domingo, 13 de março de 2016

Autores N - O


OLIVEIRA, Zilma. O desenvolvimento da motricidade, linguagem e cognição. Educação Infantil: fundamentos e métodos.
OLIVEIRA, Gislene de Campos. Psicomotricidade. Educação e reeducação num enfoque psicopedagógico
OLIVEIRA, Vera Barros de. O brincar e a criança do nascimento aos seis anos
OLIVEIRA-FORMOSINHO Pedagogia(s) da Infância - Dialogando com o Passado, Construindo o Futuro


OLIVEIRA, Zilma.

O desenvolvimento da motricidade, linguagem e cognição.
Educação Infantil: fundamentos e métodos.
O indivíduo vive num ambiente, onde ele e os objetos que estão à sua volta formam um conjunto de relações que se estruturam com grande complexidade. O desenvolvimento desse indivíduo é feito através da apropriação da linguagem e de formas cognitivas mais complexas que há no ambiente cultural que está à sua volta.
1. Desenvolvimento da motricidade
Motricidade é um conjunto de funções nervosas e musculares que permitem a movimentação do corpo voluntária ou automaticamente. A criança a desenvolve desde seu nascimento e à medida que vai adquirindo maturação, consegue aprimorar ainda mais a movimentação e a atividade motora do complexo corpo humano.
No início, o bebê diferencia seu próprio corpo do mundo que o rodeia para depois tomá-lo como referência para perceber o espaço que se encontra. A representação desse espaço é feita sob a movimentação de seu corpo que recebe informações próprio-perceptivas e externo-perceptivas.
A motricidade também é desenvolvida através da manipulação de objetos de formas diferentes, cores, volumes, pesos ou texturas. O esforço realizado pela criança ao trabalhar diversos segmentos corporais, alterando sua postura conforme mexe com os objetos, faz com que os músculos tenham contrações de diferentes intensidades.
A partir dos 6 anos, a criança é capaz de adquirir cada vez mais pontos de vista externos a si mesma para a compreensão do mundo, desde que tenha uma perspectiva egocêntrica na sua percepção das relações que estabelece com elementos do espaço.
2. O desenvolvimento linguístico
O sistema linguístico também está presente nas relações infantis e, através de atividades simbólicas, as crianças aprimoram a motricidade, já falada acima. Somente o ser humano é capaz, enquanto animal, de adquirir a língua do grupo onde convive. E, embora possua órgãos periféricos e sistema nervoso central apropriado, é através do processo sócio-histórico que ele dominará a língua de seu grupo.
O processo de desenvolvimento da linguagem é algo inato do ser humano; ele sente a necessidade de comunicar-se verbalmente com o outro e é isso é bastante claro no primeiro ano de vida da criança.
À medida que a criança percebe que é capaz de produzir sons da fala, ouvindo sua própria voz ou a de alguém próximo, como a mãe, por exemplo, enriquece-se a formação da capacidade de categorização de objetos e imitação e memória, para reproduzir padrões vocais e gestuais.
Aproximadamente aos 10 meses de vida, a criança já consegue dar respostas a certos pedidos e proibições. Após isso, a criança é capaz de produzir as primeiras palavras e, entre 18 e 20 meses, há uma quantidade considerável de palavras que já foram internalizadas por ela. A combinação de palavras é condensada, porém já tem a preocupação de dominar as estruturas de sua língua, embora seja de criações próprias.
Entre 4 e 5 anos, a linguagem da criança já é bastante operável e ela é capaz de produzir frases sintática e morfologicamente corretas, ou seja, de acordo com a língua de sua cultura. A partir dos 5 anos, ela consegue dominar algumas estruturas linguísticas mais complexas, a reorganização semântica, empregando uma mesma palavra em diversos sentidos, desenvolve artigos e pronomes coesos ao seu discurso. Além disso, sente necessidade de se corrigir quando percebe que falou algo errado.
Esse sistema linguístico se desenvolve e aprimora-se até a pré-adolescência, onde já há uma gama de experiências culturais vividas, especialmente no ambiente escolar.
3. A construção do pensamento infantil
O processo de aprendizagem da criança evolui da participação de um indivíduo mais experiente, que pode ser o professor ou até mesmo um colega de sala. Este fato acontece até a criança ser capaz de apresentar um modo autônomo de apreender tarefas e as posições nela envolvidas.
A construção desse desenvolvimento vem dos ambientes socioculturais específicos que dependem do intercâmbio social, o qual pertence o aprendiz e dos ambientes de aprendizagem criados como recurso para a aprendizagem.
De início, pensamento e linguagem pertencem a caminhos diferentes. Há o pensar sensório-motor e a linguagem não cognitiva. No entanto, num determinado momento estes elementos convergem no desenvolvimento para a formação do pensamento discursivo.
Na fase inicial de formação do conceito, a busca das qualidades plásticas da palavra desempenha uma função importante, pois para a criança pequena, a palavra não tem ainda força para dirigir seu pensamento.
A descrição de algo pela criança requer-lhe coordenar próprias impressões e processos mentais. Implica processo gestual, ideomotor ou identificação do objeto consigo mesmo, estabilizando-o. Por sua vez, as tarefas de definir e de explicar supõem um movimento de isolamento de palavras dentro de um universo e sua reintegração como um todo, trazendo elementos perceptuais, linguísticos e cognitivos de modo fortemente indissociável.
Para representar algo, a criança deve exteriorizá-la como um objeto distinto, por meio de imagens que eliminem os elementos subjetivos e acentuem os traços mais estáveis e gerais.
Ao tentarem responder sobre o significado de uma palavra que lhes é apresentada, as crianças muitas vezes reúnem elementos de experiências anteriores e os ajustam a aspectos distintivos de cada situação.
Algumas vezes as crianças se referem a um conceito de modo mais descritivo, pelo fato de ter feito parte de algo que já viveram. As respostas infantis parecem indicar a dificuldade do pensamento de identificar, diferenciar e relacionar sucessão, casualidade e pertinência de elementos, de estabelecer relações como as de lugar, tempo, movimento e casualidade.
A criança, contudo tem dificuldade de articular os conteúdos provenientes das diversas fontes, não apenas em virtude de um estado de imaturidade cerebral, mas também pela heterogeneidade das experiências a que cada conceito se refere.
Assim, no processo educativo, as iniciativas das crianças de atribuir sentido são confrontadas com aspectos perceptivos dos objetos, com relações que elas podem cognitivamente estabelecer com base neles, e com associações e explicações de senso comum, mitos ou representações sociais, discursos científicos, religiosos, políticos ou sanitários, e com as definições dos professores.

OLIVEIRA, Gislene de Campos.

Psicomotricidade. Educação e reeducação num enfoque psicopedagógico
Neste texto a autora oferece aos professores, psicólogos, neurologista, enfim, a profissionais que atuam com crianças na idade escolar, subsídios para orientá-los em suas atividades do dia a dia dentro da sala de aula e consultórios, melhorando assim o desempenho desses profissionais, alunos e/ou pacientes. O livro pretende ajudar aos profissionais, através de pesquisas feitas sobre a psicomotricidade, identificar e melhorar o desempenho das crianças. Todo profissional acima citado, através deste livro, poderá acompanhar o aluno e/ou paciente com maior segurança. 
Neste livro a autora disserta no capítulo I sobre a psicomotricidade atuando no sistema nervoso, nos tipos de movimentos, tônus muscular, origens e definições. 
No capítulo II a autora descreve sobre o desenvolvimento da psicomotricidade, abordando os temas: coordenação global, coordenação fina e óculo-manual; esquema corporal, lateralidade, estruturação espacial, estruturação temporal, discriminação visual e auditiva. 
No capítulo III a autora disserta sobre a aprendizagem da leitura e da escrita, abordando o papel da linguagem, linguagem gráfica, da leitura e da escrita como meio de comunicação. 
No capítulo IV o tema abordado é a dificuldade de aprendizagem e neste capítulo a autora aborda os temas: escola, deficiência mental, déficits físicos e/ou sensoriais, desenvolvimento da linguagem, fatores afetivos emocionais, fatores ambientais (nutrição e saúde), falta de maturidade para iniciar o processo a alfabetização, deficiências não verbais e dislexia. No capítulo V os temas abordados pela autora são: conclusões e prospecções, definição de termos e a bibliografia utilizada. 
“Le Boulch (1987, pg.14) define Psicomotricidade como uma ciência que estuda as condutas motoras por expressão do amadurecimento e desenvolvimento da totalidade psicofísica do homem, procurando fazer com que os indivíduos descubram o seu corpo através de uma relação do mundo interno com o externo e a sua capacidade de movimento e ação. E dessa forma, permitir tanto ao adulto como à criança expressar as suas ações e movimentos de forma harmoniosa, utilizando o seu corpo”. 
O livro em seu primeiro capítulo fala sobre crianças que apresentam dificuldades de interagir com o meio e daquelas que interagem sem qualquer dificuldade. Como estas crianças podem ser auxiliadas? E como o professor e/ou profissional na área da saúde pode detectar o problema e resolvê-lo. 
Conforme a autora muitos desses problemas podem ser resolvidos dentro da sala de aula, ou seja, não é necessário levar para dentro de um consultório, porém a maioria dos educadores prefere isentar-se de qualquer responsabilidade (por comodidade ou por ignorância sobre o problema) e culpam o meio sócio – econômico - cultural do aluno ou ainda a incapacidade do mesmo ou a falta de esforço para aprender o que lhe é ensinado. De acordo com a autora em contra partida é mais fácil para os pais dos alunos aceitarem que os seus filhos têm uma doença para justificar o fracasso dos mesmos na escola. 
A autora descreve que o individuo estabelece critérios para julgar a si mesmo diante de sua experiência de vida, boa ou má, formatando assim uma opinião favorável ou desfavorável a respeito de si mesmo. A ainda afirma que a experiência escolar tem grande impacto na imagem que a criança faz de si mesmo, sendo assim, ela afirma que se a criança tiver uma experiência de fracasso na escola, pode ter sua autoconfiança abalada e isto pode contribuir para a evolução de um maior número de fracassos. Fica ainda pior se este indivíduo for rotulado como aluno-problema e em virtude disto passar pelas mãos de vários profissionais, aí sim o seu desempenho pode cair ainda mais. Por este motivo é necessário que o professor saiba identificar se o problema pode ser resolvido dentro da sala de aula ou se será necessário encaminhar para outro profissional. Conforme a autora esta identificação do problema pelo professor só será possível se ele for capacitado tanto para identificar o problema, quanto para identificar as falhas dentro da sala de aula, ou seja, o professor deve estar preparado para uma reeducação dentro da sala de aula. O professor para estar apto a este processo deve ter um conhecimento geral da psicomotricidade, sendo assim precisa entender um pouco do sistema nervoso, tipos de movimento (voluntários, por reflexo, automático), tônus muscular. 
A autora descreve que para que uma pessoa possa manipular objetos é necessário ter algumas habilidades que são essenciais, ou seja, precisa saber se movimentar no espaço com desenvoltura, habilidade e equilíbrio e tiver domínio do gesto e do instrumento, ou seja, coordenação fina. 
A coordenação global também é necessária, pois diz respeito à atividade dos grandes músculos. A coordenação global permite que a criança tenha condições de realizar múltiplos movimentos ao mesmo tempo, cada membro realizando uma atividade diferente, existindo uma conservação de unidade do gesto. A autora cita como exemplo de atividade global: andar (é um ato neuromuscular que requer equilíbrio e coordenação); correr (que além de equilíbrio e coordenação requer resistência e força muscular). De acordo com a autora a coordenação fina diz respeito à habilidade e destreza manual e constitui um aspecto particular da coordenação global. 
A coordenação óculo-manual se efetua com precisão sobre a base de um domínio visual previamente estabelecido ligado aos gestos executados, facilitando uma maior harmonia do movimento. 
A autora cita experiências dinâmicas de lançar-pegar que são muito importantes para a escrita, pois facilitam a fixação da atividade entre o campo visual e a motricidade fina da mão e dos dedos, provocando uma maior coordenação óculo-manual. O ensino da escrita exige também uma coordenação global do ato de sentar, pois a criança tem que adquirir uma postura correta para que possa realizar movimentos gráficos. Conforme a autora o desenho e o grafismo desempenham uma habilidade preparatória muito importante para a escrita e leitura. Auxiliam a desenvolver a habilidade de pegar o lápis de forma correta, facilitando assim uma maior harmonia dos movimentos. 
De acordo com a autora o corpo é uma forma de expressão de individualidade, a criança percebe-se e percebe as coisas que a cercam em função do seu próprio corpo, sendo assim, afirma que o desenvolvimento de uma criança é o resultado da interação do seu corpo com os objetos de seu meio, com as pessoas com quem convive e com o mundo onde estabelece ligações afetivas emocionais. Sedo assim, a autora conclui que para uma criança agir através de seus aspectos psicológicos, psicomotores, emocionais, cognitivos e sociais, precisa ter um corpo “organizado”, só com esta organização ela poderá descobrir as suas diversas possibilidades de ação. 
Conforme a autora Jean Piaget divide o reconhecimento do corpo pela criança por algumas etapas, são elas: 
* Corpo Vivido (até três anos de idade) – Corresponde a fase da inteligência sensório-motora de Jean Piaget. O bebê não tem consciência do “eu” e se confunde com o espaço que vive. 
* Corpo Percebido ou Descoberto (três a sete anos) - esta etapa é a da organização do esquema corporal devido à maturação da “função de interiorização”, que é muito importante porque auxilia a criança a desenvolver uma percepção centrada em seu próprio corpo, sendo assim passa a aperfeiçoar e refinar os seus movimentos adquirindo uma maior coordenação dentro de um espaço e tempo determinado. É nesse momento que assimila conceitos como: acima, direita, esquerda, e também noções temporais como a duração dos intervalos de tempo, de ordem de sucessão, ou seja, o que vem antes, depois, primeiro e último. 
“Para Piaget (Rappaport, 1989, pg. 64) o desenvolvimento é um processo de equilíbrio progressivo que caminha para uma forma final, conforme adquiri as operações formais. Nesse processo, irão surgir novas formas de conhecimento e de organização da atividade mental, porém as funções do desenvolvimento continuam as mesmas”. 
* Corpo Representado (7 a 12 anos) – Nessa etapa a criança já consegue se movimentar corretamente no ambiente com um controle e domínio corporal maior. Sua imagem passa a ser antecipatória, revelando um verdadeiro trabalho mental em virtude da evolução das funções cognitivas correspondentes ao estágio preconizado por Piaget de “operações concretas”. A imagem do corpo representado permite à criança “dispor” de uma imagem de corpo operatório que é o suporte que permite programar e efetuar mentalmente suas ações e pensamentos, ou seja, torna-se capaz de organizar, de combinar as diversas orientações. 
A autora disserta também sobre a perturbação do esquema corporal que como foi citado acima compreende o corpo vivido, o corpo percebido e o corpo representado; a lateralidade e sua evolução e desenvolvimento que nada mais é do que a propensão que o individuo tem de usar mais um lado do corpo do que o outro em três níveis são eles: mão olho e pé. Fala ainda sobre a importância da estruturação espacial o seu desenvolvimento e as suas dificuldades, pois esta é essencial para que vivamos em sociedade, pois é através dela que nos situamos no meio em que vivemos que estabelecemos relações entre as coisas, que fazemos observações, comparações, combinações, percebendo assim as semelhanças e diferenças entre elas. Conforme a autora é também de vital importância para o professor entender sobre a importância da estrutura temporal, suas etapas de estruturação, as dificuldades que a criança possa ter na estruturação temporal, pois é através da noção de tempo que se concebe a noção de espaço, pois o corpo coordena-se, movimenta-se continuamente dentro de um espaço determinado, em função do tempo, em relação a um sistema de referência. 
Conforme relato da autora a discriminação visual e auditiva é importante para a aprendizagem da leitura e da escrita. Afirma que os educadores têm papel importante na discriminação auditiva, pois podem proporcionar aos alunos exercícios de atenção auditiva e concentração que ira ajudá-los a discernir melhor os sons acusticamente próximos, porém isto só é possível quando o professor está preparado e também quando a escola lhe dá as condições necessárias para que possa desenvolver este trabalho de forma correta. 
A linguagem também desempenha papel decisivo na compreensão de mundo e na transmissão de valores pessoais sociais e culturais, a autora do livro fala ainda sobre a leitura, a escrita e a linguagem gráfica, como meio de comunicação. E no último capítulo a autora diserta sobre a dificuldade de aprendizagem e como esta dificuldade reflete em uma evasão escolar.
Conforme a autora a escola e o professor têm um papel de suma importância neste processo. 
Apesar da autora através de pesquisas dar bastantes subsídios para que os professores possam desenvolver melhor suas funções dentro da sala de aula, a verdade é que através de várias pesquisas em loco pode-se afirmar que o professor não consegue alcançar resultados positivos em sua prática pedagógica, pois não sabe utilizar adequadamente os recursos e os materiais, e, além disso, não tem conhecimento suficiente para fazer um diagnóstico do aluno no que se refere à avaliação de sua competência curricular. É necessário que o profissional invista em adquirir mais conhecimento desta área e para isto é muito importante o apoio do Estado (municipal e estadual), oferecendo oportunidades de qualificação para estes profissionais. 
Conforme trabalho acadêmico feito pela PUC Minas, a formação tradicional do professor, ao abranger e tratar a educação como um processo de ensino e processo de aprendizagem estáticos, trouxe a ideia de um ensino "universal", ou seja, homogêneo, único e bom para todos os considerados "normais". Para aqueles que não se enquadravam nesse padrão de aprendizagem necessitando de processos de ensino diferenciados, havia o ensino especial. 
Esse contexto fez com que o professor internalizasse a ideia totalmente equivocada de que existiriam duas categorias qualitativamente diferentes de alunos: os "normais" e os "anormais". Os "normais" seriam alunos que aprendem num mesmo contexto educacional, com processos similares. Já os "anormais" seriam os que perturbam o processo "comum" de ensino e apresentam problemas de aprendizagem. Por isso mesmo deviam ser isolados, retirados do ambiente regular para não prejudicar o andamento da classe. 
Para Bueno (1999, pg.36), essa visão das possibilidades de aprendizagem de diferentes alunos serem assemelhadas é a primeira dificuldade a ser enfrentada na efetivação da proposta da escola inclusiva e, portanto do entendimento da psicomotricidade na educação e na reeducação. A reeducação que é trabalhada com crianças que apresentam alguma deficiência, transtornos ou atrasos no desenvolvimento hoje são tratados corporalmente mediante uma intervenção clínica realizada por um pessoal especializado, o professor dentro da sala de aula na maioria das vezes não se encontra apto a aplicá-la. 
No entanto, não se pretende que o professor faça sessões de psicoterapia com o aluno, porém uma ação pedagógica faz-se necessária enfocando uma educação global, respeitando as potencialidades e limitações do grupo. 
Considerando a criança como ser integral desse processo, cabe à escola criar o máximo de situações onde ela interaja de maneira atrativa e prazerosa, com atividades que favoreçam o seu amadurecimento psicomotor. 
Segundo LAPIERRE (1986, pg.45), a educação psicomotora tem por objetivo não só a descoberta do seu próprio corpo e capacidade de execução do movimento, mas ainda a descoberta do outro e do meio ambiente, utilizando melhor suas capacidades psíquicas, facilitando a aquisição de aprendizagens posteriores. ` 
Concluindo para que haja um ganho de aprendizado acredito que o educador não deve se preocupar só com a aprendizagem específica de determinada tarefa. Existem dificuldades que resistem a uma pedagogia normal. É por isto que acredito que o professor deve – antes de qualquer coisa – promover condições para que esta aprendizagem se torne satisfatória. O professor deve estar sempre aberto às indagações e dúvidas, tratar os alunos com respeito e consideração, respeitar o ritmo de cada um, ou seja, perceber a individualidade e assim perceber as necessidades de cada um. 
Recomendo o livro de Gislene de Campos Oliveira a todos os profissionais de ensino fundamental, pois o resultado de pesquisas e estudos feitos sobre a psicomotricidade pode contribuir muito para que estes profissionais possam compreender e analisar as principais dificuldades de aprendizado encontradas em sala de aula. Recomendo também aos profissionais da área de psicologia, fonaudiologia, neurologia. 
Neste parágrafo falarei um pouco sobre a autora do livro, ela é psicóloga e professora universitária, doutora em Psicologia Educacional pela Unicamp - Campinas. É membro do Gepesp - Grupo de Estudos e Pesquisas em Psicopedagogia da Unicamp. 
         
OLIVEIRA, Vera Barros de.

O brincar e a criança do nascimento aos seis anos
No brincar casam-se a espontaneidade e a criatividade com a progressiva aceitação das regras sociais e morais. Brincando a criança se humaniza, aprendendo a conciliar de forma afetiva a afirmação de si mesma à criação de vínculos afetivos duradouros.
O brincar vem a ser ferramenta por excelência de que dispõe a criança para aprender a viver. Brincadeira e imitação dão-se as mãos nesse processo. O brincatr faz parte inerente do processo de desenvolvimento infantil, cognitivo e afetivo-emocional, não podendo ser visto como uma atividade complementar, supérflua ou até mesmo indispensável. Do nascimento aos seis anos, a criança percorre em rápidas passadas aquilo que a humanidade levou milênios para conseguir atingir.
Essa aceleração vertiginosa, alcançada pelas estruturas mentais, é possibilitada e extremamente facilitada pelos esquemas lúdicos, que se caracterizam justamente pelo predomínio do prazer sobre a tensão do esforço prolongado, na busca de melhor adaptação à realidade. Brincando, a criança vai construindo os alicerces da compreensão e utilização de sistemas simbólicos como a escrita, assim como da capacidade e habilidade em perceber, criar, manter e desenvolver laços de afeto e confiança no outro.
Esse processo tem início desde o nascimento, com o bebê aprendendo a brincar com a própria mãozinha, e mais adiante, coma mãe. Assim como aos poucos vai coordenando, agilizando e dotando seus gestos de intenção e precisão progressivas, vai aprendendo a interagir com os outros, inclusive com seus pares, crescendo em autonomia e sociabilidade.
Este livro, através de diferentes abordagens, conjugando a Psicologia, a Neurologia e a Educação, acompanha de perto essa evolução, fundamentando-a teoricamente, aos mesmo que faz propostas práticas ao dia-a-dia de quem lida com a criança, especificando as características das diferentes fases do desenvolvimento. Escrito numa linguagem clara e coloquial, abre sua leitura ao grande público.


OLIVEIRA-FORMOSINHO
PEDAGOGIA(S) DA INFÂNCIA - DIALOGANDO COM O PASSADO, CONSTRUINDO O FUTURO1
Célia Maria Guimarães2
O livro foi organizado a três mãos – Júlia Oliveira-Formosinho, associada do Instituto de Estudos da Criança (IEC) da Universidade do Minho e vice-presidente da Associação Criança, de Braga, Portugal; Tizuko Morchida Kishimoto, professora titular da Faculdade De Educação da Universidade de São Paulo e coordenadora da rede de pesquisadores Contextos Integrados de Educação Infantil, do Laboratório de Brinquedos e Materiais Pedagógicos (LABRIMP) e do Museu da Educação e Brinquedo e Mônica Appezzato Pinazza, professora doutora da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo e da Universidade São Judas Tadeu. O livro conta com doze textos de pesquisadores e professores vinculados a universidades brasileiras e portuguesas oriundos de diferentes áreas de formação e de atuação na educação.
A apresentação do livro, de autoria de Júlia Oliveira-Formosinho, nos informa os motivos da organização deste projeto - revisitar os pedagogos dos dois últimos séculos como Dewey, Freinet, Froebel, Montessori, Malaguzzi, e autores como Piaget, Bruner, Vygotsky para estabelecer com eles um diálogo que permita o duplo movimento de desconstrução-reconstrução da pedagogia. Segundo dizeres da autora o livro afasta-se de “um presentismo redutor” e procura perguntar e responder de que modo ocorreram inovações nas concepções de criança e de adulto, de escola, professor e aluno, de processo ensinoaprendizagem e como essas concepções foram anunciadas na pedagogia do século XX. Informa-nos que o livro baseia-se na denúncia da persistência do modo transmissivo de fazer pedagogia, na urgência de desconstruir o modo transmissivo e de construir o modo participativo, no reconhecimento de que a memória e a historia são fecundas em propostas para traçar caminhos de recontextualização da pedagogia da infância, no reconhecimento de que a dependência do presentismo empobrece a cultura pedagógica e nos deixa vulneráveis aos modismos. Afirma que é o diálogo com essas propostas que dá origem a identidade de uma comunidade cultural e sustenta a reinvenção do futuro. O livro, segundo sua apresentadora, também se lança ao desafio de recusar alternativas pedagógicas como retórica e de exigi-las como ação.
O primeiro capítulo de autoria de Júlia Oliveira-Formosinho sob o titulo “Pedagogia(s) da infância: reconstruindo uma práxis de participação” enfatiza a persistência do modo de fazer pedagogia que ignora os direitos da criança de ser vista como capaz e a ter espaço de participação e escreve o capítulo com a intenção de “contribuir para a reconstrução de uma pedagogia da infância baseada em uma práxis de participação”.
Aborda os modos de transmissão e os modos de participação e seus contrastes na forma de fazer pedagogia e lembra ao leitor os pedagogos que desconstuiram o modo tradicional para construir modos alternativos de fazer pedagogia. Discute a lógica da pedagogia da transmissão e a da participação e enuncia as tarefas centrais de um modo participativo de fazer pedagogia. Propõe e faz uma leitura do contraste entre estes dois modos de fazer educação para afastar dúvidas sobre o que é uma educação não-tradicional. Trata da pedagogicidade do espaço e dos materiais e discute o que caracteriza um contexto educativo para educação infantil. Desenvolve argumentação acerca da pedagogia participativa demonstrando a impossibilidade de dissociar os processos de aprendizagem e os contextos em que se desenrolam. Defende que a existência de um modelo pedagógico concebido como um sistema educacional que combina um quadro de valores, uma teoria e uma pratica permite a concretização no cotidiano duma práxis pedagógica e este é fator de sustentação da práxis dos educadores.
Tizuko Kishimoto e Mônica Pinazza escrevem no capitulo 2: “Froebel: uma pedagogia do brincar para infância” com a intenção de oferecer ao leitor um panorama sobre vida e obra do referido autor, pois consideram que aspectos como o papel do brincar no desenvolvimento da linguagem, a educação e os cuidados, as linguagens integradas na educação da criança pequena e a formação do educador, podem contribuir para elaboração de uma pedagogia da infância. As autoras enfatizam que uma pedagogia que valorize a atividade e a participação infantil e considere o brincar como essenciais no plano curricular e metodológico precisam considerar os pressupostos filosóficos de Froebel.
No capitulo 3, Mônica Pinazza apresenta ao leitor “John Dewey: inspirações para uma pedagogia da infância”. A autora recupera os conceitos deweyanos de experiência, de pensamento reflexivo e educação pela e para a eqüidade com intenção de explicitar as possíveis contribuições à formação da criança e do adulto reflexivos. Lembra ao leitor que Dewey se refere a processos educativos e à criança nos planos individual e social, antes de tratá-la como aluno, teses que podem iluminar caminhos para uma pedagogia da infância.
Maristela Angotti escreve “Maria Montessori: uma mulher que ousou viver transgressões”, ressaltando a história e obra de Maria Montessori dedicada a criança com objetivo de inspirar o leitor a compreender a perspectiva educacional decorrente. A autora discorre sobre a ideia de criança, sobre os princípios e a perspectiva da educação e da escola concebida pela pensadora e encerra seu texto analisando as contribuições e as fragilidades da pedagogia montessoriana.
No capitulo 5, os portugueses Joaquim Araújo e Alberto Araújo, também tratam da pedagogia montessoriana no texto “Maria Montessori: infância, educação e paz”. Iniciam lembrando que Montessori interessouse pela pedagogia não por vocação para o ensino, mas pelo contato com crianças com deficiência mental na clinica psiquiátrica após ter se tornado a primeira mulher médica da Itália em 1896. Os autores apresentam as linhas mestras da pedagogia científica de Montessori e os seus princípios, e realçam a idéia de infância presente em sua obra.
Marisa Elias e Emilia Cipriano apresentam ao leitor “Freinet e a pedagogia – uma velha idéia muito atual”. Neste texto o autor, sua história e a história da pedagogia Freinet são expostos com objetivo de elucidar as contribuições deste pedagogo à formação de professores de crianças pequenas e a constituição da pedagogia da infância nos tempos atuais, tais como: o papel da educação e da escola, a concepção de criança, o papel pessoal-profissional do professor, a organização do tempo e do espaço da escola, entre outras coisas.
O capitulo 7 do livro sob o titulo: “Célestin Freinet: trabalho, cooperação e aprendizagem” é obra dos portugueses Joaquim Araújo e Alberto Araújo que aprofunda a leitura sobre Célestin Freinet ao apresentar o sentido da pedagogia Freinet confirmando o assentamento desta pedagogia na confiança depositada na capacidade da criança pensar e se expressar. A pedagogia Freinet é desvelada de modo que o leitor poderá se libertar de qualquer incompreensão sobre a inovação pedagógica por ele proposta e construir o significado da mudança educacional que pretendia através da mudança nas técnicas de trabalho. O trabalho escolar diário dos professores com as crianças é discutido como práxis docente e no seu contexto as técnicas de ensino são dimensionadas.
Fátima Vieira e Dalila Lino desenvolvem o capitulo 8 “As contribuições da teórica de Piaget para a pedagógica da infância”. Abordam a vida, a obra e as contribuições do psicólogo e epistemólogo Jean Piaget a psicologia do desenvolvimento no século XX. Apresentam a teoria sobre o desenvolvimento moral, os estágios do desenvolvimento cognitivo e destacam da teoria piagetiana dois conceitos para a pedagogia da infância – a noção da construção do conhecimento e o papel ativo da criança nesta construção. As autoras apresentam algumas das criticas desenvolvidas acerca da teoria de Piaget e a reflexão sobre a epistemologia genética com seus processos de construção do conhecimento que por sua natureza se afasta da explicação maturacionista ou positivista de como a criança aprende.
No capitulo 9, Alexandra Pimentel apresenta “Vygotsky: uma abordagem histórico-cultural da educação infantil”. O texto explica a constituição da psicologia histórico-cultural e o sistema psicológico de Vygotsky sobre o desenvolvimento humano. Focaliza as relações entre jogo, aprendizagem e desenvolvimento em relação com a zona de desenvolvimento proximal. Com base na abordagem em discussão dimensiona o desenvolvimento da imaginação infantil e das regras no contexto do jogo e do brincar. Informa ao leitor a compreensão que a abordagem histórico-cultural tem da interação entre educador e criança, da evolução no campo das motivações e necessidades, da superação do egocentrismo cognitivo, da evolução das ações mentais, da conduta voluntária na criança. São apresentados resultados de pesquisa sobre professores de educação infantil e suas práticas com jogos e ressalta que a formação de professores de crianças pequenas precisa contribuir para a transformação da forma de o professor conceber seu papel e deveria fomentar o interesse por compreender como o jogo pode beneficiar a criança.
Tizuko Morchida Kishimoto escreve o capítulo 10: “Brincadeiras e narrativas infantis: contribuições de J. Bruner para a pedagogia da infância”. A autora apresenta Bruner e suas principais idéias para demonstrar “... que as brincadeiras e narrativas integram uma proposta para uma pedagogia socioconstrutivista da equidade.” Com base na teoria de Bruner a pedagogia socioconstrutivista contribui no âmbito da educação infantil para a compreensão da narrativa capaz de dar sentido ao mundo e a experiência da criança pequena. Para fins de conclusão do texto são apresentadas as contribuições desta teoria para a desconstrução de práticas educacionais tradicionais. A autora ressalta a valorização ao papel do adulto e da ação educativa interativa para o desenvolvimento infantil e a ideia de criança capaz; lembra que os jogos e narrativas devem ser valorizados no processo de construção de pedagogias para a infância com base nas ciências da educação, nas políticas públicas de equidade, com a participação de comunidades de aprendizagem que respeitem as vozes das crianças.
Em “Loris Malaguzzi e os direitos das crianças pequenas”, Ana Lucia Goulart de Faria apresenta o educador italiano, sua obra e especialmente suas ideias sobre a criança pequena, centro de sua pedagogia. A pedagogia de Loris Malaguzzi é descortinada para que o leitor a conheça em sua dimensão, intenções, princípios, concepções sobre a criança e a participação da família, assim como o trabalho pedagógico comprometido com a equidade no âmbito da educação pública.
Encerrando o livro, João Formosinho e Joaquim Machado de Araújo, em “Anônimo do século XX - a construção da pedagogia burocrática”, discutem a construção da pedagogia burocrática como o modelo ideal de Max Weber e definem o que compreendem como o autor anônimo. Evidenciam os processos decisórios próprios de um sistema de ação burocrática, enfatizam seu discurso de legitimação e mobilização e identificam a ideia de criança, de professor e de escola a ela subjacentes. Saiba o leitor que se trata de uma obra que traz uma sistematização da contribuição de grandes pedagogos e estudiosos da criança pequena para o estudo dos fundamentos e significados da construção das pedagogias para a infância num momento histórico de transformação de paradigmas do trabalho docente e de formação do professor da educação infantil. Ressalte-se neste livro o primeiro e último capítulos pela densidade da discussão sobre a educação infantil e o trabalho com a criança pequena.
1 Resenha livre de OLIVEIRA- FORMOSINHO, Júlia; KISHIMOTO, Tizuko Morshida; PINAZZA, Mônica Appezzato (org.) Porto Alegre: Armed, 2007.

2 Doutora em Educação pela FFC/UNESP de Marília; Professora da Pós-Graduação em Educação e do Departamento de Educação da FCT/UNESP de Presidente Prudente-SP. Nuances: estudos sobre Educação. Presidente Prudente, SP, ano XIII, v. 14, n. 15, p. 213-217, jan./dez. 2007

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