sexta-feira, 11 de março de 2016

Autores G
















1.     GADOTTI, Moacir <>História das ideias pedagógicas
2.     GADOTTI, Moacir <> CONCEPÇÃO DIALÉTICA DA EDUCAÇÃO: Um estudo Introdutório
3.  GALLAHUE, D. L. , OZMUN J. C. <> Compreendendo o desenvolvimento motor: bebês, crianças, adolescentes e adultos
4.     GANDIN, Danilo <> A Prática do Planejamento Participativo
5.     GOLDIM, José Roberto <> Bioética e Interdisciplinaridade

6.     GRINSPUN, Mírian . <>A orientação educacional: conflito de paradigmas e alternativas para a escola
7.     GRINSPUN, Mírian (Org.) <> Supervisão e Orientação Educacional: perspectivas de integração na escola
8.     GROSSI, Esther <> A coragem de mudar em educação
Links:
GARBI, Gilberto G. <> A Rainha das Ciências

GADOTTI, Moacir.
História das ideias pedagógicas
O pensamento pedagógico brasileiro passa a ter mais autonomia com o desenvolvimento das teorias da Escola Nova. Até o final do século XIX, nossa pedagogia reproduzia o pensamento religioso medieval. Em 1924, com a criação da Associação Brasileira de Educação (ABE) nosso maior objetivo era o de reconstruir a sociedade através da educação, superando a educação jesuíta tradicional que dominava o pensamento nosso pedagógico desde os primórdios. 
Com os jesuítas, tivemos um ensino de caráter verbalista, retórico, repetitivo, que estimulava a competição através de prêmios e castigos. Era uma educação que reproduzia uma sociedade dividida entre analfabetos e doutores. 
O movimento anarquista também teve interesse na educação no início do século. Para os anarquistas, a educação não era o principal agente desencadeador do processo revolucionário, mas seriam necessárias mudanças na mentalidade das pessoas para que a revolução social fosse alcançada. 
O pensamento pedagógico libertário teve como principal difusora Maria Lacerda de Moura (1887-1944) que propôs uma educação que incluísse educação física, educação dos sentidos e o estudo do crescimento físico. Moura afirmava que, além das noções de cálculo, leitura, língua prática e história, seria preciso estimular associações e despertar a vida interior da criança para que houvesse uma autoeducação. 
A partir de 1930, a educação, principalmente a pública, teve mais espaço nas preocupações do poder. Houve o primeiro grande resultado político e doutrinário da ABE em favor de um Plano Nacional de Educação. Em 1938, com a fundação do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos (Inep), que é um precioso testemunho da história da educação no Brasil, fonte de informação e formação para educadores brasileiros até hoje. 
Depois da ditadura de Getúlio Vargas (1937-1945), começa um período de redemocratização no país que é interrompido com o golpe militar de 1964.
Neste intervalo de tempo, em que as liberdades democráticas foram respeitadas, o movimento educacional teve um novo impulso, distinguindo-se por dois movimentos: o movimento por uma educação popular e o movimento em defesa da educação pública.
Em ambos movimentos existem posições conservadoras e progressistas. Somente em 1988, com o movimento da educação pública popular, sustentado pelos partidos políticos mais engajados na luta pela educação do povo, passou-se a ter uma unidade de ideais. 
No pensamento pedagógico contemporâneo, Paulo Freire situa-se entre os 
pedagogos humanistas e críticos que deram uma contribuição decisiva à concepção dialética da educação.
Florestan Fernandes (1920), com sua sociologia, criou um novo estilo de pensar a realidade social, por meio da qual se torna possível reinterpretar a sociedade e a história, como também a sociologia anterior produzida no Brasil. 
Para Luiz Pereira (1933-1985) a solução dos problemas enfrentados dentro da escola depende da solução dos problemas externos a ela, que envolvem aspectos econômicos e sociais. Ele criticou a maioria dos pedagogos que desconsideravam esses aspectos extraescolares e que acreditavam que a escola, por si só, transformaria a sociedade. 
No início da década de 90, o discurso pedagógico foi enriquecido com temas como a diversidade cultural, diferenças étnicas e de gênero ganharam espaço no pensamento pedagógico brasileiro e universal. 
Os educadores e pedagogos da educação liberal defendem a liberdade de ensino, de pensamento e de pesquisa, os métodos novos baseados na natureza da criança. O Estado, para eles, deve intervir o mínimo possível na vida de cada cidadão particular. Nessas tendências existem defensores da escola pública e defensores da escola privada. Mas têm em comum uma filosofia do consenso, isto é, não reconhecem na sociedade o conflito de classes e restringem o papel da escola ao pedagógico, somente. 
Os seguidores da educação progressista defendem o envolvimento da escola na formação de um cidadão crítico e participante da mudança social. Dentro deste pensamento encontram-se correntes que defendem a formação da consciência crítica, passando pela assimilação do saber elaborado; o saber técnico-científico, que deve ter por objetivo o compromisso político. 
O pensamento pedagógico brasileiro está em constante movimento e tentar reduzi-lo a esquemas seria uma forma de esconder essa riqueza e essa dinâmica. 

GADOTTI, Moacir
CONCEPÇÃO DIALÉTICA DA EDUCAÇÃO:            Um estudo Introdutório
A educação é um fenômeno dinâmico e permanente como a própria vida, e o educador busca  compreender esse fenômeno, Gadotti em seu livro relata isso por um ponto de vista explicativo que é a dialética. Tanto a educação do homem feudal quanto a educação do homem burguês tem uma finalidade muito bem definida: adaptar as novas gerações a um modelo de sociedade. [...] Não existirá uma concepção da educação que, ao contrário, vise despertar as novas gerações para a construção de outra sociedade, uma educação emancipadora que as desafie a construir outra? (GADOTTI, 2000, p 13)
A dialética pode ser descrita como a arte do diálogo. Uma discussão na qual há contraposição de ideias, onde uma tese é defendida e contradita logo em seguida, uma espécie de debate. A prática da dialética surgiu na Grécia antiga, ela se iniciou com Zenão de Eléia que ficou conhecido por considera-la como uma “filosofia da aparência”,   e Sócrates foi considerado o maior dialético por usar de um método discursivo para propagar suas ideias, fazendo nascer a verdade como um parto, no qual ele era apenas um instigador e o discípulo o verdadeiro descobridor e criador.
A questão que deu origem à dialética é a explicação do movimento, da transformação das coisas, ela considera todas as coisas em movimento, relacionadas uma com as outras. Já para Aristóteles o método dialético era apenas auxiliar da filosofia, uma atividade crítica, que não conduz ao conhecimento, mas á disputa, à probabilidade, à opinião.
Apesar das diversas opiniões dos filósofos, a concepção dialética da história começa a tomar forma com o filósofo social e pedagogo suíço Jean-Jacques Rousseau, e a partir de Hegel a dialética retorna como tema central da filosofia e como filosofia. “A dialética, segundo ele, é o momento negativo de toda realidade, aquilo que tem a possibilidade de não ser, de negar-se a si mesmo. Entretanto, a razão não é apenas o entendimento da realidade, mas a própria realidade.” Para Hegel o processo racional é como um processo dialético, no qual a contradição não é considerada como “ilógica”, mas como o verdadeiro motor do pensamento. O pensamento não é mais estático, mas procede de contradições superadas, da tese à antítese e daí à síntese.
Mas é com Marx e Engels que a dialética adquire um status filosófico e científico, Marx substitui o idealismo de Hegel por um realismo materialista. Para ele a dialética explica a evolução da matéria, da natureza e do próprio homem.
O materialismo dialético não considera a matéria e o pensamento como princípios isolados, mas com aspectos da mesma natureza que é indivisível e que se manifesta sobre duas formas diferentes, uma material e outra ideal. Ele tem duplo objetivo: 1º como dialética, estuda as leis mais gerais do universo, desde a natureza física até o pensamento, passando pela natureza viva e pela sociedade. 2º como materialismo, é uma concepção científica que pressupõe que o mundo é uma realidade material, onde o homem está presente e pode conhecê-la e transformá-la. Ele não se separa da ciência, pois é graças a ela que ele pode desenvolver-se e superar-se.
Moacir Gadotti fala em seu livro sobre quatro princípios (ou leis) da dialética, são eles:
1º) Tudo se relaciona: a natureza se apresenta como um todo, onde objetos e fenômenos são ligados entre si. O sentido das coisas está na sua totalidade. “Nada é isolado. Isolar um fato, um fenômeno e depois conservá-lo pelo entendimento nesse isolamento, é privá-lo de sentido, de explicação, de conteúdo.” (Lefèbvre, 1975, p.238)
2º) Tudo se transforma: o movimento é uma qualidade inerente a todas as coisas. A natureza, a sociedade não são entidades acabadas, mas em contínua transformação. A dialética não pode entender a totalidade como um todo já feito e formalizado.
3º) Mudança qualitativa: a transformação das coisas não se realiza de eterna repetição, a mudança qualitativa dá-se pelo acúmulo de elementos quantitativos que em certo momento produzem o qualitativamente novo.
4º) Unidade e luta dos contrários: A contradição é a essência da dialética. A transformação das coisas só é possível porque no seu próprio interior coexistem forças opostas tendendo simultaneamente à unidade e à oposição. Esses princípios podem ser aplicados tanto à matéria como à sociedade, por isso a dialética poderia ser dividida   em três níveis: Dialética da natureza, da história e do conhecimento.
O princípio que distingue fundamentalmente a lógica formal da lógica dialética é a contradição, enquanto a lógica dialética parte do princípio da contradição, a lógica formal parte do seu oposto, isso porque para a primeira decorre que tudo está em movimento e para a segunda os fenômenos e objetos são estáticos.
O método dialético não pode ser compreendido fora do conjunto do pensamento marxista. A dialética, ao contrário da metafísica, é questionadora, contestadora, exige constantemente o reexame da teoria e a crítica da prática.
Nas décadas de 20 e 30 que se desenvolveu o pensamento de Gramsci, cresceu a crença nas possibilidades da escola. A luta pela educação pública, e gratuita ganhou o consenso, a introdução de novos métodos, de novas técnicas e de uma escola voltada para a vida, renovaram a esperança de que a paz social e o desenvolvimento integral poderiam ser conduzidos pela escola. Entretanto, as guerras e convulsões sociais no mundo todo mostraram o quanto era frágil a contribuição da escola.
Com o desenvolvimento dos métodos ativos, as pedagogias contemporâneas centraram seus debates na questão da autoridade. A pedagogia dialética, de fundo humanista, procurou restabelecer o encontro como fundamento da educação. As pedagogias atuais insistem na autonomia do aluno, na sua autodeterminação, na comunicação, na não-diretividade.
Os anos 60 e 70 foram contra qualquer espécie de autoridade, a começar pela do mestre, o que teve profundas influências nas pedagogias críticas. As pedagogias não-diretivistas em que o papel do professor não é o de guiar, de dirigir, mas de criar uma atmosfera de aceitação na qual o aluno possa desenvolver os seus desejos, ele se coloca como um especialista a serviço do grupo. O objetivo central dessas pedagogias é a autogestão pedagógica, (como combinar a autoridade do professor com a liberdade dos alunos).
Lobrot teoriza sobre o fenômeno da autoridade: a autoridade, diz ele, é antes de mais nada, uma reação e uma atitude humana diante da natureza e dos outros. Isso não impede de maneira alguma que ela seja estrutural e institucional, porque ela é psicológica.
A autoridade é um sistema que permite alterar a vontade do outro e do campo psicológico do indivíduo sobre o qual se quer agir. Sendo de natureza psicológica, toda ação que tenda a suprimir a autoridade passa pelo indivíduo. A personalidade autoritária aparece como uma enfermidade que precisa ser curada. Lobrot conclui que a   autoridade se transmite essencialmente pela educação, então é ai que se precisa agir para formar homens livres.
Esse processo inicia-se na sala de aula, primeiramente quando o professor deixa de existir como autoridade para prestar apenas uma “ajuda técnica”. Ele não poderá interferir no grupo nem direcioná-lo. Essa atitude visa a fazer com que os grupos e os indivíduos nele envolvidos adquiram autonomia e senso de responsabilidade, eles mesmos buscando por soluções para os seus problemas.
O poder de decisão é posto nas mãos dos alunos, que assumem as responsabilidades de sua formação, delimitando e organizando o campo da aprendizagem, o professor intervém mais no método de trabalho do que nos conteúdos. Segundo Ferry “não se pode compreender os alunos senão renunciando inteiramente a dirigi-los; toda iniciativa, tomada pelo professor, termina por alterar a relação educativa, introduzindo-lhes os seus fantasmas, os seus estereótipos, as suas ansiedades e defesas”.
Os pedagogos não-diretivos recomendam que todas as intervenções, aos grupos de estudantes, sejam escutadas e examinadas com a mesma atenção, que cada um possa fazer-se ouvir e que ninguém procure usurpar as funções dos outros ou impor-se autoritariamente. Assim o grupo progredirá com extrema dificuldade, correndo riscos e cometendo erros que serão para os alunos “fecundos e formativos”.
Snyders entende que na pedagogia não-diretiva existe um certo ceticismo em relação à questão da verdade, o que conta é o sucesso das relações interpessoais, da vida do grupo; os teóricos dessa pedagogia se recusam a colocar o problema da verdade, justificando essa recusa porque essa pedagogia não se coloca o problema dos conteúdos, esquece os conteúdos para se deter sobre os métodos, sobre o encontro de opiniões. E ao contrário disso, uma pedagogia inspirada no marxismo, deve primar pelo conteúdo que se vai ensinar, porque é só através dele que se pode “renovar” a consciência dos alunos, e deve cuidar ainda para que esse saber mantenha uma ligação com a experiência do aluno.
As pedagogia não-diretivas parecem sempre caminhar da teoria para a prática, têm seus fundamentos numa antropologia metafísica e na religião, supõe-se que através dessa prática pedagógica os homens, finalmente, poderiam ter acesso à autenticidade. O salvador seria o pedagogo que libertaria o educando da violência, do pecado, tornando a sala de aula um local de pureza.
Os fundamentos científicos das pedagogias não-diretivas encontram-se notadamente na psicologia e na sociologia. As pedagogias não-diretivas acabam por se tornar ineficaz por isolar a prática educativa, ela foge do homem histórico para se apegar a uma “natureza humana essencialmente boa”. Querer restaurar a dignidade humana através da escola segundo Gadotti parece uma ilusão que não leva em conta o passado e o presente, a história, o homem concreto.
No final do capítulo Crítica da pedagogia crítica, Gadotti relata uma experiência de autogestão vivida por ele entre os anos de 1974 a 1977, na Universidade de Genebra, na Seção de Ciências da Educação onde termina dizendo “A educação sempre teve esse objetivo: formar o homem para assumir-se integralmente, portanto, autogovernar-se de governar. A autogestão é a tradução moderna da “Paideia”. Só que hoje, com a divisão da sociedade, só uma parcela está sendo formada para o comando, só uma elite está sendo formada para a autogestão. Falta torná-la coletiva. E isso só será possível com a democratização da sociedade”.
O último capítulo do livro “Crítica da educação Brasileira”, é dedicado à educação brasileira, percorrendo sua trajetória desde 1930, ao início da publicação do seu livro, no início da década de 1980.
A educação Populista que é um período rico e contraditório em movimentos sociais e políticos e em transformações econômicas, um período também de muitas agitações das ideias pedagógicas, marcado por longos debates em torno de várias reformas educacionais. Esse período foi basicamente de 1930 e 1964, o ensino era oligárquico, nitidamente elitista (tradição que vinha desde a colônia, onde a igreja detinha o monopólio da educação). E logo depois sobre a educação autoritária, com as sucessivas campanhas em favor do ensino público e gratuito movimentando numerosos educadores e estudantes, o nascimento da universidade autoritária e como mantê-la, a pretensão de Atcon em atrelar o sistema educacional e a universidade em particular ao modelo de desenvolvimento econômico dependente imposto pela política econômica americana para a América Latina.
A educação do educador, que refere-se a década de 70 em que a crítica ideológica à educação tem ocupado grande espaço, o movimento dos educadores passa de uma fase crítica à educação e o movimento entra gradativamente numa fase mais orgânica onde surgem propostas de mudança de reformulação ou redefinição da educação em geral.
E por fim a educação brasileira hoje, que confronta a concepção dialética com a concepção metafísica. Uma opõe-se a outra, enquanto a metafísica defende que “a educação seria a realização daquilo que deve ser o homem” a dialética sustenta que a formação do homem se dá pela elevação da consciência coletiva realizada concretamente no processo de trabalho que cria o próprio homem. A pedagogia dialética da educação é social, científica, uma pedagogia voltada para a construção do homem coletivo, voltada portanto, para o futuro. Ela afronta decididamente a questão da formação do homem como sendo uma tarefa social.
Ao contrário da metafísica ela entende que o desenvolvimento humano se dá pela interação de determinantes internos e externos, não deixa de considerar os elementos internos, as contradições no interior do indivíduo e da própria instituição educacional. Hoje mais que na época de Marx, a concepção dialética da educação opõe-se à concepção positivista, notadamente sobre a sua forma funcionalista.

GALLAHUE, David L. , OZMUN John C.
Compreendendo o desenvolvimento motor: bebês, crianças, adolescentes e adultos
CONCEITO -CHAVE
Desenvolvimento motor é a contínua alteração no comportamento motor ao longo do ciclo da vida, proporcionada pela interação entre as necessidades da tarefa, a biologia do indivíduo e as condições do ambiente.
O estudo do desenvolvimento humano
Tem sido de grande interesse para estudiosos e educadores há muitos anos. O conhecimento dos processos de desenvolvimento situa-se no âmago da educação, seja na sala de aula, no ginásio ou no campo de esportes. Sem um profundo conhecimento dos aspectos do desenvolvimento do comportamento humano, os educadores somente podem supor as técnicas educacionais e os procedimentos de intervenção apropriados. Os educadores que se baseiam no modo desenvolvimentista em seu ensino incorporam experiências de aprendizado que são apropriadas não somente às idades cronológicas, mas também, de maneira mais importante, aos níveis de desenvolvimento dos indivíduos que estão sendo ensinados. Os educadores desenvolvimentistas reconhecem que, embora a instrução seja um aspecto importante do processo ensino-aprendizagem, ela não explica o aprendizado, ao passo que o desenvolvimento o faz.
CONCEITO 1.1
A instrução não explica o aprendizado; o desenvolvimento, sim.
Uma quantidade considerável de pesquisas tem sido realizada e uma série de textos foi escrita sobre o processo de desenvolvimento. A pesquisa realizada sobre
Os aspectos desenvolvimentistas do comportamento motor foi, no passado, mais limitada no alcance e na magnitude do que a pesquisa feita sobre os processos cognitivos e afetivos do desenvolvimento. Historicamente, os psicólogos desenvolvimentistas tenderam a mostrar-se apenas marginalmente interessados no desenvolvimento motor e, mesmo assim, só como indicador visual do funcionamento cognitivo. Da mesma forma, os psicólogos sociais interessados no processo do desenvolvimento emocional deram somente atenção superficial ao movimento e à influência dele no desenvolvimento social e emocional do indivíduo. Visto que o impulso primário da pesquisa sobre desenvolvimento motor veio dos muitos ramos da psicologia, é natural que o desenvolvimento motor tenha sido frequentemente visto em termos de suas influências potenciais sobre outras áreas do comportamento e como meio conveniente e prontamente observável de estudo do comportamento, em vez de um fenômeno digno de estudo por sua própria causa.
CONCEITO 1.2
O estudo do desenvolvimento motor, no passado, foi ofuscado pelo interesse nos processos cognitivos e afetivos do desenvolvimento.
O estudo do desenvolvimento motor pelos profissionais de educação física, como um campo especializado de pesquisa acadêmica, não ganhou verdadeiro ímpeto até os anos 70. O desenvolvimento motor é um campo de estudo legítimo que disseca as áreas de fisiologia do exercício, biomecânica, aprendizado motor e controle motor, bem como as áreas de psicologia desenvolvimentista e psicologia social.
                               
DANILO GANDIN
A Prática do Planejamento Participativo
O PLANEJAMENTO COMO FERRAMENTA DE TRANSFORMAÇÃO DA PRÁTICA EDUCATIVA
Considerações Gerais
1.É fundamental pensar o planejamento como uma ferramenta para dar mais eficiência à ação humana. É claro que é uma ferramenta de organização, de decisão. Não é, por exemplo, uma ferramenta para a execução de alguma tarefa material, como a faca o é para cortar batatas. Mas o princípio é o mesmo: assim como a faca auxilia a tarefa de cortar  batatas (sem ela seria muito mais difícil) o planejamento facilita as decisões e lhes dá consistência e auxilia na organização da prática.
2. O planejamento é natural ao ser humano; para qualquer ação que produzimos, fazemos o que é essencial ao planejamento: motivados por algum problema, acompanhado de alguma esperança de alcançar mudança, propomos um futuro desejável; fazemos uma avaliação da realidade para ver a distância a que estamos deste futuro e quais são as possibilidades de alcançá-lo ou dele nos aproximarmos; finalmente propomos ações, atitudes, regras e rotinas para realizar esta aproximação. Desde que o ser humano se constituiu como tal, isto é, desde que se reconheceu como ser humano, distinguiu-se dos animais por ter esta capacidade de produzir o futuro de forma consciente.
3. Contudo, as pessoas, mesmo em seu trabalho, normalmente não planejam no sentido comum do termo; em vez de assumirem suas próprias decisões e serem sujeitos da organização de sua prática, seguem o que já está constituído como problema, como ideia, como análise da realidade e como solução. Embora planejem, dão outro significado a esta tarefa: ela passa a ser a escolha entre duas ou mais possibilidades que estão constituídas como válidas pelo senso comum. Um professor, por exemplo, não pensa o que é a educação, como ela se produz e a partir daí decide o que ele vai fazer; ele está submetido a “passar” uma disciplina e não pode perguntar-se se isto é bom ou mau, ele apenas tem que fazer; seu planejamento vai ser uma prática secundária: vai apenas perguntar-se como ele fará para “passar” o tal conteúdo, como vai fazer com que os alunos prestem atenção, como vai dar nota... Se planejar significa atacar um problema com um corpo de ideias claras, examinar a realidade e a prática para ver a distância entre elas e este conjunto de ideias e propor um conjunto de ações, regras, rotinas e atitudes para mudar a realidade e a prática na direção daquele conjunto de ideias, temos que afirmar que o professor não planeja e que, talvez, nem possa nem deva fazê-lo.
Daí decorre que as pessoas, no dia-a-dia:
- não descobrem com clareza quais são os problemas; em geral, julgam que é problema aquilo que o senso comum assim estabelece; se os professores, por exemplo, tem, em sua sala, um aluno inquieto, que não se contenta com estas disciplinas sem significado e com este “saber” que não faz as pessoas crescerem, dizem que este é o problema;
- não constroem conjuntos de ideias e de ideais bem claros; adotam elementos teóricos que estão no dia-a-dia, mas que não têm fundamento real; acreditam, por exemplo, como muita gente diz, que quem se esforça, consegue; não conseguem compreender coisas tão simples como a relação entre dinheiro e resultado na escola: se ouvirem que os reprovados são sempre os pobres e os que vão adiante na escola são os ricos, pensam que quem diz isto é doido ou subversivo;
- não conseguem fazer uma avaliação de sua prática pessoal e da do grupo ao qual pertencem; dizem que encontrar o que vai mal é fazer desanimar as pessoas ou sentem como culpa o não se alcançar aquilo com o que se sonha;
- muito menos conseguem propor mudanças na realidade ou na prática; o que se tem que fazer, julgam, já está determinado e ninguém pode querer fazer diferente; no máximo, poderia alguma autoridade mandar que se mudasse isto ou aquilo; mas, de qualquer modo, se for necessária uma mudança real no fazer das pessoas, nem aquilo que a autoridade diz será levado a sério.
4. Planejar é, sempre, buscar a transformação da realidade. É, sempre, propor ações, atitudes, regras e rotinas que possam levar à satisfação de necessidades descobertas na realidade (ou na prática) através da avaliação que é a comparação do que se quer com aquilo que existe. Mas há o planejamento que muda para manter (para conservar) e o planejamento que muda para transformar. Se você conserta uma casa, o que você quer é conservar, embora esteja, realmente, mudando a realidade. Se você a derruba para construir outra, você quer transformar. Se você pune um aluno que transgrediu alguma regra, você quer conservar, se você muda as regras, de modo participativo e baseado em necessidades descobertas na avaliação que compara uma teoria e um querer com a prática, você quer transformar. Se você introduz novas tecnologias para tornar menos tormentoso o conteúdo tradicional que só serve para o vestibular, você mudou para manter as condições de quem tem dinheiro seguir em frente e os pobres nada conseguirem; se você acaba com o conteúdo preestabelecido, com o vestibular, você muda pra permitir condições mais parecidas para todos. Se você faz um viaduto na cidade, você muda para privilegiar  os automóveis; se você cria grandes espaços onde os carros não possam ir, você muda para permitir vida mais tranquila às pessoas.
5. Há níveis diferentes de planejamento porque há diferença nas ações humanas. Se alguém quer ir ao teatro ou a uma pescaria, deve planejar. Mas este planejamento é diferente daquele que fosse para ajudar a decidir sobre a construção de uma casa e a organizar o trabalho para construí-la. Bem diferente de um plano global de escola. Se professores têm que decidir sobre “como” vão “dar” uma aula, este planejamento é diferente daquele necessário para um grupo de escola que queira dar uma direção democrática, dialogal ou de justiça social ao seu trabalho.
Os Passos para uma Prática Lúcida
Todo o fazer humano está ligado a ser um conjunto de ações, rotinas, regras e atitudes para transformar ideias em realidades.
1. Só pensamos a partir de problemas, isto é, a partir de algo que nos causa mal-estar. Algumas vezes este mal-estar diz respeito a coisas que diretamente nos afetam, tanto pessoas ou instituições, e outras vezes a coisas que, infligindo sofrimentos a pessoas e a grupos longe de nós, passam a ser da nossa preocupação ou do nosso interesse. Poderíamos, talvez, caracterizar os primeiros como internos e os outros como externos. Assim, os primeiros seriam coisas como uma doença pessoal, uma escola com diminuição constante de alunos... Os segundos seriam situações como a degradação do planeta, a violência, o terrorismo... Por isto, há sempre uma dose de esperança, de desejo e de amor em qualquer pessoa ou grupo que inicia um processo de planejamento.
Abrir a mente ao mundo é extremamente importante. Há, inclusive, uma linha de pensamento muito consistente que diz: a pessoa ou a instituição que se prende a seus problemas imediatos, geralmente adoece. É preciso considerar, com cuidado, se o fato de as escolas ficarem “passando” ao aluno um conteúdo sem significado para não especialistas não é uma verdadeira doença. Também vale a pena considerar se a síndrome da desistência não é doença que afeta professoras e professores pelo mesmo motivo: enquanto o planeta sofre sérias possibilidades de deterioração, a escola lhes pede para serem repetidores, para não ousarem...
Pode-se chegar a pensar que escolas e professores não planejam, isto é, não instituem processos novos, porque não têm problemas. Dizendo melhor: não planejam porque os problemas para os quais abrem os olhos são insignificantes e têm soluções pré-determinadas. Tais soluções não funcionam, mas são tentadas sempre por dois motivos: desenvolveu-se todo um discurso de culpabilização que parece explicar os maus resultados e a escola perdeu a relação entre prática e resultado, de modo que fica mais importante trabalhar do que conseguir resultados.
2. Não pode haver ideias transformadas em processos se não houver ideias. É um terrível engano, mais comum do que parece, a prática de partir do problema para o processo. No caso da mãe com que abri o texto, um problema (desarmonia mãe/filha) suscitou, sem pensamento e sem análise da realidade, um processo: briga e xingamento. Existem até correntes de planejamento que se basearam (não tão grosseiramente, é verdade) nesta relação direta problema-processo. Nada se consegue, evidentemente, desta maneira; os resultados podem ser desastrosos, como ainda hoje acontece nas escolas: o menino incomoda muito na sala de aula (problema) e é posto de castigo ou enviado à direção da escola (processo, solução). Observe-se que não será suficiente analisar o problema sob vários ângulos; é necessário chegar a ele com um conjunto de ideias e de crenças sobre o processo educativo, a fim de descobrir qual é a necessidade ou quais são as necessidades que deve(m) ser satisfeita(s) para solucionar ou diminuir o problema. Agir com a ligação direta problema/processo seria como se fôssemos ao médico com a mão doendo e ele nos mandasse cortar a mão para que não doesse mais.
A organização de ideias é, nas circunstâncias atuais, uma das necessidades mais importantes. Estamos em crise, isto é, naquele momento de nossa História em que as ideias do senso comum já não resolvem e as ideias novas ainda não demonstraram sua força.
No caso da escola, estas ideias podem organizar-se no instrumento que se chamou projeto político-pedagógico.
A. Situação Existente (problemas e desafios da realidade global e institucional)
B. Marco Político (proposta ideal de sociedade e de ser humano que desejamos ajudar a construir)
C. Marco Pedagógico (princípios, prioridades e características ideais do processo educativo que se deseja)
3. Ouso dizer que o ponto mais fraco desta cadeia de construção de novos processos pedagógicos nas escolas é a falta de análise da prática. Não sabemos o que é um diagnóstico e temos medo de fazê-lo. É imprescindível avaliar a prática, comparando-a com o projeto pedagógico que se elaborou, e analisar a realidade para descobrir a distância que se está daquele ideal proposto e para ver que possibilidade e que limites temos para a caminhada na direção daquele horizonte.
Já estou eu, de novo, a falar em situações mais complexas! Quero acentuar que esta necessidade de diagnóstico assim entendido é válida para as práticas simples também. Se alguém quer ver um filme, examina a realidade (sem, muitas vezes, dar-se conta disto) para ver a que distância está, de que meios dispõe, quais são as dificuldades, se pode ir ao cinema ou alugar o filme ou esperar quando passe na televisão...
Na escola esse diagnóstico equivale a uma análise de todos os processos em andamento a fim de verificar até que ponto eles são adequados para realizar as ideias que constaram no projeto pedagógico. Talvez este seja o nó da questão: se o projeto pedagógico tem a ideias de escola democrática, de ligação da escola com a realidade (são apenas exemplos), ela precisa analisar com atenção e rigor até que pontos os processos (ações, atitudes, regras e rotinas) estão construindo democracia, até que pontos conteúdos escolares brotam da realidade e levam a compreendê-la. É essencial esta compreensão dos processos existentes para poder descobrir necessidades de novos processos e de correção dos que podem ser mantidos, mas precisam de mudanças.
4. Se fosse possível transformar ideias em processos e fazer isto com utilidade sem depender dos passos anteriores, poderíamos ter uma economia de tempo, de trabalho e, até, de recursos. Muitos pensam que isto é possível e trabalham séria e duramente, por longos períodos, sem ter resultados convincentes. Nem sabem por que, tendo eles (pessoas ou instituições) se esforçado tanto, com tanta boa vontade, se encontram na mesma situação (às vezes pior) depois de anos e anos. É proverbial o esforço de pais, de educadores, de escolas, de igrejas... É também evidente o pouco resultado, a repetição de processos ineficazes, a manutenção da mesma sociedade que criticam.
Os processos, muitas vezes, são predeterminados. Funcionam, por exemplo, na medicina: quando o diagnóstico, feito a partir de ideias que sustentam uma teoria, estabelece uma doença ou um mal qualquer, o médico apela para o processo que já foi estabelecido por estudos anteriores. Isto poderia levar médicos a usarem sanguessugas para tratar certas doenças. Isto não acontece (coisas similares devem estar acontecendo com médicos menos atentos ou menos estudiosos) porque estes processos são continuamente submetidos à prova da eficácia. Se outro mais eficaz é descoberto, ele é logo adotado e o que é fundamental acontece: um resultado, motivado por um processo engendrado pela análise da realidade em confronto com uma ideias, tudo isto deslanchado por um problema. Na escola não é tão simples. (Isto não é sugestão para que se abandone o trabalho sério; ao contrário, é para que se sigam com mais exatidão os passos necessários). Não é tão simples porque, além da ciência, as ideias educacionais são sempre permeadas pelas crenças, pela Filosofia, pela arte, pela ideologia. Há quem queira fugir disto, como o reitor de quem falei antes, mas isto não é possível
Em educação temos processos preestabelecidos. Eles foram construídos a partir de problemas velhos, derivados do confronto entre um conjunto de ideias que serviam a humanidades passadas  e uma realidade não mais existente. Não servem mais para os problemas, para as ideias e para a realidade de hoje, mas se firmaram. Pior: algumas ideias comerciais, como a do livro didático e a da preparação para o vestibular, superaram a força das ideias educacionais e pedagógicas e dificultaram significativamente a construção de processos adequados à realidade, às ideias e aos problemas que são, a cada dia, apresentados por todos. A inoperância das autoridades (Conselhos de Educação, Ministério, Congresso...) deixou escolas e professores sufocados num torvelinho de tentativas, frustrações, enganos, desesperanças...
É preciso desenvolver clareza sobre educação. Mas cada vez é mais necessário desenvolver ou apropriar-se de ferramentas de planejamento adequadas para construir processos, permitindo, assim, que educadores sejam sujeitos do seu desenvolvimento.
Para isto é necessária persistência para:
exigir das autoridades a preocupação não apenas com pôr todo mundo na escola, mas com saber o que fazer com estas multidões de alunos e de alunas;
ir construindo novos processos, mesmo que em quantidade pequena em relação a todo o tempo que a escola tem.
Se representarmos a sequencia e a relação entre eles da forma como penso que ocorrem, teremos o seguinte quadro:
O Planejamento e as Necessidades Humanas
 Há vários  tipos de planejamento porque há vários tipos de ação humana. Uma coisa é, por exemplo, ir a um cinema (precisa de um tipo de planejamento), outra é construir mais participação numa cidade (outro tipo de planejamento) e uma terceira construir uma ética planetária (outro tipo).
Vale a pena, por isto, verificar alguns tipos de situação humana e analisar a especificidade do planejamento por ela exigido. Claro que cada exemplo abaixo é uma possibilidade entre muitíssimas parecidas ou iguais.
A - O Conserto de um Automóvel
Para consertar máquinas, certamente há necessidade de planejamento. Ele consistirá de três passos:
compreensão do padrão da máquina, isto é, da estrutura que lhe permite o funcionamento, ou seja, do seu estado ideal; deste passo em geral não se fala e as pessoas não se dão conta de que ele existe porque naturalmente ele é preexistente na mente de quem vai fazer o conserto e não precisa ser enunciado;
um diagnóstico – é o que mais aparece – buscando descobrir as diferenças existentes na máquina real em relação ao padrão ideal desta mesma máquina; o conceito central deste diagnóstico é o de problema e o seu resultado mais forte é a relação de problemas detectados; faz parte deste diagnóstico, também, a avaliação de possibilidades e de recursos;
decisão do que se vai fazer, incluindo aqui as ações diretas de solução do(s) problema(s) e/ou as orientações (propostas como estratégias) de uso da máquina.
Com mais complexidade por causa do “humano” nele existente, o trabalho do médico usa um esquema igual a este.
B - A Administração de um Aeroporto (este tipo inclui, também, quase todas as situações de planejamento de empresas comerciais e similares, como as de serviços mais simples).
 Muito parecido com o caso anterior é a administração de alguns serviços públicos, não necessariamente governamentais, cujo padrão esteja quase totalmente dado. Há ideias de segurança, bem-estar, bom atendimento, rapidez, etc. que devem ser realizadas. Estas ideias dão os critérios – pode-se falar aqui de indicadores – para a prática.
As três etapas do planejamento descritas acima permanecem. O que é diferente são os conteúdos que se acrescentam em relação ao que se realiza no caso anterior.
Além da compreensão do padrão básico do serviço que é dado pela cultura dos usuários e pelo costume que se cria, é necessária aqui a complementação deste padrão, no sentido de buscar mais contentamento para os que usam o serviço, incluindo ou não maneiras próprias de servir. O levantamento de sugestões junto ao público é a forma primeira de participação dos usuários na fixação deste padrão.
O diagnóstico, além de verificar a existência e a extensão de problemas, incluirá o grau de satisfação das pessoas que trabalham no serviço e dos que usufruem seus benefícios.
A decisão sobre o que se vai fazer é mais abrangente em virtude dos acréscimos anteriores. Além disto, estas decisões insistirão mais em estratégias, visando aos modos de ser e de se comportar que aumentem a qualidade do serviço, dentro do padrão estabelecido. Pode contar com mais mudanças, algumas estruturais, que são geradas pela modificação do padrão referencial estabelecido.
C - A Fábrica de Sapatos
As indústrias e as empresas de serviços mais complexas aumentam os campos de liberdade na ação e no planejamento, forçando a utilização de modelos, técnicas e instrumentos mais elaborados e o alargamento dos conceitos embasadores. Há necessidade de posições estratégicas mais claras e de aumentar a análise da realidade social, chegando, eventualmente, à ideia mais alargada de missão, que inclua fortemente o bem-estar de pessoas e até de grupos que, às vezes, não são ligadas diretamente à empresa.
D - O Sonho e a Prática da Escola, do Partido Político, do Sindicato...
Pouco se tem escrito sobre o planejamento de instituições, grupos e movimentos cujo primeiro fim seja o de gerar riqueza não material, isto é, o de contribuir para a construção do ser humano e da humanidade. Pensa-se, em geral, que planejá-las quer dizer administrá-las. Gerenciar recursos parece suficiente: os planos de uma escola ou sindicato devem seguir os mesmos enfoques dos planos de uma fábrica ou, quando muito, de uma prestadora de serviços. Embora, enquanto delas se fala, se distinga o público do privado, se façam exigências maiores quanto à lisura do uso de recursos, quase sempre estas entidades são remetidas, para efeitos de ferramenta de planejamento, aos mesmos modelos, técnicas e instrumentos que são oferecidos às empresas cujo primeiro fim é o lucro. Ora, estas ferramentas não servem  para instituições como escolas, partidos políticos, sindicatos,... nem para grupos e movimentos da sociedade civil, porque estas entidades precisam de uma ferramenta que lhes permita cumprir melhor sua função de participar da luta de dar estrutura à sociedade.
Mas, até para estas entidades, os pontos básicos do planejamento são os mesmos. De fato, não há planejamento sem estes três momentos que indiquei nos casos anteriores. O que é novo é a abrangência social que o Planejamento Participativo dá a estes momentos, especialmente ao primeiro, o que traz consequências para os outros.
As Grandes Linhas de Planejamento e seu Uso
O planejamento, embora inerente ao ser humano para encaminhar as questões do dia-a-dia, torna-se uma ferramenta com conceitos, modelos, técnicas e instrumentos bem definidos a partir do começo do século passado, com a revolução comunista que constrói a União Soviética. No mundo capitalista, o planejamento, para as questões mais complexas, passa a ser usual, nos governos, depois da segunda guerra mundial. A partir desta adoção pelos governos, o planejamento passa a ser uma das preocupações de instituições, grupos, movimentos, organizações não governamentais: podemos dizer que ele se universaliza.
 Hoje vivemos a segunda grande onda de planejamento. A primeira entra em crise na década de 70. A década de 80, embora, na prática, se apresente como uma grande resistência ao planejamento, contém os mais efetivos anos em termos da compreensão da necessidade, do estudo, do esclarecimento e da confirmação desta ferramenta.
 Como fruto disto, temos agora bem caracterizado o planejamento como ferramenta de intervir na realidade e, mais do que isto, diversas correntes de planejamento firmadas como ferramentas próprias para as diversas necessidades dos grupos, das instituições, dos movimentos, das ONGs e, até, de setores de governo, segundo suas especificidades.
   Assim, retomando as diferentes necessidades apontadas acima, seguindo o mesmo esquema de letras A. B. C. e D. e não fazendo diferenciação para algumas especificidades muito determinadas que poderão aparecer, teremos o quadro que segue.
A.    Para estes casos aperfeiçoou-se o planejamento que se chamou “Solução de Problemas”.
B.     Este é o caso típico do “Gerenciamento da Qualidade Total”.
C.     Estamos no reino do “Planejamento Estratégico”.
D.    Só o “Planejamento Participativo” pode dar conta destes casos.
É claro, também, que, nestas ferramentas, propostas por diferentes escolas de planejamento,  há uma sequência de menor para maior abrangência. Assim, algumas partes da prática de uma entidade que está em B. podem ser administradas pela ferramenta A., a entidade que está em C. poderá utilizar, para alguma de suas áreas, a ferramenta A. ou B. e assim por diante.
O que é fundamental é que a equipe que coordena qualquer processo de planejamento se dê conta de que sua primeira grande tarefa é decidir qual ferramenta será usada como fundamental. Não é possível ser eclético quando se trata de ferramentas: ou você trabalha com o martelo ou com a pá. Se quiser utilizar as duas ferramentas ao mesmo tempo, pouco alcançará e ainda correrá o risco de se machucar.
http://danilogandin.blogspot.com.br/2011/07/planejamento-participativo.html                                   
Bioética e Interdisciplinaridade
José Roberto Goldim
Resumo 
A Ética Aplicada surge como uma resposta a problemas, é uma reflexão com base na realidade. A Bioética, atualmente, é considerada como sendo a Ética Aplicada às questões da saúde e da pesquisa em seres humanos. A Bioética aborda estes novos problemas de forma original, secular, interdisciplinar, contemporânea, global e sistemática. Desta forma, estimula novos patamares de discussão e de reflexão, que podem possibilitar soluções adequadas. 
Ética, Ética Aplicada e Bioética
A Ética, a Moral e a Lei se referem às ações desenvolvidas pelos seres humanos. Enquanto que a Ética busca as justificativas para as ações, a Moral e a Lei estabelecem regras para as mesmas. A regras morais têm, em geral, caráter universal, enquanto que as leis se aplicam, de forma compulsória, a uma determinada comunidade organizada . As interrelações da Ética com a Moral e a Lei podem, às vezes, gerar confusões ou conflitos, porém todas as três são diferentes visões sobre o comportamento humano.
O notável desenvolvimento científico e tecnológico verificado na área da saúde fez com que inúmeras novas questões fossem apresentadas aos profissionais que atuam nesta área, de forma especial aos médicos. O nascer e o morrer, a alocação de recursos e os limites da pesquisa em seres humanos são exemplos disto. Estas questões, segundo Ilya Prigogine, fizeram com que tivéssemos que abandonar, neste fim de século, a tranquila quietude de já ter decifrado o mundo . A Ética Aplicada surge como uma resposta a problemas, é uma reflexão com base na realidade.
As atrocidades cometidas durante a Segunda Guerra Mundial, especialmente pelos nazistas, fez com que fosse proposto, pelo Tribunal de Nuremberg, a primeira recomendação de conduta adequadas à pesquisa em seres humanos, de abrangência internacional . O assim denominado Código de Nuremberg serviu de base para inúmeros outros documentos internacionais e legislações nacionais na área de pesquisa em seres humanos. Esta discussão, inicialmente jurídica, e fortemente influenciada por valores morais, resultou em uma grande reflexão sobre as relações da ética com a pesquisa.
O caso Karen Ann Quinley é um outro bom exemplo de um problema que resultou em inúmeros questionamentos, reflexões e ações. Esta jovem, de 22 anos, chegou, em 15/04/75, à emergência do Newton Memorial Hospital de New Jersey em estado de coma, de etiologia nunca esclarecida. dez dias após foi tranferida para o Hospital St. Claire, também de New Jersey. Os seus pais adotivos, Joseph e Julia Quinlan, após muita reflexão, incluindo conversas com o seu pároco, Pe. Trapasso, tendo por base as informações médicas da possível irreversibilidade do quadro, solicitaram a retirada do respirador. Em 01/08/75. o médico responsável, Dr. Morse, após ter inicialmente concordado com a decisão da família, se negou a atender esta solicitação, por julgar-se moral e profissionalmente impedido de realizar tal ato. A família foi à justiça solicitar este procedimento . Em primeira instância, o Juiz Muir, em 10/11/75, decidiu que a família não tinha como ter atendida a sua solicitação. O caso foi julgado novamente pela Suprema Corte de New Jersey, que designou o Comitê de Ética do Hospital St. Claire para estabelecer o prognóstico da paciente e assegurar que a mesma nunca seria capaz de retornar a um "estado cognitivo sapiente". Este Comitê, até então, não existia. O juiz da Suprema Corte de New Jersey presumiu, erradamente, que a maioria dos hospitais americanos possuíam comitês de ética . Esta suposição do juiz baseou-se em um artigo da Dra. Karen Teel.
A Dra. Teel, médica pediatra, sugeriu a criação de comitês de ética em hospitais com o objetivo de possibilitar o diálogo em situações clinicas individuais como uma forma de dividir responsabilidades . Esta ideia já havia sido proposta, em 1803, por Sir Thomas Percival, em seu livro "Medical Ethics", quando propôs a criação de um órgão colegiado onde os médicos pudessem trocar opiniões sobre novos procedimentos .
Com base nas conclusões do Comitê de Ética do Hospital St. Claire, especialmente constituído para atender à solicitação judicial, a Suprema Corte de New Jersey, em 31/03/76, por sete votos a zero, concedeu a autorização para a retirada dos equipamentos. O respirador foi retirado e a paciente ainda sobreviveu mais 9 anos, vindo a falecer sem nunca ter apresentado qualquer melhora no seu quadro neurológico.
Este caso teve desdobramentos imediatos. O Massachusetts General Hospital criou, ainda em 1976, o sub-comitê do Comitê de Cuidados Clínicos, constituído por um psiquiatra, um advogado, uma enfermeira intensivista, um oncologista, um cirurgião e um leigo. Este sub-comitê revisou 15 casos de pacientes com câncer que não tinham qualquer esperança de tratamento .
Estes casos permitem caracterizar uma Ética Aplicada às questões de atenção à saúde e da pesquisa em seres humanos, que é denominada por muitos como Bioética. Esta reflexão foi, segundo Toulmin, a responsável pela retomada da discussão da Ética pela comunidade como um todo, e não apenas de forma restrita e acadêmica, a ponto de, em 1982, intitular um artigo seu de "How medicine saved the life of ethics".
A Evolução da Definição de Bioética
A palavra Bioética foi utilizada pela primeira vez pelo Prof. Van Rensselaer Potter, Doutor em Bioquímica e pesquisador na área de oncologia da Universidade de Wisconsin/EEUU, em 1970, em um artigo científico, que resumia um capítulo de um livro seu que estava no prelo. A sua caracterização inicial era a seguinte: “Nós temos uma grande necessidade de uma ética da terra, uma ética para a vida selvagem, uma ética de populações, uma ética do consumo, uma ética urbana, uma ética internacional, uma ética geriátrica e assim por diante... Todas elas envolvem a bioética, (...)”.
Esta definição era extremamente abrangente, incluindo diferentes campos de conhecimento e ação muito díspares. O Prof. Potter, posteriormente, aplicou esta mesma caracterização para a Ética Global ou Bioética Global.
Em 1978, o Prof. Warren Reich, do Instituto Kennedy de Ética, da Universidade Georgetown/EEUU, organizou a primeira versão da Enciclopédia de Bioética . A definição utilizada restringia o significado da Bioética ao “estudo sistemático da conduta humana na área das ciências da vida e a atenção à saúde, enquanto que esta conduta é examinada a luz dos princípios e valores morais”.
O Prof. David Roy, do Canadá, em 1979, acrescenta uma nova característica à Bioética, pois afirmava que ela é o “estudo interdisciplinar do conjunto das condições exigidas para uma administração responsável da vida humana, ou da pessoa humana, tendo em vista os progressos rápidos e complexos do saber e das tecnologias biomédicas” . O reconhecimento da Bioética como um campo interdisciplinar foi fundamental. O próprio Prof. Potter já havia afirmado que a bioética era uma ética interdisciplinar, constituindo-se em uma ponte entre a ciência e as humanidades.
O Prof. Tristan Engelhardt, médico e bioeticista de Houston/EEUU, acrescentou, em 1986, uma outra característica, propondo que a Bioética “funciona como uma lógica do pluralismo, como um instrumento para a negociação pacífica das instituições morais” .
O Prof. Guy Durant, eticista da Universidade de Montreal/Canadá, em 1995, caracterizou a Bioética como sendo a “pesquisa de soluções para os conflitos de valores no mundo da intervenção biomédica” .
Na segunda edição da Enciclopédia de Bioética , de 1995, o Prof. Reich alterou a sua definição anterior de Bioética, sintetizando as principais idéias existentes. Caracterizou a Bioética como o “estudo sistemático das dimensões morais - incluindo visão moral, decisões, conduta e políticas - das ciências da vida e atenção à saúde, utilizando uma variedade de metodologias éticas em um cenário interdisciplinar”.
As Múltiplas Abordagens da Bioética
A Bioética, segundo Durant, é uma abordagem original da realidade biomédica, sendo, simultaneamente: secular, interdisciplinar, contemporânea, global e sistemática.
A Bioética tem uma abordagem secular e global, pois dela participam as diferentes visões de profissionais de saúde, filósofos, advogados, sociólogos, administradores, economistas, teólogos e leigos. A perspectiva religiosa, muito associada às questões morais, é apenas uma das visões possíveis, mas não a única. Da mesma forma, é uma abordagem global, pois não considera apenas a relação médico-paciente. A Bioética inclui os processos de tomada de decisão, as relações interpessoais de todos os segmentos e pessoas envolvidas: o paciente, o seu médico, os demais profissionais, a sua família, a comunidade e as demais estruturas sociais e legais.
A interação de diferentes saberes e segmentos profissionais, provocada pelos novos desafios da atenção à saúde transformaram a ordem, até então estabelecida na prática médica habitual, em uma situação de caos. Este caos pouco a pouco foi sendo organizado, de forma pontual, com o auxílio da Bioética, gerando uma nova ordem local. Esta, por sua vez, é constantemente rompida pelos desafios dos novos conhecimentos e inquietudes sociais deles decorrentes .
As novas práticas de atenção à saúde são cada vez mais exercidas por equipes de profissionais, pressupondo a integração dos mesmos em um fazer comum. A Bioética surge, neste contexto, com os dilemas oriundos do exercício destes profissionais. A Bioética não se utiliza simplesmente dos conhecimentos de outras ciências, mas cria um espaço de diálogo interdisciplinar, ou seja, de colaboração e interação de diferentes áreas de conhecimento. A Bioética, como já foi enfatizado nas definições anteriores, tem uma abordagem interdisciplinar. Edgar Morin, falando a respeito da sua postura interdisciplinar afirmava: “Minhas viagens através dos territórios do conhecimento fizeram de mim um contrabandista do saber, e é por isso que os sentinelas atiram em mim” . A resistência de alguns setores em compartilhar saberes realmente pode provocar tal tipo de posicionamento.
A Bioética aborda os novos problemas de forma contemporânea. A simples repetição das respostas tradicionais pode ser inadequada. Ela estimula novos patamares de discussão e de reflexão, que podem vir a possibilitar soluções adequadas. A não repetição de respostas não significa que o passado não tenha importância. A memória é um dos fundamentos da interdisciplinaridade. A memória deve ser vista como um processo de contínua reconstrução. A memória não garante a precisão da objetividade, mas garante a riqueza da subjetividade que lhe dá fidedignidade. O movimento dialético, inerente a interdisciplinaridade, permite rever o velho para torná-lo novo. Em todo conhecimento novo sempre existe algo de antigo. Novo e velho são faces da mesma moeda. O importante é resgatar e revisitar nossas experiências .
A parceria, segundo Fazenda, é a categoria mestra dos trabalhos interdisciplinares. A interdisciplinaridade deve ser vista não como uma categoria de conhecimento, mas sim como uma categoria de ação, que possibilita o diálogo entre diferentes formas de conhecimento. Permitindo, assim, que os diferentes pensamentos se complementem um aos outros, consolidando a intersubjetividade.
A Ciência, segundo Henri Atlan, se desenvolveu baseada na pesquisa experimental, que se define como objetiva. Como a nossa vivência diária está repleta de subjetividade, não surpreende que o conhecimento científico pareça, às vezes, tão deslocado. Pensou-se, ingenuamente, que a subjetividade pertencia ao mundo da ilusão, que devia ser rejeitada, reprimida, e que só o saber objetivo expressava a verdade. Hoje em dia sabemos que a subjetividade não é uma ilusão, mas é uma outra parte, não menos importante, do real .
A Bioética tem, igualmente, uma abordagem sistemática, não se limitando a solucionar problemas isolados. Baseia-se para tal na análise rigorosa dos fatos, mas coerente ao solucionar diversos dilemas morais, utilizando como referencial critérios e princípios básicos.
Diego Gracia propõe que existem dois diferentes processos decisórios em Bioética: o macro e o micro. O processo decisório macrobioético depende da vontade geral, entendida através do referencial de Rousseau, é uma decisão pública, através da via política. O processo decisório microbioético, por sua vez, depende da vontade individual, é uma decisão privada e solitária.
Segundo Pellegrino, a decisão não deve ser tomada pelo médico em lugar do paciente, nem por este independentemente do médico ou da comunidade. A condição moralmente ótima é aquela na qual a decisão provêm solidariamente do médico e do paciente. O médico deve tomar as decisões com o paciente e no interesse deste mesmo paciente .
Os fatos se percebem, os valores se estimam, ou apreciamos ou desprezamos. Segundo Max Scheller, toda a percepção está baseada em valoração. De acordo com Diego Garcia, não se pode tomar decisões baseando-se apenas em fatos ! A decisão baseada apenas nos fatos é um erro. Os valores são componentes respeitáveis deste processo. Tomar decisões sem usar os valores é incorreto.
Isto tudo é Bioética, esta grande área interdisciplinar que busca auxiliar na reflexão dos novos problemas que estão, constantemente, sendo apresentados a todos nós, individual e coletivamente.

GRINSPUN, Mírian Paura S. Zippin.
A orientação educacional: conflito de paradigmas e alternativas para a escola
A Orientação Educacional desde a sua origem até o momento atual.
Em 1924 tem a primeira tentativa de inserção da Orientação Educacional, em São Paulo no Liceu de Artes e Ofícios, voltado para o modelo americano.  Em 1931 Lourenço Filho criou o primeiro serviço público de Orientação Profissional no Brasil. 
Na década de 20 surgiu um movimento em prol a educação. O “Manifesto dos Pioneiros”, de 1932, representa um alerta às causas e princípios educacionais. Nesta mesma época a ABE ofereceu cursos de Extensão sobre Orientação Educacional e em 1939 uma Comissão Interministerial foi incumbida de regulamentar cursos profissionalizantes para trabalhadores. 
No ano de 1940 a partir desta data a Orientação Educacional é divulgada a nível nacional de acordo com o decreto lei 4.073/42 sendo considerado como um “ajustador”. 1942 a 1946 no desenvolvimento da Orientação Educacional: preocupação com a qualificação profissional se atrela à redefinição político-econômica em curso. Ganhou visibilidade e foi legalmente instituída, tornando-se obrigatória no ensino secundário, primando pela orientação vocacional. 1946 – A União passa a legislar sobre a educação. A lei 4.024/61 reafirma a necessidade da Educação Educacional. 
Com a LDB em 1961, a Orientação volta a ter lugar de destaque legal na Educação Brasileira, ressaltando agora a formação de orientadores educacionais para cursos primários e secundários. 
A lei 5.564/68 aponta para o desenvolvimento integral e harmonioso da personalidade do educando. São elaborados por uma minoria, e que nem sempre estão envolvidas no processo. 
No ano 1976 o MEC elaborou um documento, “Orientação Educacional e Linhas de Ação”, que abordava os dois planos de atuação da Orientação Educacional: o plano de ação integrada, Orientação Educacional e Pedagógica. 
Entre 1971 a 1980 temos a preparação para a mão de obra, LDB 5.692/71, que disciplinou a atuação da OE na escola. 
A década de 80 representa grandes mudanças, avanços, recuos e contradições. Também evidencia grande ambiguidade da classe de orientadores: enquanto a categoria critica a Lei n. 5692/71, continua solicitando ao MEC providências para o cumprimento do art.10 dessa lei. 
Na década de 1980/90 questionamentos da formação profissional e pratica do OE. Os orientadores educacionais e os supervisores foram extintos e passaram a fazer parte da ANFOPE (Associação Nacional de Profissionais da Educação). 
No congresso de 1988, a FENOE se filia à Confederação Única dos Trabalhadores e posteriormente integra-se à CNTE. 
A lei 9.394/96 Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional veio consolidar o trabalho do OE nas Unidades Escolares. 
Em 2005 fica constituída a função do OE nas unidades educacional que atendam o ensino fundamental e o médio na rede estadual de ensino. 
A orientação, hoje, caracteriza-se por um trabalho muito mais abrangente. O orientador está comprometido com a formação da cidadania dos alunos. 
Hoje a Lei n. 9.394/96 não traz mais a obrigatoriedade da orientação, mas por efetiva consciência profissional, o orientador tem um trabalho pedagógico integrado no processo educacional. 
O Orientador Educacional hoje está comprometido à construção do conhecimento, a realidade concreta da vida dos alunos, a responsabilidade do processo educacional, a atividade realizada na pratica social, a diversidade da educação, a construção da rede de subjetividade e o planejamento e a efetivação do PPP em termos de sua finalidade. 
O Orientador Educacional é por excelência, um promotor de desenvolvimento humano por ser um articulador das relações entre os homens. Logo, há de se cuidar do homem. Seu trabalho está pautado no desenvolvimento do educando filosoficamente, psicologicamente, pedagogicamente, politicamente e socialmente. 
Em todos estes anos, com inúmeras mudanças ficou claro a importância de um OE nas escolas e assim foram lapidando o papel deste profissional para colaborar com a educação no país. 
Na realidade, o educador trabalha a relação teoria e prática de três formas distintas: a primeira apresenta duas áreas separadamente, justapostas. O professor estuda as teorias e, posteriormente, efetiva sua prática. A segunda forma é a concepção de que a pratica significa a aplicação da teoria. A terceira forma seria o tratamento conjunto e integrado da teoria com a pratica. 
Saviani (1980) nos diz que a teoria nos exprime interesses, objetivos, finalidades; ela se posiciona a respeito de como deve ser no caso da educação. 
Próximo ao quadro de Saviani, José Carlos Libâneo classifica as tendências pedagógicas da prática escolar em liberais e progressistas. 
A tendência liberal tradicional se caracteriza por acentuar o ensino humanístico, de cultura geral. 
A tendência liberal tecnicista subordina a educação á sociedade, tendo como função a preparação de recursos humanos. 
A pedagogia progressista, para Libâneo, apresenta três tendências: a libertadora, a libertária e a crítico-social. 
Na evolução teórico-prática da Educação uma tendência que hoje se destaca nesse campo é a construtivista. 
Encontramos nos estudos de Piaget, Wallon, Vigotsky, Leontiev e Luria os fundamentos necessários à compreensão e ao desenvolvimento do processo educacional. De Piaget temos os estudos que mostram que cada criança constrói, ao longo do próprio desenvolvimento, seu próprio modelo de mundo. 
Wallon constrói uma psicologia genética e uma proposta pedagógica que, por sua característica podem ser consideradas construtivistas. 
A contribuição para os soviéticos Vigotsky, Liontev e Luria consiste da construção de uma psicologia adequada aos princípios do materialismo histórico e dialético. 
Para Grinspun as tendências atuais de transformação pedagógica a que mais se destaca nesse campo é a construtivista. Os construtivista admitem que o conhecimento resulta da integração do sujeito com o ambiente. 

GRINSPUN, Mírian Paura S. Zippin (Org.)
Supervisão e Orientação Educacional: perspectivas de integração na escola
O livro organizado pela professora doutora Mírian Grinspun é a materialização de debates e reflexões que erigiram-se a partir das experiências educacionais de supervisores e orientadores diante dos novos desafios e cenários emergentes no contexto escolar e principalmente no trabalho pedagógico deste profissional.
São cinco artigos que suscitam um diálogo comum: a reflexão acerca dos profissionais da educação que atuam na área da Orientação e Supervisão Educacional e o caráter integrativo de seu trabalho no âmbito das instituições escolares.
O texto que abre a coletânea de artigos, Começo... Tropeços... Recomeços da professora Rosy Rosalina Escapin, trata de sua trajetória profissional como docente/orientadora e do papel manifestado pelo educador no curso da história. São relatos consubstanciados a uma realidade socioeducacional específica do quadro histórico brasileiro a partir da década de 1950. Relembra os DECs (Distrito de Educação e Cultura) donde emanavam orientação e direcionamentos sobre listagens de conteúdos e mecanismos avaliativos, além da liberdade incondicional dos professores na opção pelos métodos didáticos e sua implicação no sucesso ou fracasso do aluno.
Importante destaque refere-se ao momento de atuação como orientadora no SOE (Serviço de Orientação Educacional) no Instituto de Educação do Rio de Janeiro. Momento de aproximação e de contato permanente com as demandas do círculo educativo. Reuniões semanais, diálogos francos e ações integrativas e interativas foram meios de evidenciar a importância da orientação diante das necessidades da escola e de seus interlocutores: "suas ideias e opiniões sobre a escola, a vida, o mundo".
Dentro deste contexto a reflexão teórica como possibilidade de intervenção pragmática é salutar. O discurso "Habermasiano" pautado no agir comunicativo é significativo quando da necessidade de uma comunicação consciente e ética entre os sujeitos que compõem a organização escolar. Esse parâmetro orienta, como observa a professora, a estruturação de trabalhos em grupo e sua relevância para a o fomento de seus atores. Sua reflexão é breve, porém sem imparcialidades, é objetiva e clara em seus enunciados. Leva-nos a compreender o quanto a escola necessita refletir.
A professora/orientadora Maria do Carmo Maccariello aborda a temática A construção coletiva da escola: consciência, representação e prática social. Sua reflexão parte dos condicionantes transformadores da sociedade globalizada atual e de seus reflexos diretos e imediatos na cúpula escolar. Mostra que a reconstrução da escola constitui-se num processo constante diante das circunstâncias históricas e que esta instituição jamais deve omitir-se diante dos fatos sociais concretos.
A autora menciona a constituição histórica da escola e sua invariável vinculação a determinações políticas e ideológicas que a muito desconsideram a suas reais necessidades. "[...] A educação pública tem sido historicamente direcionada pelos níveis decisórios de ensino e articulado com   as diferentes políticas governamentais os quais em sua maioria, impõem diretrizes educacionais, normas e ‘pacotes' pedagógicos a escola ignorando sua especificidade [...]".
Sua reflexão se mostra relativamente profunda no contexto sócio histórico, político e econômico da sociedade hodierna. Sua articulação teórica caminha diante das representações sociais evidenciando que representações a escola tem e (re) produz. Diante de realidades em crises é necessário ouvir alunos e professores com suas expectativas e representações levando em conta seus níveis de consciência de maneira integrada com as diferentes instancias da sociedade civil.
Não desconsidera o projeto neoliberal em curso e sua influencia na redução da escola moderna e de seus sujeitos, condicionando ambos a um propósito meramente mercadológico, técnico e produtivo. É preciso resgatar a cidadania da escola.
Em O papel da Orientação Educacional a organizadora do livro, professora Grinspun, procura analisar o trabalho da Orientação Educacional atualmente nas escolas levando em conta alguns aspectos como: a necessidade da orientação nas escolas no papel de mediação/articulação de diferentes campos do conhecimento e da sociedade; o aspecto da interdisciplinaridade dentro da escola buscando ajudar a instituição e especialmente todos os alunos da escola numa perspectiva de colaboração etc..
A autora abre seus encaminhamentos abordando os desafios da escola apontando a quanto a sociedade e a própria escola tornaram-se desafiadores aos seus agente que a compõem ativamente. Nesse sentido questiona-se dentro deste quadro de complexidades o sentido da orientação educacional. Por quê? Para que?
A quem? Como e quando se orienta? Quem deve fazer orientação educacional na escola? É possível uma orientação educacional com pouco contato com os alunos? O professor pode fazer orientação educacional afinal ele também não se relaciona com o aluno?
Diante dos autoquestionamentos volta-se para o que considera o campo da orientação educacional afirmando que seu papel se "redimensionou" e sua concepção "engloba desde a questão epistemológica, filosófica, antropológica e social". A sua vinculação com a realidade extraescolar é importante, mas que o equilíbrio e a associação entre os dois polos é fundamental. A autora chama a atenção para os processos da globalização, as novas tecnologias e o contexto da sociedade pós-moderna e a orientação na dimensão dos valores, identificando a questão ética como fundamental ao desenvolvimento do ser.
Elma Correa de Lima na discussão Refletindo politicas públicas e educação nos apresenta a vinculação/influência do projeto neoliberal para com a instituição de políticas públicas em educação no país. Observa a questão do currículo e da avaliação como estratégia nas mudanças da realidade educativa.
A autora atua profissionalmente como supervisora educacional e seu olhar incide também para os diversos tipos avaliativos estabelecidos pelas políticas governamentais então em voga, mencionando inclusive as orientações contidas nos Parâmetros Curriculares Nacionais. Algumas indagações são vislumbradas: como a escola trabalha e realiza as politicas públicas no seu espaço?
A contribuição final da professora/orientadora Mary Rangel no texto Temas integradores da Supervisão Pedagógica, Orientação Educacional e a Comunidade escolar, reside em discutir uma proposta diferente com as categorias valorativas, conceitos e temas de ética, do meio ambiente e do dia-dia escolar primando pelo ato de contextualização a inter e transdisciplinaridade de conhecimentos e práticas.
Sistematicamente o conjunto de textos e temáticas girou em torno da importância da orientação e supervisão educacional na lógica de um trabalho integrado, cooperativo, solidário cujo objetivo é contribuir para a ampliação qualitativa da educação e do trabalho destes profissionais atuantes nas escolas brasileiras. A reflexão e o rever constante das práticas e do sentido do trabalho de orientação e supervisão são pontos considerados importantes, mas que devem ser um exercício constante e coletivo, pois a escola faz-se a partir de um Todo em colaboração.

GROSSI, Esther
A coragem de mudar em educação
O método pós-construtivista
É preciso desenvolver bases conceituais sólidas na formação docente, afirma Esther Grossi. O método pós-construtivista, que leva em conta a dimensão social nos fenômenos da aprendizagem, é a alternativa proposta
Aprender é bem mais do que estar informado, defende a educadora Esther Pillar Grossi. Para ela, “aprender é raciocinar, selecionar informações para estabelecer juízos e raciocínios”. Nesse sentido, a internet é um pequeno auxiliar, que não contém a força do aprendizado em si. “Essa força está na condução do professor para que o aluno construa esquemas de pensamento”, disse com exclusividade à IHU On-Line, em entrevista por telefone. Ela critica a falta de embasamento teórico dos professores, que mesclam em sala de aula o empirismo, o inatismo, o construtivismo e o pós-construtivismo. Essa base teórica periclitante, espécie de salada de frutas conceitual, é a responsável em boa parte pelo fracasso escolar, alfinetou. Não restam dúvidas que deve “haver uma reformulação completa na forma de ensinar”.
Graduada em Matemática, Esther tem mestrado pela Sorbonne, em Paris. Em 1970, com mais 49 professores de Porto Alegre, fundou o Grupo de Estudos Sobre Educação, Metodologia de Pesquisa e Ação (Geempa), tornando-se uma liderança na busca de soluções aos grandes problemas da escola pública brasileira. Desde abril de 2002, Grossi coordena, em Porto Alegre, o projeto O prazer de ler e escrever de verdade, realizado pelas ONGs Geempa e Themis, com recursos do Ministério da Educação, e que objetiva a alfabetização de mil mulheres em três meses. Por sua proposta inovadora, a realização do projeto está sendo especialmente acompanhada pela Unesco e pelo Unicef. De sua produção bibliográfica, citamos A coragem de mudar em educação (Petrópolis: Vozes, 2000), Por que ainda há quem não aprende? - A política (São Paulo: Paz e Terra, 2004) e Como areia no alicerce – Os ciclos escolares (São Paulo: Paz e Terra, 2004). Conhecida por pintar seus cabelos de várias cores, Esther Grossi afirma que é mais fácil trocar a cor das madeixas do que mudar a educação e a política.
IHU On-Line – Em que consiste a psicogênese?
Esther Grossi - A psicogênese é uma das coisas mais complexas e novas do ensino. Esse é o ponto-chave da questão. Ela é a fatia intermediária da aprendizagem entre o conteúdo científico e o processo do próprio aluno, que ele próprio constrói através de circunstâncias do seu próprio cotidiano. O aluno formula hipóteses sobre aquele campo conceitual. Ensinar nada mais é do que ir ao encontro dessas hipóteses, acolhê-las e depois superá-las. A psicogênese é essa sequência de passos que um aluno constrói quando quer compreender algo da realidade. A pessoa não compreende esse algo diretamente, com objetividade. Primeiro, é construída alguma coisa meio mítica, meio fantasiosa, mas que é essencial para que se chegue a uma compreensão objetiva.
IHU On-Line – De que maneira esse método contribui para eficiência do aprendizado e enfrenta as lacunas educacionais?
Esther Grossi - Só compreendendo a psicogênese é que será possível ensinar a todos. E, a partir daí, irei ao encontro do que cada aluno pensa e fujo do ensino que ignora o processo do aluno e só pensa nos conteúdos científicos.
IHU On-Line – O que é o método pós-construtivista? De que maneira o método pós-construtivista alicerça as didáticas geempianas  para alfabetização e pós-alfabetização?
Esther Grossi - O construtivismo foi concebido por Piaget e tem características essenciais: o conhecimento se constrói, e não é captado de um bloco ou transmitido de fora para dentro. Ele é uma construção. Essa foi a grande descoberta piagetiana. Contudo, Piaget não incorporou profundamente nem o aspecto social, nem o aspecto cultural na sua visão da construção dos conhecimentos. Ele pensava que construíamos os conhecimentos em contato com o objeto do conhecimento. Vygotski, Wallon,  Sara Pain  e Gerard Vergnaud  se deram conta de que o conhecimento, em primeiro lugar, se dá na troca, na interação, como uma essencialidade, e em segundo lugar, na psicogênese sobre a qual acabamos de falar. Portanto, é preciso haver uma reformulação completa na forma de ensinar. O pós-construtivismo é o acréscimo, principalmente, da dimensão social nos fenômenos da aprendizagem.
IHU On-Line – Em que sentido esse método representa um avanço na reformulação dos currículos?
Esther Grossi - Toda vez que esclareço com mais objetividade como algo acontece, isso terá, certamente, efeitos positivos no processo de aprendizagem. Através dessa metodologia, a alfabetização de adultos, por exemplo, é possível em três meses. Crianças não levarão mais do que um ano para se alfabetizarem. Então, a eficácia é muito maior.
IHU On-Line – Recente pesquisa mostrou que o ensino brasileiro é péssimo. A que a senhora atribui esse resultado de fracasso escolar?
Esther Grossi - Ao fato de que as pessoas não colocam como fundamento de sua prática uma base teórica sólida. Os professores misturam inatismo, empirismo, construtivismo e pós-construtivismo. Fazendo essa “salada de frutas”, falta consistência teórica à prática dos professores.
IHU On-Line – No artigo “O inssino no Brasiu è otimo”, a senhora diz que para melhorar o ensino é necessário uma mudança completa no jeito de ensinar. Qual é a sua proposta?
Esther Grossi - Em primeiro lugar, os professores devem se apropriar de uma proposta que seja solidamente embasada. Se esta proposta for calcada no pós-construtivismo, é preciso se apropriar dessa teoria, e, ao mesmo tempo, dessa prática, para depois realmente aplicar isso em sala de aula. Sem base teórica não é possível uma prática eficiente. Para isso, é preciso muita pesquisa e vínculo entre os educadores os pesquisadores.
IHU On-Line – Considerando os índices pífios no ensino brasileiro, qual é o maior desafio quando se trata de alfabetizar a todos?
Esther Grossi - Aplicando o que há de novo, que é a metodologia baseada em Emília Ferreiro e na continuação de seus estudos pelo Geempa, temos condições de solucionar essa “praga” que é a não
aprendizagem da leitura e da escrita em nosso país, onde temos 50 milhões de analfabetos adultos.
IHU On-Line – O que a senhora pensa a respeito dos livros didáticos utilizados em nossas escolas? Eles estimulam os alunos a serem participativos e criativos, ou primam por uma repetitividade que não dá sentido ao que deveriam aprender?
Esther Grossi - Os livros didáticos, até hoje, estão baseados em pressupostos equivocados. Eles podem ser uma muleta para o professor, mas a aprendizagem resultante de seu uso é muito pequena. É isso que aparece nas avaliações.
IHU On-Line – E que pressupostos equivocados seriam esses?
Esther Grossi - Seriam os pressupostos inatistas, empiristas. Pensar que o conhecimento já está dentro de nós e é apenas uma questão de maturação, como propõem os inatistas, ou acreditar que todo conhecimento vem de fora e chega até nós através dos sentidos, ao modo dos empiristas, ou ainda pensar que se aprende individualmente em contato com o objeto do conhecimento é uma forma equivocada de entender o processo de aprendizagem.
IHU On-Line – A inserção da internet e de novas tecnologias na escola interferem ou modificam o processo de alfabetização? Como percebe essas ferramentas em sala de aula?
Esther Grossi - A interferência pode ser positiva, com certeza, se o professor não exagerar na solicitação de informações. A internet enriquece as informações, mas aprender é muito mais do que ser informado. Aprender é raciocinar, selecionar informações para estabelecer juízos e raciocínios. Então, a internet pode ser um auxiliar, mas é, indiscutivelmente, um auxiliar pequeno. Ela não tem a força em si. Essa força está na condução do professor para que o aluno construa esquemas de pensamento.




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