terça-feira, 10 de maio de 2016

Geografia - Artigos


1.   Conceitos Fundamentais da Geografia
2.   Espaço Geográfico
3.   Geomorfologia Dinâmica
4.   A Construção da Cidadania pelo Ensino da Geografia
5.   HAESBAERT, Rogério; PORTO-GONÇALVES, Carlos W. A Nova Des-Ordem Mundial
6.   KAERCHER, Nestor André. Desafios E Utopias Do Ensino De Geografia
7.   LACOSTE Yves.   Geografia do Subdesenvolvimento
8.   História da Evolução do Pensamento Geográfico
9.   O Pensamento Geográfico Brasileiro. A Geografia de Ruy Moreira E Moraes
10. Impactos da Agricultura
11. Urbanização e Metropolização Do Brasil


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CONCEITOS FUNDAMENTAIS DA GEOGRAFIA
Espaço: No senso comum o espaço denota as estrelas, às distâncias de um lugar a outro, ou ainda, o tamanho ocupado pelos objetos e pessoas. O espaço se constitui de diferentes formas e estas, por sua vez, apresentam alguma relação com as pessoas que o habitam. O exemplo disso é percebido a sua volta a partir da observação dos elementos existentes na sua localidade, próximo a sua moradia, as ruas, as avenidas, as casas, os prédios comerciais, residenciais e industriais os quais apresentam serventia ao Homem. Pelas ruas nos deslocamos. As casas servem de abrigo e moradia, os prédios podem conter lojas e indústrias e nestes se encontram o local de trabalho de grande parte da população.
     Você já observou o formato de sua Escola? Certamente perceberá que é diferente dos demais prédios da sua redondeza, mas isso acontece porque a Escola tem a função de promover o aprendizado dos alunos. Encontramos ambientes como as salas de aula, o ginásio de esportes, a cantina, a secretaria, a biblioteca e o pátio.
     Logo, o espaço pode ser: social, econômico ou cultural, ligado às dimensões da natureza e da sociedade. Apesar de se remeter a uma questão geométrica, a partir do olhar humano, o espaço geográfico incorpora uma configuração espacial passível de representação gráfica dos objetos geográficos.
     Lugar: É onde as dinâmicas das relações dos indivíduos são de proximidade e vivências diretas e, ainda, onde cada pessoa busca as referências pessoais e constrói os seus sistemas de valores que fundamentam a vida em sociedade. Portanto, o conceito de lugar está relacionado à dimensão cultural e fortemente relacionado à identidade e ao cotidiano. Com isso o conceito passa a ter forte grau de subjetividade, reconhecendo seu conceito antagônico de não-lugar, como espaço criado e sem identidade, como um shopping, um resort ou um aeroporto. Apesar da aparente proximidade com a escala local, tal confusão dificulta a assimilação de tal conceito. Local é uma escala geográfica de limite, mais ou menos definido, está muito relacionado à questão de proximidade geográfica. O lugar, no contexto da globalização, pode dar-se na escala local, mas também nas escalas regionais, nacionais e globais.
     Região: Os lugares são diferentes entre si, cada qual com suas especificidades. Constituem-se por formas e funções diversas. As regiões surgem a partir do agrupamento de lugares que possuem características comuns naturais e culturais como, por exemplo, extensas planícies fluviais cobertas de vegetação ombrófila, ou então, uma significativa concentração de estabelecimentos comerciais e industriais. Também é possível distinguir esses lugares por sua localização como, por exemplo, quando a porção da cidade está em um dos extremos, denominando-as de região Norte, Sul, Leste e Oeste. Dividir o espaço em regiões é bastante útil, pois possibilita uma melhor administração dos dos recursos naturais e humanos.
     Paisagem: A paisagem se constitui a partir da presença em diferentes escalas dos elementos naturais e culturais sobre os quais a sociedade interage e cuja percepção permite a leitura do espectador a partir dos princípios da semiótica, linguística, psicologia e sociologia, não há uma escala determinada, aceitando percepções diferenciadas.
     Território: Considera-se que são feições do espaço geográfico que vão além do identificar limites e extensões. Compreende também o conhecimento da sociedade de que a ele pertence, das razões que o mantém coeso e das relações de poder, uma construção social. O território é transitório e mutável, depende das relações e escalas temporais.
     Rede: Novo conceito que na ordem mundial estruturou uma organização que se configura em forma de malha, e resulta em uma interconexão e aproximação entre todas as formas do Estado e do capital financeiro. A mutabilidade do espaço imposto pela ordem do sistema socioeconômico vigente – o Capitalismo - que na busca incessante por sua continuidade se renova e se reinventa constantemente ao longo da história por meio dos avanços técnico-científicos e pela ampliação da velocidade das informações e da capacidade de transportes de mercadorias e de locomoção dos indivíduos. Essa nova ordem socioeconômica possibilitou que o processo de globalização alcançasse os mais distantes lugares do globo terrestre, permitindo a transposição das fronteiras físicas e políticas por meio da intensificação do fluxo mercantil, monetário e de capitais. Os espaços de produção que se configuram nesta nova ordem, se inter-relacionam na verticalidade com outros espaços numa ligação hierarquizada de interdependência e que vincula, entre si, os arranjos em que se alocam os equipamentos públicos e privados, a concentração das instituições políticas e de prestação de serviços.



ESPAÇO GEOGRÁFICO
            O espaço geográfico é aquele que foi modificado pelo homem ao longo da história. Que contém um passado histórico e foi transformado pela organização social, técnica e econômica daqueles que habitaram ou habitam os diferentes lugares (“o espaço geográfico é o palco das realizações humanas”).
            Um conceito bastante presente na geografia em geral, o espaço geográfico apresenta definição bastante complexa e abrangente. Outros conceitos também relacionados ao espaço geográfico, ou antes, que estão contidos nele são: lugar, que é um conceito ligado a um local que nos é familiar ou que faz parte de nossa vida, e paisagem que é a porção do espaço que nossa visão alcança e é produto da percepção.
            A primeira definição de “espaço” foi feita pelo filósofo Aristóteles para o qual este era inexistência do vazio e lugar como posição de um corpo entre outros corpos. Aristóteles ignorava o homem como constituinte do espaço, contudo, ele já considerava um aspecto importante da estrutura do espaço geográfico, a localização.
            Mais adiante, no século XVIII, Immanuel Kant define o espaço como sendo algo não passível de percepção, porém, o que permite haver a percepção. Ou seja, Kant introduziu a idéia de que o espaço é algo separado dos demais elementos espaciais. Entretanto, suas idéias não permitem concebê-lo como algo constituído de significado ou estrutura própria.
            Mais tarde, outros filósofos inserem o homem como um componente essencial para a compreensão do espaço, com ser que cria e modifica espaços de acordo com suas culturas e objetivos. Por último, seguiu-se a concepção filosófica de espaço proposta por Maurice Merleau-Ponty: “O espaço não é o meio (real ou lógico) onde se dispõe as coisas, mas o meio pelo qual a posição das coisas se torna possível.”. Todas estas são concepções filosóficas do espaço que, entretanto, diferem um pouco da concepção geográfica.
            A concepção geográfica de espaço que predominou de 1870 a meados de 1950, embora este ainda não fosse considerado como objeto de estudo, foi a introduzida por Ratzel e Hartshorne para os quais a concepção de “espaço vital” se confundia com a de território a medida em que era atrelado à ele uma relação de poder. Hatshorne usa o conceito de Kant, ou seja, para ele o espaço em si não existe, o que existe são os fenômenos que se materializam neste referencial. Aqui, espaço e tempo são desprezados.
            A partir de 1950 o espaço passa a ser associado à noção de “planície isotrópica” (superfície plana com as mesmas propriedades físicas em todas as direções, homogênea) sob a ação de mecanismos unicamente econômicos (uso da terra, relações centro – periferia, etc.).
            Em 1970 surge uma nova concepção atrelada à geografia crítica, que tem com base os pensamentos marxistas e para a qual o espaço é definido como o locus da reprodução das relações sociais de produção. Nesta concepção espaço e sociedade estão intimamente ligados.
            Mais tarde surge uma nova concepção epistemológica para geografia que passa a encarar o espaço como fenômeno materializado. Ou, nas palavras de ALVES (1999), o espaço “é produto das relações entre homens e dos homens com a natureza, e ao mesmo tempo é fator que interfere nas mesmas relações que o constituíram. O espaço é, então, a materialização das relações existentes entre os homens na sociedade.”.
Fontes
http://www.ub.es
http://www.ig.ufu.br
ALVES, Glória da Anunciação. Cidade, Cotidiano e TV. In: CARLOS, A. F.(org.) A geografia na sala de aula. In: DUARTE, M. de B. (et all) Reflexões sobre o espaço geográfico a partir da fenomenologia. Revista eletrônica: Caminhos de Geografia 17 (16) 190-196. UFU, 2005.
GEOMORFOLOGIA DINÂMICA
            A superfície terrestre não é plana nem uniforme em toda a sua extensão. Ao contrário, caracteriza-se por elevações e depressões de diferentes formas (horizontais ou tabulares, convexa, côncavas, angulares e escarpadas) que constituem seu relevo. A Geomorfologia é a ciência que estuda as formas de relevo, sua gênese, composição (materiais) e os processos que nelas atuam.
            O relevo da superfície terrestre é o resultado da interação da litosfera, atmosfera, hidrosfera e biosfera, ou seja dos processos de troca de energia e matéria que se desenvolvem nessa interface, no tempo e no espaço. No espaço, o relevo varia da escala planetária (continentes e oceanos) à continental (cadeias de montanhas, planaltos, depressões e grandes planícies) e à local (escaras, morros, colinas, terraços, pequenas planícies etc.) No tempo, sua formação varia da escala geológica àquela do homem.
            A Geomorfologia está dividida por áreas, são elas:
* Geomorfologia Sintética – estudo dos diferentes tipos morfológicos resultantes
* Geomorfologia Dinâmica – estudo dos processos que dão origem às diferentes formas de relevo: processos internos (endógenos) + processos externos (exógenos).
* Geomorfologia Climática – estudo da relação da diferentes formas de relevo com o clima
            O presente trabalho tem por objetivo apresentar a Geomorfologia Dinâmica, suas aplicações, e seus objetos de estudo.
            A morfogênese refere-se à origem e ao desenvolvimento das formas de relevo, as quais são resultantes da atuação dos processos endógenos e exógenos.
            Os processos endógenos têm origem no interior da Terra e manifestam-se por meio dos movimentos sísmicos, do vulcanismo, do magmatismo intrusivo e do tectonismo.
Os processos exógenos são movimentos externos que atuam na superfície da Terra destruindo elevações, construindo formas e preenchendo depressões. Eles englobam o intemperismo físico (fragmentação das rochas), químico e bioquímico (decomposição das rochas); a erosão (ou denudação), que se refere à remoção do material intemperizado; a acumulação, o material removido e o transportado pela erosão é depositado.
            Os agentes dos processos exógenos são a água e o gelo (ação mecânica e química), o vento, a ação da gravidade, as alterações de temperatura, os organismos(fauna e flora) e o homem.
Intemperismo
            Processo de alteração das rochas por fragmentação (intemperismo físico) e decomposição (intemperismo químico e biológico). O intemperismo ocorre quando as rochas, expostas à energia solar, à água pluvial e fluvial, ás ondas, ao gelo e ao vento, são submetidas as novas condições de pressão, temperatura e umidade. Dos três grandes grupos de rochas (ígneas ou magmáticas, metamórficas e sedimentares), as de origem magmáticas e metamórfica constituem 95% do volume total da crosta superior da Terra, mas ocupam apenas 25% de sua superfície.
            As rochas sedimentares (e metassedimentares) ocupam apenas 5% do volume, mas cobrem 75% da superfície da crosta. A resistência das rochas ao intemperismo está relacionada principalmente com o seu grau de coesão. O material decomposto (intemperizado), localizado sobre a rocha matriz, que não sofreu transporte nem processo de edafização, é denominado regolito.
            O solo é a camada superficial da crosta terrestre suficientemente intemperizada por processos físicos, químicos e biológicos (pedogênese) para suportar o crescimento das plantas com raízes. Sua espessura pode variar de alguns centímetros a vários metros. Os perfis dos solos desenvolvidos compreendem três horizontes principais: A, B, C, o último dos quais corresponde ao regolito.
            Erosão
            Esse termo engloba a remoção e o transporte de material intemperizado. Os tipos de processos erosivos mais importantes, principalmente em áreas de clima tropical úmido, como ocorre em grande parte do Brasil, são: erosão pluvial, resultante da ação da água da chuva, erosão fluvial gerada pela ação das águas dos rios e movimentos de massa que é o desprendimento e transporte de solo e/ou material rochoso vertente abaixo, pela atuação da gravidade e da água, basicamente. O deslocamento do material ocorre em diferentes escalas e velocidade, variando de lento (rastejamento) a movimentos rápidos, deslizamentos e tombamentos.
            Parte da água da chuva cai diretamente no solo, outra é interceptada pela cobertura vegetal, podendo retornar à atmosfera pela evaporação ou chegar ao solo. A parte da água do ciclo hidrológico que chega ao solo diretamente pelo impacto das gotas, ou indiretamente, após ser interceptada pela vegetação, é a que vai participar da erosão pluvial.
            De acordo com Guerra, Silva e Botelho (1999), o processo erosivo realizado pela ação da água pluvial, pode ser dividido nos seguintes estágios:
Salpicamento (splash): ocorre a partir do momento em que as gotas de chuva batem no solo e podem causar a remoção ou ruptura dos agregados, selando o topo do solo, e a conseqüente formação de crostas.
            Formação de poças (ponds): poças são formadas na superfície (nas pequenas depressãoes) à medida que o solo torna-se saturado com a infiltração da água. È o estágio que antecede o escoamento superficial.
            Escoamento superficial (runoff): è o responsável pelos processos erosivos de superfície. A água que se acumula nas depressões do terreno começa a escoar pelas vertentes quando o solo está saturado, e as poças não conseguem mais conter a água.
            Inicialmente o fluxo é difuso, provocando a erosão laminar. O fluxo linear é o estágio seguinte, quando começa uma concentração do fluxo de água. O desenvolvimento de microrravinas é o terceiro estágio da evolução do escoamento superficial. O quarto estágio é a formação de microrravinas com cabeceiras. As ravinas tendem a evoluir por meio de bifurcações em pontos de ruptura (knickpoints), e novas ravinas são formadas.
profundidade, são denominadas voçorocas
            Finalmente, as ravinas podem evoluir para processos erosivos de maior proporção: as voçorocas. De acordo com o Instituto de Pesquisas Tecnológicas – IPT (1989), até 50 cm de largura e profundidade são consideradas ravinas, acima de 50cm de largura e
            As cabeceiras de drenagem e mananciais são áreas particularmente suscetíveis à erosão.
            As voçorocas tendem a se estabelecer nessas áreas, onde ocorre a denominada erosão regressiva ou remontante.
            A erosão por ravinas e voçorocas é causada por vários mecanismos que atuam em diferentes escalas temporais e espaciais. Derivam de rotas de fluxos de água que podem ocorrer na superfície: escoamento subsuperficial.
            O escoamento subsuperficial refere-se ao movimento lateral da água na subsuperfície, nas camadas superiores do solo. Ele controla o intemperismo e afeta diretamente a erodibilidade dos solos, influenciando no transporte de minerais em solução.
Quando o escoamento ocorre em fluxos concentrados, em túneis ou dutos, ele provoca o colapso da superfície situada acima, resultando na formação de voçorocas.
            Erosão fluvial
            Os rios são poderosos agentes geomorfológicos capazes de erodir, transportar e depositar sedimentos. Todo material erodido pelo rio e por ele transportado compõe a sua carga, que pode ser dissolvida, em suspensão e do leito. A carga dissolvida é formada pelos íons e moléculas derivados do intemperismo químico e da decomposição dos componentes biogênicos presentes na água.
            A composição da carga dissolvida depende de vários fatores ambientais, entre os quais, clima, geologia, relevo e cobertura vegetal da bacia em que se insere o rio. Rios alimentados por água que atravessam pântanos, em geral, são ricos em substâncias orgânicas dissolvidas.
            A carga em suspensão consiste de partículas sólidas, orgânicas e inorgânicas. A partículas inorgânicas em suspensão geralmente são formadas por siltes e argilas, cuja dimensão e peso permitem que sejam mantidos suspensos pela turbulência e pelos vórtices.
            Partículas de areia também podem ser mantidas em suspensão por correntes fortes, por pequenos períodos de tempo.
            A erosão dos canais e leitos fluviais pode ocorrer por meio de três diferentes processos: corrosão, abrasão e cavitação.
            O processo de corrosão se dá por intemperismo químico resultante do contato da água com o canal e o leito fluvial. O processo de abrasão representa a ação mecânica da água que ao se mover sobre o leito e dentro do canal, remove as camadas já intemperizadas.
            O processo de cavitação ocorre em canais cujas correntes estão sujeitas a grande velocidade, tais como nos trechos de corredeiras e quedas d’água. Nesse processo a ação erosiva se dá pela ação de ondas produzidas por bolhas formadas pelas mudanças de pressão no volume de água.
            Os rios podem erodir seus canais verticalmente, aprofundando o talvegue, ou lateralmente, alargando o canal. O processo de aprofundamento do canal é denominado erosão vertical e o de ampliação da largura do leito, erosão lateral.
            A erosão vertical dos canais aluviais ocorre quando há a remoção de areias e cascalhos do leito fluvial. Nos canais escavados em rochas, a erosão vertical ocorre pela abrasão imposta pela carga do leito.
            A erosão lateral ocorre quando as margens do canal são removidas, geralmente por solamento basal e colapso.
Movimento de Massa
            Os desastres naturais constituem hoje um dos grandes problemas socioeconômicos do mundo. Dentre os fenômenos que mais se destacam, podemos citar os terremotos, as inundações e os movimentos de massa.
            O Brasil, devido às condições climáticas com intensas chuvas de verão e geomorfólogicas, com grandes maciços montanhosos, está muito suscetível à ocorrência dos movimentos de massa.             Além da frequência elevada desses movimentos, em razão das condições naturais, ocorre também um grande número de acidentes associados a atuação antrópica nas vertentes.
            Com relação às atividades antrópicas em áreas urbanas, a que mais preocupa é a ocupação irregular das encostas, com o consequente desmatamento e o corte de taludes, propiciando uma maior suscetibilidade à ocorrência dos movimentos de massa.
            Os movimentos de massa podem ter diversas classificações, devido à grande variedade de materiais, processos e fatores condicionantes apud (Fernandes; Amaral, 1996). De acordo com Selby (1993), as classificações seguem como critérios de diferenciação: o tipo de material mobilizado, a velocidade e o mecanismo do movimento, o modo de deformação, a geometria da massa movimentada e o conteúdo de água.
            Entre as diferentes classificações, podemos destacar as propostas por Sharpe (1938),
Carson e Kirkby (1972), Varnes (1978) e Sassa(1989). No Brasil, destacam-se as desenvolvidas por Guidicini e Nieble (1984) e IPT (1991), que classificam os movimentos de massa em: quedas de blocos, subsidências, escorregamentos (translacionais e rotacionais) e escoamentos (rastejos e corridas).
            As quedas de blocos podem ser divididas em quedas de rocha ou de solo. São movimentos rápidos em queda livre pela ação da gravidade e típicos de áreas muito íngremes (Guidicini; Nieble, 1984). Nas áreas onde esse tipo de movimento ocorre, normalmente existe a presença de fraturas nos paredões rochosos ou há um desgaste na base da encosta, o que provoca a queda superior do bloco. Além disso, descontinuidades e/ou alívios de tensão poderão ocasionar quedas.
            As subsidências são movimentos em que o deslocamento da massa normalmente é vertical, com uma componente horizontal nula ou praticamente. Esse fenômeno pode ter origem natural (epirogenia e falhamentos) ou antrópica, pela retirada de material subterrâneo, como: água, petróleo, gás e minério.
            Os escorregamentos caracterizam-se como processos que ocorrem de forma rápida, com um plano de ruptura definido, o qual separa o material escorregado do não movimentado. Eles podem ser divididos em dois tipos; os rotacionais e os translacionais.
            Os escorregamentos rotacionais são caracterizados por possuírem uma superfície de ruptura curva, côncava, que desloca normalmente uma grande quantidade de material de forma rotacional. Esse tipo de escorregamento está muito vinculado a regiões com formações de pacotes de solo bem desenvolvidos. Seu início, muitas vezes, vincula-se ao desgaste natural da base da encosta, devido ao sistema fluvial ou, então, ao desenvolvimento de condições artificiais, como por exemplo, o corte da encosta para a construção de estradas.
            Os escorregamentos translacionais são caracterizados por apresentarem, um plano de ruptura abrupto, bem definido, planar, e por serem um movimento de curta duração.
Esses movimentos ocorrem durante chuvas intensas, quando é elevada a poropressão em uma             superfície de descontinuidade. A poro-pressão positiva da água no plano de ruptura altera a estabilidade da encosta, reduzindo a tensão cisalhante do solo e a tensão normal. A ruptura ou a instabilidade da encosta vão depender di equilíbrio entre as forças estabilizadoras e desestabilizadoras.
            Os escoamentos são movimentos contínuos e não apresentam necessariamente uma superfície definida. Eles podem ser divididos de acordo com sua velocidade, em lentos (rastejo) e rápidos (corrida de massa)
            Os rastejos são movimentos muito lentos e contínuos, que ocorrem nas vertentes, sem limites definidos. Podem envolver grande quantidade de material, cuja movimentação normalmente é provocada pela ação da gravidade.
            As corridas de massa são caracterizadas por movimentos rápidos, nos quais, os materiais se comportam como fluidos altamente viscosos. Esses movimentos mobilizam um expressivo volume de material (inclusive grandes blocos de rochas) em um curto período de tempo, com grande velocidade e capacidade de transporte, o qual alcança grandes distâncias. Esse tipo de movimentos ocorre, em geral, em locais onde há uma abundância de material facilmente mobilizável por meio da adição de água. Essas condições são comumente encontradas especialmente nos setores côncavos das encostas.
            Acumulação
            Refere-se a deposição do material removido e transportado pelos agentes da erosão.
            As principais feições de relevo resultantes da acumulação da água pluvial são os tálus e os cones de dejeção.
            O tálus é formado de fragmentos de rochas removidos e depositados na base da vertente, resultantes de movimentos de massa antigos, e serve de fonte para novos movimentos de massa quando desestabilizados, principalmente por elevada pluviosidade.
maior competência do fluxo
            O cone de dejeção é um depósito de material detrítico grosseiro na base da vertente. Resultante de escoamento concentrado em canais temporários ou por torrentes, tem forma cônica, abrindo em leque para a jusante, e o eixo é coincidente com a linha de Com base na morfogênese, as formas de relevo são classificadas de acordo com os processos que lhes deram origem. Desse modo, as formas de relevo podem ser de origem: estrutural (tectônica), vulcânica, denudacional, fluvial, lacustre, marinha, glacial, eólica, cárstica, biológica e antropogênica.
            Há cerca de 4,5 bilhões de anos, os gases e a poeira que constituiriam o sistema solar começaram, pela força da gravidade, a se separar e se aglutinar, formando os planetas e o Sol. Posteriormente (4 bilhões de anos), formou-se, pela diferenciação dos elementos mais pesados, o núcleo da Terra, com 3.700Km de diâmetro, constituído predominantemente por ferro e níquel.
Ao seu redor, desenvolveu-se o manto, com espessura de 2.900 km, constituído predominantemente por silício e magnésio. Finalmente, há cerca de 3,7 bilhões de anos, solidificou-se a crosta, uma camada superficial cobrindo todo o planeta. A crosta diferenciou-se em oceânica (ou simática), com cerca de 7 km de espessura e composição predominantemente basáltica, e continental (ou siáltica), com 30 km – 40 km de espessura média e formada por rochas félsicas e ultamáficas.
            As crostas oceânica e continental, com a parte superior do manto, formam uma camada rígida com 100km a 350 km de espessura, denominada litosfera. Abaixo, ainda no manto superior, ocorre a astenosfera, que apresenta condições de temperatura e pressão que permitem certa mobilidade das placas em escala do tempo geológico.
            Uma placa tectônica é uma porção de litosfera limitada por zonas de convergência, zonas de subducção e zonas conservativas. Atualmente, a Terra tem sete placas tectónicas principais e muitas mais sub-placas de menores dimensões.
            Segundo a teoria da tectónica de placas, as placas tectónicas são criadas nas zonas de divergência, ou "zonas de rifte", e são consumidas em zonas de subducção. É nas zonas de fronteira entre placas que se regista a grande maioria dos terramotos e erupções vulcânicas. São atualmente reconhecidas 52 placas tectónicas, 14 principais e 38 menores.
            Limites convergentes, zonas de convergência ou limites destrutivos são áreas de convergência das placas tectónicas que passam a se tangenciar como consequência de movimentos convergentes horizontais que ocorrem entre si denominados de movimentos orogénicos (do grego oros: montanha e gene: criação); tais movimentos ocorrem em virtude da diferença de calor e pressão que ocorre na astenosfera fazendo com que as placas, que sobre ela flutuam, se movam.
            Como resposta ao atrito em tais áreas, verifica-se não só uma profunda instabilidade sísmica como também, em muitas vezes, a presença de fendas inter-tectónicas que possibilitam o extravazamento de magma (astenosfera) para o meio externo.
            Tipos de limites convergentes
            Os limites convergentes entre diferentes placas tectónicas podem ocorrer em três situações distintas. Num limite oceânico-oceânico, a convergência dá-se entre duas porções de crosta oceânica; se é um limite oceânico-continental, a convergência dá-se entre uma zona da crosta oceânica e uma zona da crosta continental; por último, o limite continental, ocorre convergência entre duas porções de crosta continental.
            Limite oceânico-oceânico
            Quando duas zonas da crusta oceânica convergem ocorre geralmente subducção da fracção mais densa (correspondente à mais antiga). A zona subductada é a primeira a sofrer metamorfismo devido aos elevados aumentos de pressão e temperatura. Como nesta situação a pressão aumenta mais rapidamente que a temperatura, o principal mecanismo de metamorfização é a desidratação, que resulta na libertação de fluidos. Estes fluidos ascendem ao manto não subductado onde vão contribuir para um aumento da pressão, que vai diminuir o ponto de fusão dos peridotitos (rochas mantélicas, essencialmente constituídas por olivina, clino e ortopiroxena), que fundem parcialmente, originando magmas basálticos.
            Durante a ascensão, o magma pode sofrer diferenciação e formar rochas ígneas de diferentes composições, desde básicas, intermédias e ácidas, embora estes casos sejam excepções, devido à pouca espessura da crusta oceânica, pelo que as rochas que aqui se encontram são geralmente básicas. Estes fenómenos de vulcanismo podem resultar na formação de ilhas oceânicas em arcos insulares, como é o caso do Japão.
            Limite oceânico-continental
            Quando a colisão ocorre entre uma placa oceânica e uma placa continental, geralmente a placa oceânica (mais densa) mergulha sob a placa continental, formando uma zona de subducção.   Tal como no caso anterior, existe metamorfismo de alta pressão e temperaturas intermédias, pelo que ocorre ascensão de fluidos que contribuem para a fusão parcial dos peridotitos originando, tal como no caso anterior, magmas basálticos.
            A crosta continental é bem mais espessa que a oceânica e, a quando a subducção, pode ocorrer dobramento da crosta continental que sofre um espessamento acompanhado por metamorfismo regional. Nas zonas mais profundas da crusta continental pode ocorrer fusão parcial, da qual resultam magmas graníticos.
            Estes podem misturar-se com os magmas basálticos (formados a maior profundidade) e com os intermédios (formados por diferenciação magmática), pelo que nestas zonas pode existir uma grande diversidade química e litológica de vulcanismo e plutonismo (formação de rochas ígneas em profundidade).
            Nestes limites formam-se arcos magmáticos continentais, ou arcos vulcânicos, ocorrendo sempre orogenia, como no caso dos Andes na América do Sul (encontro das Placa Sul-americana e a de Placa de Nazsca).
            Limite continental-continental
            Neste tipo de limite ocorre a colisão entre duas porções de crusta continental. Como ambas placas possuem baixa densidade não existe propriamente subducção (ou é mínima), juntando-se as duas placas que se dobram e deformam, ocorrendo invariavelmente orogenia.
            À semelhança dos limites oceano-continente, todas as associações vulcânicas e plutónicas são possíveis, embora exista uma predominância de rochas graníticas. É este o processo que está na origem dos Himalaias, resultando da colisão das placas indiana e euroasiática.
            Limite divergente
            Um limite divergente ocorre em encontros de placas tectônicas que se movem em direções e sentidos opostos, sendo assim, há adição de material magmático à crosta terrestre neste ponto. Um exemplo de limite de placas divergente é o encontro entre a placa Sulamericana e a placa Africana no meio do Oceano Atlântico. O material adicionado forma o assoalho oceânico e provoca o afastamento das duas placas em questão. Este tipo de limite entre placas está muitas as vezes associado à dorsal meso-oceânica.
            A superfície do planeta Terra é constituída por irregularidades, que são chamadas de relevos. Existem irregularidades tanto no continente quanto no fundo dos oceanos, denominados respectivamente de relevo continental e submarino. O relevo é um dos elementos naturais que mais se destacam na paisagem, embora uns mais do que outros. Diante das afirmações, os tipos de relevo são: planaltos, cadeias de montanhas, depressões e planícies.
            Planaltos: relevo constituído por irregularidades (de forma ondulada), grande parte dos casos localizados em altitudes superiores a 300 metros acima do nível do mar. São considerados planaltos: serras escarpas e chapadas. Um dos aspectos particulares desse tipo de relevo é que o mesmo libera sedimentos para as áreas mais aplainadas ou baixas, favorecendo o surgimento de depressões e de planícies.
            Cadeias de montanhas: são formadas por um conjunto de montanhas que se encontram aglomeradas em uma região. As mesmas possuem grandes altitudes, bem superiores em relação aos outros tipos de relevos continentais, além de serem bastante acidentadas com encostas íngremes. Em razão dessa característica, as cadeias de montanhas sofrem freqüentemente com os processos erosivos proporcionados pela ação do vento, água e gelo. As cadeias de montanhas ou cordilheiras abastecem de sedimentos as áreas ao seu redor.
            Depressões: relevo caracterizado pelo rebaixamento repentino do relevo, ou seja, corresponde a uma área com altitude mais baixa que as áreas que circundam. As depressões são classificadas em dois tipos: depressão relativa (que apresenta altitude mais baixa que as áreas ao redor, mas estão acima do nível do mar) e absoluta (se apresenta abaixo no nível do mar). As depressões geralmente são planas, em razão dos processos erosivos aos quais se sujeitaram ao longo de milhares de anos.
            Planícies: tipo de relevo caracterizado por apresentar uma superfície bastante plana, oriunda da sedimentação provocada por processos erosivos ocorridos em pontos mais elevados. É bom ressaltar que existem planícies em diversas altitudes, no entanto, a maioria se encontra em elevações modestas em relação ao nível do mar.
            O ciclo das rochas representa as diversas possibilidades de transformação de um tipo de rocha em outro. As setas que interligam as rochas ígneas, sedimentares e metamórficas indicam processos relacionados à dinâmica geológica da crosta terrestre.
            Os continentes se originaram ao longo do tempo geológico pela transferência de materiais menos densos do manto para a superfície terrestre. As rochas, uma vez expostas à atmosfera e à biosfera passam a sofrer a ação do intemperismo, através de reações de oxidação, hidratação, solubilização, ataques por substâncias orgânicas, variações diárias e sazonais de temperatura, entre outras. O intemperismo faz com que as rochas percam sua coesão, sendo erodidas, transportadas e depositadas em depressões onde, após a diagênese, passam a constituir as rochas sedimentares.
A cadeia de processos de formação de rochas sedimentares pode atuar sobre qualquer rocha (ígnea, metamórfica, sedimentar) exposta à superfície da Terra. Devido à deriva dos continentes, as rochas podem ser levadas a ambientes muito diferentes daqueles onde elas se formaram. Qualquer tipo de rocha (ígnea, sedimentar, metamórfica) que sofra a ação de, por exemplo, altas pressões e temperaturas, sofre as transformações mineralógicas e texturais, tornando-se uma rocha metamórfica. Se as condições de metamorfismo forem muito intensas, as rochas podem se fundir, gerando magmas que, ao se solidificar, darão origem a novas rochas ígneas.
            O ciclo das rochas existe desde os primórdios da história geológica da Terra e, através dele, a crosta de nosso planeta está em constante transformação e evolução.
            Rochas ígneas

           As rochas ígneas (do latim ignis, fogo), também conhecidas como rochas magmáticas, são formadas pela solidificação (cristalização) de um magma, que é um líquido com alta temperatura, em torno de 700 a 1200oC, proveniente do interior da Terra.
           
As rochas ígneas podem conter jazidas de vários metais (p. ex. ouro, platina, cobre, estanho) e trazem à superfície do planeta importantes informações sobre as regiões profundas da crosta e do manto terrestre. O tamanho dos cristais das rochas ígneas é, em geral, proporcional ao tempo de resfriamento do magma, isto é, quanto mais lenta for a cristalização de um magma, maiores são os cristais formados e vice-versa.
            Magmas cristalizados a grandes profundidades no interior da crosta esfriam lentamente, possibilitando que seus cristais se desenvolvam até atingir tamanhos visíveis a olho nu (>> 1 m). Rochas ígneas deste tipo são denominadas rochas plutônicas (p. ex. granito). Nos vulcões, o magma (lava) atinge a superfície da crosta e entra em contato com a temperatura ambiente, resfriando-se muito rapidamente. Como a solidificação é praticamente instantânea, os cristais não têm tempo para se desenvolver, sendo portanto muito pequenos, invisíveis a olho nu (<<1mm). Rochas deste tipo são denominadas rochas vulcânicas (p. ex. basalto).
            Quando o magma se cristaliza muito próximo à superfície, mas ainda no interior da crosta, o resfriamento é um pouco mais lento que o das rochas vulcânicas, permitindo que os cristais sejam visíveis a olho nu, embora ainda de tamanho pequeno (~1mm). Rochas deste tipo são denominadas rochas sub-vulcânicas (p. ex. diabásio).
            Rochas sedimentares
            As rochas sedimentares são o produto de uma cadeia de processos que ocorrem na superfície do planeta e se iniciam pelo intemperismo das rochas expostas à atmosfera.
            As rochas intemperizadas perdem sua coesão e passam a ser erodidas e transportadas por diferentes agentes (água, gelo, vento, gravidade), até sua sedimentação em depressões da crosta terrestre, denominadas bacias sedimentares. A transformação dos sedimentos inconsolidados (p. ex. areia) em rochas sedimentares (p. ex. arenito) é denominada diagênese, sendo causada por compactação e cristalização de materiais que cimentam os grãos dos sedimentos. As rochas sedimentares fornecem importantes informações sobre as variações ambientais ao longo do tempo geológico. Os fósseis, que são vestígios de seres vivos antigos preservados nestas rochas, são a chave para a compreensão da origem e evolução da vida.
            A importância econômica das rochas sedimentares está em suas reservas de petróleo, gás natural e carvão mineral, as principais fontes de energia do mundo moderno.
            As rochas sedimentares formadas pela acumulação de fragmentos de minerais ou de rochas intemperizadas são denominadas rochas clásticas ou detríticas (p. ex. arenito). Existem também rochas sedimentares formadas pela precipitação de sais a partir de soluções aquosas saturadas (p. ex. evaporito) ou pela atividade de organismos em ambientes marinhos (p. ex. calcário), sendo denominadas rochas não-clásticas ou químicas.
Rochas metamórficas
            As rochas metamórficas são o produto da transformação de qualquer tipo de rocha levada a um ambiente onde as condições físicas (pressão, temperatura) são muito distintas daquelas onde a rocha se formou. Nestes ambientes, os minerais podem se tornar instáveis e reagir formando outros minerais, estáveis nas condições vigentes. Como os minerais são estáveis em campos definidos de pressão e temperatura, a identificação de minerais das rochas metamórficas permite reconhecer as condições físicas em que ocorreu o metamorfismo. O estudo das rochas metamórficas permite a identificação de grandes eventos geotectônicos ocorridos no passado, fundamentais para o entendimento da atual configuração dos continentes. As cadeias de montanhas (p. ex. Andes, Alpes, Himalaias) são grandes enrugamentos da crosta terrestre, causados pelas colisões de placas tectônicas. As elevadas pressões e temperaturas existentes no interior das cadeias de montanhas são o principal mecanismo formador de rochas metamórficas.
O metamorfismo pode ocorrer também ao longo de planos de deslocamentos de grandes blocos de rocha (alta pressão) ou nas imediações de grandes volumes de magmas, devido à dissipação de calor (alta temperatura).

A Construção da Cidadania pelo Ensino da Geografia
            O ato de ensinar Geografia nos coloca diante de duas discussões importantes: a primeira refere-se à relação ensino e aprendizagem enquanto tal, e a segunda diz respeito à própria Geografia, fonte e objeto de uma gama muito particular de discussões, principalmente no que se refere a seus pressupostos teórico-metodológicos.
            No ensino de Geografia deve-se considerar a realidade no seu conjunto: o espaço é dinâmico e sofre alterações em função da ação do homem, e este é um sujeito que faz parte do processo histórico. Portanto, o aluno deve ser orientado no sentido de perceber-se como elemento ativo do seu processo histórico.
            A nossa ação enquanto educadores está relacionada com os nossos objetivos pedagógicos e educacionais. Se quisermos uma educação que contribua para o desenvolvimento da criança, devemos atuar no processo de ensino e aprendizagem, na perspectiva da construção do conhecimento, refletindo sobre a realidade vivida pelo aluno, respeitando e considerando a sua história de vida e contribuindo para que o aluno entenda seu papel na sociedade: o de cidadão.
            Esta reflexão aponta-nos na direção da articulação entre conteúdo específico e o processo de ensino e aprendizagem, isto é, a concepção que temos de Geografia deve estar relacionada com a concepção de Educação.
            E como isso deve ser feito? Podemos pensar que a contribuição da Geografia para a formação do aluno está na compreensão que ele terá da realidade. Ao estudar o espaço geográfico, por exemplo, o aluno refletirá sobre a análise da dinâmica social, a dinâmica da natureza e a relação que existe entre os seres humanos e a natureza. A compreensão da realidade está vinculada à forma como a aprendizagem está acontecendo.
            Desta forma, o aluno analisará a interferência humana no espaço como fruto do trabalho na organização espacial através do tempo. E assim, se posicionará de forma crítica diante dos acontecimentos ocorridos na paisagem. A discussão sobre o ensino de Geografia passa pela avaliação do conteúdo e pela construção de conceitos e noções a partir do espaço de vivência da criança, pois é desde o momento em que nascemos que construímos a noção de espaço.
            Jean Piaget averiguou a formação das noções espaciais e temporais, das noções de número, de longitude, de quantidades físicas, de praticamente de quase todas as categorias cognoscitivas, das mais simples até as mais complexas e desde o nascimento até a adolescência. Estes estudos permitem-nos entender como o sujeito aprende e forma o seu conhecimento.
            No processo da construção da noção espacial, o desenvolvimento da imagem que a criança forma está relacionada com a representação que ela tem do espaço em que vive. A imagem e a percepção estão associadas à educação visual que ela recebeu. Podemos ter como exemplo, a representação que uma criança ou qualquer pessoa pode fazer do trajeto casa-escola ou de um lugar qualquer da cidade onde mora. Como será que essas pessoas percebem o espaço vivido, ou como será que as pessoas imaginam o espaço de um lugar que elas não conhecem?
            As crianças percebem que a cidade tem certa complexidade na sua estrutura: é dinâmica, possui velocidade e reestrutura-se em função das necessidades dos seres humanos. Percebem também, um espaço de contradições, de transformações e de conflitos, mas também é um espaço ao mesmo tempo desorganizado e poético.
            Para ensinar Geografia com essas concepções, precisamos avaliar os conteúdos desenvolvidos nas escolas, e isto significa refletir também sobre os currículos mínimos no ensino fundamental e médio. Finalmente, apesar da individualidade que a ciência geográfica traz na discussão sobre espaço, devemos ter presente a importância de colocá-la na perspectiva de uma discussão interdisciplinar.

HAESBAERT, Rogério; PORTO-GONÇALVES, Carlos Walter.

A NOVA DES-ORDEM MUNDIAL

Neste começo de século, assistimos a uma reformulação de fronteiras e influências político-econômicas no mundo. Essa nova forma de organização mundial, baseada na existência de redes, fluxos e conexões, exige mudanças no método geográfico tradicional de agrupar e separar territórios. O livro A nova des-ordem mundial apresenta propostas para entender a estrutura do espaço contemporâneo sob as dimensões econômica, política, cultural e ambiental e tece as causas dessa reconfiguração territorial com base em argumentos históricos. 

Segundo os autores do livro, os geógrafos Rogério Haesbaert e Carlos Walter Porto-Gonçalves, os conceitos básicos de estudo da geografia vêm mudando por causa de uma série de acontecimentos que, nos últimos 15 anos, alteraram os rumos da humanidade. Para eles, o melhor exemplo para representar essa reformulação mundial seria o fato de que, enquanto as torres gêmeas do World Trade Center foram derrubadas nos Estados Unidos em 2001, as torres Petronas permanecem firmes em Kuala Lumpur, capital da Malásia, o que, de forma simbólica, revela a ascensão de um novo poder no Oriente. A tarefa de reorganizar as regiões do planeta em função dessas mudanças para fins de estudo torna-se então o grande desafio da geografia pós-moderna. 

Haesbaert e Porto-Gonçalves afirmam no livro que a hegemonia do Ocidente e o pensamento moderno são incompreensíveis sem o conceito de colonização. No entanto, o mecanismo de exploração da Ásia e da África iniciado pelos europeus com a expansão marítima e comercial mudou a partir da Primeira Guerra Mundial. A busca por novas fontes de matéria-prima e mercados consumidores impulsionada pelo imperialismo gerou uma nova ordem, encabeçada pela Europa, pelos Estados Unidos e pelo Japão. Enquanto o comércio internacional crescia no início do século 20, a África, a Ásia e a América Latina viviam devastações ecológicas e sociais, por causa da nova divisão internacional do trabalho, que atribuiu aos países “centrais” a produção de tecnologia e a exploração dos recursos naturais e da mão-de-obra dos países “periféricos”. Essa geografia imperialista regeu o mundo por muito tempo, até o período em que os teóricos chamam de Pós-modernidade. 

Essa nova era é marcada pelo advento da globalização e da internet, que permitiu maior integração internacional e criou um novo espaço público, o “território-mundo”, composto de uma sociedade mundial que compartilha os mesmos valores. A integração cada vez maior dos Estados e a soberania de um país através de um grupo – situação que os geógrafos chamam de capitalismo globalmente integrado – são demonstradas pela força dos blocos econômicos – como a União Europeia –, que estabelecem uma concorrência acirrada entre si para manter a influência sobre seus parceiros comerciais. Nesse processo, interesses econômicos e políticos se mesclam o tempo todo. 

No livro, os autores identificam um novo movimento de regionalização do espaço contemporâneo a partir de redes integradas ilegais de poder, como o tráfico de drogas e o terrorismo globalizado – por exemplo, a rede árabe Al Qaeda –, e de organizações não-governamentais (ONGs). Estas seriam talvez as melhores indicadoras da desordem na organização do território, por não atuarem em uma base específica. Segundo Haesbaert e Porto-Gonçalves, a existência dessas organizações civis comprova a crise do Estado, que não exerce o seu papel político em causas sociais. 

O uso de termos mais complexos, além de referências constantes a teóricos, podem vir a confundir o leitor que não está habituado à linguagem acadêmica. No entanto, os próprios avanços e retrocessos do texto, bem amarrado pelos autores, transmitem a ideia principal do livro: a reconfiguração dos territórios devido a mudanças nas relações de poder e ao hibridismo cultural.

http://cienciahoje.uol.com.br/resenhas/um-momento-de-desordem-mundial/?searchterm=Um%20momento%20de%20desordem%20mundial

                                                     KAERCHER, Nestor André.

Desafios e utopias do ensino de Geografia
Resumo: Nestor André Kaercher nos brinda com uma reflexão muito bonita a respeito do ato de ser professor. Isso pode parecer ultrapassado e, para alguns, até não tem mais sentido a construção de projetos impregnados de sonhos e utopias. Compreender como os jovens, "esses moços" como diria Lupicínio Rodrigues aprendem cidadania, através do ensinar geografia, foi sem dúvida, um desafio que o autor enfrentou com uma saudável e harmoniosa combinação entre as suas genuínas experiências de ser mestre de escola secundária; de uma formação qualificada na área de geografia; na autoria de um texto criativo, provocador e poético e por uma crença firme e, ao mesmo tempo, inconformada de contribuir para um projeto de marca "emancipatória". Neste livro, fruto de urna dissertação de mestrado cuja pesquisa de campo foi realizada com muita competência, emergem as categorias de cotidiano e estrutura tão presente no cenário político e acadêmico de nossos dias. A compreensão da geografia relacional que Nestor desenvolve ao longo de sua reflexão vai oportunizando ao leitor como seu projeto pedagógico se concretiza no espaço da sala de aula. Certamente estamos diante de uma reflexão plena de ia-quietações que podem provocar aquilo que Miguel Arroyo diz: "isto são pistas" para que os educadores percorrem em suas próprias práticas. Nas entrelinhas poderemos encontrar algumas sugestões que o autor nos fornece a respeito do "como" fazer isto ou aquilo. As mediações entre as reflexões feitas pelo Nestor e o seu vivido devem representar uma leitura "ativa" de seu trabalho. O irrequieto professor nos propõe isso. Eu diria, sem medo, o autor conseguiu, freireanamente, propor uma dialogicidade que sai do texto e vai para a vida porque dela partiu. Nilton Bueno Fischer

          YVES LACOSTE.    

            Geografia do Subdesenvolvimento
            Existe um grande número de teorias que tentam explicar as dificuldades econômicas do Terceiro Mundo atribuindo-as a causas permanentes, quando não eternas: como todos os países desenvolvidos (com exceção da Austrália, que é sempre esquecida) se encontram na zona temperada e como a maior parte dos países subdesenvolvidos estão situados nas regiões intertropicais (o que não é exato), deduziu-se daí que o progresso de uns e o atraso de outros se prendia à desigualdade das condições oferecidas por meios naturais muito diferentes.
            Alguns explicaram o atraso pela ausência dos climas “estimulantes” das regiões temperadas, onde o inverno acentuado retemperaria as energias humanas. Outros destacaram os efeitos nefastos das epidemias tropicais.   
            Ora, o mapa do Terceiro Mundo não corresponde ao do “mundo tropical”, assim como não corresponde também aquilo que não é o “mundo temperado”.          Vastas porções do Terceiro Mundo estão situadas na zona temperada. Para outros, as causa profundas do atraso dos países do Terceiro Mundo prendem-se a diferenças raciais. Ressaltou-se muitas vezes que as populações dos países com alto nível de vida são todas da raça branca, e populações “de cor” se encontrariam nos países subdesenvolvidos. O desenvolvimento extraordinariamente rápido do Japão veio invalidar essa tese.
            Uma grande parte do Terceiro Mundo, é povoada por homens de raça branca (América Latina, Oriente Médio, norte da Índia, etc.) e esse único fato bastaria para invalidar, se fosse necessário, essas teses que mal escondem o racismo. Se o subdesenvolvimento e suas características fossem eternos, os países hoje desenvolvidos, supostamente favorecidos pela natureza deveriam sempre apresentar um incontestável avanço sobre o resto do mundo.
            Ora, a superioridade da Europa Ocidental não se estabeleceu claramente senão depois do século XVIII. Durante milênios, o Oriente Médio, a Índia e a China conheceram níveis técnicos, científicos e culturais incontestavelmente superiores aos da Europa Ocidental. As regiões tropicais foram palco de brilhantes civilizações, tais como as da Índia, da Indonésia e de Java. São as “raças de cor” que realizaram, até o século XVIII, os progressos fundamentais dos quais se beneficiou, em seguida o resto da humanidade. Qual teria sido a importância do papel da África negra se esta parte do mundo não tivesse sido tão profundamente afetada pelo tráfico de escravos e pelas guerras contínuas que permitiram a sua captura? Qual teria sido o destino da América Espanhola sem o saque provocado pela colonização?

            A Geografia surgiu na Antiga Grécia, sendo no começo chamada de história natural ou filosofia natural.  Por que na Grécia ? Grande parte do mundo ocidental conhecido era dominada pelos gregos, em especial o leste do Mediterrâneo. Sempre interessados em descobrir novos territórios de domínio e atuação comercial, era fundamental que conhecessem o ambiente físico e os fenômenos naturais.
            Métodos No século IV a.C., os gregos observavam o planeta como um todo. Através de estudos filosóficos e observações astronômicas, Aristóteles foi o primeiro a receber crédito ao conceituar a Terra como uma esfera.
            O Pai da Geografia Em sua especulação sobre o formato da Terra, Strabo acabou escrevendo um obra de 17 volumes, ?Geographicae?, onde descrevia suas próprias experiências do mundo da Galícia e Bretanha para a Índia, e do Mar Negro à Etiópia. Apesar de alguns erros e omissões em sua obra, Strabo acabou tornando-se o pai de geografia regional.
            Herdeiros da Geografia: Os gregos deixaram para as futuras gerações escritos que contavam a sua vivência geográfica. Estudos feitos acerca do rio Nilo, no Egito, detalhavam, entre outras coisas, seu período de cheia anual.
            Com o colapso do Império Romano, os grandes herdeiros da geografia grega foram os árabes. Muitos trabalhos foram traduzidos do grego para o árabe. Ocorreram, no entanto, a partir daí, algumas regressões: após o ano de 900 d.C., as indicações de latitude e longitude já não apareciam mais nos mapas.  Expansão árabe: Os árabes acabaram recuperando e aprofundando o estudo da geografia, e já no século XII, Al-Idrisi apresentaria um sofisticado sistema de classificação climática. Em suas viagens à África e à Ásia, outro explorador árabe, Ibn Battuta, encontrou a evidência concreta de que, ao contrário do que afirmara Aristóteles, as regiões quentes do mundo eram perfeitamente habitáveis.
             Geografia no Século XV Já no século XV, viajantes como Bartolomeu Dias e Cristóvão Colombo redescobririam o interesse pela exploração, pela descrição geográfica e pelo mapeamento. A confirmação do formato global da Terra veio quinze anos mais tarde, em uma viagem de circunavegação realizada pelo navegador português Fernando Magalhães, permitindo uma maior precisão das medidas e observações.
            A Geografia no Século XIX e XX - Possibilismo e Determinismo No século XIX, cientistas como Alexander Von Humboldt (1769-1859), Karl Ritter (1779-1859) e Friedrich Ratzel (1844-1904), da Escola alemã, elaboraram trabalhos desenvolvendo princípios metodológicos da Geografia. Isso a torna uma ciência explicativa e não mais apenas reduzida à tarefa da descrição.
            Ratzel, no final do século XIX, considerou a influência exercida pelas condições naturais na vida do ser humano como objeto de estudo da Geografia. A partir daí, originou-se o ?determinismo geográfico?, ou Escola Determinista, influenciada pelas teorias de Lamarck e de Darwin.
            Através de sua obra ?Antropogeografia?, Ratzel defende que as leis regedoras da história humana são as mesmas que regem as espécies vegetais e animais. Conforme esse autor, ?o homem é produto do meio geográfico em que vive? e o meio natural exerce uma ação dominadora sobre o homem, o qual deve se submeter àquele meio.
            Obs: O pensamento determinista geográfico foi, em parte, responsável pelas teorias de superioridade racial surgidas nos séculos XIX e XX e, também, serviu de base para a expansão do capitalismo neocolonial nos séculos XVIII e XIX.

A Geografia de Ruy Moreira e Moraes
            Com o acontecimento histórico das revoluções burguesa e industrial, durante os séculos XVII, XVIII e XIX, abriu-se espaço para os pensadores da época que no passado eram reprimidos por estados autoritários. Tal acontecimento deixou a Alemanha fora desse cenário, que teve que correr contra o tempo, para ganhar espaço e influência, sua principal arma seria o desenvolvimento das tecnologias geográficas.   
            Nesse contexto surgem Kant, que introduz as primeiras concepções sobre a geografia física. Surge também Karl Ritter, que vem transformar o método coreográfico de Kant, que era simplesmente baseado na descrição e classificação taxonômica e propõe a geografia que compara as paisagens duas a duas, portanto, baseada na conceituação e explicação.  Outro nome importante nesse período de sistematização da geografia é Humboldt, que vem a ganhar espaço na sociedade de sua época usando as geografias de Ritter e Kant.    
            Depois de algum tempo em que a geografia permaneceu fora das grandes discussões científicas, ressurge o método positivista, que visa organizar e sistematizar os conhecimentos científicos.
Surge ainda, a geografia clássica, que somente depois das “especificações” de áreas de estudos como a geologia e a meteorologia, se organiza. É justamente nesse período em que o mundo passa pelos mais rápidos processos de avanço histórico, coincidindo com o surgimento dos grandes nomes que sistematizaram a geografia moderna e, que hoje geram discussões entre os críticos.
            Ratzel fica fora das discussões de Ruy Moreira devido sua pouca importância na geografia brasileira, segundo o mesmo. Considerando como berço da geografia brasileira as geografias francesa e norte americana. No entanto Moraes, identifica a geografia alemã como importante para o “mundo colonizado”, portanto para o Brasil, uma vez que essa forma de análise da geografia está voltada para as expansões territoriais. Sem falar que Ratzel é considerado o fundador da geografia humana, quando publica o livro antropogeografia, no qual Ratzel define o objeto da geografia como sendo o estudo da influencia que as condições naturais exercem sobre a humanidade.
             O geógrafo alemão, ainda, elabora conceitos como espaço vital e ideias naturalistas que vieram a servir de base para muitos dos geógrafos norte americanos como Ellem Sample que levou as ideias de Ratzel ao seu país. Vale salientar ainda a influência que Ratzel marcou na fundação da geopolítica e da ecologia e, da própria antropogeografia que ainda hoje são de grande importância nos estudos por todo o mundo. Ainda é necessário identificar a geografia alemã como a instigadora da geografia francesa, que por sua vez influencia na origem da brasileira, como mencionado anteriormente.   
            Como podemos perceber daqui por diante, Ruy Moreira tenta enxergar as escolas geográficas de cada país como o conjunto formado por aqueles geógrafos que nela influenciaram, dando ênfase ao seu fundador direto, enquanto percebemos que a análise de Moraes se volta mais especificamente para o fundador em si.
No que discerne à geografia francesa Ruy Moreira identifica Reclus, Vidal de La Blache e Brunhes como seus grandes nomes. Reclus vem discutir o homem como um ser componente da natureza, mas racional, que determina seu espaço e tempo. Vidal de La Blache trata dos mesmos temas de Reclus, no entanto se dispõe a uma análise mais conservadora e concreta. Brunhes apresenta-se como discípulo de La Blache e, portanto compartilha muito das ideias do mesmo, sendo atribuído a ele a introdução do método dialético na geografia, que contrapõe as contradições do meio.
              Moraes considera a geografia francesa como um mecanismo surgido para combater os pensamentos de Ratzel, coloca ainda a geografia de La Blache como sendo mais liberal que a de Ratzel, que se apresentava como autoritária e de imposição, nesse contexto Vidal defendia que as questões políticas deviam ser tratadas abertamente na sociedade, defendia ainda que o interessante para a geografia consiste no “resultado da ação humana na natureza, e não esta em si mesma”.
Enquanto a geografia de Ratzel via o objeto da geografia como sendo a relação entre a influência da natureza sobre o homem, Vidal considera a relação entre homem-natureza, na perspectiva da paisagem (ou seja, a natureza influencia e não determina a condição do homem e este por sua vez a adéqua às suas necessidades).
Assim podemos perceber que o possibilismo francês é tratado por Ruy Moreira como uma das escolas clássicas geográficas, enquanto Moraes prefere ver o possibilismo como uma característica do pensamento de La Blache. 
            Ruy Moreira considera Max Sorre como sendo o intermediário entre os pensadores mencionados anteriormente com George e Tricart, dando grande importância a geografia clássica, voltando seus temas para a geografia ecológica e criando as técnicas científicas. 
Pierre George estudou o espaço e a relação das sociedades com este. Jean Tricart baseia seus estudos na geomorfologia, e geografia humana, portanto também se dedicava a geografia como um todo, dava atenção à relação homem-meio, na perspectiva ambiental-integralizada.
           Moraes não dá tanta ênfase a Sorre, George e Tricart, talvez por acreditar que eles não influenciaram tanto nas origens da geografia brasileira, uma vez que eles voltaram-se a desenvolver o pensamento dos primeiros geógrafos clássicos, além do fato de que nesse momento a geografia ganha novos rumos com Hartshorne, que irá influenciar mais diretamente na geografia brasileira.
            O norte-americano Hartshorne aparece na visão de Ruy Moreira como sendo o “sintetizador” da geografia clássica, analisando a geografia desde seus fundadores como Kant, na perspectiva de que são as características de determinada área que a difere das demais.
            Já na visão de Moraes, o americano Hartshorne é tido como aquele que resgatou o pensamento do alemão Hettner, contemporâneo do possibilismo, mas acreditava no objeto da geografia como sendo a inter-relação dos elementos no espaço, observando as “variações de áreas”. A geografia de Hartshorne apresentava caráter geral e “explicitamente metodológica”. 
            Moraes, assim como Ruy Moreira, identificou o desejo que Hartshorne tinha em manter as idéias e a importância da geografia clássica, mas que, esta deveria modernizar-se. Ruy Moreira se dedica ainda a mostrar a influência das geografias tradicionais na geografia atual, resultando nas geografias setoriais.
             Com toda essa comparação entre as análises de Ruy Moreira e Moraes podemos identificar que as principais características que os diferem consistem na maior consideração da influencia histórica por Moraes no processo de construção do conhecimento geográfico, enquanto Ruy Moreira prefere considerar como maior peso na caracterização das escolas geográficas o espaço em que essa está presente, além de voltar-se mais especificamente para aquelas que influenciaram mais diretamente a geografia brasileira.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
MORAES, Antônio Carlos Robert. Geografia Pequena História Crítica. São Paulo: Hucitec, 1998. p. MOREIRA, Ruy. O pensamento geográfico brasileiro. São Paulo: Contexto, 2008. Vol.1.

            A produção de alimentos é um dos maiores desafios do mundo moderno. A agricultura hoje produz alimentos para uma população estimada em 6,5 bilhões de pessoas em todo o planeta.
            O crescimento populacional excessivo tem feito com que o ser humano consuma quase tudo aquilo que o planeta tem para oferecer. Com uma população tão grande, é quase utópico imaginarmos uma produção de alimentos suficiente e sem impacto algum.
            Os impactos causados pelo ser humano são muitos, mas é possível reduzi-los. O ideal é que daqui a algum tempo, os nossos estudos e pesquisas consigam descobrir uma forma de produzir alimentos de forma eficiente e sem impactos no meio-ambiente.
            Impactos gerados pela agricultura:
      Para que possamos buscar solução aos problemas do mundo moderno, precisamos conhecer ao menos os maiores impactos causados pela atividade de maior impacto no meio-ambiente: a agricultura. Por isso, nós listamos aqui alguns dos principais impactos da agricultura: 
     Desmatamento – a derrubada de matas originais, inevitável devido ao crescimento populacional demasiado, vem sendo a causa dos maiores impactos ambientais.
          Erosão – é a perda de solo causada pela associação do uso incorreto do solo associado com as chuvas e ventos. Essa perda está retirando todas as camadas superiores do solo, chegando até as rochas, tornando o solo não-agricultável. Além disso, a terra que escorre com as chuvas, soterra rios e lagos, comprometendo sua vazão e qualidade da água.
          Perda de biodiversidade – as espécies formadas durante muitos milhares de anos estão simplesmente desaparecendo com o desmatamento. Essas espécies podem ser necessárias para a produção de medicamentos no futuro.
      Esgotamento da água doce – muito se enganam os que pensam que o consumo doméstico gera os maiores gastos de água. Mais de 60% da água doce é utilizada na irrigação de campos agrícolas.
         Poluição atmosférica – por mais que a produção de material vegetal capture carbono da atmosfera, o carbono liberado por atividades relacionadas supera a quantidade capturada. Esse carbono é liberado pela queima de diesel dos tratores, produção de fertilizantes e defensivos agrícolas, além da decomposição de restos de cultura.   
        Poluição de águas – o uso descontrolado de adubos e defensivos agrícolas vem causando sérios problemas de contaminação de águas por resíduos e materiais lixiviados no solo, que podem causar problemas inclusive com a eutrofização e contaminação de águas potáveis.
      Desertificação – O uso inadequado do solo, hoje liderado pela produção de gado e outros animais, vem desgastando os solos de forma espantosa, tornando-os quase totalmente inférteis. Isso vem fazendo com que quase nenhuma planta consiga sobreviver em muitas dessas áreas, tornando-as desertas. Esse processo, infelizmente, é irreversível.
    Destruição de mananciais – o avanço da agricultura sobre as matas nativas causa destruição das nascentes, por soterramento, impermeabilização, entre outros fatores.
    Geração de resíduos – a produção animal é uma das maiores causas da geração de resíduos, principalmente devido às fezes animais geradas em animais criados em confinamento. As fezes dos porcos (chamadas de chorume de porco), as fezes de frango (chamadas de cama de frango), entre outras, estão dentre as principais poluidoras de ambientes rurais. Existem muitos outros impactos ambientais que a agricultura, assim como toda permanência do homem, causa. Conhecendo esses problemas, busquem novas soluções para nosso futuro. O nosso planeta depende disso.  

            As questões sociais também são ecológicas. É notório o agravamento das mazelas sociais nos países subdesenvolvidos, inclusive no Brasil.
            São comuns noticias que enfocam os problemas ambientais dos moradores de cidades grandes como São Paulo.
            Esses dramas atingem com maior intensidade as camadas mais carentes da população, que, quase sempre confinadas em favelas, cortiços e bairros carentes, sofrem com a constante escassez de água, deslizamentos de encostas e transbordamentos de rios e córregos.
            Por que as camadas sociais mais pobres são mais atingidas por esses problemas?
            Porque o modelo de ocupação do espaço urbanização reproduz o modelo excludente de desenvolvimento socioeconômico global. Em outras palavras, a infraestrutura privilegia os bairros mais abastados em detrimento dos mais carentes. Isso ocorre porque os elementos básicos para a sobrevivência, como água potável, escola, moradia, hospitais e transporte, são concebidos como fontes de lucro.
            Desse modo, as empresas concessionárias de serviços públicos não têm interesse em levar energia elétrica e telefone a bairros carentes, cujos moradores não possuem recursos para pagar pelo uso desses serviços.
            Ou seja, a lógica do lucro espraia-se para serviços básicos, que deveriam ser garantidos universalmente. O mesmo se aplica à casa própria, pois a moradia deve ser considerada um direito básico de todo cidadão. No entanto a moradia também é mercadoria, que deve ser adquirida mediante compra.         Isso gera especulação imobiliária, que lança os pobres para a periferia, onde cresce uma verdadeira cidade informal, geralmente não mapeada, dotada de precária infraestrutura e ocupada pela população de baixa renda, desassistida pelos órgãos públicos.
            Essa cidade informal geralmente ocupa, de forma indiscriminada, áreas ambientais frágeis, como encostas de morros e margens dos rios, que jamais deveriam ser urbanizadas.
            É preciso reverter essa lógica perversa, que cria duas cidades: a informal, retratada acima, geralmente não mapeadas pelos órgãos públicos, e a formal, localizada em áreas mais centrais, dotadas de melhor infraestrutura, como saneamento básico, e assistida pelos serviços públicos. Mesmo porque a perpetuação desse modelo de ocupação urbana é insustentável a médio e a longo prazo: até quando a natureza irá suportar esse descaso para com a água por exemplo? A remoção da vegetação original em áreas íngremes acelera a erosão, que, por sua vez, provoca ao mesmo tempo assoreamento e menor vazão dos rios, multiplicando os casos de inundações. Essas, por sua vez, são agravadas pela impermeabilização do solo, que resulta da urbanização caótica, fenômeno que não preserva nem mesmo as várzeas dos rios.

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