sexta-feira, 6 de maio de 2016

Ensino Religioso - Artigos


1.     A Avaliação no Ensino Religioso Escolar: Perspectiva Processual
2.     Marco Legal do Ensino Religioso No Brasil e em Santa Catarina
3.     Mito, Rito e Religião
4.     O Ensino Religioso Vinculado ao Projeto Político Pedagógico
5.     Ressurreição, Reencarnação, Ancestralidade e o Nada
6.     Símbolos Religiosos


A AVALIAÇÃO NO ENSINO RELIGIOSO ESCOLAR:
PERSPECTIVA PROCESSUAL
Suzana dos Santos Gomes*
* Mestre em Educação – FAE-UFMG, professora de Cultura Religiosa – PUC Minas.
A avaliação está presente na vida humana e na rotina escolar. É necessário pensar sobre o seu sentido e a sua razão de ser. No Ensino Religioso, deverá ser espaço para que o educando adquira o conhecimento religioso e humanize-se para atuar de forma transformadora na sociedade. Os conteúdos e as práticas escolares deverão provocar mudanças processuais na concepção de homem, de mundo, de sociedade e de Deus.
É preciso repensar a avaliação numa perspectiva processual de ensino-aprendizagem, assumindo um modelo de avaliação coerente com a concepção cristã do ser humano, que vive a tensão entre a tendência à acomodação e as forças que o atraem para a “busca do ser”. Numa educação processual, recriadora, que gera libertação, o educador é sujeito do seu crescimento. Assim, a avaliação é indispensável na ação humana de educar promovendo um contínuo processo de ação, reflexão e construção.
A avaliação processual leva ao diagnóstico, à análise da situação, à busca de alternativas que promovam o crescimento. A pessoa humana é rica de possibilidades e está sempre em transformação.
A avaliação escolar deve ser ação de acompanhamento, de conhecimento do estágio em que o educando se encontra, de reconhecimento de suas capacidades e limites a fim de que cresça de um saber adquirido para outro mais elaborado e enriquecido.
O objeto de análise é o desempenho do educando, do educador e de toda a situação de ensinar/aprender que se realiza no contexto escolar. Suas funções seriam a de subsidiar o educador no aperfeiçoamento do ensino e oferecer informações que possibilitem tomar decisões sobre quais recursos educacionais
devem ser organizados para tornar o aprender mais efetivo. Avaliar exige a definição de aonde se quer chegar. Precisa-se estabelecer critérios e escolher procedimentos adequados. Na avaliação está implícita a concepção de homem que se quer formar, o modelo de sociedade que se quer construir.
Saber e querer envolver os alunos na avaliação de suas competências, explicitando e debatendo os objetivos e os critérios, favorecendo a avaliação mútua, os balanços de conhecimentos e a auto-avaliação. (PERRENOUD, 1999, p. 66)
Para bem avaliar é necessário um acompanhamento sistemático dos alunos para saber se estão aprendendo, como estão aprendendo e em que condições ou atividades encontram dificuldades.
Essa avaliação não se refere apenas ao domínio de conteúdos específicos, mas também ao desenvolvimento das competências, habilidades e atitudes. Significa avaliar o educando como um todo, nas diversas situações que envolvem a aprendizagem: no relacionamento com os colegas, no empenho para solucionar os desafios propostos etc. A avaliação é um instrumento de aprendizagem.
O educador precisa estimular o educando a fazer a sua auto-avaliação, a partir da criação de espaços significativos que possibilitem o acompanhamento de suas conquistas, dificuldades e o desenvolvimento de competências ao longo do processo.
Exige a criação e o exercício de ações que transformam e realimentam a prática pedagógica.
“A avaliação de aprendizagem escolar adquire seu sentido na medida em que se articula com um projeto pedagógico e com seu consequente projeto de ensino” (LUCKESI, 1995). Como um dos elementos que compreendem o processo de construção e reconstrução da nossa prática pedagógica, a avaliação precisa
ser pensada em sintonia com as concepções sociofilosóficas, psicopedagógicas, ético-religiosas, político-epistemológicas que dão suporte à prática educativa. A maneira como o educador estabelece critérios e constrói instrumentos de avaliação da aprendizagem aponta para sua compreensão de Educação e do processo de construção do conhecimento. Revela o domínio ou não do seu objeto de ensino, a organização dos conteúdos e a forma de apresentá-los e, sobretudo, sua relação com os educandos.
“A avaliação da aprendizagem do aluno está diretamente ligada à avaliação do próprio trabalho docente. Ao avaliar o que o aluno aprendeu, o professor está avaliando o que ele próprio conseguiu ensinar” (HAIDT, 1997). A avaliação deve provocar reflexão sobre as condições de aprendizagem. Tem a função de acompanhar, orientar e redimensionar o processo como um todo. O educando deve ser incentivado a reconhecer suas conquistas e identificar as suas dificuldades ao longo do processo.
A avaliação é uma tarefa permanente do professor, instrumento indispensável à constituição de uma prática pedagógica comprometida com o desenvolvimento da criança. Uma avaliação significativa no Ensino Religioso exige que o educador saiba trabalhar com objetivos tendo em vista o perfil de homem educando que deseja formar; exige que saiba, ainda, identificar elementos que determinem o aprimoramento do saber e da postura cidadã; e que saiba, também, reconhecer o educando em sua totalidade afetiva, cognitiva, psicomotora e ético-religiosa.
Dar um enfoque correto à avaliação é uma questão de competência pedagógica e de compreensão do que é, de fato, educação... Usar vários instrumentos de avaliação, com o máximo de participação dos alunos na discussão dos resultados, também faz parte do processo de conscientização para a desejável mudança de atitude. (CRUZ, 1997)
O Ensino Religioso como componente curricular integrante e integrador do currículo necessita do processo de avaliação que deve ser entendido como instrumento contínuo para aperfeiçoamento da prática pedagógica colaborando na crescente “busca do ser”.
A avaliação parte sempre da concepção de ensino e aprendizagem. Nessa proposta a abordagem do conhecimento visualiza o Ensino Religioso como algo significativo, articulado, contextualizado, em permanente formação e transformação... conjunto de atuação que tem a função de alimentar, sustentar, orientar e adequar a intervenção pedagógica, verificando o nível de aprendizagem atingido pelo aluno. (PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS DO ENSINO RELIGIOSO, 1997).
O educador deverá favorecer o desenvolvimento integral do educando. A avaliação é observação e acompanhamento desse processo. Não tem caráter de terminalidade. Deve possibilitar o  espaço de elaboração e reelaboração da dinâmica pedagógica.
Assim, ressalta-se a importância do planejamento. Como processo cooperativo, progressivo e contínuo, a avaliação no Ensino Religioso representa um momento privilegiado que permite ao educador tomar conhecimento do crescimento do educando, reformular seu projeto educativo, revendo sua atuação.
Ao educando, permite tomar conhecimento do seu crescimento, sentir-se valorizado em seus esforços, como, também, redimensionar a sua postura diante do projeto pedagógico. A dimensão vivencial da Educação Religiosa não é medida, mas, sim, observada para ser retomada e redimensionada pelo educando a partir da autoavaliação.
De fato, se alguém de vocês quer construir uma torre, será que não vai primeiro sentar-se e calcular os gastos, para ver se tem o suficiente para terminar? Caso contrário, lançará o alicerce e não será capaz de acabar. E todos os que verem isso, começarão a caçoar, dizendo: “Esse homem começou a construir e não foi capaz de acabar”. (Lc 14, 28-30)
A observação contínua e progressiva sobre a ação do educador e do educando, ação essa demonstrada em atitudes de vida, fornece dados para uma revisão contínua da atualização do processo educativo. A avaliação no Ensino Religioso contempla em sua dimensão processual: o conhecimento (o saber); a participação (o saber fazer); a atitude de vida (o saber ser); a relação (o saber conviver), enfim, elementos que implicam a crescente abertura e criação de espaços para a vivência das experiências religiosas.
A competência pedagógica que almejamos exige do educador e do educando uma avaliação do processo vivenciado. O Ensino Religioso como componente curricular deverá trabalhar com princípios, finalidades, objetivos da educação e do ato de aprender.
A escola é concebida como um lugar de encontro humano privilegiado para conhecimento e reconstrução do saber religioso na relação consigo, com o outro, com o mundo e com Deus.
Dessa forma, o Ensino Religioso é espaço para crescer no conhecimento, na consciência, na religiosidade e no exercício da cidadania. Como um dos fios que costuram o processo ensinoaprendizagem, a avaliação é uma das referências para o acompanhamento do crescimento do educando e deverá ser garantida nas aulas de Ensino Religioso.
Referências
CRUZ, Therezinha M. L. da. Avaliação: um teste para a educação. In: Didática de Ensino Religioso; nas estradas da vida: um caminho a ser feito. São Paulo: FTD, 1997. p. 96-97.
HAIDT, R. C. C. Avaliação do processo ensino-aprendizagem. In: Curso de Didática Geral. São Paulo: Ática. 1994. p. 228.
LUCKESI, C. C. Verificação ou avaliação: o que pratica a escola? In: Avaliação da aprendizagem escolar. São Paulo: Cortez, 1995.
PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS DO ENSINO RELIGIOSO. Fórum Nacional Permanente do Ensino Religioso. 2. ed. São Paulo: Ave Maria, 1997.
PERRENOUD, Philippe. Praticar uma avaliação formativa. In: Construir as competências desde a Escola. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1999. p. 66.
REFERENCIAL CURRICULAR NACIONAL PARA A EDUCAÇÃO. Conhecimento de mundo. Ministério de Educação e do Desporto, Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998.


MARCO LEGAL DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL E EM SANTA CATARINA
O Ensino Religioso é um componente do currículo das escolas públicas brasileiras, situado no âmbito da educação sistemática e formal, regido pela Constituição Federal de 1988, nos seguintes termos: “O ensino religioso, de matrícula facultativa, constituirá disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental (§ 1º, art. 210, Seção I, capítulo III).
De modo indireto, está contemplado no art. 2º da LDBEN nº 9.394/1996, o qual subscreve que "a educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho” (grifos nossos).
Assim como os demais componentes curriculares, o Ensino Religioso deve ser ministrado com base nos objetivos da formação básica do cidadão, mediante o desenvolvimento da capacidade de apreender a ler, escrever e calcular; buscando propiciar a compreensão do ambiente natural e social, do sistema político, da tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade; propiciando a aquisição de conhecimentos e habilidades, da formação de atitudes e valores que fortaleçam os vínculos familiares, os
laços de solidariedade humana e de tolerância recíproca em que se assenta a vida social (Art.32, LDBEN n º 9.394/1996).
É na perspectiva da formação plena do cidadão, no contexto de uma sociedade cultural e religiosamente diversa, na qual todas as crenças e expressões religiosas devem ser compreendidas e respeitadas, que o Art. 33 da LDBEN n° 9.394/1996, alterado pela Lei n° 9.475/1997, legisla que:
O ensino religioso, de matrícula facultativa, é parte integrante da formação básica do cidadão e constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental, assegurado o respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de proselitismo (grifos nossos).
Considerando a diversidade cultural da sociedade brasileira, este preceito legal ratifica a importância e a necessidade de disponibilizar aos educandos, no conjunto dos conhecimentos escolares, conteúdos sobre a diversidade cultural religiosa como uma das formas de promover e exercitar a liberdade de concepções e a construção da cidadania, prerrogativas de um estado laico e democrático.
Condizente com esta legislação, o Conselho Nacional de Educação/CNE, ao instituir as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental, em 1998, por meio da Resolução CEB/CNE nº. 2, conferiu ao Ensino Religioso status de área do conhecimento, entre as dez que compõem a base nacional comum, garantindo a igualdade de acesso aos conhecimentos religiosos, substrato cultural presente em todos os povos da humanidade.
Em 2010, novamente o CNE, por meio da Resolução n° 4, de 13 de julho, ao instituir as novas Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica, no art. 14, reafirma o Ensino Religioso na base nacional comum, a qual se constitui de conhecimentos, saberes e valores produzidos culturalmente, expressos nas políticas públicas e gerados nas instituições produtoras do conhecimento cientifico e tecnológico; no mundo do trabalho; no desenvolvimento das linguagens; nas atividades desportivas e corporais; na produção artística; nas formas diversas de exercício da cidadania; e nos movimentos sociais.
A referida Resolução, assim se pronuncia sobre as áreas de conhecimento:
Art. 14 [...]
§ 1º Integram a base nacional comum nacional:
a) a Língua Portuguesa;
b) a Matemática;
c) o conhecimento do mundo físico, natural, da realidade social e política, especialmente do Brasil, incluindo-se o estudo da Historia e das Culturas Afro-Brasileira e Indígena,
d) a Arte, em suas diferentes formas de expressão, incluindo-se a música;
e) a Educação Física;
f) o Ensino Religioso.
§ 2º Tais componentes curriculares são organizados pelos sistemas educativos, em forma de áreas de conhecimento, disciplinas, eixos temáticos, preservando-se a especificidade dos diferentes campos do conhecimento, por meio dos quais se desenvolvem as habilidades indispensáveis ao exercício da cidadania, em ritmo compatível com as etapas do desenvolvimento integral do cidadão .
O estudo do fenômeno religioso em um estado laico, a partir de pressupostos científicos, visa à formação de cidadãos críticos e responsáveis, capazes de discernir a dinâmica do conhecimento religioso que perpassa a vida em âmbito pessoal, local e mundial. As diferentes crenças, grupos e tradições religiosas, bem como a ausência delas, são aspectos da realidade que devem ser socializados e abordados como dados
antropológicos e socioculturais, capazes de contribuir na interpretação e na fundamentação das ações humanas.
Em Santa Catarina, a Lei Complementar nº. 170/1998, que dispõe sobre o Sistema Estadual de Educação, no capítulo IV, Art. 37, reforça a legislação nacional ao definir que:
O ensino religioso, de matrícula facultativa, constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental.
§ 1º Na oferta do ensino religioso é assegurado o respeito à diversidade cultural brasileira e da comunidade atendida, vedadas quaisquer formas de proselitismo .
Posteriormente, o Decreto Estadual n° 3.882/2005, ao regulamentar o Ensino Religioso nas escolas de ensino fundamental da rede pública estadual, prescreve:
Art. 1º O Ensino Religioso, de matrícula facultativa, constitui disciplina dos horários normais das Escolas da Rede Pública Estadual de Ensino Fundamental.
§ 1º Entende-se por Ensino Religioso, possibilitar ao educando o conhecimento das diversas culturas e tradições religiosas para maior abertura e compromisso consigo mesmo, com o outro, com o mundo e com o transcendente, de forma reflexiva e integrada ao contexto de Santa Catarina.
§ 2º O Ensino Religioso se desenvolve na Escola com o objetivo de subsidiar o entendimento do fenômeno religioso a partir do conhecimento das culturas e tradições religiosas presentes no convívio social dos educandos e educandas, como a finalidade de se educarem e promoverem uma educação para o diálogo intercultural e a paz como compromisso histórico diante da vida e do transcendente.
§ 3º O Ensino Religioso é parte integrante da formação básica do cidadão e cidadã, constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas, assegurado o respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de proselitismo.
§ 4º Nas aulas de Ensino Religioso não serão permitidas colocações de conotação ideológico-político-partidárias, nem quaisquer formas de discriminação a religiões ou pessoas, bem como não será utilizado material didático que contrarie o estabelecido neste dispositivo.
§ 5º No período destinado às aulas de Ensino Religioso serão desenvolvidas atividades previstas no contexto dos programas de Ensino Religioso, da Proposta Curricular do Estado de Santa Catarina e na sua implementação no Ensino Fundamental .
Portanto, o Ensino Religioso deve atender à função social da escola, em consonância com a legislação brasileira e catarinense, respeitando, acolhendo e valorizando as diferentes manifestações do fenômeno religioso no contexto escolar, a partir de uma abordagem pedagógica que estuda, pesquisa e reflete a diversidade cultural-religiosa brasileira, vedadas quaisquer formas de proselitismos, “salvaguardando, assim, a liberdade da expressão religiosa do educando” (FONAPER, 1997, p. 38).
Neste sentido, o Ensino Religioso enquadra-se no padrão comum a todas as outras áreas do conhecimento, ou seja, tem objeto de estudo próprio: o fenômeno religioso; conteúdo próprio: o conhecimento religioso; tratamento didático próprio: didática do fenômeno religioso; objetivos próprios; metodologia e sistema de avaliação (FONAPER, 2000).
Desta forma, o Ensino Religioso, ao proporcionar o conhecimento dos elementos básicos que compõem o fenômeno religioso, discute e fomenta o direito à diferença, auxiliando na constituição de relações alteritárias entre culturas e religiões, identidades e diferenças, no constante propósito de promoção dos direitos humanos.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Diário Oficial da União: Brasília, DF, 05 out. 1988.
BRASIL. Lei Nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial da União, Brasília, 23 dez. 1996.
BRASIL. Lei Nº 9.475, de 22 de Julho de 1997. Dá nova redação ao art. 33 da Lei n° 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Brasília, Diário Oficial da União: Brasília, 23 set. 1997.
BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Resolução CNE/CEB nº. 2/98. Institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental. Brasília, DF, 1998.
BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Resolução CNE/CEB nº 4/2010. Define Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica. Brasília, DF, 2010.
FONAPER. Fórum Nacional Permanente de Ensino Religioso. Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Religioso. 3. ed. São Paulo: Ave Maria, 1997.
_______. Referencial Curricular para a Proposta Pedagógica da Escola. Caderno temático nº 1. (s. ed.). Curitiba, 2000.
SANTA CATARINA. Lei complementar estadual nº 170, de 07 de agosto de 1998. Dispõe sobre o sistema estadual de educação. Florianópolis/SC, 1998.
________. Decreto no 3.882, de 28 de dezembro de 2005. Regulamenta o Ensino Religioso nas escolas de Ensino Fundamental da rede pública estadual. Florianópolis/SC, 2005.
Elcio Cecchetti Pesquisar em Ensino Religioso em SC


Mito, Rito e Religião
É necessário deixar bem claro, nesta tentativa de conceituar o mito, que o mesmo não tem aqui a conotação usual de fábula, lenda, invenção, ficção, mas a acepção que lhe atribuíam e ainda atribuem as sociedades arcaicas, as impropriamente denominadas culturas primitivas, onde mito é o relato de um acontecimento ocorrido no tempo primordial, mediante a intervenção de entes sobrenaturais. Em outros termos, mito, é o relato de uma história verdadeira, ocorrida nos tempos dos princípios, quando com a interferência de entes sobrenaturais, uma realidade passou a existir, seja uma realidade total, o cosmo, ou tão-somente um fragmento, um monte, uma pedra, uma ilha, uma espécie animal ou vegetal, um comportamento humano. Mito é, pois, a narrativa de uma criação: conta-nos de que modo algo, que não era, começou a ser.
De outro lado, o mito é sempre uma representação coletiva, transmitida através de várias gerações e que relata uma explicação do mundo. Mito é, por conseguinte, a parole, a palavra "revelada", o dito. E, desse modo, se o mito pode se exprimir ao nível da linguagem, "ele é, antes de tudo, uma palavra que circunscreve e fixa um acontecimento". "O mito é sentido e vivido antes de ser inteligido e formulado. Mito é a palavra, a imagem, o gesto, que circunscreve o acontecimento no coração do homem, emotivo como uma criança, antes de fixar-se como narrativa".
O mito expressa o mundo e a realidade humana, mas cuja essência é efetivamente uma representação coletiva, que chegou até nós através de várias gerações. E, na medida em que pretende explicar o mundo e o homem, isto é, a complexidade do real, o mito não pode ser lógico: ao revés, é ilógico e irracional. Abre-se como uma janela a todos os ventos; presta-se a todas as interpretações. Decifrar o mito é, pois, decifrar-se. E, como afirma Roland Barthes, o mito não pode, consequentemente, "ser um objeto, um conceito ou uma ideia: ele é um modo de significação, uma forma". Assim, não se há de definir o mito "pelo objeto de sua mensagem, mas pelo modo como a profere".
É bem verdade que a sociedade industrial usa o mito como expressão de fantasia, de mentiras, daí mitomania, mas não é este o sentido que hodiernamente se lhe atribui.
O mesmo Roland Barthes, aliás, procurou reduzir, embora significativamente, o conceito de mito, apresentando-o como qualquer forma substituível de uma verdade. Uma verdade que esconde outra verdade. Talvez fosse mais exato defini-lo como uma verdade profunda de nossa mente. É que poucos se dão ao trabalho de verificar a verdade que existe no mito, buscando apenas a ilusão que o mesmo contém. Muitos veem no mito tão-somente os significantes, isto é, a parte concreta do signo. É mister ir além das aparências e buscar-lhe os significados, quer dizer, a parte abstrata, o sentido profundo.
Talvez se pudesse definir mito, dentro do conceito de Carl Gustav Jung, como a conscientização de arquétipos do inconsciente coletivo, quer dizer, um elo entre o consciente e o inconsciente coletivo, bem como as formas através das quais o inconsciente se manifesta.
Compreende-se por inconsciente coletivo a herança das vivências das gerações anteriores. Desse modo, o inconsciente coletivo expressaria a identidade de todos os homens, seja qual for a época e o lugar onde tenham vivido.
Arquétipo, do grego "arkhétypos", etimologicamente, significa modelo primitivo, ideias inatas. Como conteúdo do inconsciente coletivo foi empregado pela primeira vez por Yung. No mito, esses conteúdos remontam a uma tradição, cuja idade é impossível determinar. Pertencem a um mundo do passado, primitivo, cujas exigências espirituais são semelhantes às que se observam entre culturas primitivas ainda existentes. Normalmente, ou didaticamente, se distinguem dois tipos de imagens:
a) imagens (incluídos os sonhos) de caráter pessoal, que remontam a experiências pessoais esquecidas ou reprimidas, que podem ser explicadas pela anamnese individual;
b) imagens (incluídos os sonhos) de caráter impessoal, que não podem ser incorporados à história individual. Correspondem a certos elementos coletivos: são hereditárias.
A palavra textual de Jung ilustra melhor o que expôs: "Os conteúdos do inconsciente pessoal são aquisições da existência individual, ao passo que os conteúdos do inconsciente coletivo são arquétipos que existem sempre a priori.
Embora se tenha que admitir a importância da tradição e da dispersão por migrações, casos há e muito numerosos em que essas imagens pressupõem uma camada psíquica coletiva: é o inconsciente coletivo. Mas, como este não é verbal, quer dizer, não podendo o inconsciente se manifestar de forma conceitual, verbal, ele o faz através de símbolos. Atente-se para a etimologia de símbolo, do grego "sýmbolon", do verbo "symbállein", "lançar com", arremessar ao mesmo tempo, "com-jogar". De início, símbolo era um sinal de reconhecimento: um objeto dividido em duas partes, cujo ajuste e confronto permitiam aos portadores de cada uma das partes se reconhecerem. O símbolo é, pois, a expressão de um conceito de equivalência. Assim, para se atingir o mito, que se expressa por símbolos, é preciso fazer uma equivalência, uma "con-jugação", uma "re-união", porque, se o signo é sempre menor do que o conceito que representa, o símbolo representa sempre mais do que seu significado evidente e imediato.
Em síntese, os mitos são a linguagem imagística dos princípios. "Traduzem" a origem de uma instituição, de um hábito, a lógica de uma gesta, a economia de um encontro.
Na expressão de Goethe, os mitos são as relações permanentes da vida.
Se mito é, pois, uma representação coletiva, transmitida através de várias gerações e que relata uma explicação do mundo, então o que é mitologia?
Se mitologema é a soma dos elementos antigos transmitidos pela tradição e mitema as unidades constitutivas desses elementos, mitologia é o "movimento" desse material: algo de estável e mutável simultaneamente, sujeito, portanto, a transformações. Do ponto de vista etimológico, mitologia é o estufo dos mitos, concebidos como história verdadeira.
Quanto à religião, do latim "religione", a palavra possivelmente se prende ao verbo "religare", ação de ligar.
Religião pode, assim, ser definida como o conjunto das atitudes e atos pelos quais o homem se prende, se liga ao divino ou manifesta sua dependência em relação a seres invisíveis tidos como sobrenaturais. Tomando-se o vocábulo num sentido mais estrito, pode-se dizer que a religião para os antigos é a reatualização e a ritualização do mito. O rito possui, "o poder de suscitar ou, ao menos, de reafirmar o mito".
Através do rito, o homem se incorpora ao mito, beneficiando-se de todas as forças e energias que jorraram nas origens. A ação ritual realiza no imediato uma transcendência vivida. O rito toma, nesse caso, "o sentido de uma ação essencial e primordial através da referência que se estabelece do profano ao sagrado". Em resumo: o rito é a práxis do mito. É o mito em ação. O mito rememora, o rito comemora.
Rememorando os mitos, reatualizando-os, renovando-os por meio de certos rituais, o homem torna-se apto a repetir o que os deuses e os heróis fizeram "nas origens", porque conhecer os mitos é aprender o segredo da origem das coisas. "E o rito pelo qual se exprime (o mito) reatualiza aquilo que é ritualizado: recriação, queda, redenção". E conhecer a origem das coisas - de um objeto, de um nome, de um animal ou planta - "equivale a adquirir sobre as mesmas um poder mágico, graças ao qual é possível dominá-las, multiplicá-las ou reproduzi-las à vontade". Esse retorno às origens, por meio do rito, é de suma importância, porque "voltar às origens é readquirir as forças que jorraram nessas mesmas origens". Não é em vão que na Idade Média muitos cronistas começavam suas histórias com a origem do mundo. A finalidade era recuperar o tempo forte, o tempo primordial e as bênçãos que jorraram illo tempore.
Além do mais, o rito, reiterando o mito, aponta o caminho, oferece um modelo exemplar, colocando o homem na contemporaneidade do sagrado. É o que nos diz, com sua autoridade, Mircea Eliade: "Um objeto ou um ato não se tornam reais, a não ser na medida em que repetem um arquétipo. Assim a realidade se adquire exclusivamente pela repetição ou participação; tudo que não possui um modelo exemplar é vazio de sentido, isto é, carece de realidade".
O rito, que é o aspecto litúrgico do mito, transforma a palavra em verbo, sem o que ela é apenas lenda, "legenda", o que deve ser lido e não mais proferido.
À ideia de reiteração prende-se a ideia de tempo. O mundo transcendente dos deuses e heróis é religiosamente acessível e reatualizável, exatamente porque o homem das culturas primitivas não aceita a irreversibilidade do tempo: o rito abole o tempo profano, cronológico, é linear e, por isso mesmo, irreversível (pode-se "comemorar" uma data histórica, mas não fazê-la voltar no tempo), o tempo mítico, ritualizado, é circular, voltando sempre sobre si mesmo. É precisamente essa reversibilidade que liberta o homem do peso do tempo morto, dando-lhe a segurança de que ele é capaz de abolir o passado, de recomeçar sua vida e recriar seu mundo. O profano é tempo da vida; o sagrado, o "tempo" da eternidade.
A "consciência mítica", embora rejeitada no mundo moderno, ainda está viva e atuante nas civilizações denominadas primitivas: "O mito, quando estudado ao vivo, não é uma explicação destinada a satisfazer a uma curiosidade científica, mas uma narrativa que faz reviver uma realidade primeva, que satisfaz as profundas necessidades religiosas, aspirações morais, a pressões e a imperativos de ordem social e mesmo a exigências práticas. Nas civilizações primitivas, o mito desempenha uma função indispensável: ele exprime, exalta e codifica a crença; salvaguarda e impõe os princípios morais; garante a eficácia do ritual e oferece regras práticas para a orientação do homem. O mito é um ingrediente vital da civilização humana; longe de ser uma fabulação vã, ele é, ao contrário, uma realidade viva, à qual se recorre incessantemente; não é, absolutamente, uma teoria abstrata ou uma fantasia artística, mas uma verdadeira codificação da religião primitiva e da sabedoria prática".



O ENSINO RELIGIOSO VINCULADO AO PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO
Robson Stigar
RESUMO
Este artigo tem como objetivo demonstrar a relação do Ensino Religioso junto ao Projeto Político Pedagógico. Demonstrar a sua importância de tal disciplina estar incluída no PPP e de sua importância de ser pensada como área de conhecimento e não apenas um momento de formação humana.
Porem temos inúmeros elementos que precisam ser norteados, esclarecidos, refletidos, como a presença do paradigma Cartesiano, tal como a sua influencia não só na educação, mas na sociedade num todo e principalmente no pensamento Ocidental. Tal analise faz importante afim de mapear e entender os fatos com outros olhos e perceber a interligação das áreas, necessitando de um novo paradigma.
O novo paradigma que emerge e que se espera é um paradigma que atenda o ser humano de forma integral, holística e não mais a velha forma fragmentada, técnica e especifica que vinha sendo ofertada como modelo para a sociedade.
O ER necessita estar bem posicionado junto ao PPP afim de garantir a sua identidade, sua epistemologia, sua fenomenologia, pois tal atitude faz com que ele seja respeitado e respaldado junto a comunidade escolar. Por isso faz necessário esclarecer as dificuldades e desafios de articular e desenvolver o PPP, necessitando assim um breve estudo sobre a sua formação e desenvolvimento.
O Ensino Religioso vinculado ao Projeto Político Pedagógico
Atualmente o Ensino Religioso tem sido foco de novos estudos, pesquisas e reflexões, devido ao artigo 33 da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional LDBEN 9394/96 que o regulamenta como disciplina, entretanto sabemos que não podemos trabalhar esta temática em separada ou isolada das demais conjunturas que a norteiam a escola e a sociedade num todo. Devemos então observar sua conjuntura, a escola, a família, a sociedade, o ser humano.
É impossível pensar sobre o Ensino Religioso dentro da identidade escolar se o mesmo não fizer parte do projeto político pedagógico da escola. Este projeto deve estar vinculado a melhoria da escola, da comunidade, do aluno, isto providenciara mudanças educativas, beneficiando toda a comunidade, pois é em função do social e do educativo que há sentido em existir as escolas. O projeto Político Pedagógico tem a necessidade de estar em dialogo e atento a realidade escolar, inclusive a religiosidade. Atualmente se vê o Ensino Religioso como uma necessidade Humana e não só disciplinar ou acadêmica. Esse projeto deve encarar o Ensino Religioso como parte do seu projeto educativo, reconhecendo o mesmo como disciplina, mas também como necessidade da cidadania.
O Projeto Político Pedagógico deve ser implantado democraticamente no decorrer da caminhada escolar, no cotidiano da comunidade num todo, respeitando cada momento, não deve ocorrer por decreto, por obrigação e sim por necessidade. O mesmo deve ocorrer com o Ensino Religioso, ele deve ser implantada não por decreto ou artigo, mas sim de acordo com a necessidade de cada realidade escolar, de acordo com a sua caminhada, democraticamente, afim de garantir que não haja proselitismo nem desrespeito a religiosidade e crença de cada um. Tanto o ser humano como o conhecimento estão em continua construção, assim se faz necessário um Projeto Político Pedagógico flexível a realidade escolar, esse projeto possui responsabilidade com a comunidade escolar, com a formação humana.
O Ensino Religioso será visto com outros olhos se o mesmo for visto como uma necessidade da formação humana, educar com solidariedade e para a solidariedade é essencialmente educar com os valores humanos. Só é possível compreender o Ensino Religioso, a partir do humanismo, dos valores humanos. O ser Humano não pode ser visto ou trabalhado em fragmentos, isto é em separado, dividido, o ser humano é um só e deve ser visto como um todo, por isso a necessidade de uma formação integral, o mesmo vale para a educação e para o conhecimento, daí a necessidade de incluir o Ensino Religioso em busca de uma formação mais ampla e completa. Só assim é que o Ensino Religioso será respeitado. Os fatos e circunstancias não acontecem separadamente e sim em conjunto. Entretanto este conjunto deve estar em equilíbrio, administrando o racional, a sensibilidade e o espiritual, novamente o Ensino Religioso pode contribuir neste equilíbrio.
O profissional do Ensino Religioso deve estar atento ao dialogo interdisciplinar, manter um dialogo com as demais ciências e crenças religiosas, ter capacidade de refletir e analisar a realidade é fundamental., assim como ter uma dimensão ecumênica e inter- religiosa. Deve estar atento ao cotidiano da escola, tanto nas praticas pedagógicas como nas políticas educacionais.
É indispensável uma educação voltada para a religiosidade, pois nossa sociedade esta cada vez mais pluralista ofertando espaço também para o transcendental. Temos atualmente em nosso meio uma grande mudança social e cultural, podemos chamar essa mudança de um novo paradigma, sendo assim devemos estar atentos afim de não cairmos em demasia na futilidade e na banalidade. Devemos ter um norte, uma estrada a percorrer o mesmo deve haver com a escola, a mesma deve escolher a sua estrada, novamente se clama por reflexão e dialogo, refletirmos e dialogarmos constantemente.
A escola atualmente tem tido uma tarefa árdua de educar o ser humano, tarefa de educar não só para o conhecimento, mas também de educar para os valores humanos, para a cidadania, para a ética. Pois bem não resta duvida que esta é a tarefa mais difícil, formação humana é algo inata no ser humano, entretanto poucos tiveram condições de tê-la. A pessoa humana necessita se sensibilizar para consigo mesmo se conhecer para depois sim conseguir com êxito se socializar.
Em todos os seguimentos temos a necessidade de estar atentos e abertos a criticas e a inovações, assim também a escola e o próprio Projeto político Pedagógico deve estar aberto e atento, pois as criticas mesmo que negativa ou positiva nos traz benefícios. As relações tem mais validade quando elas são vividas de diversas maneiras, pois sabemos que é com a pratica e com a vivência que o saber e o conhecimento são de fatos assimilados e não com teorias. Assim as criticas por serem vividas e sentidas no interior humano faz com que crescemos e amadurecemos.
O conteúdo do Ensino Religioso deve ser fixado a partir da realidade escolar local, deve-se levar em consideração toda a comunidade e não só a opinião pessoal de um professor. Em outras palavras os conteúdos surgem de uma maneira natural e não imposta. Entretanto sabemos que é muito difícil haver um consenso, sendo assim procuremos ao máximo evitar proselitismo e desrespeito as crenças religiosas. Dentro de uma perspectiva histórica percebe-se que o FONAPER (Fórum Nacional Permanente do Ensino Religioso) tem desenvolvidos inúmeros trabalhos e pesquisas que desenham uma nova visão sobre o Ensino Religioso que agrada a necessidade pluralista existente na sociedade.
O Ensino Religioso pode e deve resgatar os valores humanos e religiosos que vem sido esquecidos pela escola, pela família, pela sociedade e pelo ser humano. A escola por sua vez deve ser um lugar onde devemos viver esses valores, tais como a cidadania, a solidariedade, o respeito, a confiança, a honestidade, a humildade, a amizade, entre outros, a escola deve ser um lugar de paz e tranquilidade, onde o conhecimento e a educação seja um prazer, mas isso é tarefa de todos e não só do Ensino Religioso. As demais disciplinas e seguimentos escolares deve assumir esta responsabilidade também, pois um educador não é só um agente curricular que transmite conhecimento, mas também uma agente transformador, de formação de opinião, um agente de sensibilização.
A Tarefa do Ensino Religioso na escola, certamente é de libertar e não de controlar, de dominar, de manipular, conforme vemos em muitas escolas. O professor se aproveita em muitas vezes deste espaço, desta aula, para formar uma moral ou estabelecer regras de etiquetas. Isso acontecia muito de forma velada no tempo em que a avaliação tinha como objetivo o controle social, ai se fazia uma seleção, ai manipulava a pessoa a pensar e ser o que a sociedade queria e não o que ela desejava pensar ou ser. Assim o que se espera do Ensino Religioso não são teorias e sim vivências, experiências, se espera uma ação pratica e não apenas mais uma aula com conteúdos lineares e curriculares.
Os temas transversais podem e devem ser trabalhados pela disciplina de Ensino Religioso, mas não é só de sua responsabilidade, as demais disciplinas devem assumir responsabilidade juntos na formação do ser e da construção da cidadania. Gostaria de destacar que Ensino Religioso é diferente que educação religiosa, Isso deve estar claro no Projeto político Pedagógico, se confundirmos o Ensino religioso com educação Religiosa certamente estaremos ofertando espaço de discriminação religiosa, o que não convém para a escola e para a sociedade.
Sabemos que as políticas públicas interferem muitas vezes na realidade escolar, devemos assim ter clareza escolar e sensibilidade humana e educacional afim de não aderir as propostas neoliberais que circulam na sociedade. Um bom exemplo é o fato da escola existir bem antes do Capitalismo, mas o seu papel muda radicalmente em função desse sistema político possuir influencia na vida humana e na sociedade em geral, assim também muda a escola, sua formação passa a ser não só para a pessoa humana, mas também para o mercado de trabalho que valoriza a mão-de-obra e não a pessoa humana.
Entretanto não podemos cair no erro de acreditar que a escola é a responsável pela organização social, a escola é apenas uma parte da realidade e apenas uma ferramenta de possíveis mudanças.
Por estarmos num momento de mudança é normal sentirmos perdidos ou desorientados, entretanto se olharmos pelo ponto de vista histórico podemos concluir que mudanças acontecem também na educação afim de acompanhar a sociedade e também podemos concluir que tal mudança atinge a formação do ser humano num âmbito maior, situação que não vinha ocorrendo anteriormente.
O sentido da educação passa pelo sentido da vida, assim o sentido que se der a vida será o mesmo dado a educação, sendo assim é fundamental que estejamos atentos a realidade e refletimos sobre a mesmo a fim de garantir uma boa caminhada pelo árduo percurso que temos a enfrentar..
Em suma, o Ensino Religioso deve ter uma proposta pedagógica clara, objetiva e coerente com a realidade escolar afim de garantir vinculo com o Projeto político Pedagógico escolar. Por sua vez o Projeto político Pedagógico deve estar atento a cada momento a realidade social e a realidade local da comunidade, pois tanto a vivência como a prática são consideradas como chave de uma boa escola, pois esta mantém constante dialogo com o seu meio social, sua construção não é individual, mas sim coletiva.


RESSURREIÇÃO, REENCARNAÇÃO, ANCESTRALIDADE E O NADA

As civilizações ao longo de sua história elaboraram quatro diferentes concepções fundamentais para a compreensão do que possa acontecer com a alma depois da morte. São elas a reencarnação, a ancestralidade, a ressurreição e o Nada. Inicialmente parte-se da premissa de que o corpo material é um composto habitável por um ser incorpóreo denominado de alma (espírito ou adjacente). Desse modo, supõe-se que o corpo humano (com forma, peso, tamanho, cor) seja animado por um princípio vital (sem forma, sem peso, sem tamanho, sem cor). Vejamos cada uma dessas concepções em particular:
REECARNAÇÃO: nascer-morrer-renascer
A concepção reencarnacionista foi defendida por filósofos, historiadores, religiões como a do Egito Antigo, o Hinduísmo, Budismo, Jainismo, Sikhismo, Taoismo, religiosidade indígena, Vodu, Cabala judaica, Rosacrucianismo, Espiritismo e inclusive o Cristianismo esotérico. Há indícios da crença na reencarnação desde a Pré-história onde achados arqueológicos encontraram pessoas mortas em posição fetal que os homens daquela época acreditavam ser uma preparação ritual para a entrada em outra vida. Outra fonte sobre a reencarnação são os Vedas - Escrito sagrado da religião Hinduísta.
ANCESTRALIDADE: nascer-morrer-ancestralizar
É a crença segundo a qual quando um indivíduo morre torna-se um ser espiritual com capacidade de proteger seus parentes que ainda não transcenderam para outro plano de que agora gozam. Por essa razão os adeptos do ancestralismo reverenciam seus antepassados e restabelece uma nova comunicação através de orações, súplicas, sacrifícios. Embora não possam ser visto, os familiares sentem sua presença ou percebem alguns sinais de sua autenticidade através de sonhos e pela posse. Um espírito protetor define bem essa crença e prática religiosa muito comum entre tradições religiosas tribais, mas não é universal, pois como se sabe, religiões de tradições orais não são proselitistas o que de certa forma acaba contribuindo para que sua prática fique restrita a determinado espaço geográfico ou mesmo étnico. Um espírito protetor é também um mediador entre os homens e o transcendente. Sua prática está presente no Oeste d África, Polinésia, Melanésia, vários povos indo-europeus, China e Japão.
No Brasil, o período compreendido entre 1549 e 1888 há registros de crenças ancestrais que foram trazidas através do tráfico de escravos. Apesar de muitos escravos terem suas crenças obliteradas pelo Cristianismo que condenavam os rituais ancestrais, nas senzalas ou nos mocambos os escravos reviviam sua identidade religiosa.
RESSURREIÇÃO: nascer-morrer-ressuscitar
Embora a ideia da ressurreição tenha ganhado força com o Cristianismo, ela é bem mais antiga. Os egípcios já prenunciavam a ressurreição de Osíris, também no mitraísmo a ressurreição era bastante popular entre os soldados romanos, somente sendo definitivamente abolida após a adoção do Cristianismo como religião oficial.
A perspectiva dos que defendem a ressurreição criticam tanto a reencarnação quanto a ancestralidade, não pactuando com nenhuma delas e menos ainda com os que defendem o pensamento materialista de que a vida acaba definitivamente no túmulo. Outro aspecto a ser considerado é que mesmo dentro do Cristianismo há dissensões teológicas sobre a ressurreição. Segundo a tradição teológica mais dominante, uma vez nascido, o indivíduo jamais deixará de existir. Afirmam que a alma é indestrutível, incorruptível e não pode ser aniquilada.
NIILISMO: nascer-morrer-desaparecer
Conhecido também como o nada ou ateísmo contemporâneo, o niilismo é uma percepção da vida em que o homem é o único responsável pelas suas ações. É uma cosmovisão desencantada da vida, afirmam não existir ser superior, nem outra dimensão além do mundo materialista – a vida se desfaz no túmulo e o indivíduo deixa de existir. Uma das características dessa visão de mundo é a fé na razão, no homem e na ciência, mas sobretudo a fé. Muitos pensadores contribuíram para o desenvolvimento do ateísmo como Sócrates, Hegel, Feuerbach, Marx, Nietzche, Freud e outros. As raízes do ateísmo contemporâneo está no movimento iluminista do século XVIII que rejeitava qualquer ideia sobre a existência de um ser transcendental. Segundo esta corrente de pensamento a crença em Deus ou vários Deuses impede que as pessoas vivam o presente, pois aguardam uma felicidade no além – o que seria um empecilho para as realizações humanas. Uma das argumentações mais comuns entre os adeptos do nada é, se Deus existisse como querem os ancestralistas, reencarnacionistas e a religião cristã o mundo todo conspiraria contra sua Criação, pois segundo a religiosidade tudo é criação de um ser superior que mesmo sendo onipotente, permite que catástrofes, doenças, pestes e outras adversidades da vida humana, sejam tão recorrentes.

SÍMBOLOS RELIGIOSOS

Conheça um pouco sobre as origens de alguns símbolos das Religiões pelo mundo:

CRUZ (Cristianismo)

O principal símbolo da religião cristã. Os romanos a utilizavam para executar criminosos. Por conta disso, ela nos remete ao sacrifício que Jesus Cristo ofereceu pelos pecados das pessoas. Símbolos semelhantes já apareciam em culturas pagãs, antes de Cristo. Ela só foi adotada pelos cristãos quando o imperador romano Constantino aboliu as condenações na cruz, no início do século 4.





ESTRELA DE DAVI (Judaísmo)


Duas pirâmides - uma apontando para cima e outra invertida - representam a união ou equilíbrio entre o céu e a terra. Diz-se que Davi, importante rei de Israel, mandava gravar o símbolo nos escudos de seu exército como amuleto de proteção. Quando este símbolo foi gerado, não sabemos ao certo, no entanto sabemos que este símbolo é geometricamente construído em forma de estrela com as duas letras Dálet que compunham o nome David (entrelaçando-as, e girando uma das letras em 180o. para que seu vértice se colocasse para baixo). Com o tempo, este símbolo tornou-se símbolo da nação de Israel e do povo judeu, estando presente na própria bandeira de Israel.

HEXAGRAMA (Ocultismo)

É formado unindo-se o Triângulo da Água com o Triângulo do Fogo, formando a estrela de seis pontas, também conhecida como Selo de Salomão. Esse símbolo é uma imitação da Estrela de Davi, o símbolo nacional de Israel. A diferença é que esse selo ocultista é formado por dois triângulos entrelaçados, enquanto que, na Estrela de Davi, um triângulo sobrepõe o outro.
É o mais maligno e um dos mais poderosos de todos os símbolos na feitiçaria. É usado para conjurar demônios a esta dimensão, para comunicação com os mortos, para descrever o ato sexual e para representar deuses falsos e pagãos, como Brahma, Vishnu e Shiva.

PENTAGRAMA (Wicca)
O Pentagrama é um dos símbolos mais importantes símbolos da religião neo-pagã Wicca. Esse símbolo está bastante presente em rituais e cerimônias da religião. É o símbolo do feminino, pois os antigos astrônomos ptolomáicos acreditavam que o planeta Vênus (deusa da beleza na mitologia romana) fazia uma órbita em forma de estrela no céu numa visão geocêntrica. Logo, o pentagrama foi adotado como símbolo d'A Deusa, uma das principais divindades do Wicca.

BAPHOMET (Templários/Maçonaria)

Baphomet ou Bafomé é uma síntese de vários conceitos mágico-místicos, mais conhecida por sua relação com os Templários e a Maçonaria. Baphomet é uma das imagens de mais forte presença no universo ocultista de nossa época. Teorizou-se símbolo que o Baphomet é fálico, haja vista que em uma de suas míticas representações há a presença literal do falo devidamente inserido em um vaso (símbolo claro da vulva). Algumas pessoas simplesmente o interpretam como um demõnio, ou o próprio Lúcifer. O Baphomet de Eliphas Levi possui mamas de mulher e o pênis é metaforicamente representado por um Caduceu. Este tipo de simbologia sexual aparece com freqüência na alquimia (o coito do rei e da rainha), com a qual o ocultismo tem relação. A figura do Baphomet também é relacionada as virgens que apresentavam anomalias em seus bustos. As virgens de 3 mamilos e as virgens de apenas 1 seio era tatuadas com a cabeça do Baphomet para que nenhum homem pudesse tocá-las. Diziam que as mulheres com tais anomalias genéticas eram amaldiçoadas.

FARAVAHAR (Zorastrismo)

O Faravahar ou Ferohar é um dos símbolos mais importantes do Zoroastrismo, religião monoteísta fundada na Pérsia pelo profeta Zaratustra (ou Zoroastres). Ele é formado por uma espécie de asa com um círculo no centro. Surgindo do círculo, está uma figura humana. O Ferohar representa a alma dos seres humanos antes de nascerem e depois de morrerem, ou seja, a alma humana das pessoas enquanto estas não estão vivas. Outro símbolo importantíssimo do Zoroastrismo é o elemento do fogo

TORII (Xintoísmo)

O Torii é o símbolo do Xintoísmo. É uma espécie de portal composto por duas barras verticais com uma barra horizontal no topo (chamada de kasagi), geralmente mais larga que a distância entre as duas barras. Sob o kasagi está o nuki, outra trave horizontal que liga os postes. Sua presença anuncia que há um santuário xintoísta nas proximidades. Atualmente, o Torii é considerado um dos mais importantes símbolos da tradição japonesa e simboliza a separação entre o mundo dos homens e o dos kami.

ENKAN (Seicho-no-ie)
O Enkan é o símbolo da religião/filosofia monoteísta Seicho-no-ie. Este simbolo representa as integração das religiões mais expressivas da humanidade. Ele é mostrado como uma estrela de oito pontas, que representa o budismo. Ao fundo vemos um circulo branco, representando o cristianismo. O símbolo é complementado por uma estrela que representa o xintoísmo, esta estrela está ligada às outras imagens representativas do símbolo, demonstrando a integração e coexsitência entre todas as religiões.


LUZ DE VIDA E POMBA DE OXALÁ (Umbanda)

Símbolo criado pela AUC para ser usado na bandeira nacional da Umbanda É formado por um sol que representa a Luz de vida e uma pomba símbolo de Oxalá, principal Orixa na tradição Umbandista . A Umbanda é uma religião genuinamente Brasileira que foi fundada por Zélio Fernandino de Morais (10 de abril de 1891 - 3 de outubro de 1975) através do seu guia espiritual, o Caboclo das Sete Encruzilhadas no ano de 1908 no bairro de Neves distrito de São Gonçalo no Rio de Janeiro.


LUA CRESCENTE COM ESTRELA (Islamismo)
Este símbolo admite várias interpretações: para uns, é o casamento da lua com a Estrela D’Alva, fenômeno que ocorre em outubro com a “aproximação” aparente dos dois astros. A lua crescente com uma estrela também é o símbolo do Islã. Tal símbolo pode ser observado em branco na bandeira vermelha da Turquia, nesse país cerca de 99% da população pertence ao islamismo. Estudiosos supõem que, mesmo antes do islamismo, árabes nômades cultuavam a Lua por viajarem à noite. Quando o símbolo foi adotado na bandeira do islâmico império turco-otomano, passou a ser identificado com os muçulmanos. Mesmo assim, muitos fiéis negam a utilização de qualquer símbolo para representar a fé islâmica

OM (Hinduísmo)
É o mantra mais importante do hinduísmo e outras religiões. Diz-se que ele contém o conhecimento dos Vedas e é considerado o corpo sonoro do Absoluto É a forma escrita, em sânscrito, do principal mantra hindu. Os mantras são palavras, poemas ou textos entoados durante a meditação para auxiliar na concentração e invocar divindades. Vários textos dos Vedas - as escrituras sagradas hinduístas - começam com Om - pronuncia-se Aum - e significa "aquilo que protege"

SUÁSTICA (Jainismo)
Apesar de sua imagem estar diretamente vinculada ao Regime Nazista de Adolf Hitler, a suástica esteve presente em muitas culturas milenares e é representada por meio de diversas formas gráficas. Este símbolo - que também aparece no hinduísmo e no budismo - seria um desenho com quatro letras gregas gama (G), representando os quatro ventos, os quatro pontos cardeais, as quatro estações e outros conceitos da natureza relacionados ao número quatro.
A palavra “suástica” vem do sânscrito e significa “aquilo que traz boa sorte”. A sua raiz, “Svas”, quer dizer bondade..Mais tarde, o nazismo inclinou o símbolo e popularizou a suástica com um significado negativo

DHARMACAKRA (Budismo)
Conhecido como Roda do Dharma, o Dharmacakra é o símbolo do Budismo. Embora muitos não considerem o budismo como religião, a filosofia também carrega sua marca. O círculo de onde partem oito raios é conhecido como Roda do Dharma. Por sua vez, dharma são os ensinamentos de Buda para que se alcance a iluminação, entre eles o Nobre Caminho Óctuplo, com oito vias que levam ao fim do sofrimento.


YIN-YANG (Taoísmo)
De acordo com a filosofia tradicional Chinesa, Yin e Yang são os dois principios cósmicos primários do universo. Yin (Mandarin para lua) é o principio passivo, feminino. Yang (Mandarin para sol) é o principio ativo, masculino. De acordo com a lenda, o imperador Chinês Fu Hsi afirmou que o melhor estado para tudo no universo é o estado de harmonia representado pelo equilibrio entre yin e yang. Estudando as sombras projetadas pelo movimento do Sol, os chineses montaram um tipo de infográfico indicando a duração de dias e de noites ao longo do ano. Esse equilíbrio, fundamental para a agricultura, passou a representar a importância dos opostos e a presença de um dentro do outro - bolinha preta na parte branca, e vice-versa

KHANDA (Sikhismo)
A bandeira sagrada do Sikhismo, conhecida como Nishan Sahib, erguida em todos os templos sikhs (gurdwaras), inclui o Khanda. Ele é resultado da junção de quatro armas: A espada de dois gumes no centro do círculo simboliza o Deus único, cuja infinitude e perfeição é representada pelo círculo. A espada da esquerda se refere ao poder espiritual cruzando o poder político, simbolizado pela espada à direita. O significado político, raro na simbologia religiosa, é resultado das perseguições sofridas pelos sikhs ao longo da história 

ESTRELA DE NOVE PONTAS (Fé Bahá'í)

A estrela de 9 pontas não possui apenas um significado simbólico. Essa religião persa, fundada em 1844, prega que as lideranças religiosas ao longo dos séculos, como Maomé e Jesus, são enviados de um mesmo Deus. A doutrina elenca nove religiões - representadas pelas pontas - que preenchem essa definição: sabeísmo, hinduísmo, budismo, judaísmo,cristianismo,islamismo, zoroastrismo, fé babí e fé bahá'í



FLOR DE LÓTUS (Ayyavazhi)


A Flor-de-Lótus é o principal símbolo da religião indiana Ayyavazhi, fundada no século XIX. A Flor-de-Lótus está presente no Sahasrara (também chamado de chacra da coroa), o 7º e mais importante dos chacras que situa-se no alto da cabeça da pessoa e se relaciona com o padrão de energia global dessa pessoa. Esse chacra é originado na tradição hindu mas, como vários outros elemento do hinduísmo, foi adotado por outras religiões. Situado no alto da flor está o Namam (ou Thirunamam), também presente no Sahasrara.



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