviço Social desenvolvido no Brasil.
            Ao mesmo tempo em que se desenvolveu na Europa, seguindo concepções semelhantes, o Serviço Social também se desenvolveu nos Estados Unidos, que se tornaram o centro de referência do capitalismo, logo no início do século XX. Tanto na Europa, quanto nos EUA, foram desenvolvidos esforços no sentido de viabilizar a profissionalização do Serviço Social.
            Abordando esse período do processo histórico do Serviço Social, afirma Paulo Netto (2001, p. 114), que:
É no imediato pós-guerra civil que se engendram as condições culturais elementares que, na virada do século, permearão as protoformas do Serviço Social [...]. A crítica sociocultural, na Europa, era obrigada a pôr em questão aspectos da socialidade burguesa; na América, o tipo de desenvolvimento capitalista não conduzia a crítica a checá-lo. No período que estamos enfocando, a síntese dessas diferenças pode ser resumida da seguinte maneira: nas fontes ideológicas das protoformas e da afirmação inicial do Serviço Social europeu, dado o anticapitalismo romântico, há vigoroso componente de apologia indireta do capitalismo; nas fontes americanas, nem desta forma a ordem capitalista era objeto de questionamento.
            Assim sendo, percebe-se que o Serviço Social desenvolvido na América não apresentava o mesmo perfil daquele promovido pela burguesia europeia. Este, por sua vez, teve as suas formulações vinculadas ao pensamento sociológico-conservador, que também atrelou-se à doutrina social da Igreja Católica.
            Iamamoto (1998) assinala que o Serviço Social surgiu como uma das estratégias concretas de disciplinamento, controle e reprodução da força de trabalho. E seu papel era conter e controlar as lutas sociais.
            Contudo, é importante informar que as duas primeiras década do século XX foram caracterizadas por intensas lutas travadas entre as forças da organização política e sindical dos trabalhadores e as forças constitutivas do capitalismo monopolista. Estas, apoiada pelo fascismo.
            Nesse período da história da humanidade, vários movimentos surgiram, espalhando suas filosofias e princípios pelo mundo inteiro, refletindo, de certa forma, sob algumas ciências. Dentre esses movimentos, pode-se citar o movimento das mulheres, que espalhou-se por vários países da Europa.
            Afirma Wagner (2004) que o movimento de mulheres desencadeado na Europa no final do século XIX e ampliado no início do século seguinte, contribui de forma decisiva para o processo de profissionalização do Serviço Social. Nesse mesmo período, outros movimentos sociais também deram impulso considerável nesse processo.
            O processo de profissionalização do Serviço Social foi lento. Isto porque o mesmo foi produzido para atender aos interesses da burguesia, que tentava desarticular a classe operária, sacrificada pelas relações trabalho-capital.
            Por outro lado, é importante também destacar que no Brasil, o Serviço Social teve sua origem a partir do amplo movimento social, desenvolvido pela Igreja Católica objetivando recristianizar a sociedade.
            Registra Silva (2008, p. 2), que:
São inegáveis os vínculos conservadores da profissão desde a sua origem, marcada pelo capitalismo na era dos monopólios e pela agudização da questão social reconhecida, no caso brasileiro, pelo modelo urbano-industrial, claramente assumido no primeiro governo de Getúlio Vargas (1930-1945) e pela tendência crescente da Igreja Católica - nessa mesma época - em ‘recristianizar’ a sociedade apoiando-se na modernização das ações leigas.
            Os marcos do surgimento do Serviço Social no país também coincidem com o início do processo de industrialização e do crescimento das populações das áreas urbanas. Nesse contexto, constatou-se que era preciso controlar a massa operária e essa foi a primeira missão do Serviço Social no Brasil.
            A situação econômica e social do país, vigente na época, levou o estado brasileiro a absorver algumas reivindicações populares, principalmente, aquelas que demandavam condições de alimentação, moradia e saúde. Com isso, através de uma legislação social e salarial, o governo federal ampliou as bases do reconhecimento da cidadania social (IAMAMOTO, 1998).
            Nesse período de sua história, enquanto profissão, o Serviço Social passou a situar-se no processo de reprodução das relações sociais, sendo visto como atividade auxiliar e subsidiária no exercício do controle social, bem como na difusão da ideologia da classe dominante entre a classe operária.
            De acordo com Maciel, Tepedino e Campelo (2001), durante o período da ditadura do Estado Novo foram criadas várias instituições de assistência social no Brasil, das quais destacam-se as seguintes:
a) Conselho Nacional de Serviço Social (1938): com o objetivo de centralizar e organizar as obras assistenciais públicas e privadas;
b) Legião Brasileira de Assistência (1942): com o objetivo de prover as necessidades das famílias, cujos chefes haviam sido mobilizados para a II Guerra Mundial.
            Acrescentam ainda esses autores que no Brasil, a partir da década de 1930, as instituições sociais e assistenciais, tornam-se instrumento de controle social e político dos setores dominados, servindo como instrumentos de manutenção do sistema de produção.
            Nessa época, o Brasil passava por um momento conturbado de sua história, caracterizado pelas contradições, pelos conflitos e pelas tensões, produzidas, principalmente, pelas relações capital-trabalho resultantes do processo de consolidação de um capitalismo, que lançava suas primeiras bases.
            Observa Rodrigues On (1994) que a formação dos assistentes sociais nesse período pioneiro tinha por eixo os fundamentos que embasariam suas reflexões e práticas, os quais garantiriam também sua sólida formação doutrinária e ética.
            Em síntese, o surgimento do Serviço Social no Brasil recebeu uma forte influência europeia. No entanto, a expansão do Serviço Social, somente ocorreu a partir de 1945, visando atender as exigências e necessidades de aprofundamento do capitalismo no país, motivadas pelas mudanças pós-Segunda Guerra Mundial.
            No entanto, argumenta Silva (2008, p. 2-3), que:
O aprofundamento dessa ordem societária (necessariamente contraditória), marcada pela modernização conservadora do país ao longo das décadas de 40, 50, 60 e 70 do século XX, impôs à profissão uma revisão do ‘Serviço Social tradicional’, manifestada no chamado ‘processo de reconceituação’, que, com todos os seus limites, teve o mérito de recolocar questões centrais para o Serviço Social: a formação profissional (nos seus aspectos teórico, metodológico, técnico-instrumental e interventivo), a interlocução com outras áreas do conhecimento, a importância da pesquisa e da produção de conhecimentos no âmbito da profissão, entre outros aspectos. Esse rico contexto permitiu um debate mais intenso sobre as diferentes orientações teóricas na profissão (para além da Doutrina Social da Igreja), desencadeando uma interlocução com matrizes do conhecimento presentes nas Ciências Sociais.
            Originado de uma prática concreta e de uma posição de vanguarda, o Serviço Social no princípio, caracterizou-se pela formação de profissionais destinados a atuarem nos problemas sociais, que envolveram todos os setores da sociedade, como uma consequência das transformações econômicas e industriais, surgidas a partir da segunda metade do século XIX.
            Contudo, novas ideias foram se somando aos princípios bases do Serviço Social, auxiliando, desta forma, a profissionalização desse ramo profissional. No entanto, profundas foram as transformações registradas nessa área após as duas grandes guerras. Assim sendo, pode-se afirmar que o assistente social na atualidade possui um novo perfil bem diferente daquele apresentado no início do século passado.
            3 Considerações finais
            O perfil que o assistente social possui na atualidade é uma soma das experiências que outros profissionais das diferentes áreas absorveram ao longo de pouco mais de um século. Hoje, o assistente social modifica a sua forma de atuação profissional, levando em consideração a demanda que lhe é colocada e a necessidade de responder às exigências e às contradições da sociedade capitalista.
            Contudo, nem sempre foi assim. No passado, o Serviço Social era completamente influenciado pela doutrina social da Igreja Católica. Com a presente pesquisa, pode-se perceber que outras correntes influenciaram o processo de profissionalização do Serviço Social, cujas bases possuem um forte relacionamento com o monopolista.
            Absorvendo os princípios da filantropia desenvolvidos por movimentos ligados à burguesia e à doutrina social católica, o Serviço Social desenvolveu-se na Europa e nos Estados Unidos. No Brasil, contudo, priorizou-se no Serviço Social a filosofia social, definida observando os parâmetros da Igreja Católica.
4 Referências
01. IAMAMOTO, Marilda V. O serviço social na contemporaneidade: trabalho e formação profissional. São Paulo: Cortez, 1998.
02. MACIEL, Heloisa H. Mesquita; TEPEDINO, Maria L. Rocha; CAMPELO, Sônia M. Lima. LBA – Trajetórias de uma instituição no contexto das políticas públicas. In: Debates Sociais, Rio de Janeiro, n. 59, ano XXXVI, 2001.
03. PAULO NETTO, José. Capitalismo monopolista e serviço social. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2001.
04. RODRIGUES ON, Maria Lúcia (coord.) Uma trajetória da docência em serviço social período 1963/1976. São Paulo, PUCSP, 1994.
05. SILVA, José Fernando Siqueira da. Serviço social e contemporaneidade: afirmação de direitos e emancipação política? Revista Ciências Humanas, UNITAU, v. 1, n. 2, 2008.
06. WAGNER, Leonie. Serviço social e movimentos sociais: uma não-relação?. Civitas: Revista de Ciências Sociais, v. 4, n. 1, jan-jun/2008.


POLÍTICA ESTADUAL DE ENFRENTAMENTO À VIOLÊNCIA
            A concretização da política de Saúde como direito humano básico está colocada, cotidianamente, como um desafio para todos os setores, que investem num sistema que possibilite o acesso igualitário para todas as pessoas em todos os níveis de atenção à saúde.
Em relação à saúde de crianças e adolescentes, prioridade absoluta, a partir do Estatuto da Criança e do Adolescente, que em julho, completa 15 anos desde sua aprovação, “a criança e o adolescente têm direito à proteção, à vida e à saúde mediante a efetivação de políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio harmonioso, em condições dignas de existência”. 
            Nesse sentido é que a Secretaria da Saúde vem investindo esforços para responder, dentre outros, o dispositivo do texto constitucional, que explicita que “É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão”. Tais direitos devem ser garantidos através de políticas públicas e de programas afins, com prioridade absoluta, compreendida como: “Primazia de receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias; precedência do atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública; preferência na formulação e execução das políticas sociais públicas e destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção à infância e à juventude”.
            1. Política Estadual de Enfrentamento à Violência Doméstica: contra a violação de direitos de crianças e adolescentes
            A Secretaria Estadual de Saúde do Rio Grande do Sul (SES/RS) entendendo que a violência doméstica é um problema de saúde pública porque viola o direito à vida, produz enfermidade e provoca a morte reconhece a necessidade de construção de política factível.
            O Departamento de Ações em Saúde (DAS) através de Grupo de trabalho intrassetorial, formado por técnicos representantes de vários setores da SES, preferencialmente, dispostos conforme as políticas que atendem aos ciclos vitais, da menor a maior complexidade, nas áreas específicas da Saúde da Criança/Adolescente, Saúde da Mulher, Saúde do Idoso, PACS/PSF, Setor de Controle de DSTs/AIDS e Centro de Vigilância em Saúde, coordenado pela Seção de Saúde Mental e Neurológica; propõe a Política de Enfrentamento à Violência Doméstica.
            O compromisso desta Política é a dimensão da saúde enquanto proteção social, cuja principal função é a de enfocar os riscos da violência. A proteção social está em consonância com os valores culturais intrínsecos à sociedade, com a forma como ela se organiza e expressa seus diferentes interesses e é influenciada por decisões de ordem econômica, ética e política. Esta política de saúde, voltada à atenção integral e permeável ao controle social, estabelece suas diretrizes através da vinculação com os princípios orientadores do SUS, com os recortes de gênero, raça/etnia e classe social, considerando os ciclos de vida.
            Segundo o Ministério da Saúde "a violência intrafamiliar é toda ação ou omissão que prejudique o bem-estar, a integridade física, psicológica ou a liberdade e o direito ao pleno desenvolvimento de outro membro da família. Pode ser cometida dentro ou fora de casa por algum membro da família, incluindo pessoas que passam a assumir função parental, ainda que sem laços de consangüinidade, e em relação de poder a outra (...) A violência doméstica distingue-se da violência intrafamiliar por incluir outros membros do grupo, sem função parental, que convivam no espaço doméstico. Incluindo-se aí empregados (as), pessoas que convivem esporadicamente, agregados" (Ministério da Saúde, 2001).
            Na violência doméstica, o abuso de poder e a discriminação são exercidos através de atitudes ou omissões nas relações familiares ou relações afetivas de convivência particular, causando danos à saúde de qualquer dos componentes do ambiente doméstico. A violência doméstica é multifacetada, podendo ser de cunho físico, psicológico, sexual e econômico, é possível encontrarmos estas categorias ocorrendo simultaneamente. As seqüelas decorrentes da exposição às situações de violência podem ser distintas para cada sujeito; no que sejam relevantes tanto o momento de desenvolvimento biopsicossocial em que o sujeito se encontre quanto o tipo de violência perpetrada, seja maltrato, negligência e/ou abuso sexual.
            A violência doméstica é considerada uma questão de saúde pública tanto pela amplitude do problema, expressa pelo elevado número de pessoas atingidas em todo o ciclo de vida, quanto devido às repercussões graves à saúde e aos prejuízos econômicos por ela ocasionados.
    O enfrentamento à violência contra crianças e adolescentes requer procedimentos que permitam o acolhimento, avaliação, notificação e atendimentos adequados, como compromisso da área da saúde em intervir na realidade a partir de uma política de saúde inclusiva, multiprofissional e integrada às demais políticas sociais básicas.
É fundamental a estruturação e articulação de uma rede de apoio capaz de comportar a demanda existente através da sensibilização e capacitação dos profissionais da área da saúde para a promoção de medidas preventivas, de avaliação, de intervenção e aperfeiçoamento do sistema de informação dobre o perfil de morbimortalidade por violência. 
            1. A Política está estruturada nos seguintes eixos:
a)Sensibilização e divulgação
b)Mobilização
c)Capacitação
d)Análise da situação
2.Notificação compulsória de maus tratos contra criança e adolescente
            A Secretaria da Saúde com o intuito de implantar e fomentar ações intersetoriais de enfrentamento à violência e estruturar a vigilância da violência contra crianças e adolescentes, dando visibilidade epidemiológica e social ao problema, através de informações que subsidiem o planejamento de ações no âmbito da saúde e de outras áreas envolvidas na constituição de uma rede de proteção, instituiu a Portaria nº 40/2004/ - sdfootnote4sym4 atendendo aos dispositivos da Portaria do Ministério da Saúde de nº 1.968/2001 e do ECA/ - sdfootnote5sym5 estabelecendo a notificação compulsória de todos os casos de suspeita ou confirmação de maus tratos contra crianças e adolescentes atendidas na rede SUS. 
            Tendo em vista a universalização progressiva da notificação a toda a rede SUS, foi elaborado um fluxo de informação e de atendimento/ - sdfootnote6sym6 a ser implantado gradativamente através da capacitação da rede de saúde, em todos os níveis. Esse fluxo acionado pelos profissionais de saúde, dos serviços de urgência/emergência, ambulatórios, hospitais, PACS/PSF, desencadeará demandas para o Conselho Tutelar, Ministério Público e serviços de assistência social, garantindo a integralidade do atendimento.
            A notificação nos casos de suspeita ou confirmação da violência contra criança ou adolescente será através do Relatório individual de Notificação de Acidentes e Violências(RINAV)/ - sdfootnote7sym7 preenchido em três vias. A primeira via deverá ser encaminhada para o Conselho Tutelar, a segunda para a Secretaria Municipal de Saúde a que pertence a unidade notificadora e a terceira via ficará arquivada na unidade de saúde.
            A atenção no setor saúde deverá integrar o conjunto de atividades desenvolvidas pelas estratégias de SAÚDE DA FAMÍLIA E DE AGENTES COMUNITÁRIOS DE SAÚDE, pelo Programa VIVA CRIANÇA e o Programa PRIMEIRA INFÂNCIA MELHOR – PIM, sendo indispensável a definição de mecanismos de referência e contra-referência .As unidades de referência da saúde são responsáveis, além da atenção à saúde no seu aspecto global, pela orientação, atendimento e avaliação das doenças sexualmente transmissíveis, da síndrome da imunodeficiência adquirida e da contracepção de emergência.
            Destaca-se que a notificação por si só não representa o atendimento, uma vez realizada a notificação do fato ou da suspeita, tem-se um dos instrumentos essenciais para o desencadeamento de ações protetivas e para acionar os recursos disponíveis na rede, para intervenção em diferentes áreas(jurídico, assistência social, saúde, educação). 
As ações e serviços devem ser oferecidos de maneira articulada e contínua em todos os níveis do sistema, da menor a maior complexidade, propiciando a integralidade da atenção à saúde.
            O princípio da intersetorialidade refere a necessidade de articulação entre políticas e programas, envolvendo também áreas não compreendidas pelo SUS, somando e racionalizando recursos financeiros, humanos e tecnológicos para o mesmo fim.
            Ações intersetoriais
            a)Programa Estadual de Enfrentamento à Violência Sexual Infanto-Juvenil/ Coordenado pela Secretaria do trabalho Cidadania e Assistência Social - STCAS 
            A Secretaria da Saúde assume o compromisso de implantar e implementar a política de atendimento à criança e ao adolescente, de acordo com o ECA, art. 86, que postula que a atenção à saúde de crianças e adolescentes, “far-se-á através de um conjunto articulado de ações governamentais e não-governamentais, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios”.
            Dentro do princípio da intersetorialidade e integralidade do atendimento e, compreendendo a complexidade do fenômeno da violência pelos prejuízos que representa ao desenvolvimento infanto-juvenil, a Secretaria da Saúde integra o Grupo Executivo Intersetorial Estadual, representado por diversas Secretarias de Estado, responsável pelo planejamento, execução e avaliação das ações de enfrentamento à Violência Sexual Infanto-juvenil, desenvolvidas no Estado.
            O referido Programa tem o propósito de contribuir para a redução dos índices de violência sexual contra crianças e adolescentes, com ênfase na integração das políticas sociais, envolvendo a Secretaria da Educação, Secretaria da Saúde, Secretaria da Justiça e Segurança, Secretaria do Turismo, Esporte e Lazer e Secretaria dos Transportes, com a coordenação da Secretaria do Trabalho, Cidadania e Assistência Social.
            Serão realizados Seminários de Sensibilização para implantação das ações do Programa em 55 município do Estado, até 15 de setembro de 2006. 
            b) Plano Operativo Estadual de Atenção à Saúde Integral de Adolescentes em Conflito com a Lei, em Regime de Internação e Internação Provisória, em Unidades Masculinas e Femininas.
            A Secretaria Estadual de Saúde e a Fundação de Atendimento Sócio-Educativo (FASE) a partir de dezembro/ - sdfootnote9sym9 de 2004 desencadearam processo de discussão e de articulação para a implantação e implementação da atenção à saúde integral dos adolescentes em conflito com a lei, em regime de internação e internação provisória, tendo em vista a Portaria Interministerial 1.426/2004 e a Portaria 340/SAS/MS. Tais Portarias são fundamentadas no ECA que regula as medidas sócio-educativas para o adolescente com prática de ato infracional, assegura os direitos do adolescente privado de liberdade, em regime de internação e de internação provisória em receber atendimento adequado, sendo, portanto dever do estado de zelar pela integridade física e mental dos mesmos.
            Durante os primeiros meses de 2005 foram realizadas reuniões entre a Secretaria da Saúde e a FASE para definir estratégias conjuntas e agilizar a elaboração do Plano Operativo Estadual – POE. O diagnóstico da situação de saúde da FASE foi elaborado considerando o perfil das unidades de atendimento de Porto Alegre e do interior do Estado, doenças e agravos dos(as) adolescentes, organização do serviço quanto ao espaço físico atual, quadro funcional atendimento sócio-educativo documento que subsidiará a comissão na elaboração do Plano Operativo Estadual.
            Entendendo a necessidade de consolidar ações integradas no atendimento à saúde integral dos adolescentes, como prevê o Art. 86 do Estatuto da criança e do Adolescente, foram convidados os gestores municipais/ - sdfootnote10sym10 e representantes do Conselho Estadual de Saúde e do Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente para a constituição da comissão /grupo de trabalho responsável pela construção do Plano Operativo Estadual.
A gestão do Plano Operativo Estadual de atenção à saúde integral a adolescentes em conflito com a lei, em regime de internação e internação provisória é atribuição da Secretaria Estadual de Saúde – SES em conjunto com a Fundação de Atendimento Socioeducativo – FASE/STCAS, gestora do Sistema Sócio educativo.
            O Plano Operativo Estadual elaborado foi apresentado no Conselho Estadual de Saúde- CES/RS, na reunião ordinária de 20 de outubro de 2005, e apresentado à Comissão Intergestores Bipartite – CIB/RS, na reunião de 30/11/05.O POE foi aprovado através das resoluções nº11/05 e nº221 /05, do CES/RS e da CIB/RS, respectivamente. Tanto pelo CES/RS quanto pela CIB/RS foram feitas sugestões acerca das temáticas: profissionalização, saúde mental e monitoramento e avaliação. Estes pontos estão sendo revisados juntamente com os setores responsáveis, tanto pela SES quanto pela FASE.
            1. O POE foi apresentado e aprovado no Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente - Cedica, em 17 de janeiro de 2006
            2. Em 2006, dando continuidade ao processo de discussão para a implantação e implementação das ações de Atenção à Saúde Integral de Adolescentes em Conflito com a Lei, em regime de internação e internação provisória, estamos prestando assessoria e realizando reuniões bimestrais com representantes dos municípios e dos Conselhos de Saúde e do Cedica.
O processo de elaboração, implantação, avaliação e acompanhamento do Plano será efetivado de forma integrada entre as secretarias envolvidas com a definição de instrumentos pertinentes para o monitoramento da proposta construída coletivamente.
            C - Projeto Saúde e Prevenção na Escola - SPE. 
            O Projeto realizado em parceria com Ministério da Saúde, Ministério da Educação, Unesco e Unicef, que tem como objetivo integrar ações da saúde e da educação, com destaque para a promoção de saúde sexual e reprodutiva que favoreçam a vivência da sexualidade com autonomia e atenção às vulnerabilidades de crianças e adolescentes. O grupo gestor estadual é composto por representantes da Secretaria Estadual da Saúde, Educação, UERGS e Controle Social. Ocorrerá curso de formação para a constituição de grupos gestores municipais e de multiplicadores, de 10 a 14 de julho de 2006.


POLÍTICA NACIONAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL
O que é a Política Nacional de Assistência Social - PNAS?
É uma política que junto com as políticas setoriais, considera as desigualdades sócio-territoriais, visando seu enfrentamento, à garantia dos mínimos sociais, ao provimento de condições para atender à sociedade e à universalização dos direitos sociais. O público dessa política são os cidadãos e grupos que se encontram em situações de risco. Ela significa garantir a todos, que dela necessitam, e sem contribuição prévia a provisão dessa proteção.
A Política de Assistência Social vai permitir a padronização, melhoria e ampliação dos serviços de assistência no país, respeitando as diferenças locais.
Qual o conceito de “família” para a PNAS?
A família para a PNAS - Política Nacional de Assistência Social é o grupo de pessoas que se acham unidas por laços consanguíneos, afetivos e, ou de solidariedade.
Quais são os princípios da PNAS?
Em consonância com o disposto na LOAS, capítulo II, seção I, artigo 4º, a Política Nacional de Assistência Social rege-se pelos seguintes princípios democráticos:
I – Supremacia do atendimento às necessidades sociais sobre as exigências de rentabilidade econômica;
II – Universalização dos direitos sociais, a fim de tornar o destinatário da ação assistencial alcançável pelas demais políticas públicas;
III – Respeito à dignidade do cidadão, à sua autonomia e ao seu direito a benefícios e serviços de qualidade, bem como à convivência familiar e comunitária, vedando-se qualquer comprovação vexatória de necessidade;
IV – Igualdade de direitos no acesso ao atendimento, sem discriminação de qualquer natureza, garantindo-se equivalência às populações urbanas e rurais;
V – Divulgação ampla dos benefícios, serviços, programas e projetos assistenciais, bem como dos recursos oferecidos pelo Poder Público e dos critérios para sua concessão.
Quais são as diretrizes da Assistência Social?
A organização da Assistência Social tem as seguintes diretrizes, baseadas na Constituição Federal de 1988 e na LOAS:
I - Descentralização político-administrativa, cabendo a coordenação e as normas gerais à esfera federal e a coordenação e execução dos respectivos programas às esferas estadual e municipal, bem como a entidades beneficentes e de assistência social, garantindo o comando único das ações em cada esfera de governo, respeitando-se as diferenças e as características sócio-territoriais locais;
II – Participação da população, por meio de organizações representativas, na formulação das políticas e no controle das ações em todos os níveis;
III – Primazia da responsabilidade do Estado na condução da Política de Assistência Social em cada esfera de governo;
IV – Centralidade na família para concepção e implementação dos benefícios, serviços, programas e projetos.
Quais são os objetivos da PNAS?
A Política Pública de Assistência Social realiza-se de forma integrada às políticas setoriais, considerando as desigualdades sócio-territoriais, visando seu enfrentamento, à garantia dos mínimos sociais, ao provimento de condições para atender contingências sociais e à universalização dos direitos sociais. Sob essa perspectiva, objetiva:
Prover serviços, programas, projetos e benefícios de proteção social básica e, ou, especial para famílias, indivíduos e grupos que deles necessitarem;
Contribuir com a inclusão e a equidade dos usuários e grupos específicos, ampliando o acesso aos bens e serviços socioassistenciais básicos e especiais, em áreas urbana e rural;
Assegurar que as ações no âmbito da assistência social tenham centralidade na família, e que garantam a convivência familiar e comunitária.
Quem são os usuários da PNAS?
Constitui o público usuário da Política de Assistência Social, cidadãos e grupos que se encontram em situações de vulnerabilidade e riscos, tais como: famílias e indivíduos com perda ou fragilidade de vínculos de afetividade, pertencimento e sociabilidade; ciclos de vida; identidades estigmatizadas em termos étnico, cultural e sexual; desvantagem pessoal resultante de deficiências; exclusão pela pobreza e, ou, no acesso às demais políticas públicas; uso de substâncias psicoativas; diferentes formas de violência advinda do núcleo familiar, grupos e indivíduos; inserção precária ou não inserção no mercado de trabalho formal e informal; estratégias e alternativas diferenciadas de sobrevivência que podem representar risco pessoal e social.



VERTENTES DA RECONCEITUAÇÃO, RUPTURA COM O CONSERVADORISMO E A APROPRIAÇÃO DA TEORIA SOCIAL DE MARX
            Segundo Yazbek, as 3 principais vertentes que emergiram no bojo do Movimento de Reconceituação são:
            A vertente modernizadora caracterizada pela incorporação de abordagens funcionalistas, estruturalistas e mais tarde sistêmicas (matriz positivista), voltadas a uma modernização conservadora e melhoria do sistema pela mediação do desenvolvimento social e do enfrentamento da marginalidade e da pobreza na perspectiva de integração da sociedade. (…) Configuram um projeto renovador tecnocrático fundado na busca da eficácia e eficiência para nortear a produção do conhecimento e a intervenção profissional;
            A fenomenologia, que emerge como metodologia dialógica, que, apropriando-se da visão de pessoa e comunidade, dirige-se ao vivido humano, aos sujeitos em suas vivências, atribuindo o Serviço Social com a tarefa de auxiliar a abertura desse sujeito existente, singular em relação aos outros e ao mundo de pessoas. Valoriza o diálogo e a transformação das pessoas, sendo analisada por José Paulo Netto como uma reatualização do conservadorismo inicial da profissão;
            A vertente marxista que remete a profissão à consciência de sua inserção na sociedade de classes e que no Brasil vai configurar-se, em um primeiro momento, como uma aproximação ao marxismo sem o recurso ao pensamento de Marx.
            É claro que a apropriação da Teoria Social de Marx não se deu de forma unilateral e adialógica. Foi resultado de imensos e desgastantes debates e disputas internas e externas nos espaços de organização acadêmica e profissional do Serviço Social. Internamente, a apropriação da vertente marxista teve várias divergências também, quer pelas abordagens reducionistas dos marxismos de manual, quer pelo cientificismo e formalismo metodológico (estruturalista) presente no “marxismo” althusseriano ( referência ao filosofo francês cuja leitura da obra de Marx vai influenciar a proposta marxista do Serviço Social nos anos 60/70 e particularmente o Método B.H), que segundo Yazbek, foi um “marxismo equivocado que recusou a via institucional e as determinações sócio-históricas da profissão.
            É com esse referencial que a profissão questiona a sua prática institucional e seus objetivos de adaptação social ao mesmo tempo que se aproxima dos Movimentos Sociais e das organizações da classe trabalhadora. Tem-se o início da vertente comprometida com a ruptura com o Serviço Social tradicional e conservador.



VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
Na atualidade, em razão de vários fatos ocorridos no Brasil, temos presenciado um sensacionalismo muito grande por parte dos meios de comunicação, principalmente os televisivos. Porém, esse assunto existe há milhares de anos.
A violência doméstica acontece contra crianças, adolescentes, mulheres e idosos, sendo que os agressores são os próprios familiares das vítimas.
Um dos grandes fatores que favorecem a violência física, como os espancamentos, é a personalidade desestruturada para um convívio familiar do agressor, que não sabe lidar com pequenas frustrações que essas relações causam no decorrer do cotidiano.
O perfil do agressor é caracterizado por autoritarismo, falta de paciência, irritabilidade, grosserias e xingamentos constantes, ou acompanhados de alcoolismo e uso de outras drogas.
As violências domésticas se dividem por espancamentos, tendo maior número de vítimas as crianças de até cinco anos; abusos sexuais, acontecendo em maior quantidade entre meninas de sete a dez anos de idade; e por danos morais, em adolescentes e mulheres. É bom lembrar que os idosos tem tido grande participação na violência doméstica, mas aqueles que necessitam de cuidados especiais, sofrendo as agressões por pessoas contatadas pela família.
Outro destaque para as vítimas das agressões são as crianças portadoras de necessidades especiais. Normalmente as mães são as maiores agressoras das mesmas, por exigirem cuidados excessivos como higiene pessoal, alimentação, locomoção, onde estas se sentem sobrecarregadas e por não receberem apoio dos pais da criança ou uma estrutura advinda de órgãos governamentais.
As mães também são as grandes espancadoras quando, por algum motivo, acontece uma quebra na vinculação afetiva entre ela e o filho, seja por doença, hospitalização ou mesmo por não ter aceitado a gravidez.                                                                                         
Essas crianças apresentam grande dificuldade em ganhar peso nos primeiros meses de vida e, no período escolar, não conseguem estabelecer uma vinculação positiva com a professora nem tampouco com o aprendizado, levando-as a tirarem várias notas baixas.
Se observarmos o comportamento infantil dentro das escolas, podemos notar que as crianças são o espelho daquilo que recebem dentro de casa, se convivem com situações de agressividade podem apresentar-se da mesma forma com os colegas e professora ou partindo para o extremo, tornando-se apática às relações sociais, se excluindo do grupo. Já as crianças que convivem num ambiente familiar saudável, de amizade, amor e respeito conseguem estabelecer vínculo positivo com quase todo o grupo, sem dificuldades.
A violência aparece também de forma psíquica, onde se destrói a moral e a autoestima do sujeito, sem marcas visíveis ao corpo da vítima que normalmente são adolescentes e mulheres. As marcas nesse caso são internas, psicológicas, através de humilhações, xingamentos, podendo chegar a injúrias e ameaças contra a vida.
O importante é que, ao se tomar conhecimento dessas formas de violência, sejam feitas denúncias aos órgãos especializados, a fim de ajudar as vítimas, tentar tirá-las desse convívio de tanto sofrimento e mostrar ao agressor que ele não é tão poderoso quanto imagina, mas sim covarde por só ter coragem de manifestar sua agressividade dentro de casa, contra pessoas indefesas e sem exposição pública.

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