1.
Qual
É a Diferença entre Multidisciplinaridade, Interdisciplinaridade e
Transdisciplinaridade?
2.
Interdisciplinaridade
3.
Intervenções
Disciplinares: Os Efeitos da Relação Professor-Aluno
4.
Questões
sobre A Organização do Trabalho na Escola
5.
Orientações
para (Re)Elaboração do Projeto Político Pedagógico das Escolas
Municipais
6.
Planejamento,
Um Ato Coletivo
7.
Exemplos
de Sistemas de Tutoria
8. A Experiência De Lóczy
Links:
Pressupostos Teórico-metodológicos para Formação Docente na Perspectiva da Teoria Histórico-Cultural
Competências e Atribuições do Orientador Educacional Documentação pedagógica como instrumento de reflexão e produção docente na educação infantil Elementos para a Gestão Democrática na Educação A Gestão Educacional e suas Implicações para a Organização e o Desenvolvimento do Trabalho Escolar Interação Escola Família <> Subsídios para práticas escolares VEIGA, Ilma Passos. Projeto político-Pedagógico da escola: Uma Construção Coletiva |
QUAL É A DIFERENÇA ENTRE MULTIDISCIPLINARIDADE, INTERDISCIPLINARIDADE E TRANSDISCIPLINARIDADE?
Maria de Fátima Girardelli
O mundo é uma totalidade. Mas, sendo tão grande e complexo, seu conhecimento é feito pelas partes. Foi essa ideia de que a fragmentação facilita a compreensão do conhecimento científico que orientou a elaboração dos currículos básicos em um certo número de disciplinas consideradas indispensáveis à construção do saber escolar. Tal simplificação, por outro lado, complicou a compreensão de fenômenos mais complexos. A solução para o problema foi relacionar as várias disciplinas do currículo.
Segundo Piaget, as relações entre as disciplinas podem se dar em três níveis: multidisciplinaridade, interdisciplinaridade e transdiciplinaridade. Na multidisciplinaridade, recorremos a informações de várias matérias para estudar um determinado elemento, sem a preocupação de interligar as disciplinas entre si. Assim, ao analisar uma pintura renascentista, podemos usar dados vindos da História, da Química e da Educação Artística. A História conta, por exemplo, quando foi o período chamado Renascimento. A Química descreve a composição do material usado na pintura. A Educação Artística lida com seus aspectos estéticos — as cores usadas, a disposição dos elementos na tela e daí por diante. Neste caso, cada matéria contribuiu com informações pertinentes ao seu campo de conhecimento, sem que houvesse uma real integração entre elas. Essa forma de relacionamento entre as disciplinas é a menos eficaz para a transferência de conhecimentos para os alunos.
Na interdisciplinaridade, estabelecemos uma interação entre duas ou mais disciplinas. No exemplo anterior, haveria interdisciplinaridade se, ao estudar a pintura, relacionássemos o contexto histórico do Renascimento com os temas usados pelos artistas de então e sobre as técnicas empregadas por eles. A análise do material utilizado na pintura poderia ser ampliada para um estudo do desenvolvimento tecnológico ao longo do tempo.
O ensino baseado na interdisciplinaridade proporciona uma aprendizagem muito mais estruturada e rica, pois os conceitos estão organizados em torno de unidades mais globais, de estruturas conceituais e metodológicas compartilhadas por várias disciplinas. Na transdisciplinaridade, a cooperação entre as várias matérias é tanta, que não dá mais para separá-las: acaba surgindo uma nova "macrodisciplina". Um exemplo de transdisciplinaridade são as grandes teorias explicativas do funcionamento das sociedades. Esse é o estágio de cooperação entre as disciplinas mais difícil de ser aplicado na escola, pois há sempre a possibilidade de uma disciplina "imperialista" sobrepor-se às outras.
O mundo é uma totalidade. Mas, sendo tão grande e complexo, seu conhecimento é feito pelas partes. Foi essa idéia de que a fragmentação facilita a compreensão do conhecimento científico que orientou a elaboração dos currículos básicos em um certo número de disciplinas consideradas indispensáveis à construção do saber escolar. Tal simplificação, por outro lado, complicou a compreensão de fenômenos mais complexos. A solução para o problema foi relacionar as várias disciplinas do currículo.
Segundo Piaget, as relações entre as disciplinas podem se dar em três níveis: multidisciplinaridade, interdisciplinaridade e transdiciplinaridade. Na multidisciplinaridade, recorremos a informações de várias matérias para estudar um determinado elemento, sem a preocupação de interligar as disciplinas entre si. Assim, ao analisar uma pintura renascentista, podemos usar dados vindos da História, da Química e da Educação Artística. A História conta, por exemplo, quando foi o período chamado Renascimento. A Química descreve a composição do material usado na pintura. A Educação Artística lida com seus aspectos estéticos — as cores usadas, a disposição dos elementos na tela e daí por diante. Neste caso, cada matéria contribuiu com informações pertinentes ao seu campo de conhecimento, sem que houvesse uma real integração entre elas. Essa forma de relacionamento entre as disciplinas é a menos eficaz para a transferência de conhecimentos para os alunos.
Na interdisciplinaridade, estabelecemos uma interação entre duas ou mais disciplinas. No exemplo anterior, haveria interdisciplinaridade se, ao estudar a pintura, relacionássemos o contexto histórico do Renascimento com os temas usados pelos artistas de então e sobre as técnicas empregadas por eles. A análise do material utilizado na pintura poderia ser ampliada para um estudo do desenvolvimento tecnológico ao longo do tempo.
O ensino baseado na interdisciplinaridade proporciona uma aprendizagem muito mais estruturada e rica, pois os conceitos estão organizados em torno de unidades mais globais, de estruturas conceituais e metodológicas compartilhadas por várias disciplinas. Na transdisciplinaridade, a cooperação entre as várias matérias é tanta, que não dá mais para separá-las: acaba surgindo uma nova "macrodisciplina". Um exemplo de transdisciplinaridade são as grandes teorias explicativas do funcionamento das sociedades. Esse é o estágio de cooperação entre as disciplinas mais difícil de ser aplicado na escola, pois há sempre a possibilidade de uma disciplina "imperialista" sobrepor-se às outras.
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A interdisciplinaridade começou a
ser abordada no Brasil a
partir da Lei de Diretrizes e Bases Nº
5.692/71. Desde então, sua presença no cenário educacional brasileiro tem se
tornado mais presente e, recentemente, mais ainda, com a nova LDB Nº 9.394/96 e
com os Parâmetros. Além da sua grande influência na legislação e nas propostas
curriculares, a interdisciplinaridade tornou-se cada vez mais presente no
discurso e na prática de professores.
A
utilização da interdisciplinaridade como forma de desenvolver um trabalho de
integração dos conteúdos de uma disciplina com outras áreas de conhecimento é
uma das propostas apresentadas pelos PCN`s que contribui para o aprendizado do aluno. Apesar disso, estudos têm
revelado que a interdisciplinaridade ainda é pouco conhecida.
É
possível a interação entre disciplinas aparentemente distintas. Esta interação
é uma maneira complementar ou suplementar que possibilita a formulação de um
saber crítico-reflexivo, saber esse que deve ser valorizado cada vez no
processo de ensino-aprendizado. É através dessa perspectiva que ela surge como
uma forma de superar a fragmentação entre as disciplinas. Proporcionando um
diálogo entre estas, relacionando-as entre si para a compreensão da realidade.
A interdisciplinaridade busca relacionar as disciplinas no momento de enfrentar
temas de estudo.
Segundo
Libâneo (1994), o processo de ensino se caracteriza pela combinação de
atividades do professor e dos alunos, ou seja, o professor dirige o estudo das
matérias e assim, os alunos atingem progressivamente o desenvolvimento de suas
capacidades mentais. É importante ressaltar que o direcionamento do processo de
ensino necessita do conhecimento dos princípios e diretrizes, métodos,
procedimentos e outras formas organizativas.
Ela implica na articulação de ações disciplinares
que buscam um interesse em comum. Dessa forma, a interdisciplinaridade só será
eficaz se for uma maneira eficiente de se atingir metas educacionais
previamente estabelecidas e compartilhadas pelos atores da unidade escolar.
A
interdisciplinaridade oferece uma nova postura diante do conhecimento, uma
mudança de atitude em busca do contexto do conhecimento, em busca do ser como
pessoa integral. A interdisciplinaridade visa garantir a construção de um
conhecimento globalizante, rompendo com os limites das disciplinas.
Trabalhar
nessa perspectiva exige uma postura do professor que vai além do que está
descrito nos PCNS, pois é necessário que ele assuma uma atitude endógena e que
faço uso de metodologias didáticas adequadas para essa perspectiva. É através
do ensino interdisciplinar, dentro do aspecto histórico-crítico, que os
professores possibilitarão aos seus alunos uma aprendizagem eficaz na
compreensão da realidade em sua complexidade.
Magistério
2013/fdrfh
18. Assinale a alternativa que identifica
uma característica da interdisciplinaridade.
a) Os
conteúdos escolares são apresentados por matérias independentes uma das
outras.
b) O
conjunto de matérias ou disciplinas é proposto simultaneamente, sem que
apareçam explicitamente as relações que podem existir entre elas.
c) O
grau máximo de relações entre as disciplinas supõe uma integração global
dentro de um sistema totalizador.
d) O
favorecimento de uma unidade interpretativa, com o objetivo de constituir uma
ciência que explique a realidade sem parcelamento.
e) A interação entre duas ou mais disciplinas
desde a simples comunicação de ideias até a integração recíproca de
conceitos.
|
Magistério
2013/fdrh
Analise
as afirmações abaixo sobre a interdisciplinaridade.
I - É uma forma de desenvolver um trabalho
de integração dos conteúdos de uma disciplina com outras áreas do
conhecimento.
II - É uma postura que visa garantir a
construção de um conhecimento globalizante, rompendo com os limites das
disciplinas
III - É a articulação de ações disciplinares
que buscam um interesse comum.
Quais estão corretas?
a)
Apenas a I
b)
Apenas a II
c)
Apenas a III
d)
Apenas a II e a III
e) A I, a II e a III
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INTERVENÇÕES DISCIPLINARES:
OS EFEITOS DA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO
Resumo:
O presente trabalho busca identificar conceituações
sobre o que é considerado indisciplina em sala de aula, assim como as
intervenções realizadas pelos professores junto às crianças envolvendo ou
não, pais, coordenação e diretoria escolar. A pesquisa se desenvolveu com
cinco professores do 6º ano do ensino fundamental, de duas escolas estaduais,
da periferia da cidade de São Paulo. Os dados obtidos foram analisados com
base no pensamento de Piaget e Vygotsky buscando verificar as consequências
das estratégias utilizadas no desenvolvimento psicossocial dos alunos.
Palavras-chave: Indisciplina, professor,
aluno, Vygotsky e Piaget., Psicologia Escolar, Psicologia da Educação, Psicologia Científica, Pesquisa Científica em
Psicologia
Autores: Bruno Ribeiro Apollonio; Camila André
de Souza; Jacqueline Pereira Bezerra; Julio Rafael da Silva; Marcelo Padilha
Julio
Alunos do 4º semestre de psicologia da Universidade
Paulista – Unip. Campus Chácara Santo Antônio – São Paulo.
Com orientação da Professora: Dra. Mônica Cintrão
Classificação do Trabalho : Trabalho de Curso
Endereço de e-mail – Camila Souza (ca_mila11@hotmail.com)
PROBLEMA DE PESQUISA
Em que os professores do 6º ano do ensino
fundamental de escolas públicas se baseiam em sua atuação em sala de aula no
que diz respeito a alunos indisciplinados?
OBJETIVOS
Investigar quais as estratégias dos professores em
relação à indisciplina e suas possíveis consequências no desenvolvimento
psicossocial dos alunos.
JUSTIFICATIVA
· Relevância
Social
Verificando nesta amostra de professores, qual a
metodologia de trabalho utilizada para lidar com os problemas de indisciplina
na sala de aula e as conseqüências destas ações, podemos apontar aspectos na
formação dos professores que têm sido aplicados de maneira positiva e alguma
defasagem que pode trazer prejuízos aos alunos nas suas relações sociais
dentro e fora da escola.
· Relevância
Científica
Para a psicologia é importante produzir
conhecimento sobre a relação professor-aluno para que o psicólogo escolar
tenha mais parâmetros para uma possível intervenção nos problemas referentes
a esta relação. Deixando de focar apenas aspectos individuais, centralizando
as dificuldades no aluno e passando a partir daí a também atentar para as
demais situações envolvidas na questão disciplinar.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A disciplina na escola é uma questão discutida de
forma direta ou indireta por pais, alunos, professores e diretores. É comum
no cotidiano nos depararmos com notícias nos meios de comunicação envolvendo
agressões físicas e morais entre alunos, agressões do aluno ao professor e
vice-versa.
Este problema escolar tem sido o objeto de estudo
de diversos pesquisadores (Aquino, 1996; Bernard, 2002; Araújo & Peréz,
2006), que apontam os problemas que podem surgir de uma prática disciplinar
excessivamente rígida e as também prejudiciais conseqüências de uma
disciplina permissiva (Aquino, 1996).
Em pesquisa realizada por Silva & Neves (2006),
com alunos de duas turmas do 6ºano de escolaridade, tendo como objetivo
entender a indisciplina na sala de aula, podemos encontrar casos de alunos
que encontram formas de lidar com a rigidez do professor, tomando domínio da
situação, como por exemplo, comportar-se de forma a chamar a atenção dos
outros alunos para si, perturbando o andamento da aula, ou manter-se em grupo
já que dessa forma o aluno consegue aumentar o que as autoras denominam
“poder informal” sobre o professor.
Piaget (1980), afirma que o ato de banditismo pode
até mesmo ser considerado entre as partes como lícito em casos onde todo o
grupo entre em consenso e estabeleça este ato anteriormente considerado como
amoral como algo aprovado pela consciência comum.
Precisamos considerar também que a indisciplina não
é algo genérico, de acordo com Souza (2004), “(…) algo é indisciplina para
alguém, portanto o conceito varia conforme a exigência de cada um (…)”.
Muitas vezes, inclusive as expectativas do professor em relação ao aluno
estão muito além do que ele pode cumprir de maneira sadia. É necessário que o
professor não se exclua da relação, mas que possa ver a si próprio e o
aluno como constitutivos um do outro, que só podem ser entendidos neste
vínculo (Galdini e Aguiar, 2003).
São várias as questões que interferem nos problemas
que encontramos na escola
“O encadeamento reprovação/repetência/evasão e
outros aspectos da baixa qualidade de ensino são problemas crônicos hoje nas
escolas brasileiras, decorrentes de outros problemas relativos às condições
de trabalho existentes e às condições para o trabalho apresentado pelos
agentes.“ (Marin, 1998).
Para compreendermos melhor o fenômeno que nos
propomos a discutir no presente trabalho, um aspecto importante a ser
refletido é como as crianças constroem a noção de regra, cooperação e
respeito mútuo. Questão que Piaget na sua psicogênese se preocupa em
responder. Definindo três estágios pelos quais o sujeito desenvolve o juízo
moral sobre seus atos: anomia, heteronomia e autonomia (Piaget, 2006). No
primeiro estagio, a criança está num estado sem regras, é um estagio onde a
regra é puramente motora, a criança age de forma a realizar seus próprios
desejos ou a seguir seus hábitos motores. No segundo estagio a regra é algo
que não pode ser transgredido, é sagrada, imutável e unilateral, é um estado
de heteronomia.
“(…) as regras que a criança aprende a respeitar,
lhe são transmitidas pela maioria dos adultos, isto é, ela as recebe já
elaboradas, e, quase sempre, nunca elaboradas na medida de suas necessidades
e de seu interesse, mas de uma vez só e pela sucessão ininterrupta das
gerações adultas anteriores.” (Piaget, 2006)
Já no terceiro estágio a regra passa a ser vista
como algo que foi eleito pelo consenso de todos e pode ser modificada desde
que todos concordem, ou seja, a moral se torna autônoma (Piaget, 1994).
A nossa investigação vai se ater a professores que
lidam com salas de 6ºano onde se encontram, com poucas exceções, crianças com
mais de 10 anos, ou seja, crianças que teoricamente estariam no terceiro
estágio relatado, onde o individuo conquista uma autonomia moral. É neste
estágio que as regras se tornam resultado de livre decisão, é algo construído
e autômato, o respeito unilateral do estágio anterior é substituído pelo
respeito mutuo. Aos poucos ela vai deixando de aceitar regras sem explicações
(Freitas, 2002).
Somando-se ao que foi apresentado, é importante
destacarmos que o entendimento da regra é um processo que faz parte do
desenvolvimento da criança e nesta construção o professor desempenha um papel
essencial, ponto ressaltado por Vygotsky onde a interação face a face entre
indivíduos desempenha um papel fundamental na constituição do ser humano: é
através da relação interpessoal concreta que o aluno vai chegar a
interiorizar, pois é através dos diversos elementos do ambiente culturalmente
estruturado que é fornecida a matéria-prima para o desenvolvimento
psicológico do indivíduo.(Kohl, 1993).
Para Vygotsky o processo de desenvolvimento do ser
humano, marcado por sua inserção em determinado grupo cultural, se dá “de
fora para dentro”. A diferença entre a capacidade de resolver sozinho um
problema (nível real) e a capacidade em resolver somente com o auxilio de
outro individuo mais experiente (nível potencial), é conhecida como ‘Zona de
Desenvolvimento Proximal’. Daí a importância de interações sociais. A Zona de
Desenvolvimento Proximal encontra-se sempre em mudança, pois as pessoas estão
sempre em desenvolvimento.
O ensino deve objetivar sempre um nível de
desenvolvimento cognitivo superior àquele que o individuo já alcançou,
segundo Vygotsky, pois se é ensinado algo que o indivíduo já sabe ou que não
é passível de compreensão (muito superior ao conhecimento adquirido), poderá
gerar falta de atenção ou desinteresse.
Na
teoria de Vygotsky, uma ideia central para a compreensão de suas concepções
sobre o desenvolvimento humano como processo sócio-histórico é a idéia
de mediação: enquanto sujeito do conhecimento o homem não tem acesso
direto aos objetos, mas acesso mediado, através de recortes do real, operados
pelos sistemas simbólicos de que dispõe.
“A teoria de Vygotsky contribui para essa nova
visão da criança, atribuindo importância à dimensão social, mediando assim a
relação do indivíduo com o mundo. O aprendizado ocorre mediante a inserção do
indivíduo em um grupo cultural, promovendo o desenvolvimento das funções
psicológicas superiores (pensamento, percepção, memória, raciocínio e
volição). “ (Tuleski, 2005)
Portanto, o professor exerce papel fundamental na
vida do sujeito, pois o conhecimento não está sendo visto apenas como uma
ação do sujeito sobre a realidade, e sim, pela mediação feita por outros
sujeitos, é a construção do conhecimento como uma interação mediada por
várias relações.
“Vygotsky, teve contato com a obra de Piaget e,
embora teça elogios a ela em muitos aspectos, também a critica, por
considerar que Piaget não deu a devida importância à situação social e ao
meio. Ambos atribuem grande importância ao organismo ativo, mas Vygotsky
destaca o papel do contexto histórico e cultural nos processos de
desenvolvimento e aprendizagem, sendo chamado de socio-interacionista,
e não apenas de interacionista como Piaget.
Piaget coloca ênfase nos aspectos estruturais e nas
leis de caráter universal (de origem biológica) do desenvolvimento, enquanto
Vygotsky destaca as contribuições da cultura, da interação social e a
dimensão histórica do desenvolvimento mental.
Mas, ambos são construtivistas em suas concepções
do desenvolvimento intelectual. Ou seja, sustentam que a inteligência é
construída a partir das relações recíprocas do homem com o meio”. (ZACHARIAS,
2007).
O desenvolvimento e funcionamento das funções
psicológicas superiores está fortemente ligada aos modos culturalmente
construídos de ordenação do real, conforme Vygotsky. Instrumentos e símbolos
construídos numa determinada esfera social definem quais das inúmeras
possibilidades de funcionamento cerebral serão efetivamente concretizadas ao
longo do desenvolvimento. É pela mediação que a criança vai progressivamente
desenvolvendo as funções psicológicas superiores (são o resultado da
estimulação auto-gerada, ou seja, signos, dentro de um contexto
sócio-cultural). Aconstrução do real parte do social e vai sendo
internalizada para se tornar individual. (JOENK, 2008).
Visto isso, este estudo baseando-se numa visão
piagetiana sobre a construção do juízo moral e na importância dos mediadores
para o desenvolvimento humano apontado por Vygotsky, buscará analisar o
discurso de professores do 6º ano do ensino fundamental, de escolas públicas
na cidade de São Paulo em relação ao que fundamenta suas práticas disciplinares
em sala de aula.
MÉTODO
· Natureza
da Pesquisa: Pesquisa de campo qualitativa.
· Participantes
Cinco Professores do 6º ano do ensino fundamental
de escolas públicas da zona sul da cidade de São Paulo.
· Instrumentos
e procedimentos para obtenção de dados
Questionário (anexo)
RESULTADOS
Realizamos a pesquisa com cinco professores, três
que trabalham na mesma escola e os outros dois que trabalham em outra
instituição. Um dos entrevistados é do sexo masculino e as demais do sexo
feminino. A idade varia de 29 a 58 anos.
Quanto à primeira pergunta que se refere ao que o
professor considera como indisciplina, os comentários apontaram para:
Conversa em sala de aula;
Não desenvolver atividades;
Desacato a ordens;
Insultos e agressões, verbais ou/e físicas;
Não levar material para sala;
Brincadeiras durante a aula;
Falta de respeito com professores e funcionários.
Quando indagados sobre a forma como lidam com a
indisciplina, os professores nos relataram as seguintes ações:
Conversa com aluno para que ele reflita sobre a
importância da escola;
Exigir respeito no momento da explicação;
Chamar os pais e realizar uma reunião;
Encaminhar para direção e coordenação;
Conversar com a classe sobre o tema;
Trabalhar a base de conversa e reflexão com apoio
dos pais;
Desenvolver atividades variadas e de curta duração;
Conversa com aluno para explicar a ele os objetivos
do próprio educador na sala de aula e do ensino;
Rotina do dia;
Explicar ao aluno os limites em sala de aula.
As respostas à questão que versava sobre os efeitos
que o professor acreditava obter com sua atuação foram as seguintes:
· Acredito
no trabalho da família, se o aluno não valoriza o conhecimento nada é
possível para a disciplina;
· Acredito
que trabalhando com conteúdos e formas que fazem parte da realidade do aluno
possa ter resgatados os valores do aluno, favorecendo sua aprendizagem;
· A
conversa em particular resolve, trazendo maior respeito do aluno para com o
professor e maior empenho nos estudos;
· Tendo
a oportunidade de distinguir sobre seus atos o aluno pode aprender a avaliar
suas atitudes para sua vida cotidiana;
· Atividades
diversificadas com curto prazo fazem o aluno se concentrar sem se sentir
cansado, aumentando seu interesse em participar;
· Regras
feitas pelo próprio aluno têm muito mais valor;
· A
rotina do dia ajuda a criança a se organizar melhor.
ANÁLISE DE DADOS
Questão 1 - As respostas dos participantes
relacionadas ao que é indisciplina, apresentaram 2 níveis de significância:
1.1 – Atitudes fora do contexto de sala de
aula
Segundo Piaget, na fase de desenvolvimento que se
encontram os alunos (operatório-concreto – por volta de 11 anos), algumas
atitudes apontadas pelos professores como indisciplina, podem ser
consideradas características próprias deste estágio. Conversas e brincadeiras
fazem parte do progresso da socialização e até mesmo as discussões se tornam
mais constantes, devido ao desaparecimento do egocentrismo infantil e a possibilidade
de compreensão a respeito dos pontos de vista do outro. (Piaget, 2006).
Segundo o mesmo autor, nesta mesma fase, ocorre a internalizarão das regras,
que podem ser vistas através dos jogos coletivos, que supõem um grande e
variado número de regras. A colaboração e cooperação mútua também é algo que
distingue este estágio do anterior.
Neste ponto como o discurso dos educadores foi de
falta de envolvimento dos alunos e falta de colaboração com as atividades
propostas, muitas vezes não levando o material pedido para a sala de aula,
cabe uma outra reflexão sobre os problemas que estão impedindo o interesse
dos alunos.
Ao analisarmos as questões nos deparamos com a
resposta “brincadeiras durante a aula”, o que nos leva a refletir sobre uma
questão levantada por Souza (), na escola muitas vezes encontra-se uma cisão
entre o brincar e o estudar, onde o prazer não é algo que deva ser
relacionado ao estudar, uma visão que predomina em certas instituições e que
acarreta um desinteresse por parte do estudante em relação ao estudar.
1.2 – Violência Simbólica ou
Física
Como já apontado, como consequência do entendimento
do “outro” como diferente do “eu”, Piaget, afirma que algumas discussões são
características deste estágio, e mais, um ato muitas vezes considerado
agressivo pode ser considerado pelo grupo como legítimo, quando decorrente de
um ambiente extremamente rígido (Silva & Neves, 2006), pois nesta fase
geralmente ocorre a transição do período onde a moral era unilateral, para o
estágio onde o indivíduo passa a perceber a regra como um bem comum, sendo
ele também um “agente legislador”, passando a autonomia.
Este “poder” unilateral e suas consequências
discutiremos mais a frente ao tratarmos das estratégias utilizadas pelos
professores para lidar com a indisciplina.
Questão 2 – Para lidar com a indisciplina
2.1 – De quem é a responsabilidade?
Aluno:
· Conversa
com aluno para que ele reflita sobre a importância da escola;
· Exigir
respeito no momento da explicação;
· Conversa
com aluno para explicar a ele os objetivos do próprio educador na sala de
aula e do ensino;
· Explicar
ao aluno os limites em sala de aula.
Terceiros:
· Chamar
os pais e realizar uma reunião;
· Encaminhar
para direção e coordenação;
· Acredito
no trabalho da família, se o aluno não valoriza o conhecimento nada é
possível para a disciplina;
O problema esta na relação:
· Conversar
com a classe sobre o tema;
· Trabalhar
a base de conversa e reflexão com apoio dos pais;
· Rotina
da sala;
· Desenvolver
atividades variadas e de curta duração.
Para Vygotsky, o conhecimento e o desenvolvimento
das funções psicológicas superiores depende do meio social, da inserção do
indivíduo em um grupo que potencializa ou não o aprendizado.
Em relação à questão que discutimos parece-nos
haver uma tendência dos professores a procurar problematizar a questão
somente como responsabilidade do aluno, dos pais ou da direção da escola.
Isentando-se do seu importante papel de mediador do conhecimento, dentro
desta relação em sala de aula. Todo conhecimento, inclusive o respeito às
regras e seu entendimento como bem social, é progressivo. O professor atua na
zona de desenvolvimento proximal do aluno, transformando o conhecimento em
nível potencial em conhecimento real, através das relações que estabelece com
este aluno. Ordens, descrições de regras descontextualizadas e exigências de
um conhecimento muito distante daquele que o sujeito possui podem levar a um
desgaste da relação, gerando fracasso de ambos na questão disciplinar.
Piaget (2006), ainda reforça esta questão,
apontando que quando a regra é unilateral, ela é pautada numa moral de
obediência, submissão e dominação. Desenvolvendo a noção de que as regras são
eternas e não podem ser alteradas, mesmo que de comum acordo, devem seguir
sempre o que “tradicionalmente” foi ensinado, ou mesmo, quando há uma
violação da regra esta ocorre apenas quando o agente punitivo não está
presente, evitando-se um “castigo”.
Contrapondo-se as estratégias apresentadas, alguns
professores apontaram ações que de acordo com a teoria piagetiana, podem
auxiliar no desenvolvimento de uma moral autônoma.
Conversar com a classe sobre o tema disciplina,
firmando um acordo entre professor e aluno, levando em consideração os pontos
de vistas de ambos é uma ação que está baseada no respeito mútuo. A partir
desta relação a “regra é respeitada, não mais enquanto produto de uma vontade
exterior, mas como resultado de acordo explícito ou tácito. É, então, este o
motivo pelo qual ela é realmente respeitada.” (Piaget, 2006 p. 54). Vê-se
também que o professor aqui não nega seu papel de mediador, promovendo ele,
este diálogo, estreitando laços de respeito mútuo com os alunos. Desenvolver
atividades diversas juntamente com uma rotina do dia, são formas de mediações
que estimulam o aluno gerando interesse pela novidade, além do roteiro
permitir sua organização em relação a tempo e material necessário para o
desenvolvimento das atividades.
Podemos perceber que ao falar do encaminhamento
para terceiros o professor esta se excluindo da relação professor-aluno, o
que segundo o que dizem Galdini e Aguiar (2003), deveria ser repensado.
Dentro deste contexto encontramos uma afirmação que diz acreditar no trabalho
da família, se posicionando de forma a considerar que se o aluno não valoriza
o conhecimento nada é possível para a disciplina. Segundo Rego (2002), o
ambiente doméstico tem influencia no comportamento do sujeito, mas não é o
único determinante, cabe neste contexto propiciar para o sujeito dentro da
escola uma vivência diferente da que ele tem em casa, de forma a ter acesso a
informações desafiadoras e novas capazes de provocar mudanças.
Observação- Percebemos que uma das respostas da
questão três estava fora do tema da pergunta, mas por outro lado, em muito se
relaciona com a segunda questão, assim sendo escolhemos avaliá-la junto com a
questão dois ao invés de desconsidera-la. (“Acredito no trabalho da família,
se o aluno não valoriza o conhecimento nada é possível para a disciplina”).
Questão 3 – Possíveis consequências da atuação dos
professores
3.1 – Resgate de valores da realidade do aluno nas
atividades favorecendo aprendizagem;
De acordo Rego (2002), é imprescindível
examinar o contexto sociocultural do sujeito se insere, para assim promover a
intervenção. Ainda segundo Tanamachi e Meira (2003), é importante que se
organize os conteúdos do saber universal, mas se enfatizando o movimento de
continuidade do aluno (partir daquilo que o aluno já sabe) e discussão sobre
a realidade, que é identificamos em um das respostas.
3.2 -
Maior respeito do aluno para com o professor;
Esta resposta demonstra traços da teoria da escola
Tradicional criticada por SAVIANI (2003). Nesta argumentação fica explicita o
respeito do aluno para com o professor, mas não foca um respeito mutua, o que
deixa nítida a idéia de que o professor que tem a razão, a opinião do aluno é
colocado em segundo lugar. Este tipo de dialogo não deixa espaço para uma
cumplicidade entre professor e aluno uma vez que as posições aparecem
definidas na postura do professor perante o aluno.
3.3 -
Concentração e interesse;
Segundo Vygotsky, o aprendizado ocorre mediante a
promoção do desenvolvimento das funções psicológicas superiores (pensamento,
percepção, memória, raciocínio e volição). (TULESKI, 2005).
Por esse motivo, as atividades devem favorecer
socialização e o professor deve provocar avanços no aluno interferindo na sua
Zona de Desenvolvimento Proximal sempre à resposta da criança, pois o ensino
deve objetivar um nível de desenvolvimento cognitivo superior àquele que o
individuo já alcançou, pois se é ensinado algo que o indivíduo já sabe ou que
não é passível de compreensão, pode gerar falta de atenção ou desinteresse.
3.4 – Regras com mais valor;
Como explicitado acima, estratégias que levem em
consideração o aluno, dando oportunidade para que este faça parte do processo
de elaboração das regras, sendo firmado um “contrato” de direitos e deveres
entre as duas ou mais pessoas envolvidas na relação, promove a aquisição de
uma moral autônoma. Evidenciamos no discurso de uma das professoras
entrevistadas a confirmação desta premissa piagetiana, ao afirmar que quando
as regras são também determinadas pelos alunos estas passam a ter mais valor
para eles, tendo como consequência ações de cooperação, aumentando o vínculo
professor-aluno, com menos desgaste para ambas as partes.
3.5 -
Tendo a oportunidade de distinguir sobre seus atos o aluno pode aprender a
avaliar suas atitudes para sua vida cotidiana
Quando o professor permite e promove este tipo de
relação, ajuda no processo de auto-avaliação do aluno, que aprende a
necessidade de se manter boas relações, entendendo o valor social da regra e
esta compreensão se estende a vida cotidiana. Desta maneira o professor não é
visto apenas como o único responsável para manter a disciplina na classe,
esta responsabilidade é estendida para a todos os envolvidos na relação. E a
escolarização vai além da memorização de conteúdos, mas passa pela formação
de indivíduos autônomos conscientes de seu papel ativo e transformador no
grupo social que está inserido.
3.6 -
Possibilidade de maior organização da criança.
A criação de uma “rotina do dia” juntamente com os
alunos, além de promover os aspectos discutidos acima, como cooperação e
respeito mútuo, permite que a criança se organize e se prepare para a
atividade que está para acontecer. De acordo com Vygotsky, o desenvolvimento
e funcionamento das funções psicológicas superiores está fortemente ligada
aos modos culturalmente construídos de ordenação do real.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Primeiramente gostaríamos de registrar o quão
enriquecedor e desafiador foi a realização do trabalho. Aprendemos muito uns
com os outros e com os profissionais participantes. Pudemos observar algumas
das contrariedades existentes na relação professor-aluno e estratégias que
carregam aspectos positivos e negativos.
Através deste trabalho confirmamos o que os
teóricos apontavam, a respeito da importância do professor como mediador do
conhecimento. Ele pode fazer a diferença caso tenha sensibilidade, uma
formação que abarque estes aspectos do desenvolvimento moral na criança e um
repertório de atividades que funcionam como facilitadores para o aprendizado,
aspectos que a nosso ver, são necessários a um bom profissional.
Preocupando-nos em não somente “inverter” os papéis
e culpabilizar em vez da criança, o professor, levamos em consideração que, o
profissional, só poderá fazer a diferença se estiver motivado e inspirado,
isto envolve toda a sua vida pessoal e suas outras relações dentro do
ambiente escolar, que também reflete no trabalho individual. O psicólogo pode
atuar como mediador nestas relações, proporcionando que o professor esteja
pleno e encontrando meios para combater as adversidades encontradas.
Como o papel da escola não é formar apenas sujeitos
capazes de “armazenar” grande quantidade de conceitos, mas sim, através da
aquisição de conhecimentos, formar cidadãos conscientes e sujeitos críticos,
acreditamos que para uma melhor ação disciplinar do professor em sala de aula
é imprescindível que haja o diálogo entre as partes envolvidas na relação,
onde o aluno seja ouvido e levado em consideração. As regras, os limites e as
sanções sendo realizadas de comum acordo, possibilitam o desenvolvimento da
autonomia moral formando sujeitos ativos, questionadores e “legisladores” que
compreendem as regras como um bem social.
Um outro ponto, seria uma reflexão sobre as
características destas fases do desenvolvimento, procurando aproveitar delas
para planejar novas estratégias de ensino, como jogos, a diversificação de
atividades e trabalhos visando o coletivo.
Analisando os dados, ainda foi possível perceber
que, uma das escolas não tinha estratégia definida de como lidar com os
alunos com problemas de indisciplina, era nítido pelas respostas no
questionário que cada professor agia de uma forma. Esta postura pode gerar o
que comumente vemos nas escola: alunos que em determinadas aulas se comportam
de maneira agradável aos demais colegas e ao professor e que em outras se
comporta de forma avessa, gerando as queixas já apontadas.
A outra escola mostrava uma congruência entre as
estratégias utilizadas pelos professores, porém com pouco foco na relação
professor-aluno, mantinha uma visão unidirecional em direção aos aluno
indisciplinados.
Criticamos a isenção completa do aluno das responsabilidades
em sala de aula. Concordamos que uma rotulação dos alunos como problemáticos,
também em nada auxilia, porém é necessário reconhecer limites do papel do
professor e da escola em geral. Principalmente em casos como nos dias atuais,
por exemplo, alunos que vão armados à escola e ameaçam o professor de morte.
Sendo assim, em casos mais drásticos defendemos ser necessário serem tomadas
as medidas legais cabíveis e a atuação do psicólogo precisará buscar outros
contornos.
Por fim percebemos a importância do psicólogo para
fazer estas mediações entre professores, escola, aluno e pais . E que somente
quando todos estiverem focados no mesmo objetivo, que é o desenvolvimento dos
alunos, o fator primordial da existência da escola, somente assim poderemos
ter escolas e professores melhores, com ensino de qualidade e fazendo de
nossas crianças cidadãos que podem fazer a diferença neste Brasil objetivando
um futuro melhor.
ANEXO
Nome ou Iniciais do nome: ____________________________________________
Idade: ______________________________________________________________
Sexo: ( ) Masculino
( ) Feminino
Formado no ano: ___________________________________________________
Exerço a profissão desde: _____________________________________________
Questionário
1. O que você considera como
indisciplina sala de aula?
2. Como você lida com esta questão?
3. Quais efeitos você acredita ter
este tipo de intervenção na aprendizagem e na formação dos alunos?
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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da rede pública: potencializando a produção de novos sentidos. In: MEIRA;
ANTUNES. Psicologia Escolar: praticas criticas. São Paulo: Casa do
Psicólogo,2003. pág. 87-103.
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(disponível) http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-24782006000300007&lng=pt&nrm=iso
AQUINO, Julio Groppa “Indisciplina na escola: alternativas teóricas e
práticas” – 4º ed. -São Paulo: Summus, 1996.
BERNARD, Charlot (2000). “A violência na escola: como os sociólogos
franceses abordam esta questão” (on-line) Available; (disponível) http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-45222002000200016&lng=pt&nrm=iso
FREITAS, Lia Beatriz de Lucca (2002). “Piaget e a consciência
moral: um kantismo evolutivo?” (On-line) Available; (disponível) http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-79722002000200008
JOENK, Inhelora Kretzschmar (2008). Uma Introdução ao Pensamento
de Vygotsky.www.periodicos.udesc.br/linhas/ojs/include/getdoc.php?id=95&article=87&mode=pdf.
Acesso em 26/11/2008
MARIN, Alda Junqueira. Com o olhar nos professores: Desafios para
o enfrentamento das realidades escolares. Cad. CEDES, Abr 1998, vol.19,
no.44, p.8-18
OLIVEIRA, Marta Kohl. Vygotsky. Aprendizado e Desenvolvimento um
processo sócio-histórico. São Paulo: Scipione, 1993.
PIAGET, Jean “Seis estudos de psicologia”; tradução Maria Alice
Magalhães D’Amorim e Paulo Sérgio Lima Silva – 24º ed. – Rio de Janeiro: Forense
Universitária, 2006.
PIAGET, Jean. “ O juízo moral na criança”; tradução Elzon Lenardon – 2ª
ed. – São Paulo: Summus, 1994.
REGO, Teresa Cristina. Configurações Sociais e Singularidades: o
impacto da escola na constituição dos sujeitos. In: OLIVEIRA; SOUZA; REGO
(org.). Psicologia, Educação e Temáticas da Vida Contemporânea. São Paulo:
Moderna, 2002. pág. 47-76.
SAVIANI, Demerval. Teorias da educação e o problema da marginalidade.
In: Escola e Democracia. São Paulo: Editores Associados, 2003 (38ª. ed.) pág.
03-34.
SILVA, Maria Preciosa & NEVES, Isabel Pestana. Compreender a
(in)disciplina na sala de aula: uma análise das relações de controlo e de
poder. Rev. Port. de Educação, 2006, vol.19, no.1, p.5-41
SOUZA, Beatriz P. Professora desesperada procura psicóloga para classe
indisciplinada. In: MACHADO; SOUZA (org.). Psicologia Escolar> em busca de
novos rumos. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2004 (4ª. ed.) pág 105-112
TANAMACHI, Elenita; MEIRA, Marisa. A atuação do psicólogo como
expressão do pensamento critico em Psicologia e Educação. In: MEIRA; ANTUNES.
Psicologia Escolar: praticas criticas. São Paulo: Casa do Psicólogo,2003. pág
11-62
TULESKI, Silvana C. et al. Voltando o olhar para o professor: a
psicologia e pedagogia caminhando juntas. Rev. Dep. Psicol.,UFF, Jun
2005, vol.17, no.1, p.129-137
ZACHARIAS, Vera Lúcia Camara. Vygotsky e a Educação. Disponível
em http://www.centrorefeducacional.pro.br/vygotsky.html. Acesso em
23/09/08.
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Questões
Sobre a Organização do Trabalho na Escola
Selma Garrido Pimenta(1)
O objetivo desta discussão é contribuir com supervisores
de ensino, diretores de escola e professores
na importante e urgente tarefa de construir um novo fazer da ação supervisora.
Entendemos que este "novo" se volta no sentido de que a Escola
Pública se qualifique cada vez mais na construção coletiva de seu projeto
político-pedagógico, cuja finalidade é formar no aluno o "novo
cidadão".
O texto parte do entendimento de que os sistemas de
ensino existem como instrumentos
que
garantem a continuidade da ação educativa sistematizada e de que, por isso,
todas as suas ações têm como meta possibilitar que as escolas cumpram suas
finalidades.
Iniciamos este trabalho explicitando o entendimento que
temos de "novo cidadão" e como a Escola se coloca diante da
exigência de formá-lo. Destacamos, a seguir, algumas questões sobre a
organização do trabalho no seu interior, tais como o projeto
político-pedagógico, o trabalho coletivo, o conhecimento e as competências
pedagógicas. Por fim, discutimos algumas dificuldades e' entraves a serem
considerados.
Finalidade da Educação Escolar - O "Novo
Cidadão"
Formar o novo cidadão (o cidadão necessário) no aluno significa
formá-lo com capacidade para ter uma inserção social crítica/transformadora
na sociedade em que vive. Ou seja, a sociedade civilizada, fruto e obra do
trabalho humano, cujo elevado progresso evidencia as riquezas que a condição
humana pode desfrutar, revela-se também uma sociedade contraditória, em que
grande parte dos seres humanos está à margem dessa riqueza, dos benefícios do
progresso, da humanização, enfim. Assim, educar na Escola significa ao mesmo
tempo preparar as crianças e os jovens para se elevarem ao nível da
civilização atual - da sua riqueza e dos seus problemas - para aí atuarem.
Isto requer uma preparação científica, técnica e social.
Por isso, a finalidade da Escola é possibilitar que os
alunos adquiram os conhecimentos da ciência e da tecnologia, desenvolvam as habilidades
para operá-los, revê-los, transformá-los e redirecioná-los em sociedade e
as atitudes sociais - cooperação, solidariedade, ética -, tendo sempre como
horizonte colocar os avanços da civilização a serviço da humanização da
sociedade.
Tarefa ampla, complexa e nova!, que requer que as
escolas, os sistemas de ensino se direcionem, se organizem, se equipem para
isso; revejam sua organização e se organizem de um modo novo. Esse
novo precisa ser construído a partir do já existente, pelos atores da
Educação - os profissionais, os alunos, as famílias.
Para chegar à explicitação da nova organização é
necessário que a Escola traduza para si, especifique e detalhe os avanços e
os problemas da civilização atual - a riqueza e a miséria: a fome, a falta de
moradia, de trabalho, a violência, a acumulação, a barbárie etc.
Quais desafios a problemática da civilização coloca para
a Escola, a fim de que esta forme o novo cidadão? Como a Escola vai traduzir
no seu e pelo seu trabalho essa problemática?
Estas são as questões fundamentais da nova organização
do trabalho na Escola.
As escolas, partícipes da mesma problemática
civilizatória, não são, entretanto, iguais. Por isso, não se trata de
encontrar uma única forma nova de organizar o trabalho nela. É
importante não nos embrenharmos por esse
risco apriorístico essencialista de chegar-se a um modelo universal. Isto não
dá conta dos novos problemas atuais. A história da Pedagogia já o demonstrou.
No entanto, a história recente também nos mostra que é possível definirem-se
alguns princípios norteadores para essa organização nova, sobre os quais já
há certo consenso entre os educadores estudiosos do tema. São eles: o projeto
político-pedagógico, o trabalho coletivo e o conhecimento da ciência
pedagógica.
O Projeto Político-Pedagógico
O projeto político-pedagógico resulta da construção
coletiva dos atores da Educação Escolar. Ele é a tradução que a Escola faz de
suas finalidades, a partir das necessidades que lhe estão colocadas, com o
pessoal - professores/alunos/equipe pedagógica/pais – e com os recursos de
que dispõe.
Esses elementos todos são mutáveis, modificam-se de ano
para ano, no mesmo ano; de Escola para Escola, na mesma Escola.
Por isso, o projeto não está pronto, mas em
construção. Nele, a equipe vai depurando, explicitando, detalhando a
inserção dessa Escola na transformação social.
O projeto político-pedagógico ganha consistência e solidez
à medida que vai captando sistematicamente a realidade na qual se insere. Daí
ser a realização contínua de diagnósticos dessa realidade um instrumental
importantíssimo nessa construção. Diagnóstico aberto, que não se cristaliza e
que não se encerra na constatação da realidade, mas que a lê e a Interpreta
- o que supõe conhecimento/posicionamento teórico/prático da equipe.
Esse trabalho com o diagnóstico - os dados - serão
definidor/redefinidor do conteúdo/forma do projeto político-pedagógico da
Escola.
O Trabalho Coletivo
O resultado que a Escola pretende - contribuir para o
processo de humanização do aluno-cidadão consciente de si no mundo, capaz de
ler e interpretar o mundo no qual está e nele inserir-se criticamente para
transformá-lo - não se consegue pelo trabalho parcelado e fragmentado da
equipe escolar - à semelhança da produção de um carro, onde um grupo de
operários aperta, cada um, um parafuso, sempre da mesma maneira, conforme o
que foi concluído fora da linha de montagem -, mas sim com o trabalho coletivo.
Neste há a contribuição de todos no todo e de todos no de cada um. A especialização
de um não é somada à especialização de outro, mas ela colabora com e se nutre
da especialização do outro, visando a e por causa de finalidades comuns.
O trabalho coletivo tem sido apontado por pesquisadores
e estudiosos como o caminho mais profícuo para o alcance das novas finalidades
da Educação Escolar, porque a natureza do trabalho na Escola -que é a
produção do humano - é diferente da natureza do trabalho em geral na produção
de outros produtos.
No entanto, reconhece-se, de um lado, que o trabalho coletivo
não é tarefa simples, uma vez que a Humanidade, durante séculos e séculos em
sua história, acostumou-se a formas de vida individualistas. De outro lado, o
coletivo carrega uma contradição que precisa ser explorada. Forjada no modo
de produção capitalista, a cooperação - inerente ao coletivo - é, conforme
HYPOLITO (1991, p. 18), fundamental para que o trabalho da Escola se realize de
acordo com os objetivos "(...) mas esta realidade é contraditória, pois
se a cooperação pode ser um fator de estabilidade para o poder, ao mesmo
tempo a reunião dos trabalhadores coletivos possibilita uma unidade de interesses
e favorece formas de resistência à dominação".
Complexidade da Organização Escolar
A(s) escola(s) é(são) múltipla(s), conjuntos, sistemas -
o que requer competências administrativas para traduzir essa complexidade dos
sistemas em benefício ao atendimento da finalidade que a Escola tem. Contudo,
a Escola em si é complexa. A finalidade que busca não é simples de ser
conseguida. Precisa da contribuição de vários profissionais especializados -
professores/equipe pedagógica/direção/coordenação/orientação/equipe de apoio.
A organização da Escola é competência de todos - dentro e fora da sala de
aula.
A sala de aula é determinada pelo que a circunda para
além de suas paredes - e, em certa medida, interfere para além de suas
paredes. Como é durante a aula que se dá a essência da Educação Escolar, é
para ela que devem convergir as várias competências dos profissionais da
Escola - o que não significa que todos atuarão na sala de aula!; o que
não significa, também, que nela só atuam os professores!; o que não
significa, também, que os professores só atuam ali!; nem que as
equipes pedagógicas e de apoio só atuam fora dali!; nem que aí só elas
atuam.
Enfim, a organização da Escola é coletiva - requer o
concurso de especialistas que atuem coletivamente.
A Ciência Pedagógica - Professores e Pedagogos
Com SUCHODOLSKI (1979, p. 477), afirmamos que
"o
conhecimento da ciência pedagógica é imprescindível, não porque esta contenha
diretrizes concretas válidas para hoje e para amanhã; mas porque permite
realizar uma autêntica análise crítica da cultura pedagógica, o que facilita
ao professor debruçar-se sobre as dificuldades concretas que encontra em seu
trabalho, bem como superá-las de maneira criadora".
Entendendo-a como não-exclusiva de pedagogos, é possível
afirmar que é tarefa da equipe pedagógica trazer a ciência pedagógica para o
trabalho coletivo. Entendendo, ainda, que o coletivo não significa
"todos fazerem a mesma coisa", é possível identificar competências específicas
da equipe pedagógica: a administração e a coordenação pedagógica de curso, período,
turmas, áreas, projetos etc. É interessante observar que, colocadas nesta sequência,
as tarefas de coordenação evidenciam a possibilidade de algumas delas serem desempenhadas
por pedagogos - coordenação de curso, de períodos - e outras por professores
- coordenação de turmas, período, áreas. Já a coordenação de projetos não é possível
ser estabelecida a priori; ela depende do projeto.
Entendendo, ainda, que os conhecimentos pedagógicos têm
sido desenvolvidos explícita, intencional e sistematicamente nos cursos de Pedagogia
que formam pedagogos, a presença destes na Escola é imprescindível como forma
de trazer os conhecimentos pedagógicos necessários para a Escola. Seja nas
tarefas de administração – entendida como organização racional do processo de
ensino e garantia da perpetuação deste nos sistemas, de forma a consolidar um
projeto político-pedagógico de Educação Escolar seja nas tarefas que colaborem
com os professores no ato de ensinar de modo que os alunos aprendam.
Traduzindo as Competências da Equipe Pedagógica
Retornando às finalidades da Educação Escolar, explicitadas
no item Finalidade da Educação Escolar - O "Novo Cidadão",
vamos dizer que o eixo central articulador do trabalho coletivo da equipe
escolar é traduzir os conhecimentos, as habilidades e as atividades
necessários à formação do novo cidadão. Portanto, a consecução do projeto
político-pedagógico precisa ser planejada, organizada, explicitando-se
contínua e sistematicamente o quê - os conteúdos do trabalho escolar -, o
porquê - a quais necessidades se articulam -, como fazer - projetos, cursos
etc. -, quem faz – as responsabilidades, as competências -, quando, como etc.
É trabalho para muitos.
Vejamos algumas tarefas pelas quais a equipe pedagógica
pode ser responsabilizada:
• coordenar e subsidiar a elaboração dos diagnósticos da
realidade escolar nos vários níveis;
• coordenar e subsidiar a elaboração, execução e avaliação
do planejamento: plano da Escola; planos de cursos, de turmas, de ensino
etc.;
• incentivar e prover condições para a elaboração de
projetos de alfabetização, leitura, visitas, estudo de apoio, orientação
profissional, saúde e higiene, informática, ética etc.;
• compor turmas e horários, com critérios que favoreçam
o ensino e a aprendizagem;
• capacitar em serviço;
• fornecer assistência didático-pedagógica constante;
• assegurar horários para reuniões coletivas,
planejá-las, coordená-las, avaliá-las etc.;
• definir claramente, quanto às reuniões com pais, em
que a presença destes é importante na construção do projeto
político-pedagógico, traduzindo essa participação;
• promover a articulação orgânica das disciplinas;
• acompanhar o rendimento escolar dos alunos;
• prever formas de suprir possível defasagem no
rendimento escolar do aluno;
• propiciar trabalho conjunto por áreas, por séries
etc., para analisar, discutir, estudar, atualizar, aperfeiçoar as questões
pertinentes às áreas, às séries e ao processo ensino-aprendizagem;
• promover a integração de professores novos na Escola;
• pesquisar causas de evasão, repetência e outras.
Enfim, há muito o que fazer. Nesta tentativa de traduzir
a competência da equipe pedagógica, fica claramente evidenciado o significado
de trabalho coletivo na Escola – não é possível trabalhar fragmentadamente o
objeto do trabalho da Escola, não dá e não é desejável estabelecer fronteiras
claramente delimitadas sobre o que compete a quem, mas dá para identificar
claramente que este trabalho precisa de competências específicas.
Dificuldades e Entraves
Sem pretender esgotá-las, é possível apontar algumas
dificuldades para a acentuação coletiva do projeto político-pedagógico da
Escola. Identificar as dificuldades não significa parar nelas, mas mapeá-las
para vermos com clareza as formas de superá-las.
Uma primeira dificuldade refere-se à formação dos profissionais
da Escola. Amplamente analisada como precária - e até inexistente -, a
formação também tem sido apontada como insuficiente, porque não formou o novo
profissional para construir o novo.
Não se trata de mandar os profissionais de volta para a
Faculdade, nem de esperar que esta se modifique para fazer "o
novo". Trata-se de retomar a Faculdade – os conhecimentos, a
formação que trabalhou - e confrontá-la com as necessidades que o novo coloca.
Aí, garimpar o aproveitável, fortalecê-lo e ampliá-lo, por meio da
atualização -cursos, bibliografia, estudos, troca e crítica de experiências
etc.
Uma segunda ordem de dificuldades diz respeito ao institucional/cultural
– sociedade competitiva, eivada de autoritarismo, de individualismo.
Como fazer diferente se somos marcados por isso tudo?
Parece-me que não somos pura e simplesmente a reprodução mecânica do que
fizeram conosco. Ou somos?
Outra ordem de dificuldades concerne aos aspectos pessoais:
as convicções e ideologias arraigadas e cristalizadas; o mito do sucesso
pessoal a qualquer preço; a timidez, a falta de arrojo e de coragem para
empunhar bandeiras e lutar por elas...
Todas essas dificuldades são passíveis de serem
superadas. A realidade de nossas escolas está mostrando que sim. Mas não sem
sofrimento e luta.
1 Professora/Pesquisadora na Faculdade de Educação da
Universidade de São Paulo - FEUSP
Referências Bibliográficas
• citadas no texto:
HYPOLITO,
Álvaro Moreira. Processo de trabalho na escola: algumas categorias para análise.
Teoria e Educação, Porto Alegre: Palmarinca, n, 4,1991. (Dossié interpretando
o trabalho docente.)
SUCHODOLSKI,
Bogdan. Tratando de pedagogia. 4. ed. Barcelona: Península, 1979.
•
não-citadas no texto, mas que o embasam:
MARQUES,
Waldernar. O ensino público estadual de 1,2 grau na Grande São Paulo -
o ciclo
básico em questão. Dissertação (Mestrado) - UNICAMP, 1991.
PIMENTA,
Selma Garrido. O pedagogo na escola pública. 2. ed. São Paulo: Loyola,
1991.
SCHMIED,
Kowarzik W. Pedagogia dialética. São Paulo: Brasiliense, 1983.
SILVA
JR., Celestino Alves. Escola pública como local de trabalho. São Paulo:
Cortez, 1991.
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ORIENTAÇÕES
PARA (RE) ELABORAÇÃO DO PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO
DAS ESCOLAS MUNICIPAIS
A educação é projeto ,é mais do que isto,
encontro de
projetos; encontro muitas vezes difícil, conflitante,
angustiante
mesmo; todavia altamente provocativo, desafiador,
e, porque não
dizer, prazeroso, realizador.
Celso Vasconcellos
Segundo
Nilbo Nogueira, a palavra projeto origina-se do latim projectu ,”lançado para
diante”, e se refere a idéia que se forma de executar ou realizar algo, no
futuro: plano, intento, desígnio. Empreendimento a ser realizado dentro de determinado
esquema.
Nessa
perspectiva, até o final do ano de 2008, caberá a cada escola da Rede Municipal,(
re)elaborar, e implementar seu Projeto Político Pedagógico - PPP, assegurando,
na forma da Leis 9394/96,11.274/06 o respeito aos princípios do pluralismo de
idéias e de concepções pedagógicas, garantindo-se a participação da
comunidade escolar.
Para
tanto, o PPP deverá estar em consonância com os princípios éticos, políticos
e estéticos previstos nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação
Infantil e Ensino Fundamental , as Diretrizes Pedagógicas Municipais, as
Diretrizes Ambientais e a prática da eco-pedagogia ,as Diretrizes Municipais
para a Inclusão da História e Cultura Afro-Brasileira e Africana no Sistema
Municipal de Ensino de Salvador, (Lei 10639/03) e o Estatuto da Criança e do
Adolescente-ECA.
Sendo
o PPP o plano global da escola, um instrumento teórico-metodológico para
intervenção e mudança da realidade sua construção deverá permitir o encontro,
a reflexão, a ação sobre a realidade numa práxis libertadora.
Para
Muramoto (1991), trabalhadores que não se comunicam horizontalmente, para a
reflexão de sua prática profissional, tendem a uma visão parcial, truncada do
processo de trabalho, perdendo a possibilidade de controle sobre esse
processo.
O
PPP de todas as unidades escolares da Rede Municipal de Ensino deverá ser
pensado na perspectiva de Salvador, Cidade Educadora e ter como eixo norteador
a diversidade.
Uma cidade educadora
só coexiste com a obediência irrestrita aos princípios da igualdade e
dignidade da pessoa humana, que todos nascem livres e iguais em dignidade e direitos;
Carta de Salvador - Cidade Educadora - 2007
Segundo
Veiga(1995),um projeto político pedagógico – PPP, ultrapassa a dimensão de
uma proposta pedagógica. É uma ação intencional, com um sentido explícito,
com um compromisso definido coletivamente. Por isso, todo projeto pedagógico
da escola é, também, um projeto político por estar intimamente articulado ao
compromisso sócio - político e com os interesses reais e coletivos da
população majoritária. Ele é fruto da interação entre os objetivos e
prioridades estabelecidas pela coletividade, que estabelece, através da
reflexão, as ações necessárias à construção de uma nova realidade. Antes de
tudo, é um trabalho que exige comprometimento de todos os envolvidos no processo
educativo: professores, equipe técnica, alunos, seus pais e a
comunidade como um
todo.
O
político e o pedagógico são dimensões indissociáveis, porque propiciam a vivência
democrática necessária à participação de todos os membros da comunidade
escolar.
Essa
prática de construção de um projeto, deve estar amparada por concepções
teóricas sólidas e supõe o aperfeiçoamento e a formação de seus agentes. Só
assim serão rompidas as resistências em relação a novas práticas educativas.
Os agentes educativos devem sentir-se atraídos por essa proposta, passando a
ter uma postura comprometida e responsável. Trata-se, portanto, da conquista
coletiva de um espaço para o exercício da autonomia.
Essa
autonomia, porém, é relacional, não deve ser confundida com apologia a um
trabalho isolado, marcado por uma liberdade ilimitada, que transforme a escola
numa ilha de procedimentos sem fundamentação nas considerações legais do
sistema de ensino, perdendo, assim, a perspectiva do todo.
A
autonomia implica também em responsabilidade e comprometimento com as instituições
que representam a comunidade (conselhos de escola, associações de pais e
mestres, grêmios estudantis, entre outras), para que haja participação e
compromisso de todos.
Ao
elaborar e executar o seu PPP a escola deverá destacar:
• Os fins e objetivos
do trabalho pedagógico, buscando a garantia da igualdade de tratamento, do
respeito às diferenças, da qualidade do atendimento e da liberdade de
expressão;
• A concepção de
criança, jovem e adulto, seu desenvolvimento e aprendizagem;
• As características
da população a ser atendida e da comunidade na qual se insere;
• O regime de funcionamento;
• A descrição do
espaço físico, das instalações e dos equipamentos;
• A relação de
profissionais, especificando cargos, funções, habilitação e níveis de
formação;
• Os parâmetros de
organização de grupos e relação professor/ aluno ;
• A organização do
cotidiano de trabalho com as crianças, jovens e adultos;
• A proposta de
articulação da escola com a família e a comunidade;
• O processo de
avaliação, explicitando suas práticas, instrumentos e registros;
• O processo de
planejamento geral.
• Trazer anexos como:
a Matriz Curricular vigente e Projetos Especiais a serem desenvolvidos.
O PPP e o Regimento
Escolar das unidades escolares deverão estar:
• consonantes com as
leis vigentes ( Lei 9394/96;11.274/06; Estatuto da Criança e do Adolescente, Resoluções
do CME 002/98; 03/99 e 06/99;Diretrizes Nacionais para a Educação Infantil ,
para o Ensino Fundamental de Nove Anos, a Educação de Jovens e Adultos - EJA,
Diretrizes Municipais para a Inclusão da História e Cultura Afro- Brasileira
e Africana no Sistema Municipal de Ensino de Salvador, Lei 10639/03 e as
Diretrizes Municipais do Meio Ambiente.
• disponíveis para a
comunidade escolar, as autoridades competentes e para os pais dos alunos
interessados em conhecer os documentos.
ROTEIRO PARA
ELABORAÇÃO DO PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO
1. Apresentação ou
Introdução (nela devem constar dados sobre o espaço físico, instalações e
equipamentos, relação de recursos humanos, especificando cargos e funções;
habilitações e níveis de escolaridade de cada profissional que presta serviço
na instituição).
2. Breve histórico
da unidade escolar
3. Eixo norteador
da escola (é o que a diferencia das demais, a sua identidade e função no meio
social onde está inserida).
4. Valores e Missão
da escola
5. O que queremos? (marco
doutrinal).É a busca de um posicionamento:
• Político - visão
ideal de sociedade e de homem
• Pedagógico –
definição sobre a ação educativa e sobre as características que deve ter a
instituição que planeja.
Ou seja:
- os princípios
- as teorias de
aprendizagem
- o sistema de
avaliação
6. O que somos ? (
marco situacional) O diagnóstico da realidade da escola. É a busca das
necessidades a partir da análise da realidade e/ou juízo sobre a realidade da
escola comparação com o que se deseja ser).
7. O que faremos? (
marco operativo ) Programação do que deve ser feito concretamente para suprir
as faltas. É a proposta de ação.
Que mediações (
conteúdos, metodologias e recursos ) serão necessários para diminuir a distância
entre o que vem sendo a instituição e o que deverá ser.
Ou seja, a Proposta
Curricular.
- organização da
escola
- organização do
trabalho
- processos de
avaliação
A proposta
curricular deve estar diretamente relacionada aos pressupostos teóricos
estabelecidos pela instituição, sem perder o foco nos objetivos, conteúdos e
avaliação por segmento e área de conhecimento.
8. Anexos
- matriz curricular
- marcos de
aprendizagem
- projetos
especiais
- outros
9. Referências
Bibliográficas
MURAMOTO, Helenice
M.S.Supervisão Escolar -Para que te quero? São Paulo:Iglu,1991.
SALVADOR.Como
elaborar a Proposta Pedagógica.SMEC-CENAP,2001.
SALVADOR.Carta da
Cidade Educadora. PMS-SMEC-ASTEC,2007.
VASCONCELLOS,Celso
S. Planejamento : Projeto de Ensino-Aprendizagem e Projeto Político
Pedagógico.São Paulo:Libertad,2000.
VEIGA, Ilma Passos
A.(org).Projeto Político Pedagógico da Escola: uma construção
possível.Campinas:Papirus,1995.
NOGUEIRA,NilboRibeiro.Pedagogia
de Projetos – Etapas,Papéis e
Atores.SP:Erica,2005.
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PLANEJAMENTO, UM ATO
COLETIVO
Bons planos de aula só
serão eficientes se por trás deles houver muita discussão sobre os objetivos
da escola
Planejamento: elaboração, por etapas,
de planos e programas com objetivos definidos. O verbete, tão lembrado no
início do ano, é a base para a criação de boas aulas e também um dos pontos
cruciais no desenvolvimento de um trabalho escolar eficiente. Para auxiliar a
equipe pedagógica nessa empreitada, NOVA ESCOLA elaborou este caderno
especial. Foram ouvidos 43 educadores que oferecem indicações preciosas sobre
essa tarefa na Educação Infantil e no Ensino Fundamental. Além de falar de
cada disciplina separadamente, o caderno traz também um passeio pelo mundo da
transdisciplinaridade, na entrevista com Paulo Afonso Ronca.
Nunca é demais lembrar que o início
da definição do próximo ano letivo é, necessariamente, um ato coletivo.
"A principal função do planejamento é construir, desestruturar e
reconstruir o projeto político-pedagógico da escola", afirma José Cerchi
Fusari, professor de Didática e de Coordenação do Trabalho na Escola da
Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo. E ninguém pode assumir
sozinho essa responsabilidade.
Encontros frequentes
Trabalho coletivo organizado é uma
das marcas registradas do Centro de Atenção Integral à Criança e ao
Adolescente Raimundo Gomes de Carvalho, em Fortaleza. Além de uma quinzena
pedagógica no início do ano, em que se reúnem os noventa professores
primeiro, todos juntos; depois, por áreas há encontros a cada dois sábados e
todas as terças-feiras. "Temos um projeto anual chamado Aprender com
Prazer e dele todos vão puxando outros projetos a cada mês", explica a
coordenadora pedagógica Eliene Sales Andrade.
A realidade escolar, porém, nem
sempre é essa. O horário reservado para discussões em grupo muitas vezes é
desproporcional ao de sala de aula (em média, duas horas de reunião em cada
quarenta semanais). Até três anos atrás, essa era a situação da Escola de 1o
Grau Altina Ribeiro Toledo, em Marechal Deodoro, a 40 quilômetros de Maceió.
A unidade tem mais de mil alunos distribuídos em três turnos. "Ninguém
sabia planejar e todos resistiam à idéia. Apenas esperavam que eu dissesse
como tudo deveria ocorrer", lembra Nadja Porangaba, uma das
coordenadoras pedagógicas.
A escola virou de "cabeça para
baixo" em 1999, quando ingressou no Plano de Desenvolvimento da Escola,
o PDE do Ministério da Educação. A equipe definiu a linha pedagógica e criou
uma unidade de objetivos. "Antes, cada um fazia seu trabalho", diz
Nadja. A situação ainda não é a ideal, mas a diretora adjunta Isabel Cristina
do Nascimento consegue driblar o maior problema do corpo docente: a
impossibilidade de todos se reunirem num mesmo horário, o que só ocorre no
início e no final do ano letivo. "A maioria dos docentes tem dois
empregos", ela explica. Para dar coesão ao trabalho pedagógico, ela
funciona como um elo entre os três períodos. Trabalha diretamente com os
coordenadores do diurno, participando das reuniões semanais da manhã e da
tarde, e com os do noturno num encontro semanal.
Essa integração, ainda que parcial, é
fundamental, segundo os especialistas. "Se houver decisões coletivas
sobre a política da escola e a melhor maneira de atingir os objetivos, o
profissional terá todo o respaldo para orientar sua prática cotidiana e bolar
ações", afirma Eny Maia, consultora da Secretaria de Educação de São
Paulo e da Secretaria de Ensino Médio e Tecnologia do MEC.
Temas transversais
Algumas questões deveriam fazer parte
do dia-a-dia da escola, entremear as reuniões para constituir a base de um
bom planejamento. Veja algumas sugestões feitas por Fusari:
• Como inserir novas situações da
realidade do estudante nos objetivos da escola e no processo de ensino e
aprendizagem?
• Como trabalhar o conhecimento em
rede?
• Quais as melhores metodologias,
procedimentos e instrumentos de ensino e avaliação?
• Como inserir discussões sobre a
mídia e a tecnologia e seu uso na relação interativa entre professor e
aluno?
As respostas precisam ter como norte
a realidade sociocultural do público escolar. Essas informações darão
subsídio para a formulação dos objetivos intermediários e finais da educação
e definirão como trabalhar os temas transversais. "O projeto educativo
da instituição é a base para o planejamento dessa área", afirma Neide
Nogueira, coordenadora de temas transversais dos Parâmetros Curriculares
Nacionais.
Pluralidade Cultural, Trabalho e
Consumo, Meio Ambiente, Saúde, Orientação Sexual e Ética. Cada equipe deve
dar ênfase aos assuntos mais adequados ao contexto e às necessidades da turma
num determinado momento. "Se várias adolescentes estão grávidas, pode-se
priorizar as questões de Orientação Sexual", exemplifica Neide. Ela
afirma que os temas transversais têm o viés de formação para a cidadania e
devem ser trabalhados ao longo de toda a escolaridade.
Sim aos imprevistos
As discussões entre os membros da
equipe ajudam a selecionar conteúdos, fugir da repetição e da rotina,
integrar as diversas experiências de aprendizagem, evitar a improvisação sem
nexo e garantir segurança contra os constantes imprevistos dentro da classe.
Acontecimentos que os alunos viram na televisão no dia anterior, vivências
que trazem para compartilhar com os colegas, problemas de aprendizagem e
outros tantos que fazem com que você tenha de desviar o curso da aula
planejada.
Ivanna SantAna Torres, responsável pela parte diversificada do currículo no Centro de Ensino Fundamental Caseb, em Brasília, reviu seu plano inicial para as doze turmas de 7ª e 8ª série duas vezes em 2001. Em abril, para incluir temas ambientais e atender ao projeto Agenda 21, do governo federal. Em outubro, ela descobriu que o colega de Língua Portuguesa estava produzindo um jornal, mesma atividade que ela havia planejado para o quarto bimestre. Ivanna resolveu a questão sugerindo um trabalho de poesia em forma de classificados. "Quando não nos obrigamos a cumprir todos os conteúdos até o final do ano, não nos sentimos perdidos", declara.
Essa sensação de inutilidade ocorre
ao não conseguir executar o que se havia definido previamente. Se a turma não
trouxe a pesquisa pedida, é interessante usar esse fato para ensinar como
fazer uma pesquisa eficiente. "Os conteúdos podem ser conceituais,
procedimentais ou atitudinais, por isso dá para transformar qualquer fato não
planejado em aula produtiva", afirma a psicóloga Siglia Cruz de Sá Leão.
Se os objetivos são claros para todos, não importa quais os temas empregados
para chegar a eles.
Agora é só com você
Participando do planejamento
coletivo, o professor passa da condição de executor para a de sujeito do
processo. Agora, sozinho, cabe a você definir o que pretende fazer ao longo
do ano. Novamente é preciso escolher os objetivos, desta vez os de cada
disciplina, ou seja, as competências que o aluno precisa desenvolver naquela
série ou ciclo.
As metas indicam os conteúdos mais
significativos e os procedimentos adequados. Não se esqueça de relacionar os
recursos que serão utilizados nas diversas atividades e como será feita a
avaliação. Para a educadora Ilza Martins SantAnna, um plano por disciplina
deve ter o jeitão de um guia: "Simples, lógico, coerente, funcional e
flexível".
Para introduzir um tema, bole uma
questão ou situação que desperte o interesse da turma. Provoque a exposição
de idéias, para confrontá-las com os novos conceitos introduzidos, e
proporcione oportunidades para sua utilização. Terezinha Pádua, psicopedagoga
e professora aposentada da Universidade Federal de Goiás, aconselha a
determinar um tempo prévio para a execução de cada etapa, distribuindo as
atividades ao longo do mês ou da semana.
Terminada a aula, é importante anotar
tudo o que ocorreu, inclusive as reações dos alunos. Essa avaliação é
fundamental não somente para acompanhar o desenvolvimento de cada estudante,
mas para fornecer dados para o replanejamento e aprimoramento do trabalho. É
o que ocorre no Raimundo Gomes de Carvalho. Uma vez por mês, todos se reúnem
com a missão de analisar a aprendizagem das turmas. Com as fichas de
auto-avaliação das turmas em mãos, eles discutem como vêem o processo em cada
área do conhecimento. "Esses encontros são um grande subsídio para
repensar as aulas seguintes", afirma a coordenadora Eliene.
Seguindo essas sugestões, será
possível começar o ano aproveitando bem a semana de planejamento. Na hora de
criar suas aulas, consulte as outras reportagens no índice. Você vai
encontrar experiências que vão ajudá-lo a organizar melhor o dia-a-dia da
escola.
Recepção calorosa
O acolhimento na volta das férias é
fundamental para criar um clima de cooperação entre o corpo docente. José
Cerchi Fusari dá alguns conselhos para a coordenação pedagógica organizar bem
a semana de planejamento:
• envolva
toda a direção e coordenação
• comece a
elaborar a reunião com antecedência, pensando espaços para o encontro geral e
para os debates
•
selecione um texto como o Era uma vez desta edição que propicie uma reflexão
sobre os objetivos da educação no mundo atual e providencie cópias para
todos
• elabore
a pauta de discussão prevendo os temas mais abrangentes, mas deixe itens em
aberto para acrescentar sugestões da equipe
• um dia
antes, cuide para que os locais de reunião sejam limpos, identificados e já
organizados com mesas e cadeiras na disposição ideal
• reserve
de 30 a 60 minutos antes do início dos trabalhos para conversas
informais
• depois
das boas-vindas, distribua o texto selecionado, dê tempo para leitura e abra
o debate
•
apresente a pauta e inclua as sugestões dos professores
•
reorganize as reuniões do resto da semana já com os novos temas
propostos
• no final
dos debates, faça um resumo das conclusões e distribua para todos
|
Exemplos de sistemas de tutoria
Na Educação a Distância é necessário que o planejamento e as
atividades estejam em sintonia, do contrário pode ocorrer um distanciamento
entre o professor e o aluno, fazendo com que o último se sinta isolado e
desamparado. É neste momento que o(a) tutor(a) se faz presente, atuando como um
elo entre professor, material didático e aluno, tornando qualitativo o processo
de ensino-aprendizagem.
Leia atentamente o documento “Exemplos de sistemas de
tutoria” e escolha dois sistemas de tutoria, justificando a sua escolha e
pontuando o que há de positivo e negativo em cada um deles. Agora, imagine que
você está implementando EaD em sua instituição e escolha um entre os sistemas
apresentados, justificando sua escolha, ou, se preferir, elabore um sistema de
tutoria com as características que julgar mais interessantes.
Atenção: você deve explicitar em que tipo de instituição está
pensando, afinal, um curso preparatório tem características distintas de um
curso de pós-graduação, ou de formação continuada dos funcionários de uma
empresa, por exemplo.
A partir da proposta de trabalho da semana, foram
apresentados vários tipos de Tutorias, por meio do texto “Exemplos de Sistemas
de Tutorias”. Escolho como proposta os exemplos: Instituição B e Instituição
C, por serem bem diferentes. O projeto da Instituição B sugere uma proposta
com poucos recursos tecnológicos, pouca interação, enquanto o da Instituição C
sugere mais proximidade entre os diversos componentes que atuam nesse cenário.
Importante ressaltar que ambos possuem pontos negativos e positivos. Vamos ao
quadro:
INSTITUIÇÃO
B:
Descrição:
Na instituição B há apenas a tutoria a distância, e existe um
único tutor para turma com cerca de 400 alunos. O tutor cria um fórum de
dúvidas por mês, não há discussão sobre o conteúdo, apenas espaço para
apresentar e sanar dúvidas. Há também um plantão semanal de tutoria por
telefone, na coordenação do curso, e um chat semanal, sobre o conteúdo tratado
em cada semana.
PONTOS POSITIVOS
|
PONTOS NEGATIVOS
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Existe tutoria a distância
|
Existe apenas um único tutor para uma turma de
400 alunos
|
Há um espaço para apresentar e sanar dúvidas
|
Não há discussão sobre o conteúdo
|
Há um chat semanal
|
Um novo conteúdo é abordado por semana.
|
INSTITUIÇÃO
C:
Descrição:
Na instituição C há a tutoria a distância e a presencial.
Cada tutor a distância é responsável por um grupo de cerca de 30 alunos, e não
necessariamente acompanha este grupo em mais de uma disciplina. É o tutor a
distância quem media as discussões em fóruns temáticos que duram, de modo geral,
uma semana. O tutor a distância deve acessar a plataforma todos os dias, e tem,
no máximo, 24h para responder seus alunos. Além da mediação das discussões no
fórum, é também o responsável pela correção das tarefas e lançamento de notas.
Não há plantão telefônico e os tutores trabalham a partir de suas casas ou
qualquer outro lugar, mas não na coordenação do curso.
Nesta instituição o tutor presencial tem a função de
orientador pedagógico, acompanhando o desenvolvimento do aluno, tirando suas
dúvidas administrativas sobre o curso, fazendo relatórios sobre frequência dos
alunos (no polo e na plataforma) e tirando dúvidas genéricas sobre a plataforma
e peculiaridades do curso. O tutor presencial não tira dúvidas de conteúdos
explorados nas disciplinas.
PONTOS POSITIVOS
|
PONTOS NEGATIVOS
|
Há uma tutoria presencial e uma tutoria a
distância
|
Apenas os tutores a distância são responsáveis
pela correção de trabalhos e lançamentos de notas
|
O tutor a distância é responsável por um grupo de
aproximadamente 30 alunos.
|
O tutor a distância deve responder seu aluno em
até 24 horas.
|
Há fóruns de discussão
|
Não há plantão telefônico
|
O tutor presencial tem a função de orientador
pedagógico
|
O tutor presencial não tira dúvidas sobre
conteúdos explorados nas disciplinas
|
O tutor ter que responder a pergunta do
seu aluno em até 24 horas, por exemplo, pode ser um ponto positivo para o
aluno, pela certeza da rapidez e prontidão em receber um posicionamento a
respeito da sua dúvida, já para o tutor pode representar um ponto negativo, se
num grupo numeroso, um número razoável de alunos enviarem solicitações
constantemente, o tutor terá que redobrar sua atenção e dispor de um tempo
maior para responder a todos dentro do prazo estabelecido.
Para programar um Curso de Educação a
Distância em uma instituição privada, eu escolheria o sistema da Instituição D.
INSTITUIÇÃO D:
Descrição:
Nesta instituição os tutores atuam ao
mesmo tempo à distância e presencialmente, pois não há polos de apoio
presencial, a menos da própria instituição. Os tutores colaboram com os
professores no planejamento e dinâmica da disciplina. Eles são responsáveis
pelo acompanhamento do plano de estudo do aluno, de seu ingresso no curso até a
sua conclusão, estabelecendo com este uma parceria corresponsável na construção
do conhecimento para o desenvolvimento de suas atividades.
Os tutores encontram-se
disponíveis todos os dias da semana (exceto finais de semana e feriados) na
instituição, atendendo o aluno por meio das ferramentas de comunicação e interação
do ambiente virtual de aprendizagem, correio-eletrônico e telefone.
É ainda responsabilidade dos
tutores acompanhar o processo de aprendizagem dos alunos, tirando dúvidas sobre
o conteúdo do material instrucional e esclarecendo os exercícios propostos.
Além disso, eles desenvolvem atividades presenciais junto ao corpo discente do
curso, colaborando com o professor no desenvolvimento das ações propostas nos
encontros presenciais.
A correção das avaliações, tais como
exercícios, projetos, atividades presenciais e provas são de responsabilidade
dos professores. Assim como a realização das atividades online, tais como
fóruns de discussão e chats.
A escolha
por outro modelo de tutoria resultou na Instituição D, sendo
esta governamental, na modalidade EAD, semipresencial, com cursos de graduação
e pós-graduação, porque esta mostra um sistema de tutoria bastante
abrangente; apesar de não apresentar polo de apoio presencial ( somente na
própria instituição ) , há muitos pontos relevantes; como por exemplo, a
integração e parceria entre tutores e professores, assim como todo processo de
acompanhamento e desenvolvimento do aluno. Outro ponto importante é a
disponibilidade do tutor na instituição, fazendo o atendimento ao aluno através
dos mais variados meios de comunicação.
Acredita-se que, para gerenciar uma
prática educativa diferenciada, depende-se essencialmente dos aspectos humanos,
das relações sociais, da capacidade de comunicação, negociação e inclusão
estabelecidas, acrescidas da seleção e definição dos elementos tecnológicos
para se possibilitar uma formação qualitativa, acompanhados da elaboração
criteriosa do projeto pedagógico de um curso EAD.
Percebe-se a necessidade de maior
investimento e atualização permanente de todos os componentes da instituição,
promovendo novas propostas curriculares e novos métodos de ensino. Assim,
promove-se maior interação e ou renovação das práticas educativas, através de
uma gestão inovadora. Somente esta poderá permitir o compartilhamento de
decisões por todos os sujeitos envolvidos. As avaliações não estão limitadas
apenas as provas e trabalhos, mas as atividades presenciais ou projetos, o que
abre um leque de possibilidades para avaliar o aluno sobre diferentes
perspectivas. Ao término de cada fórum é indicado que o tutor faça um apanhado
das principais ideias elencadas durante a interação/ discussão ocorrida no
mesmo de maneira a construir uma síntese para os alunos do assunto discutido.
Entendo que em um curso virtual é
necessário ao aluno possa definir quanto tempo irá dedicar à leitura e a
organização dos estudos, sendo sugerido pelo tutor o trabalho com agenda de
atividades, no qual poderão ser definidos seus horários de atendimento ao
aluno. Assim, ao trabalhar com uma agenda o tutor demonstra a importância do planejamento,
demonstrando para os alunos o interesse em apoiá-lo a executar as suas tarefas.
Essa metodologia contribui para um
constante feedback das atividades, de maneira a orientar a execução do
exercício, antes, durante e depois de seu desenvolvimento, criando um ambiente
harmônico e comunicativo.
Sabemos que superar a distância e
escolher o tom adequado, simples e amistoso, para as orientações no ambiente,
assim como as sugestões e cobranças aos alunos não é tarefa fácil.
Acredito que o modelo de tutoria da
Instituição D, poderia aplicar, inclusive, a outros tipos de cursos e
instituições, além da modalidade de ensino a distância, esse modelo de tutoria
poderia adequar-se de acordo com a demanda e necessidade de qualquer outro
curso.
REFERÊNCIA:
http://paisagenseducacionais.blogspot.com.br/2012/12/exemplos-de-sistemas-de-tutoria.html
AS CONTRIBUIÇÕES
DA EXPERIÊNCIA DE LÓCZY PARA A
FORMAÇÃO DO
PROFESSOR DE EDUCAÇÃO INFANTIL
Anita Viudes C.
Freitas
Maria Helena
Pelizon
Resumo
O artigo traz a
reflexão das autoras sobre a educação da criança pequena no Brasil, os
avanços verificados nas últimas décadas e os desafios que ainda permanecem particularmente
aqueles relacionados à formação do profissional. Para contribuir com o
debate, recupera as concepções de infância e de educação que historicamente
orientaram as diferentes práticas e no diálogo com a experiência desenvolvida
pelo Instituto Emmi Pilker, busca referências que ajudam a compreender a
importância e o significado do adulto e a sua relação com a criança pequena.
Introdução
O presente texto é
fruto das reflexões sobre a educação de crianças bem pequenas feitas a partir
dos estudos e do trabalho realizado pelo Instituto Emmi Pikler, em Budapest,
na Hungria, o que possibilitou um conhecimento mais aprofundado da
experiência e das práticas de cuidados com bebês, reconhecidas hoje em vários
países do mundo.
Diante
da discussão, tão presente entre os educadores brasileiros, sobre a necessidade
de superar a dicotomia entre o cuidar e educar nos defrontamos com uma
abordagem construída durante décadas, que ao demonstrar um imenso respeito
pela criança desde tão pequena indica o caminho para pensar os espaços, os
tempos, as relações e interações entre criança e adulto nas instituições de educação
infantil, naquilo que podemos denominar de um cuidado que educa.
Sem a intenção de
transpor modelos, os princípios norteadores da abordagem são referências
importantes que deveriam estar contemplados nos cursos de formação de
professores, tanto a inicial quanto a continuada.
No Brasil,
observa-se hoje um crescente interesse de educadores e pesquisadores na
produção de conhecimento sobre a criança bem pequena e o seu desenvolvimento,
o que tem contribuído para a busca da qualidade na formação dos profissionais.
No entanto, sabemos também que ainda há um longo caminho a percorrer até que
de fato os cursos de formação incorporem e garantam um conhecimento mais
profundo sobre a especificidade e a capacidade do bebê de agir de forma
autônoma sobre o meio e que papel o adulto desempenha nesse processo.
Romper com as
representações e com a concepção de criança como um ser passivo e incapaz
ainda tão presentes no nosso imaginário e na nossa cultura não é uma tarefa
fácil.
As expressões
observadas nos profissionais que trabalham com a criança pequena,durante as
discussões sobre a experiência de Lóczy introduzidas em alguns espaços de
formação continuada, revelam concepções e sentimentos muitas vezes contraditórios,
tanto em relação à criança, quanto ao seu papel, mesclando o prazer da
descoberta e da possibilidade de mudança com momentos de dúvidas, receios e resistência.
Nesse sentido, o
acúmulo de conhecimento produzido por Lóczy sobre a forma do bebê, ser e
estar no mundo, independentemente da vida em instituição, sem ou com pouco
vínculo com a família, ajuda a problematizar a forma como as instituições de educação
infantil, no Brasil, se organizam. O referencial proposto rompe com a concepção
de uma criança heterônoma e incapaz, totalmente dependente do adulto e traz
contribuições que permitem compreender a importância das interações e o papel
do adulto nessa relação. Assim, podem e devem se constituir em referências
importantes para
pensar a formação dos profissionais que trabalham com a criança pequena,
desestabilizando as certezas, desequilibrando as representações sobre cuidado
e educação que ainda justificam muitas práticas. O primeiro aspecto a ser
considerado nesta reflexão se refere às concepções de criança, de infância e
educação que historicamente marcaram a educação no Brasil.
Muitos
pesquisadores discutem esta questão e apontam como a mudança na forma de
conceber a infância e a importância de sua educação em instituição própria
foi sendo construída historicamente chegando à atualidade, ambas, infância e
atividade escolar, frequentemente ligadas.
No decorrer dos
séculos, a criança deixou de ocupar seu lugar como “resíduo da vida comunitária”
(NARODOWSKI, 2001 p.27) para ser vista como sujeito inacabado que necessita
de proteção. As mudanças nas responsabilidades em relação às crianças menores,
aliadas à ideia de “amor maternal” delas decorrente, vão marcar a aliança
entre a família e escola na sociedade ocidental, tornando-se a infância cada
vez mais relacionada ao conceito de aprendizagem e escolarização.
A confiança na
educabilidade da criança desde a mais tenra idade e o papel atribuído ao adulto
nesse processo, parecem ter influenciado a forma como a escola foi se
constituindo ao longo do tempo e com ela foi-se definindo o papel do professor,
não necessariamente condizente com o que se espera do profissional de
crianças bem pequeninas.
As crianças ganham
visibilidade, a infância passa de um tempo de preparação, do devir, para ser
olhada como um tempo em si, na qual cada fase da idade, com sua identidade e
finalidades próprias, tem que ser vivida na totalidade dela mesma.
Assim, as crianças
consideradas atores sociais, sujeitos e produtores de cultura, com
características e especificidades próprias, competentes e capazes, passam a demandar
instituições, encarregadas pela sua educação, orientadas a partir de outro
paradigma. As novas circunstâncias de vida das crianças, no entanto, não têm sido
suficientes para gerar as mudanças almejadas, permanecendo mais no âmbito discurso
do que de práticas concretas.
No Brasil
atualmente cresce a abrangência do papel da educação, particularmente as
instituições de educação infantil que passam a receber crianças com idade
cada vez mais precoce. Dessa forma, a especificidade do trabalho educativo e
a reconhecida importância das interações entre adultos e crianças nessa
relação passam a demandar das escolas a inclusão de componentes afetivos tradicionalmente
desprezados por elas.
Os aspectos
apontados até aqui indicam que não é possível pensar na criança brasileira,
pelo menos nos grandes centros urbanos, sem considerar a especificidade e o
papel das instituições de educação infantil como espaço de educação, de
cuidado, de brincadeira, de socialização, de produção e de manifestação da
cultura. Nesse cenário, os estudos produzidos por diferentes áreas do
conhecimento revelam a importância dessa fase da vida, e nesse contexto o diálogo
com a experiência desenvolvida pelo Instituto Emmi Pikler assume todo o seu
significado.
A experiência de Lóczy
Lóczy é o nome da
rua em Budapeste onde se localiza o Instituto com o mesmo nome que funciona
desde 1946. Após a segunda guerra mundial, Emmi Pikler, médica pediatra,
assume a coordenação da instituição criada para acolher crianças órfãs e/ou
abandonadas. Durante décadas, Emmi Pikler e sua principal colaboradora Drª
Judit Falk (dentre outras) constroem outra referência de atenção à criança.
Desde então o Instituto vem acumulando estudos e pesquisas sobre o desenvolvimento
de crianças pequenas e criado aportes para a observação e o reconhecimento
das competências e das necessidades básicas das crianças de 0 a 3 anos no
sentido de garantir-lhes as melhores condições de bem estar físico e psíquico.
A experiência do hoje denominado Instituto Emmi Pikler iluminou experiências
europeias de educação de crianças em creches e escolas infantis.
Partindo de uma
concepção marxista de homem como emergente das condições sociais concretas de
sua existência, seu pensamento sobre o cuidado das crianças se assenta nos
princípios de garantir-lhes uma segurança afetiva e uma motricidade livre
apoiando-se em três funções principais que são: acolhimento e cuidados ao
bebê, pesquisa sobre o processo de desenvolvimento do bebê concatenado com a
função institucional e formação e supervisão permanente das atendentes
(NABINGER, 2010).
A construção da
segurança afetiva inicia-se com o entendimento de que cada criança é um ser
único, singular, cujo desenvolvimento depende da qualidade da relação que se
estabelece com os materiais, objetos e adultos de seu entorno.
Nesse sentido o
respeito à criança é fundamental encarando-a como uma pessoa com características,
necessidades e expectativas próprias.
Esse
reconhecimento por parte dos adultos é primordial tanto para o
desenvolvimento de práticas cotidianas de cuidado como para a construção do pensamento
e do desenvolvimento psíquico das crianças. A observação atenta por parte dos
adultos mobiliza sua ação no sentido de garantir esse atendimento individualizado.
A segurança afetiva vai se construindo na qualidade do vínculo de apego
configurada na estabilidade das relações e ações repetidas cotidianamente
pela cuidadora. A importância do olhar, olhos nos olhos de cada criança e o
tempo a comunicação verbal sobre sua ação (antecipando todos os
acontecimentos),permite a presença de gestos delicados e consentidos nos
momentos de troca, banho, alimentação e sono de cada criança.
Em Lóczy, a
cuidadora é orientada a repetir cada gesto intencionalmente nessestrês
momentos do dia: higiene, alimentação, e sono. Não é a quantidade do tempo dedicado
à criança que determina a rotina, mas o envolvimento em cada uma dessas ações
realizadas diariamente com cada criança no sentido de garantir qualidade na
interação e vínculo almejados.
Há orientações
precisas de como levantar os bebês do berço, como segurá-los nos braços e
como recolocá-los ao berço. E sempre se utilizando de gestos delicados, feitos
com dedicação, prestando atenção ao fato de que se tem em mãos uma criança
viva, sensível e receptiva (FALK, p.10, 1997). Essa estabilidade e a regularidade
das ações garantem a segurança necessária para o progresso do desenvolvimento
global da criança. O contato físico é importante, no entanto, não é a
presença constante, insistente, que garante a qualidade, mas a presença comprometida,
inteira, respeitosa. É, pois, uma presença que reconhece também a importância
do estar só.
Da mesma forma, a
motricidade livre das crianças (desde os bebês) presente em Lóczy permite a
elas o desenvolvimento de uma consciência e uma postura corporal autônoma
garantindo movimentos harmônicos e seguros. A motricidade como consequência
da atividade livre e motivada pelo interesse das crianças é, por sua vez,
estimulada por um ambiente rico de oportunidades de interação, seja entre crianças
e objetos, crianças e crianças e crianças e adultos. Para Emmi Pikler “a
saúde somática e
psíquica, a noção de interação do indivíduo com seu meio se integram
indissociavelmente e naturalmente desde o começo” (FALK, p.10, 1997).
Os vídeos sobre o
trabalho em Lóczy nos dão a dimensão do cuidado com os ambientes. Neles, as
crianças se movimentam livremente e com tranquilidade, brincam, experimentam,
descobrem a si mesmas e aos outros. É possível ver bebês que nem sequer
engatinham em contato com outras que se locomovem apoiando-se em espaços
cuidadosamente projetados para orientar, dar apoio, segurança e confiança às
mesmas. Crianças com meses de diferença relacionando-se entre si e com os
objetos do cotidiano feitos de materiais diversos, como brinquedos, baldes, tigelas
etc. e sempre de forma harmônica, segura e equilibrada.
A presença
respeitosa, afetiva e tranquila dos adultos, não em primeiro plano, mas
dentro do campo de visão das crianças garantem o apoio e segurança que as encorajam
ao movimento livre e a exploração do seu entorno de forma autônoma. A frase
de Drª Pikler citado por Drª Myrtha H. Chokler no prólogo da edição argentina
do livro “Mirar al niño” de Judit Falk, “no se puede prometer más de lo que
se puededar, pero lo que se da debe ser estable y seguro” ou seja, não se
pode prometer mais do que se pode dar, mas o que se dá deve ser estável e
seguro, reflete a presença destes princípios, do pensamento, das ações, do
cuidado, enfim, da pedagogia implícita em Lóczy:
Uma relação afetiva de qualidade entre adulto e criança; o valor
da atividade autônoma da criança como motor do seu próprio conhecimento; a
regularidade nos fatos, nos espaços e no tempo como base do conhecimento de
si próprio e do entorno; a dimensão extraordinária da linguagem como meio de
comunicação pessoal; a compreensão inteligente das necessidades da criança e
muito mais (FALK, 2004).
Essa pedagogia
presente na vida cotidiana com a valorização de materiais simples, a
delicadeza dos gestos, as interações verbais dos adultos sempre à espera de reações
de colaboração das crianças e estas se locomovendo livremente são a base para
a construção de uma Escola da infância como se pretende.Lóczy e a formação do
educador da educação infantil: o que podemos aprender?
Historicamente, as
instituições de educação infantil têm sido marcadas por uma tradição de baixa
exigência no nível de escolaridade e de formação dos educadores. Isso reflete
a falta de prioridade nas discussões das políticas públicas para a infância que,
sistematicamente, relegou a um papel secundário as instituições de educação infantil,
os profissionais que nela atuam e a sua importância na vida, na constituição do
sujeito e no processo de desenvolvimento da criança.
No meio acadêmico,
observa-se um aumento significativo de pesquisas e estudos que identificam a
ausência ou fragilidade da formação dos profissionais que desenvolvem o trabalho
educativo nessas instituições e os reflexos disso sobre a criança e o seu
desenvolvimento.
Essa situação, no
momento, parece vislumbrar mudanças o que tem provocado a consequente
necessidade de se pensar na qualidade da formação dos adultos responsáveis
pela educação e cuidado das crianças. Elas vêm associadas às novas exigências
colocadas pela sociedade, que reclamam um novo olhar e outro lugarpara a
criança, impulsionando as mudanças no cenário educacional brasileiro já garantidos
em lei, tais como a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB/96) e
as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (2009). No entanto,
um longo percurso ainda precisa ser percorrido, pois sabemos que a formação e
a qualificação profissional são elementos fundamentais para a melhoria da
qualidade do trabalho educativo, porém sozinhas não a garantem, como observou
Pikler no trabalho com as educadoras. A pergunta que se coloca a partir dessas
reflexões é: Qual formação garante a construção do perfil desse profissional desejado
para atender especificidade da educação infantil?
Pesquisas têm
mostrado que, tanto a formação inicial, quanto a formação continuada de
professores, pouco têm contribuído para reverter as fragilidades que vêm
marcando as ações educativas em todo o nosso sistema escolar.
Acreditamos que a
definição do perfil do profissional de educação infantil só pode ser feita a
partir do que conhecemos e sabemos sobre as crianças, suas capacidades e
habilidades, da presença e escuta atenta e sensível, bem como a importância
da afetividade e da construção do vínculo na relação adulto e criança.
E nesse aspecto
parece que Lóczy tem muito a contribuir. A experiência do Instituto Emmi
Pikler aponta a importância do adulto, não pela sua intervenção direta nos movimentos
e nos jogos do bebê, e sim nas possibilidades que ele cria, conforme lembra
Falk (2004):
O bebê, pelo que
faz na direção de seus movimentos e na aquisição de experiências sobre ele
mesmo e sobre o seu entorno – sempre a partir do que consegue fazer – é capaz
de agir adequadamente e de aprender de maneira independente. Para o desenvolvimento
da independência e da autonomia da criança, é necessário – além da relação de
segurança – que ela tenha a experiência de competência pelos seus atos
independentes (p.31).
Em parte das
instituições brasileiras, um dos desafios a superar é a mudança na estrutura
organizacional dos tempos e espaços, na rotina e na qualidade das interações.
O que ainda se observa é a manutenção de uma rotina centrada na segurança e
no controle do adulto sobre o que está acontecendo. A organização do tempo e
do espaço atende a necessidade do adulto e não a necessidade da criançade
movimentar-se, de explorar e de interagir com o espaço e com os objetos de forma
mais independente como presente em Lóczy.
Segundo Judit Falk
(2004) além de equipes de profissionais e grupos de crianças estáveis, para
que se estabeleça uma verdadeira relação pessoal é importante que acriança
não permaneça inativa em seu berço, que tenha muitas possibilidades de mover-se,
de deslocar-se e de brincar.
Mudar isso implica
rever as concepções sobre a criança e suas capacidades, ousar e acreditar na
mudança. Lóczy também enfrentou resistências das profissionais 9como relatado
por Pikler. Hoje, no entanto, o resultado e o registro da sua história confirmam
o que as pesquisas vêm mostrando sobre a importância de investirmos e colocarmos
o que há de mais humano a favor de uma criança inteira, competente, sensível
e capaz.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. 2009.
Ministério da Educação e do Desporto. Parecer CEB/CNE 2009 Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação
Infantil.
CHOKLER, M. 2010.
A história das ideias e a coerência na praxe da Atenção Precoce do Desenvolvimento Infantil. A experiência
Lóczy na educação e cuidados nos primeiros 3 anos. OMEP/SP.
FALK, Judit (org).
2004. Educar os três primeiros anos: a experiência de Lóczy. Araraquara:
JM Editora.
______________.1997.
Mirar al niño.FUNDARI. Asociación Internacional Pikler (Lóczy), Argentina: Ediciones Ariana.
NABINGER, S. 2010.
Material apresentado no curso A experiência Lóczy na educação e cuidados nos primeiros 3 anos. OMEP/SP.
NARODOWSKI, M.
2001. Infância e Poder: conformação da Pedagogia Moderna. Bragança Paulista: Editora Universidade São
Francisco.
* Este texto é
resultado dos estudos e reflexões das autoras e também da participação no curso
A importância dos cuidados na Primeira Infância, ministrado por Myrtha
H.Chokler e Sylvia B. Nabinger (OMEP/SP/2010).
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