1. Conceitos
Fundamentais da Geografia
2. Espaço
Geográfico
3. Geomorfologia
Dinâmica
4. A
Construção da Cidadania pelo Ensino da Geografia
5. HAESBAERT,
Rogério; PORTO-GONÇALVES, Carlos W. A Nova Des-Ordem Mundial
6. KAERCHER,
Nestor André. Desafios E Utopias Do Ensino De Geografia
7. LACOSTE
Yves. Geografia do Subdesenvolvimento
8. História
da Evolução do Pensamento Geográfico
9. O
Pensamento Geográfico Brasileiro. A Geografia de Ruy Moreira E Moraes
10. Impactos
da Agricultura
11. Urbanização
e Metropolização Do Brasil
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Links:
> CASTROGIOVANNI, Antonio C. (Org.). ENSINO DE GEOGRAFIA. Práticas e textualizações no cotidiano. 3p
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CONCEITOS FUNDAMENTAIS DA GEOGRAFIA
Espaço: No senso comum o
espaço denota as estrelas, às distâncias de um lugar a outro, ou ainda, o
tamanho ocupado pelos objetos e pessoas. O espaço se constitui de diferentes
formas e estas, por sua vez, apresentam alguma relação com as pessoas que o
habitam. O exemplo disso é percebido a sua volta a partir da observação dos
elementos existentes na sua localidade, próximo a sua moradia, as ruas, as
avenidas, as casas, os prédios comerciais, residenciais e industriais os
quais apresentam serventia ao Homem. Pelas ruas nos deslocamos. As casas
servem de abrigo e moradia, os prédios podem conter lojas e indústrias e
nestes se encontram o local de trabalho de grande parte da população.
Você
já observou o formato de sua Escola? Certamente perceberá que é diferente dos
demais prédios da sua redondeza, mas isso acontece porque a Escola tem a
função de promover o aprendizado dos alunos. Encontramos ambientes como as
salas de aula, o ginásio de esportes, a cantina, a secretaria, a biblioteca e
o pátio.
Logo,
o espaço pode ser: social, econômico ou cultural, ligado às dimensões da
natureza e da sociedade. Apesar de se remeter a uma questão geométrica, a
partir do olhar humano, o espaço geográfico incorpora uma configuração
espacial passível de representação gráfica dos objetos geográficos.
Lugar: É onde as dinâmicas das relações dos
indivíduos são de proximidade e vivências diretas e, ainda, onde cada pessoa
busca as referências pessoais e constrói os seus sistemas de valores que
fundamentam a vida em sociedade. Portanto, o conceito de lugar está
relacionado à dimensão cultural e fortemente relacionado à identidade e ao
cotidiano. Com isso o conceito passa a ter forte grau de subjetividade,
reconhecendo seu conceito antagônico de não-lugar, como espaço criado e sem
identidade, como um shopping, um resort ou um aeroporto. Apesar da aparente
proximidade com a escala local, tal confusão dificulta a assimilação de tal
conceito. Local é uma escala geográfica de limite, mais ou menos definido,
está muito relacionado à questão de proximidade geográfica. O lugar, no
contexto da globalização, pode dar-se na escala local, mas também nas escalas
regionais, nacionais e globais.
Região: Os lugares são diferentes entre si,
cada qual com suas especificidades. Constituem-se por formas e funções
diversas. As regiões surgem a partir do agrupamento de lugares que possuem
características comuns naturais e culturais como, por exemplo, extensas
planícies fluviais cobertas de vegetação ombrófila, ou então, uma
significativa concentração de estabelecimentos comerciais e industriais.
Também é possível distinguir esses lugares por sua localização como, por
exemplo, quando a porção da cidade está em um dos extremos, denominando-as de
região Norte, Sul, Leste e Oeste. Dividir o espaço em regiões é bastante
útil, pois possibilita uma melhor administração dos dos recursos naturais e
humanos.
Paisagem: A paisagem se constitui a partir da
presença em diferentes escalas dos elementos naturais e culturais sobre os
quais a sociedade interage e cuja percepção permite a leitura do espectador a
partir dos princípios da semiótica, linguística, psicologia e sociologia, não
há uma escala determinada, aceitando percepções diferenciadas.
Território: Considera-se que são feições do
espaço geográfico que vão além do identificar limites e extensões. Compreende
também o conhecimento da sociedade de que a ele pertence, das razões que o
mantém coeso e das relações de poder, uma construção social. O território é
transitório e mutável, depende das relações e escalas temporais.
Rede: Novo conceito que na ordem mundial
estruturou uma organização que se configura em forma de malha, e resulta em
uma interconexão e aproximação entre todas as formas do Estado e do capital
financeiro. A mutabilidade do espaço imposto pela ordem do sistema
socioeconômico vigente – o Capitalismo - que na busca incessante por sua
continuidade se renova e se reinventa constantemente ao longo da história por
meio dos avanços técnico-científicos e pela ampliação da velocidade das
informações e da capacidade de transportes de mercadorias e de locomoção dos
indivíduos. Essa nova ordem socioeconômica possibilitou que o processo de
globalização alcançasse os mais distantes lugares do globo terrestre,
permitindo a transposição das fronteiras físicas e políticas por meio da
intensificação do fluxo mercantil, monetário e de capitais. Os espaços de
produção que se configuram nesta nova ordem, se inter-relacionam na
verticalidade com outros espaços numa ligação hierarquizada de
interdependência e que vincula, entre si, os arranjos em que se alocam os
equipamentos públicos e privados, a concentração das instituições políticas e
de prestação de serviços.
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ESPAÇO
GEOGRÁFICO
O espaço geográfico é aquele
que foi modificado pelo homem ao longo da história. Que contém um passado
histórico e foi transformado pela organização social, técnica e econômica
daqueles que habitaram ou habitam os diferentes lugares (“o espaço geográfico
é o palco das realizações humanas”).
Um
conceito bastante presente na geografia em geral, o espaço geográfico
apresenta definição bastante complexa e abrangente. Outros conceitos também
relacionados ao espaço geográfico, ou antes, que estão contidos nele são:
lugar, que é um conceito ligado a um local que nos é familiar ou que faz
parte de nossa vida, e paisagem que é a porção do espaço que nossa visão
alcança e é produto da percepção.
A
primeira definição de “espaço” foi feita pelo filósofo Aristóteles para o qual este era inexistência do vazio e lugar como
posição de um corpo entre outros corpos. Aristóteles ignorava o homem como
constituinte do espaço, contudo, ele já considerava um aspecto importante da
estrutura do espaço geográfico, a localização.
Mais
adiante, no século XVIII, Immanuel Kant define o espaço como sendo algo não
passível de percepção, porém, o que permite haver a percepção. Ou seja, Kant
introduziu a idéia de que o espaço é algo separado dos demais elementos
espaciais. Entretanto, suas idéias não permitem concebê-lo como algo
constituído de significado ou estrutura própria.
Mais
tarde, outros filósofos inserem o homem como um componente essencial para a
compreensão do espaço, com ser que cria e modifica espaços de acordo com suas
culturas e objetivos. Por último, seguiu-se a concepção filosófica de espaço
proposta por Maurice Merleau-Ponty: “O espaço não é o meio (real ou lógico)
onde se dispõe as coisas, mas o meio pelo qual a posição das coisas se torna
possível.”. Todas estas são concepções filosóficas do espaço que, entretanto,
diferem um pouco da concepção geográfica.
A
concepção geográfica de espaço que predominou de 1870 a meados de 1950,
embora este ainda não fosse considerado como objeto de estudo, foi a
introduzida por Ratzel e Hartshorne para os quais a concepção de “espaço
vital” se confundia com a de território a medida em que era atrelado à ele
uma relação de poder. Hatshorne usa o conceito de Kant, ou seja, para ele o
espaço em si não existe, o que existe são os fenômenos que se materializam
neste referencial. Aqui, espaço e tempo são desprezados.
A
partir de 1950 o espaço passa a ser associado à noção de “planície
isotrópica” (superfície plana com as mesmas propriedades físicas em todas as
direções, homogênea) sob a ação de mecanismos unicamente econômicos (uso da
terra, relações centro – periferia, etc.).
Em
1970 surge uma nova concepção atrelada à geografia crítica, que tem com base
os pensamentos marxistas e para a qual o espaço é definido como o locus da
reprodução das relações sociais de produção. Nesta concepção espaço e
sociedade estão intimamente ligados.
Mais
tarde surge uma nova concepção epistemológica para geografia que passa a
encarar o espaço como fenômeno materializado. Ou, nas palavras de ALVES
(1999), o espaço “é produto das relações entre homens e dos homens com a
natureza, e ao mesmo tempo é fator que interfere nas mesmas relações que o
constituíram. O espaço é, então, a materialização das relações existentes entre
os homens na sociedade.”.
Fontes
http://www.ub.es
http://www.ig.ufu.br
ALVES, Glória da Anunciação. Cidade, Cotidiano e
TV. In: CARLOS, A. F.(org.) A geografia na sala de aula. In: DUARTE, M. de B.
(et all) Reflexões sobre o espaço geográfico a partir da fenomenologia.
Revista eletrônica: Caminhos de Geografia 17 (16) 190-196. UFU, 2005.
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GEOMORFOLOGIA DINÂMICA
A superfície
terrestre não é plana nem uniforme em toda a sua extensão. Ao contrário,
caracteriza-se por elevações e depressões de diferentes formas (horizontais
ou tabulares, convexa, côncavas, angulares e escarpadas) que constituem seu
relevo. A Geomorfologia é a ciência que estuda as formas de relevo, sua
gênese, composição (materiais) e os processos que nelas atuam.
O relevo da
superfície terrestre é o resultado da interação da litosfera, atmosfera,
hidrosfera e biosfera, ou seja dos processos de troca de energia e matéria
que se desenvolvem nessa interface, no tempo e no espaço. No espaço, o relevo
varia da escala planetária (continentes e oceanos) à continental (cadeias de
montanhas, planaltos, depressões e grandes planícies) e à local (escaras,
morros, colinas, terraços, pequenas planícies etc.) No tempo, sua formação
varia da escala geológica àquela do homem.
A Geomorfologia está
dividida por áreas, são elas:
* Geomorfologia Sintética –
estudo dos diferentes tipos morfológicos resultantes
* Geomorfologia Dinâmica –
estudo dos processos que dão origem às diferentes formas de relevo: processos
internos (endógenos) + processos externos (exógenos).
* Geomorfologia Climática –
estudo da relação da diferentes formas de relevo com o clima
O presente trabalho
tem por objetivo apresentar a Geomorfologia Dinâmica, suas aplicações, e seus
objetos de estudo.
A morfogênese refere-se
à origem e ao desenvolvimento das formas de relevo, as quais são resultantes
da atuação dos processos endógenos e exógenos.
Os processos
endógenos têm origem no interior da Terra e manifestam-se por meio dos
movimentos sísmicos, do vulcanismo, do magmatismo intrusivo e do tectonismo.
Os processos exógenos são movimentos externos que atuam na superfície
da Terra destruindo elevações, construindo formas e preenchendo depressões.
Eles englobam o intemperismo físico (fragmentação das rochas), químico e bioquímico
(decomposição das rochas); a erosão (ou denudação), que se refere à remoção
do material intemperizado; a acumulação, o material removido e o transportado
pela erosão é depositado.
Os agentes dos
processos exógenos são a água e o gelo (ação mecânica e química), o vento, a
ação da gravidade, as alterações de temperatura, os organismos(fauna e flora)
e o homem.
Intemperismo
Processo de alteração
das rochas por fragmentação (intemperismo físico) e decomposição
(intemperismo químico e biológico). O intemperismo ocorre quando as rochas,
expostas à energia solar, à água pluvial e fluvial, ás ondas, ao gelo e ao
vento, são submetidas as novas condições de pressão, temperatura e umidade.
Dos três grandes grupos de rochas (ígneas ou magmáticas, metamórficas e
sedimentares), as de origem magmáticas e metamórfica constituem 95% do volume
total da crosta superior da Terra, mas ocupam apenas 25% de sua superfície.
As rochas
sedimentares (e metassedimentares) ocupam apenas 5% do volume, mas cobrem 75%
da superfície da crosta. A resistência das rochas ao intemperismo está
relacionada principalmente com o seu grau de coesão. O material decomposto
(intemperizado), localizado sobre a rocha matriz, que não sofreu transporte
nem processo de edafização, é denominado regolito.
O solo é a camada
superficial da crosta terrestre suficientemente intemperizada por processos
físicos, químicos e biológicos (pedogênese) para suportar o crescimento das
plantas com raízes. Sua espessura pode variar de alguns centímetros a vários
metros. Os perfis dos solos desenvolvidos compreendem três horizontes
principais: A, B, C, o último dos quais corresponde ao regolito.
Erosão
Esse termo engloba a
remoção e o transporte de material intemperizado. Os tipos de processos
erosivos mais importantes, principalmente em áreas de clima tropical úmido,
como ocorre em grande parte do Brasil, são: erosão pluvial, resultante da
ação da água da chuva, erosão fluvial gerada pela ação das águas dos rios e
movimentos de massa que é o desprendimento e transporte de solo e/ou material
rochoso vertente abaixo, pela atuação da gravidade e da água, basicamente. O
deslocamento do material ocorre em diferentes escalas e velocidade, variando
de lento (rastejamento) a movimentos rápidos, deslizamentos e tombamentos.
Parte da água da
chuva cai diretamente no solo, outra é interceptada pela cobertura vegetal,
podendo retornar à atmosfera pela evaporação ou chegar ao solo. A parte da
água do ciclo hidrológico que chega ao solo diretamente pelo impacto das
gotas, ou indiretamente, após ser interceptada pela vegetação, é a que vai
participar da erosão pluvial.
De acordo com Guerra,
Silva e Botelho (1999), o processo erosivo realizado pela ação da água
pluvial, pode ser dividido nos seguintes estágios:
Salpicamento (splash): ocorre a partir do momento em que as gotas de
chuva batem no solo e podem causar a remoção ou ruptura dos agregados,
selando o topo do solo, e a conseqüente formação de crostas.
Formação de poças
(ponds): poças são formadas na superfície (nas pequenas depressãoes) à medida
que o solo torna-se saturado com a infiltração da água. È o estágio que
antecede o escoamento superficial.
Escoamento
superficial (runoff): è o responsável pelos processos erosivos de superfície.
A água que se acumula nas depressões do terreno começa a escoar pelas
vertentes quando o solo está saturado, e as poças não conseguem mais conter a
água.
Inicialmente o fluxo
é difuso, provocando a erosão laminar. O fluxo linear é o estágio seguinte,
quando começa uma concentração do fluxo de água. O desenvolvimento de
microrravinas é o terceiro estágio da evolução do escoamento superficial. O
quarto estágio é a formação de microrravinas com cabeceiras. As ravinas
tendem a evoluir por meio de bifurcações em pontos de ruptura (knickpoints),
e novas ravinas são formadas.
Finalmente, as
ravinas podem evoluir para processos erosivos de maior proporção: as
voçorocas. De acordo com o Instituto de Pesquisas Tecnológicas – IPT (1989),
até 50 cm de largura e profundidade são consideradas ravinas, acima de 50cm
de largura e
As cabeceiras de
drenagem e mananciais são áreas particularmente suscetíveis à erosão.
As voçorocas tendem a
se estabelecer nessas áreas, onde ocorre a denominada erosão regressiva ou
remontante.
A erosão por ravinas
e voçorocas é causada por vários mecanismos que atuam em diferentes escalas
temporais e espaciais. Derivam de rotas de fluxos de água que podem ocorrer
na superfície: escoamento subsuperficial.
O escoamento
subsuperficial refere-se ao movimento lateral da água na subsuperfície, nas
camadas superiores do solo. Ele controla o intemperismo e afeta diretamente a
erodibilidade dos solos, influenciando no transporte de minerais em solução.
Quando o escoamento ocorre em fluxos concentrados, em túneis ou dutos,
ele provoca o colapso da superfície situada acima, resultando na formação de
voçorocas.
Erosão fluvial
Os rios são poderosos
agentes geomorfológicos capazes de erodir, transportar e depositar
sedimentos. Todo material erodido pelo rio e por ele transportado compõe a
sua carga, que pode ser dissolvida, em suspensão e do leito. A carga
dissolvida é formada pelos íons e moléculas derivados do intemperismo químico
e da decomposição dos componentes biogênicos presentes na água.
A composição da carga
dissolvida depende de vários fatores ambientais, entre os quais, clima,
geologia, relevo e cobertura vegetal da bacia em que se insere o rio. Rios
alimentados por água que atravessam pântanos, em geral, são ricos em
substâncias orgânicas dissolvidas.
A carga em suspensão
consiste de partículas sólidas, orgânicas e inorgânicas. A partículas
inorgânicas em suspensão geralmente são formadas por siltes e argilas, cuja
dimensão e peso permitem que sejam mantidos suspensos pela turbulência e
pelos vórtices.
Partículas de areia
também podem ser mantidas em suspensão por correntes fortes, por pequenos
períodos de tempo.
A erosão dos canais e
leitos fluviais pode ocorrer por meio de três diferentes processos: corrosão,
abrasão e cavitação.
O processo de
corrosão se dá por intemperismo químico resultante do contato da água com o
canal e o leito fluvial. O processo de abrasão representa a ação mecânica da
água que ao se mover sobre o leito e dentro do canal, remove as camadas já
intemperizadas.
O processo de
cavitação ocorre em canais cujas correntes estão sujeitas a grande
velocidade, tais como nos trechos de corredeiras e quedas d’água. Nesse
processo a ação erosiva se dá pela ação de ondas produzidas por bolhas
formadas pelas mudanças de pressão no volume de água.
Os rios podem erodir
seus canais verticalmente, aprofundando o talvegue, ou lateralmente,
alargando o canal. O processo de aprofundamento do canal é denominado erosão
vertical e o de ampliação da largura do leito, erosão lateral.
A erosão vertical dos
canais aluviais ocorre quando há a remoção de areias e cascalhos do leito
fluvial. Nos canais escavados em rochas, a erosão vertical ocorre pela
abrasão imposta pela carga do leito.
A erosão lateral
ocorre quando as margens do canal são removidas, geralmente por solamento
basal e colapso.
Movimento de Massa
Os desastres naturais
constituem hoje um dos grandes problemas socioeconômicos do mundo. Dentre os
fenômenos que mais se destacam, podemos citar os terremotos, as inundações e
os movimentos de massa.
O Brasil, devido às
condições climáticas com intensas chuvas de verão e geomorfólogicas, com
grandes maciços montanhosos, está muito suscetível à ocorrência dos
movimentos de massa. Além da
frequência elevada desses movimentos, em razão das condições naturais, ocorre
também um grande número de acidentes associados a atuação antrópica nas
vertentes.
Com relação às
atividades antrópicas em áreas urbanas, a que mais preocupa é a ocupação
irregular das encostas, com o consequente desmatamento e o corte de taludes,
propiciando uma maior suscetibilidade à ocorrência dos movimentos de massa.
Os movimentos de
massa podem ter diversas classificações, devido à grande variedade de
materiais, processos e fatores condicionantes apud (Fernandes; Amaral, 1996).
De acordo com Selby (1993), as classificações seguem como critérios de
diferenciação: o tipo de material mobilizado, a velocidade e o mecanismo do
movimento, o modo de deformação, a geometria da massa movimentada e o
conteúdo de água.
Entre as diferentes
classificações, podemos destacar as propostas por Sharpe (1938),
Carson e Kirkby (1972), Varnes (1978) e Sassa(1989). No Brasil,
destacam-se as desenvolvidas por Guidicini e Nieble (1984) e IPT (1991), que
classificam os movimentos de massa em: quedas de blocos, subsidências,
escorregamentos (translacionais e rotacionais) e escoamentos (rastejos e
corridas).
As quedas de blocos
podem ser divididas em quedas de rocha ou de solo. São movimentos rápidos em
queda livre pela ação da gravidade e típicos de áreas muito íngremes
(Guidicini; Nieble, 1984). Nas áreas onde esse tipo de movimento ocorre,
normalmente existe a presença de fraturas nos paredões rochosos ou há um
desgaste na base da encosta, o que provoca a queda superior do bloco. Além
disso, descontinuidades e/ou alívios de tensão poderão ocasionar quedas.
As subsidências são
movimentos em que o deslocamento da massa normalmente é vertical, com uma
componente horizontal nula ou praticamente. Esse fenômeno pode ter origem
natural (epirogenia e falhamentos) ou antrópica, pela retirada de material
subterrâneo, como: água, petróleo, gás e minério.
Os escorregamentos
caracterizam-se como processos que ocorrem de forma rápida, com um plano de
ruptura definido, o qual separa o material escorregado do não movimentado.
Eles podem ser divididos em dois tipos; os rotacionais e os translacionais.
Os escorregamentos
rotacionais são caracterizados por possuírem uma superfície de ruptura curva,
côncava, que desloca normalmente uma grande quantidade de material de forma
rotacional. Esse tipo de escorregamento está muito vinculado a regiões com
formações de pacotes de solo bem desenvolvidos. Seu início, muitas vezes,
vincula-se ao desgaste natural da base da encosta, devido ao sistema fluvial
ou, então, ao desenvolvimento de condições artificiais, como por exemplo, o
corte da encosta para a construção de estradas.
Os escorregamentos
translacionais são caracterizados por apresentarem, um plano de ruptura
abrupto, bem definido, planar, e por serem um movimento de curta duração.
Esses movimentos ocorrem durante chuvas intensas, quando é elevada a
poropressão em uma superfície
de descontinuidade. A poro-pressão positiva da água no plano de ruptura
altera a estabilidade da encosta, reduzindo a tensão cisalhante do solo e a
tensão normal. A ruptura ou a instabilidade da encosta vão depender di
equilíbrio entre as forças estabilizadoras e desestabilizadoras.
Os escoamentos são
movimentos contínuos e não apresentam necessariamente uma superfície
definida. Eles podem ser divididos de acordo com sua velocidade, em lentos
(rastejo) e rápidos (corrida de massa)
Os rastejos são
movimentos muito lentos e contínuos, que ocorrem nas vertentes, sem limites
definidos. Podem envolver grande quantidade de material, cuja movimentação
normalmente é provocada pela ação da gravidade.
As corridas de massa
são caracterizadas por movimentos rápidos, nos quais, os materiais se
comportam como fluidos altamente viscosos. Esses movimentos mobilizam um
expressivo volume de material (inclusive grandes blocos de rochas) em um
curto período de tempo, com grande velocidade e capacidade de transporte, o
qual alcança grandes distâncias. Esse tipo de movimentos ocorre, em geral, em
locais onde há uma abundância de material facilmente mobilizável por meio da
adição de água. Essas condições são comumente encontradas especialmente nos
setores côncavos das encostas.
Acumulação
Refere-se a deposição
do material removido e transportado pelos agentes da erosão.
As principais feições
de relevo resultantes da acumulação da água pluvial são os tálus e os cones
de dejeção.
O tálus é formado de
fragmentos de rochas removidos e depositados na base da vertente, resultantes
de movimentos de massa antigos, e serve de fonte para novos movimentos de
massa quando desestabilizados, principalmente por elevada pluviosidade.
O cone de dejeção é
um depósito de material detrítico grosseiro na base da vertente. Resultante
de escoamento concentrado em canais temporários ou por torrentes, tem forma
cônica, abrindo em leque para a jusante, e o eixo é coincidente com a linha
de Com base na morfogênese, as formas de relevo são classificadas de acordo
com os processos que lhes deram origem. Desse modo, as formas de relevo podem
ser de origem: estrutural (tectônica), vulcânica, denudacional, fluvial,
lacustre, marinha, glacial, eólica, cárstica, biológica e antropogênica.
Há cerca de 4,5
bilhões de anos, os gases e a poeira que constituiriam o sistema solar
começaram, pela força da gravidade, a se separar e se aglutinar, formando os
planetas e o Sol. Posteriormente (4 bilhões de anos), formou-se, pela
diferenciação dos elementos mais pesados, o núcleo da Terra, com 3.700Km de
diâmetro, constituído predominantemente por ferro e níquel.
Ao seu redor, desenvolveu-se o manto, com espessura de 2.900 km,
constituído predominantemente por silício e magnésio. Finalmente, há cerca de
3,7 bilhões de anos, solidificou-se a crosta, uma camada superficial cobrindo
todo o planeta. A crosta diferenciou-se em oceânica (ou simática), com cerca
de 7 km de espessura e composição predominantemente basáltica, e continental
(ou siáltica), com 30 km – 40 km de espessura média e formada por rochas
félsicas e ultamáficas.
As crostas oceânica e
continental, com a parte superior do manto, formam uma camada rígida com
100km a 350 km de espessura, denominada litosfera. Abaixo, ainda no manto
superior, ocorre a astenosfera, que apresenta condições de temperatura e
pressão que permitem certa mobilidade das placas em escala do tempo
geológico.
Uma placa tectônica é
uma porção de litosfera limitada por zonas de convergência, zonas de
subducção e zonas conservativas. Atualmente, a Terra tem sete placas
tectónicas principais e muitas mais sub-placas de menores dimensões.
Segundo a teoria da
tectónica de placas, as placas tectónicas são criadas nas zonas de
divergência, ou "zonas de rifte", e são consumidas em zonas de
subducção. É nas zonas de fronteira entre placas que se regista a grande
maioria dos terramotos e erupções vulcânicas. São atualmente reconhecidas 52
placas tectónicas, 14 principais e 38 menores.
Limites convergentes,
zonas de convergência ou limites destrutivos são áreas de convergência das
placas tectónicas que passam a se tangenciar como consequência de movimentos
convergentes horizontais que ocorrem entre si denominados de movimentos
orogénicos (do grego oros: montanha e gene: criação); tais movimentos ocorrem
em virtude da diferença de calor e pressão que ocorre na astenosfera fazendo
com que as placas, que sobre ela flutuam, se movam.
Como resposta ao
atrito em tais áreas, verifica-se não só uma profunda instabilidade sísmica
como também, em muitas vezes, a presença de fendas inter-tectónicas que
possibilitam o extravazamento de magma (astenosfera) para o meio externo.
Tipos de limites convergentes
Os limites
convergentes entre diferentes placas tectónicas podem ocorrer em três
situações distintas. Num limite oceânico-oceânico, a convergência dá-se entre
duas porções de crosta oceânica; se é um limite oceânico-continental, a
convergência dá-se entre uma zona da crosta oceânica e uma zona da crosta
continental; por último, o limite continental, ocorre convergência entre duas
porções de crosta continental.
Limite oceânico-oceânico
Quando duas zonas da
crusta oceânica convergem ocorre geralmente subducção da fracção mais densa
(correspondente à mais antiga). A zona subductada é a primeira a sofrer
metamorfismo devido aos elevados aumentos de pressão e temperatura. Como
nesta situação a pressão aumenta mais rapidamente que a temperatura, o
principal mecanismo de metamorfização é a desidratação, que resulta na
libertação de fluidos. Estes fluidos ascendem ao manto não subductado onde
vão contribuir para um aumento da pressão, que vai diminuir o ponto de fusão
dos peridotitos (rochas mantélicas, essencialmente constituídas por olivina,
clino e ortopiroxena), que fundem parcialmente, originando magmas basálticos.
Durante a ascensão, o
magma pode sofrer diferenciação e formar rochas ígneas de diferentes
composições, desde básicas, intermédias e ácidas, embora estes casos sejam
excepções, devido à pouca espessura da crusta oceânica, pelo que as rochas
que aqui se encontram são geralmente básicas. Estes fenómenos de vulcanismo
podem resultar na formação de ilhas oceânicas em arcos insulares, como é o
caso do Japão.
Limite oceânico-continental
Quando a colisão
ocorre entre uma placa oceânica e uma placa continental, geralmente a placa
oceânica (mais densa) mergulha sob a placa continental, formando uma zona de
subducção. Tal como no caso anterior,
existe metamorfismo de alta pressão e temperaturas intermédias, pelo que
ocorre ascensão de fluidos que contribuem para a fusão parcial dos
peridotitos originando, tal como no caso anterior, magmas basálticos.
A crosta continental
é bem mais espessa que a oceânica e, a quando a subducção, pode ocorrer
dobramento da crosta continental que sofre um espessamento acompanhado por
metamorfismo regional. Nas zonas mais profundas da crusta continental pode
ocorrer fusão parcial, da qual resultam magmas graníticos.
Estes podem
misturar-se com os magmas basálticos (formados a maior profundidade) e com os
intermédios (formados por diferenciação magmática), pelo que nestas zonas
pode existir uma grande diversidade química e litológica de vulcanismo e
plutonismo (formação de rochas ígneas em profundidade).
Nestes limites
formam-se arcos magmáticos continentais, ou arcos vulcânicos, ocorrendo
sempre orogenia, como no caso dos Andes na América do Sul (encontro das Placa
Sul-americana e a de Placa de Nazsca).
Limite continental-continental
Neste tipo de limite
ocorre a colisão entre duas porções de crusta continental. Como ambas placas
possuem baixa densidade não existe propriamente subducção (ou é mínima),
juntando-se as duas placas que se dobram e deformam, ocorrendo
invariavelmente orogenia.
À semelhança dos
limites oceano-continente, todas as associações vulcânicas e plutónicas são
possíveis, embora exista uma predominância de rochas graníticas. É este o
processo que está na origem dos Himalaias, resultando da colisão das placas
indiana e euroasiática.
Limite divergente
Um limite divergente
ocorre em encontros de placas tectônicas que se movem em direções e sentidos
opostos, sendo assim, há adição de material magmático à crosta terrestre
neste ponto. Um exemplo de limite de placas divergente é o encontro entre a
placa Sulamericana e a placa Africana no meio do Oceano Atlântico. O material
adicionado forma o assoalho oceânico e provoca o afastamento das duas placas
em questão. Este tipo de limite entre placas está muitas as vezes associado à
dorsal meso-oceânica.
A superfície do
planeta Terra é constituída por irregularidades, que são chamadas de relevos.
Existem irregularidades tanto no continente quanto no fundo dos oceanos,
denominados respectivamente de relevo continental e submarino. O relevo é um
dos elementos naturais que mais se destacam na paisagem, embora uns mais do
que outros. Diante das afirmações, os tipos de relevo são: planaltos, cadeias
de montanhas, depressões e planícies.
Planaltos: relevo constituído por irregularidades (de forma
ondulada), grande parte dos casos localizados em altitudes superiores a 300
metros acima do nível do mar. São considerados planaltos: serras escarpas e
chapadas. Um dos aspectos particulares desse tipo de relevo é que o mesmo
libera sedimentos para as áreas mais aplainadas ou baixas, favorecendo o
surgimento de depressões e de planícies.
Cadeias de montanhas: são formadas por um conjunto de montanhas
que se encontram aglomeradas em uma região. As mesmas possuem grandes
altitudes, bem superiores em relação aos outros tipos de relevos
continentais, além de serem bastante acidentadas com encostas íngremes. Em
razão dessa característica, as cadeias de montanhas sofrem freqüentemente com
os processos erosivos proporcionados pela ação do vento, água e gelo. As
cadeias de montanhas ou cordilheiras abastecem de sedimentos as áreas ao seu
redor.
Depressões: relevo caracterizado pelo rebaixamento repentino do
relevo, ou seja, corresponde a uma área com altitude mais baixa que as áreas
que circundam. As depressões são classificadas em dois tipos: depressão
relativa (que apresenta altitude mais baixa que as áreas ao redor, mas estão
acima do nível do mar) e absoluta (se apresenta abaixo no nível do mar). As
depressões geralmente são planas, em razão dos processos erosivos aos quais
se sujeitaram ao longo de milhares de anos.
Planícies: tipo de relevo caracterizado por apresentar uma
superfície bastante plana, oriunda da sedimentação provocada por processos
erosivos ocorridos em pontos mais elevados. É bom ressaltar que existem
planícies em diversas altitudes, no entanto, a maioria se encontra em
elevações modestas em relação ao nível do mar.
O ciclo das rochas
representa as diversas possibilidades de transformação de um tipo de rocha em
outro. As setas que interligam as rochas ígneas, sedimentares e metamórficas
indicam processos relacionados à dinâmica geológica da crosta terrestre.
Os continentes se
originaram ao longo do tempo geológico pela transferência de materiais menos
densos do manto para a superfície terrestre. As rochas, uma vez expostas à
atmosfera e à biosfera passam a sofrer a ação do intemperismo, através de
reações de oxidação, hidratação, solubilização, ataques por substâncias
orgânicas, variações diárias e sazonais de temperatura, entre outras. O
intemperismo faz com que as rochas percam sua coesão, sendo erodidas,
transportadas e depositadas em depressões onde, após a diagênese, passam a
constituir as rochas sedimentares.
A cadeia de processos de formação de rochas sedimentares pode atuar
sobre qualquer rocha (ígnea, metamórfica, sedimentar) exposta à superfície da
Terra. Devido à deriva dos continentes, as rochas podem ser levadas a
ambientes muito diferentes daqueles onde elas se formaram. Qualquer tipo de
rocha (ígnea, sedimentar, metamórfica) que sofra a ação de, por exemplo,
altas pressões e temperaturas, sofre as transformações mineralógicas e
texturais, tornando-se uma rocha metamórfica. Se as condições de metamorfismo
forem muito intensas, as rochas podem se fundir, gerando magmas que, ao se
solidificar, darão origem a novas rochas ígneas.
O ciclo das rochas
existe desde os primórdios da história geológica da Terra e, através dele, a
crosta de nosso planeta está em constante transformação e evolução.
Rochas ígneas
As rochas ígneas (do
latim ignis, fogo), também conhecidas como rochas magmáticas, são formadas
pela solidificação (cristalização) de um magma, que é um líquido com alta
temperatura, em torno de 700 a 1200oC, proveniente do interior da Terra.
Magmas cristalizados
a grandes profundidades no interior da crosta esfriam lentamente, possibilitando
que seus cristais se desenvolvam até atingir tamanhos visíveis a olho nu
(>> 1 m). Rochas ígneas deste tipo são denominadas rochas plutônicas
(p. ex. granito). Nos vulcões, o magma (lava) atinge a superfície da crosta e
entra em contato com a temperatura ambiente, resfriando-se muito rapidamente.
Como a solidificação é praticamente instantânea, os cristais não têm tempo
para se desenvolver, sendo portanto muito pequenos, invisíveis a olho nu
(<<1mm). Rochas deste tipo são denominadas rochas vulcânicas (p. ex.
basalto).
Quando o magma se
cristaliza muito próximo à superfície, mas ainda no interior da crosta, o
resfriamento é um pouco mais lento que o das rochas vulcânicas, permitindo
que os cristais sejam visíveis a olho nu, embora ainda de tamanho pequeno
(~1mm). Rochas deste tipo são denominadas rochas sub-vulcânicas (p. ex.
diabásio).
Rochas sedimentares
As rochas
sedimentares são o produto de uma cadeia de processos que ocorrem na
superfície do planeta e se iniciam pelo intemperismo das rochas expostas à
atmosfera.
As rochas
intemperizadas perdem sua coesão e passam a ser erodidas e transportadas por
diferentes agentes (água, gelo, vento, gravidade), até sua sedimentação em
depressões da crosta terrestre, denominadas bacias sedimentares. A transformação
dos sedimentos inconsolidados (p. ex. areia) em rochas sedimentares (p. ex.
arenito) é denominada diagênese, sendo causada por compactação e
cristalização de materiais que cimentam os grãos dos sedimentos. As rochas
sedimentares fornecem importantes informações sobre as variações ambientais
ao longo do tempo geológico. Os fósseis, que são vestígios de seres vivos
antigos preservados nestas rochas, são a chave para a compreensão da origem e
evolução da vida.
A importância
econômica das rochas sedimentares está em suas reservas de petróleo, gás
natural e carvão mineral, as principais fontes de energia do mundo moderno.
As rochas
sedimentares formadas pela acumulação de fragmentos de minerais ou de rochas
intemperizadas são denominadas rochas clásticas ou detríticas (p. ex.
arenito). Existem também rochas sedimentares formadas pela precipitação de
sais a partir de soluções aquosas saturadas (p. ex. evaporito) ou pela
atividade de organismos em ambientes marinhos (p. ex. calcário), sendo
denominadas rochas não-clásticas ou químicas.
Rochas metamórficas
O metamorfismo pode ocorrer também ao longo de planos de deslocamentos
de grandes blocos de rocha (alta pressão) ou nas imediações de grandes
volumes de magmas, devido à dissipação de calor (alta temperatura).
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A
Construção da Cidadania pelo Ensino da Geografia
O ato
de ensinar Geografia nos coloca diante de duas discussões importantes: a
primeira refere-se à relação ensino e aprendizagem enquanto tal, e a segunda
diz respeito à própria Geografia, fonte e objeto de uma gama muito particular
de discussões, principalmente no que se refere a seus pressupostos
teórico-metodológicos.
No
ensino de Geografia deve-se considerar a realidade no seu conjunto: o espaço
é dinâmico e sofre alterações em função da ação do homem, e este é um sujeito
que faz parte do processo histórico. Portanto, o aluno deve ser orientado no
sentido de perceber-se como elemento ativo do seu processo histórico.
A
nossa ação enquanto educadores está relacionada com os nossos objetivos
pedagógicos e educacionais. Se quisermos uma educação que contribua para o
desenvolvimento da criança, devemos atuar no processo de ensino e
aprendizagem, na perspectiva da construção do conhecimento, refletindo sobre
a realidade vivida pelo aluno, respeitando e considerando a sua história de
vida e contribuindo para que o aluno entenda seu papel na sociedade: o de
cidadão.
Esta
reflexão aponta-nos na direção da articulação entre conteúdo específico e o
processo de ensino e aprendizagem, isto é, a concepção que temos de Geografia
deve estar relacionada com a concepção de Educação.
E como
isso deve ser feito? Podemos pensar que a contribuição da Geografia para a
formação do aluno está na compreensão que ele terá da realidade. Ao estudar o
espaço geográfico, por exemplo, o aluno refletirá sobre a análise da dinâmica
social, a dinâmica da natureza e a relação que existe entre os seres humanos
e a natureza. A compreensão da realidade está vinculada à forma como a
aprendizagem está acontecendo.
Desta
forma, o aluno analisará a interferência humana no espaço como fruto do
trabalho na organização espacial através do tempo. E assim, se posicionará de
forma crítica diante dos acontecimentos ocorridos na paisagem. A discussão
sobre o ensino de Geografia passa pela avaliação do conteúdo e pela
construção de conceitos e noções a partir do espaço de vivência da criança,
pois é desde o momento em que nascemos que construímos a noção de espaço.
Jean
Piaget averiguou a formação das noções espaciais e temporais, das noções de
número, de longitude, de quantidades físicas, de praticamente de quase todas
as categorias cognoscitivas, das mais simples até as mais complexas e desde o
nascimento até a adolescência. Estes estudos permitem-nos entender como o
sujeito aprende e forma o seu conhecimento.
No
processo da construção da noção espacial, o desenvolvimento da imagem que a
criança forma está relacionada com a representação que ela tem do espaço em
que vive. A imagem e a percepção estão associadas à educação visual que ela
recebeu. Podemos ter como exemplo, a representação que uma criança ou
qualquer pessoa pode fazer do trajeto casa-escola ou de um lugar qualquer da
cidade onde mora. Como será que essas pessoas percebem o espaço vivido, ou
como será que as pessoas imaginam o espaço de um lugar que elas não conhecem?
As
crianças percebem que a cidade tem certa complexidade na sua estrutura: é
dinâmica, possui velocidade e reestrutura-se em função das necessidades dos
seres humanos. Percebem também, um espaço de contradições, de transformações
e de conflitos, mas também é um espaço ao mesmo tempo desorganizado e
poético.
Para
ensinar Geografia com essas concepções, precisamos avaliar os conteúdos
desenvolvidos nas escolas, e isto significa refletir também sobre os
currículos mínimos no ensino fundamental e médio. Finalmente, apesar da
individualidade que a ciência geográfica traz na discussão sobre espaço,
devemos ter presente a importância de colocá-la na perspectiva de uma
discussão interdisciplinar.
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HAESBAERT, Rogério; PORTO-GONÇALVES,
Carlos Walter.
A NOVA DES-ORDEM MUNDIAL
Neste
começo de século, assistimos a uma reformulação de fronteiras
e influências político-econômicas no mundo. Essa nova forma de
organização mundial, baseada na existência de redes, fluxos e
conexões, exige mudanças no método geográfico
tradicional de agrupar e separar territórios. O livro A
nova des-ordem mundial apresenta propostas para entender a
estrutura do espaço contemporâneo sob as dimensões econômica, política,
cultural e ambiental e tece as causas dessa reconfiguração territorial
com base em argumentos históricos.
Segundo os
autores do livro, os geógrafos Rogério Haesbaert e Carlos Walter
Porto-Gonçalves, os conceitos básicos de estudo da geografia vêm
mudando por causa de uma série de acontecimentos que, nos
últimos 15 anos, alteraram os rumos da humanidade. Para eles, o melhor
exemplo para representar essa reformulação mundial seria o
fato de que, enquanto as torres gêmeas do World Trade Center
foram derrubadas nos Estados Unidos em 2001, as torres Petronas
permanecem firmes em Kuala Lumpur, capital da Malásia, o que, de forma
simbólica, revela a ascensão de um novo poder no Oriente. A
tarefa de reorganizar as regiões do planeta em função dessas
mudanças para fins de estudo torna-se então o grande desafio da
geografia pós-moderna.
Haesbaert e
Porto-Gonçalves afirmam no livro que a hegemonia do Ocidente e o pensamento
moderno são incompreensíveis sem o conceito de colonização. No
entanto, o mecanismo de exploração da Ásia e da África iniciado
pelos europeus com a expansão marítima e comercial mudou a partir da Primeira
Guerra Mundial. A busca por novas fontes de matéria-prima e
mercados consumidores impulsionada pelo imperialismo gerou uma nova
ordem, encabeçada pela Europa, pelos Estados Unidos e pelo Japão. Enquanto o
comércio internacional crescia no início do século 20, a África, a Ásia e a
América Latina viviam devastações ecológicas e sociais, por causa da
nova divisão internacional do trabalho, que atribuiu aos países “centrais” a
produção de tecnologia e a exploração dos recursos naturais e da
mão-de-obra dos países “periféricos”. Essa geografia imperialista regeu o
mundo por muito tempo, até o período em que os teóricos
chamam de Pós-modernidade.
Essa nova era
é marcada pelo advento da globalização e da internet, que permitiu maior
integração internacional e criou um novo espaço público, o “território-mundo”,
composto de uma sociedade mundial que compartilha os
mesmos valores. A integração cada vez maior dos Estados e a
soberania de um país através de um grupo – situação
que os geógrafos chamam de capitalismo globalmente integrado –
são demonstradas pela força dos blocos econômicos – como a União
Europeia –, que estabelecem uma concorrência acirrada entre si para
manter a influência sobre seus parceiros comerciais. Nesse processo,
interesses econômicos e políticos se mesclam o tempo todo.
No livro, os
autores identificam um novo movimento de regionalização
do espaço contemporâneo a partir de redes integradas
ilegais de poder, como o tráfico de drogas e o terrorismo
globalizado – por exemplo, a rede árabe Al Qaeda –, e de
organizações não-governamentais (ONGs). Estas seriam talvez as melhores
indicadoras da desordem na organização do território, por não atuarem
em uma base específica. Segundo Haesbaert e Porto-Gonçalves, a
existência dessas organizações civis comprova a crise do Estado, que não
exerce o seu papel político em causas sociais.
O
uso de termos mais complexos, além de referências
constantes a teóricos, podem vir a confundir o leitor que não está habituado
à linguagem acadêmica. No entanto, os próprios avanços e retrocessos do
texto, bem amarrado pelos autores, transmitem a ideia principal do livro: a
reconfiguração dos territórios devido a mudanças nas
relações de poder e ao hibridismo cultural.
http://cienciahoje.uol.com.br/resenhas/um-momento-de-desordem-mundial/?searchterm=Um%20momento%20de%20desordem%20mundial
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KAERCHER, Nestor
André.
Desafios e utopias do ensino de Geografia
Resumo: Nestor André Kaercher nos brinda com uma
reflexão muito bonita a respeito do ato de ser professor. Isso pode parecer
ultrapassado e, para alguns, até não tem mais sentido a construção de
projetos impregnados de sonhos e utopias. Compreender como os jovens,
"esses moços" como diria Lupicínio Rodrigues aprendem cidadania,
através do ensinar geografia, foi sem dúvida, um desafio que o autor
enfrentou com uma saudável e harmoniosa combinação entre as suas genuínas
experiências de ser mestre de escola secundária; de uma formação qualificada
na área de geografia; na autoria de um texto criativo, provocador e poético e
por uma crença firme e, ao mesmo tempo, inconformada de contribuir para um
projeto de marca "emancipatória". Neste livro, fruto de urna
dissertação de mestrado cuja pesquisa de campo foi realizada com muita
competência, emergem as categorias de cotidiano e estrutura tão presente no
cenário político e acadêmico de nossos dias. A compreensão da geografia
relacional que Nestor desenvolve ao longo de sua reflexão vai oportunizando
ao leitor como seu projeto pedagógico se concretiza no espaço da sala de
aula. Certamente estamos diante de uma reflexão plena de ia-quietações que
podem provocar aquilo que Miguel Arroyo diz: "isto são pistas" para
que os educadores percorrem em suas próprias práticas. Nas entrelinhas
poderemos encontrar algumas sugestões que o autor nos fornece a respeito do
"como" fazer isto ou aquilo. As mediações entre as reflexões feitas
pelo Nestor e o seu vivido devem representar uma leitura "ativa" de
seu trabalho. O irrequieto professor nos propõe isso. Eu diria, sem medo, o
autor conseguiu, freireanamente, propor uma dialogicidade que sai do texto e
vai para a vida porque dela partiu. Nilton Bueno Fischer
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A Geografia
surgiu na Antiga Grécia, sendo no começo chamada de história natural ou
filosofia natural. Por que na Grécia ?
Grande parte do mundo ocidental conhecido era dominada pelos gregos, em
especial o leste do Mediterrâneo. Sempre interessados em descobrir novos
territórios de domínio e atuação comercial, era fundamental que conhecessem o
ambiente físico e os fenômenos naturais.
Métodos No
século IV a.C., os gregos observavam o planeta como um todo. Através de
estudos filosóficos e observações astronômicas, Aristóteles foi o primeiro a
receber crédito ao conceituar a Terra como uma esfera.
O Pai da
Geografia Em sua especulação sobre o formato da Terra, Strabo acabou
escrevendo um obra de 17 volumes, ?Geographicae?, onde descrevia suas próprias
experiências do mundo da Galícia e Bretanha para a Índia, e do Mar Negro à
Etiópia. Apesar de alguns erros e omissões em sua obra, Strabo acabou
tornando-se o pai de geografia regional.
Herdeiros da
Geografia: Os gregos deixaram para as futuras gerações escritos que contavam
a sua vivência geográfica. Estudos feitos acerca do rio Nilo, no Egito,
detalhavam, entre outras coisas, seu período de cheia anual.
Com o colapso
do Império Romano, os grandes herdeiros da geografia grega foram os árabes. Muitos
trabalhos foram traduzidos do grego para o árabe. Ocorreram, no entanto, a
partir daí, algumas regressões: após o ano de 900 d.C., as indicações de
latitude e longitude já não apareciam mais nos mapas. Expansão árabe: Os árabes acabaram
recuperando e aprofundando o estudo da geografia, e já no século XII,
Al-Idrisi apresentaria um sofisticado sistema de classificação climática. Em
suas viagens à África e à Ásia, outro explorador árabe, Ibn Battuta,
encontrou a evidência concreta de que, ao contrário do que afirmara
Aristóteles, as regiões quentes do mundo eram perfeitamente habitáveis.
Geografia no Século XV Já no século XV,
viajantes como Bartolomeu Dias e Cristóvão Colombo redescobririam o interesse
pela exploração, pela descrição geográfica e pelo mapeamento. A confirmação
do formato global da Terra veio quinze anos mais tarde, em uma viagem de
circunavegação realizada pelo navegador português Fernando Magalhães,
permitindo uma maior precisão das medidas e observações.
A Geografia no
Século XIX e XX - Possibilismo e Determinismo No século XIX, cientistas como
Alexander Von Humboldt (1769-1859), Karl Ritter (1779-1859) e Friedrich
Ratzel (1844-1904), da Escola alemã, elaboraram trabalhos desenvolvendo
princípios metodológicos da Geografia. Isso a torna uma ciência explicativa e
não mais apenas reduzida à tarefa da descrição.
Ratzel, no
final do século XIX, considerou a influência exercida pelas condições
naturais na vida do ser humano como objeto de estudo da Geografia. A partir
daí, originou-se o ?determinismo geográfico?, ou Escola Determinista,
influenciada pelas teorias de Lamarck e de Darwin.
Através de sua
obra ?Antropogeografia?, Ratzel defende que as leis regedoras da história
humana são as mesmas que regem as espécies vegetais e animais. Conforme esse
autor, ?o homem é produto do meio geográfico em que vive? e o meio natural
exerce uma ação dominadora sobre o homem, o qual deve se submeter àquele
meio.
Obs: O
pensamento determinista geográfico foi, em parte, responsável pelas teorias
de superioridade racial surgidas nos séculos XIX e XX e, também, serviu de
base para a expansão do capitalismo neocolonial nos séculos XVIII e XIX.
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A Geografia de Ruy Moreira e Moraes
Com o acontecimento histórico das revoluções
burguesa e industrial, durante os séculos XVII, XVIII e XIX, abriu-se espaço
para os pensadores da época que no passado eram reprimidos por estados
autoritários. Tal acontecimento deixou a Alemanha fora desse cenário, que
teve que correr contra o tempo, para ganhar espaço e influência, sua
principal arma seria o desenvolvimento das tecnologias geográficas.
Nesse
contexto surgem Kant, que introduz as primeiras concepções sobre a geografia
física. Surge também Karl Ritter, que vem transformar o método coreográfico
de Kant, que era simplesmente baseado na descrição e classificação taxonômica
e propõe a geografia que compara as paisagens duas a duas, portanto, baseada
na conceituação e explicação. Outro nome importante nesse período de
sistematização da geografia é Humboldt, que vem a ganhar espaço na sociedade
de sua época usando as geografias de Ritter e Kant.
Depois
de algum tempo em que a geografia permaneceu fora das grandes discussões
científicas, ressurge o método positivista, que visa organizar e sistematizar
os conhecimentos científicos.
Surge ainda, a geografia clássica, que somente
depois das “especificações” de áreas de estudos como a geologia e a
meteorologia, se organiza. É justamente nesse período em que o mundo passa
pelos mais rápidos processos de avanço histórico, coincidindo com o
surgimento dos grandes nomes que sistematizaram a geografia moderna e, que
hoje geram discussões entre os críticos.
Ratzel
fica fora das discussões de Ruy Moreira devido sua pouca importância na
geografia brasileira, segundo o mesmo. Considerando como berço da geografia
brasileira as geografias francesa e norte americana. No entanto Moraes,
identifica a geografia alemã como importante para o “mundo colonizado”,
portanto para o Brasil, uma vez que essa forma de análise da geografia está
voltada para as expansões territoriais. Sem falar que Ratzel é considerado o
fundador da geografia humana, quando publica o livro antropogeografia, no
qual Ratzel define o objeto da geografia como sendo o estudo da influencia
que as condições naturais exercem sobre a humanidade.
O geógrafo alemão, ainda, elabora conceitos
como espaço vital e ideias naturalistas que vieram a servir de base para
muitos dos geógrafos norte americanos como Ellem Sample que levou as ideias
de Ratzel ao seu país. Vale salientar ainda a influência que Ratzel marcou na
fundação da geopolítica e da ecologia e, da própria antropogeografia que
ainda hoje são de grande importância nos estudos por todo o mundo. Ainda é
necessário identificar a geografia alemã como a instigadora da geografia
francesa, que por sua vez influencia na origem da brasileira, como mencionado
anteriormente.
Como
podemos perceber daqui por diante, Ruy Moreira tenta enxergar as escolas
geográficas de cada país como o conjunto formado por aqueles geógrafos que
nela influenciaram, dando ênfase ao seu fundador direto, enquanto percebemos
que a análise de Moraes se volta mais especificamente para o fundador em si.
No que discerne à geografia francesa Ruy Moreira
identifica Reclus, Vidal de La Blache e Brunhes como seus grandes nomes.
Reclus vem discutir o homem como um ser componente da natureza, mas racional,
que determina seu espaço e tempo. Vidal de La Blache trata dos mesmos temas
de Reclus, no entanto se dispõe a uma análise mais conservadora e concreta.
Brunhes apresenta-se como discípulo de La Blache e, portanto compartilha muito
das ideias do mesmo, sendo atribuído a ele a introdução do método dialético
na geografia, que contrapõe as contradições do meio.
Moraes considera a geografia francesa como um mecanismo surgido para combater
os pensamentos de Ratzel, coloca ainda a geografia de La Blache como sendo
mais liberal que a de Ratzel, que se apresentava como autoritária e de
imposição, nesse contexto Vidal defendia que as questões políticas deviam ser
tratadas abertamente na sociedade, defendia ainda que o interessante para a geografia
consiste no “resultado da ação humana na natureza, e não esta em si mesma”.
Enquanto a geografia de Ratzel via o objeto da
geografia como sendo a relação entre a influência da natureza sobre o homem,
Vidal considera a relação entre homem-natureza, na perspectiva da paisagem
(ou seja, a natureza influencia e não determina a condição do homem e este
por sua vez a adéqua às suas necessidades).
Assim podemos perceber que o possibilismo francês
é tratado por Ruy Moreira como uma das escolas clássicas geográficas,
enquanto Moraes prefere ver o possibilismo como uma característica do
pensamento de La Blache.
Ruy
Moreira considera Max Sorre como sendo o intermediário entre os pensadores
mencionados anteriormente com George e Tricart, dando grande importância a
geografia clássica, voltando seus temas para a geografia ecológica e criando
as técnicas científicas.
Pierre George estudou o espaço e a relação das
sociedades com este. Jean Tricart baseia seus estudos na geomorfologia, e
geografia humana, portanto também se dedicava a geografia como um todo, dava
atenção à relação homem-meio, na perspectiva ambiental-integralizada.
Moraes
não dá tanta ênfase a Sorre, George e Tricart, talvez por acreditar que eles
não influenciaram tanto nas origens da geografia brasileira, uma vez que eles
voltaram-se a desenvolver o pensamento dos primeiros geógrafos clássicos,
além do fato de que nesse momento a geografia ganha novos rumos com
Hartshorne, que irá influenciar mais diretamente na geografia brasileira.
O
norte-americano Hartshorne aparece na visão de Ruy Moreira como sendo o
“sintetizador” da geografia clássica, analisando a geografia desde seus
fundadores como Kant, na perspectiva de que são as características de
determinada área que a difere das demais.
Já
na visão de Moraes, o americano Hartshorne é tido como aquele que resgatou o
pensamento do alemão Hettner, contemporâneo do possibilismo, mas acreditava
no objeto da geografia como sendo a inter-relação dos elementos no espaço,
observando as “variações de áreas”. A geografia de Hartshorne apresentava
caráter geral e “explicitamente metodológica”.
Moraes,
assim como Ruy Moreira, identificou o desejo que Hartshorne tinha em manter
as idéias e a importância da geografia clássica, mas que, esta deveria
modernizar-se. Ruy Moreira se dedica ainda a mostrar a influência das
geografias tradicionais na geografia atual, resultando nas geografias
setoriais.
Com toda essa comparação entre as análises
de Ruy Moreira e Moraes podemos identificar que as principais características
que os diferem consistem na maior consideração da influencia histórica por
Moraes no processo de construção do conhecimento geográfico, enquanto Ruy
Moreira prefere considerar como maior peso na caracterização das escolas
geográficas o espaço em que essa está presente, além de voltar-se mais
especificamente para aquelas que influenciaram mais diretamente a geografia
brasileira.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
MORAES, Antônio Carlos Robert. Geografia Pequena História Crítica. São Paulo: Hucitec, 1998. p. MOREIRA, Ruy. O pensamento geográfico brasileiro. São Paulo: Contexto, 2008. Vol.1. |
A produção de alimentos é um dos
maiores desafios do mundo moderno. A agricultura hoje produz alimentos para
uma população estimada em 6,5 bilhões de pessoas em todo o planeta.
O crescimento populacional
excessivo tem feito com que o ser humano consuma quase tudo aquilo que o
planeta tem para oferecer. Com uma população tão grande, é quase utópico
imaginarmos uma produção de alimentos suficiente e sem impacto algum.
Os impactos causados pelo ser
humano são muitos, mas é possível reduzi-los. O ideal é que daqui a algum
tempo, os nossos estudos e pesquisas consigam descobrir uma forma de produzir
alimentos de forma eficiente e sem impactos no meio-ambiente.
Impactos
gerados pela agricultura:
Para que possamos buscar solução
aos problemas do mundo moderno, precisamos conhecer ao menos os maiores
impactos causados pela atividade de maior impacto no meio-ambiente: a
agricultura. Por isso, nós listamos aqui alguns dos principais impactos da
agricultura:
Desmatamento – a derrubada
de matas originais, inevitável devido ao crescimento populacional demasiado,
vem sendo a causa dos maiores impactos ambientais.
Erosão – é a perda
de solo causada pela associação do uso incorreto do solo associado com as
chuvas e ventos. Essa perda está retirando todas as camadas superiores do
solo, chegando até as rochas, tornando o solo não-agricultável. Além disso, a
terra que escorre com as chuvas, soterra rios e lagos, comprometendo sua
vazão e qualidade da água.
Perda de biodiversidade – as espécies
formadas durante muitos milhares de anos estão simplesmente desaparecendo com
o desmatamento. Essas espécies podem ser necessárias para a produção de
medicamentos no futuro.
Esgotamento da água doce – muito se
enganam os que pensam que o consumo doméstico gera os maiores gastos de água.
Mais de 60% da água doce é utilizada na irrigação de campos agrícolas.
Poluição atmosférica – por mais
que a produção de material vegetal capture carbono da atmosfera, o carbono
liberado por atividades relacionadas supera a quantidade capturada. Esse
carbono é liberado pela queima de diesel dos tratores, produção de
fertilizantes e defensivos agrícolas, além da decomposição de restos de
cultura.
Poluição de águas – o uso
descontrolado de adubos e defensivos agrícolas vem causando sérios problemas
de contaminação de águas por resíduos e materiais lixiviados no solo, que
podem causar problemas inclusive com a eutrofização e contaminação de águas
potáveis.
Desertificação – O uso
inadequado do solo, hoje liderado pela produção de gado e outros animais, vem
desgastando os solos de forma espantosa, tornando-os quase totalmente
inférteis. Isso vem fazendo com que quase nenhuma planta consiga sobreviver
em muitas dessas áreas, tornando-as desertas. Esse processo, infelizmente, é
irreversível.
Destruição de mananciais – o avanço da
agricultura sobre as matas nativas causa destruição das nascentes, por
soterramento, impermeabilização, entre outros fatores.
Geração de resíduos – a produção
animal é uma das maiores causas da geração de resíduos, principalmente devido
às fezes animais geradas em animais criados em confinamento. As fezes dos
porcos (chamadas de chorume de porco), as fezes de frango (chamadas de cama
de frango), entre outras, estão dentre as principais poluidoras de ambientes
rurais. Existem muitos outros impactos ambientais que a agricultura, assim
como toda permanência do homem, causa. Conhecendo esses problemas, busquem
novas soluções para nosso futuro. O nosso planeta depende disso.
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As questões sociais também são
ecológicas. É notório o agravamento das mazelas sociais nos países
subdesenvolvidos, inclusive no Brasil.
São comuns noticias que enfocam os
problemas ambientais dos moradores de cidades grandes como São Paulo.
Esses dramas atingem com maior
intensidade as camadas mais carentes da população, que, quase sempre
confinadas em favelas, cortiços e bairros carentes, sofrem com a constante
escassez de água, deslizamentos de encostas e transbordamentos de rios e
córregos.
Por que as camadas sociais mais
pobres são mais atingidas por esses problemas?
Porque o modelo de ocupação do espaço urbanização reproduz o modelo excludente de desenvolvimento socioeconômico global. Em outras palavras, a infraestrutura privilegia os bairros mais abastados em detrimento dos mais carentes. Isso ocorre porque os elementos básicos para a sobrevivência, como água potável, escola, moradia, hospitais e transporte, são concebidos como fontes de lucro.
Desse modo, as empresas
concessionárias de serviços públicos não têm interesse em levar energia
elétrica e telefone a bairros carentes, cujos moradores não possuem recursos
para pagar pelo uso desses serviços.
Ou seja, a lógica do lucro
espraia-se para serviços básicos, que deveriam ser garantidos universalmente.
O mesmo se aplica à casa própria, pois a moradia deve ser considerada um
direito básico de todo cidadão. No entanto a moradia também é mercadoria, que
deve ser adquirida mediante compra. Isso
gera especulação imobiliária, que lança os pobres para a periferia, onde
cresce uma verdadeira cidade informal, geralmente não mapeada, dotada de
precária infraestrutura e ocupada pela população de baixa renda, desassistida
pelos órgãos públicos.
Essa cidade informal geralmente
ocupa, de forma indiscriminada, áreas ambientais frágeis, como encostas de
morros e margens dos rios, que jamais deveriam ser urbanizadas.
É preciso reverter essa lógica
perversa, que cria duas cidades: a informal, retratada acima, geralmente não
mapeadas pelos órgãos públicos, e a formal, localizada em áreas mais
centrais, dotadas de melhor infraestrutura, como saneamento básico, e
assistida pelos serviços públicos. Mesmo porque a perpetuação desse modelo de
ocupação urbana é insustentável a médio e a longo prazo: até quando a
natureza irá suportar esse descaso para com a água por exemplo? A remoção da
vegetação original em áreas íngremes acelera a erosão, que, por sua vez,
provoca ao mesmo tempo assoreamento e menor vazão dos rios, multiplicando os
casos de inundações. Essas, por sua vez, são agravadas pela impermeabilização
do solo, que resulta da urbanização caótica, fenômeno que não preserva nem
mesmo as várzeas dos rios.
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