segunda-feira, 14 de março de 2016

Autores W - Z







1.     WADSWORTH, Barry J. Inteligência e afetividade da criança na teoria de Piaget
2.     WALLON, Henri. O educador integral
3.     WEISZ, Telma. O diálogo entre o ensino e a aprendizagem
4.     WINNICOTT, Donald Woods. O brincar e a realidade
5.     ZABALA, Antoni. A Prática Educativa
6.   ZABALA, Antoni. Enfoque Globalizador e Pensamento Complexo: uma proposta para o currículo escolar.
7.     ZABALZA, Miguel.  Diários de Aula: Um Instrumento de Pesquisa e Desenvolvimento


WADSWORTH, Barry J.

Inteligência e afetividade da criança na teoria de Piaget
A respeito de Desenvolvimento Infantil, o autor demonstra, de uma maneira geral, alguns aspectos importantes para essa fase. Wadsworth descreve e baseia-se em sua obra, em pensamentos e técnicas de Piaget. Um dos pensamentos são os períodos de desenvolvimentos baseados em Piaget, tais como: (1) período sensório – motor, de 0 a 2 anos; (2) período pré-operacional, de 2 a 7 anos; (3) período das operações concretas, de 7 a 12 anos; e período das operações formais, de 12 anos em diante, até o final da adolescência.
Sobre o desenvolvimento da linguagem “fala”, pudemos observar o autor Wadsworth expressar que, apesar da criança usar palavras, muitas vezes os sons usados não representam objetos e acontecimentos. Quando a criança diz uma palavra, para representar algo que não há significado para a criança, ela diz apenas uma palavra e acaba sendo atendida com aquilo que ela deseja. Porém, notamos que crianças de 5 a 7 anos já estão conseguindo demonstrar corretamente nomes de objetos que utilizam e isso é muito importante e ajuda no desenvolvimento tanto físico como intelectual dela.
Também Wadsworth retrata que “durante o período pré-operacional a criança representa internamente os objetivos acontecidos e transmitidos pelo pensamento. O pensamento é dominado pela percepção”.
Também identificamos a característica do egocentrismo no livro de Wadsworth (1987, p. 65), demonstrando que:
“A criança acredita que todas as pessoas pensam do mesmo modo que ela e que tudo o que ela pensa está certo. Nessa fase ela raramente questiona seu pensamento, dificuldades de aceitar pontos de vista diferentes dos seus; principalmente quando lida com pensamentos de colegas que estão em conflito com seu próprio pensamento, o egocentrismo tende a diminuir lentamente nessa fase.”
O que todos os participantes do grupo questionamos foi uma cena vista na sala de recreação com crianças de 5 e 6 anos, as quais estavam brincando. Um garotinho foi até uma coleguinha e tomou uma massinha da mão dela, dizendo que era dele. A menina começou a chorar e um outro coleguinha falou para esse garotinho que ele não deveria ter feito aquilo, que era muito feio e que ele   poderia pegar a sua massinha, pois estava fazendo outra atividade. O menino acabou levando em consideração aquilo que foi falado por seu amigo, devolveu e pediu desculpas a menina e disse que nunca mais faria aquilo. Foi uma cena comovente que demonstrou o quanto às crianças estão aprendendo o sentido em relação ao objeto do outro e também o processo de socialização, ou seja, de compartilhar aquilo que estão fazendo ou brincando com outra criança.
De acordo com autores piagetianos, principalmente Wadsworth (notamos que:
“O conhecimento se separa em três tipos: conhecimento físico, lógico – matemático e social – arbitrário. Acreditam que cada um desses conhecimentos depende das ações da criança. Conhecimento físico – abstraído diretamente dos objetos; lógico – matemático – abstraído das ações da criança sobre os objetos e não dos objetos em si mesmos; social – arbitrário – abstraído das interações da criança com outras pessoas.”
Com isso, descobrimos e percebemos que o conhecimento não ocorre diretamente através dos sentidos, mas sim através da ação e da interação da criança. A quantidade de significados da informação escrita e falada de uma criança depende das ações que ela teve. Em termos, identificamos que a criança aprende, desenvolve estruturas mentais novas ou modifica as que estão presentes nela, isso quando age espontaneamente sobre o ambiente escolar e também no qual ela está inserida, resultando na assimilação de objetos e acontecimentos.
Outro fator importante que pudemos notar por Wadsworth e nas experiências presenciadas que o desenvolvimento é a experiência ativa da criança. Sem ações sobre os objetos, as crianças podem não desenvolver o conhecimento físico e intelectual, além do lógico matemático. É preciso agir sobre o ambiente para que essas possibilidades façam acontecer um desenvolvimento pré-operacional, e sem empenho ativo no ambiente a criança acaba não desenvolvendo esse período importante para a vida dela.
A experiência social também afeta esse desenvolvimento (linguagens, conceitos, morais, valores, entre outros). Assim como a maturação, considerada por Piaget (1978, p. 95), dependente de fatores genéticos, ela também é influenciada por fatores da experiência como a nutrição e a atividade da criança (exercício). Um ritmo de maturação mais lento do que o normal pode prejudicar no desenvolvimento físico e intelectual da criança.
No desenvolvimento sensorial e motor descrito por Wadsworth:
“No desenvolvimento sensorial e motor aparecem várias formas sensoriais em que a criança pode colher informações do ambiente: sistema visual e auditivo, do paladar (gosto), do olfato (cheiro), do tato (sentido háptico ou tátil) e os sentidos sinestésico e proprioceptivo. Os educadores dão mais atenção para o desenvolvimento visual e auditivo na pré-escola e primeira série do Ensino Fundamental, sendo que dessa forma o aspecto motor – sinestésico acabam recebendo pouca atenção.”
Dessa maneira descrita por Wadsworth vemos que a criança deve e precisa ser ativa a nível motor, significado do desenvolvimento motor, o qual é, normalmente, desconsiderado na educação. Além do sensório motor, temos a propriocepção e a sinestesia que ocorrem quando temos uma relação entre o desenvolvimento motor, aprendizagem e desempenho. A propriocepção e a sinestesia são movimentos produzidos internamente de formas contínuas de estimulação sensorial.
Não podemos deixar de descrever, em um debate ocorrido com os participantes do grupo, que, mesmo que existam variadas formas de estimular um melhor desenvolvimento, ainda conseguimos notar problemas de aprendizagem, às vezes até por não ter surgido oportunidades. Essa criança, mesmo com problemas de aprendizagem, apresenta pontos fortes no seu desenvolvimento físico e intelectual. Uma criança pode ser capaz de aprender a ler, mas não ser capaz de aprender através de uma aula expositiva ou apresentação visual. Quando se espera que as crianças aprendam, devem ser ensinadas através de seus pontos fortes, fazendo assim com que ela desenvolva e elimine esses pontos fracos que possui.
A respeito do desenvolvimento físico e intelectual da criança que Wadsworth demonstra (1987, p. 71), em idade pré-escolar, estão envolvidas na aprendizagem de como se mover eficientemente. Esse desenvolvimento pode ser visto de uma forma em que se analise o progresso das capacidades físicas e mentais das crianças.
Podemos ver que muitos autores, relatam que “no período pré-operacional predomina os movimentos fundamentais para um aperfeiçoamento dos períodos dos movimentos rudimentares, no qual as crianças estão envolvidas, ativamente, na experimentação e exploração das suas capacidades físicas e intelectuais.” Este período está dividido em 3 estágios:
1º – Estágio inicial: o movimento é caracterizado por ausência de partes ou sequencia imprópria; uso restrito do corpo, coordenação e fluidez rítmica insuficientes.
2º – Estágio elementar: envolve maior controle, melhor coordenação e ritmo dos movimentos fundamentais. O padrão de movimento é restrito ou exagerado, ainda que melhor coordenado.
3º – Estágio maduro: é caracterizado pela eficiência mecânica da coordenação motora e performances controladas.


HENRI WALLON
O educador integral
Militante apaixonado, o médico, psicólogo e filósofo francês mostrou que as crianças têm também corpo e emoções (e não apenas cabeça) na sala de aula.
Falar que a escola deve proporcionar formação integral (intelectual, afetiva e social) às crianças é comum hoje em dia. No início do século passado, porém, essa idéia foi uma verdadeira revolução no ensino. Uma revolução comandada por um médico, psicólogo e filósofo francês chamado Henri Wallon (1879-1962). Sua teoria pedagógica, que diz que o desenvolvimento intelectual envolve muito mais do que um simples cérebro, abalou as convicções numa época em que memória e erudição eram o máximo em termos de construção do conhecimento.
Wallon foi o primeiro a levar não só o corpo da criança mas também suas emoções para dentro da sala de aula. Fundamentou suas ideias em quatro elementos básicos que se comunicam o tempo todo: a afetividade, o movimento, a inteligência e a formação do eu como pessoa. Militante apaixonado (tanto na política como na educação), dizia que reprovar é sinônimo de expulsar, negar, excluir. Ou seja, "a própria negação do ensino".
As emoções, para Wallon, têm papel preponderante no desenvolvimento da pessoa. É por meio delas que o aluno exterioriza seus desejos e suas vontades. Em geral são manifestações que expressam um universo importante e perceptível, mas pouco estimulado pelos modelos tradicionais de ensino.

WEISZ, Telma

O diálogo entre o ensino e a aprendizagem
Luiza de Salles Juchem
Adriana Claudia Martins Fighera
Com uma escrita simples e acolhedora, esta obra, que existe há mais de uma década, trata de um assunto não apenas atual, mas extremamente relevante à Educação. Ana Rosa Abreu, ao coordenar a Série Palavra de Professor, da qual esta obra faz parte, teve duas preocupações: primeiramente, escolher autores que, além de atuarem na formação docente, também pudessem contribuir, significativamente, às discussões atuais; depois, Abreu buscou selecionar assuntos pertinentes às inquietações dos professores. Vale destacar que a partir de 2011, a obra foi disponibilizada na versão digital aos leitores.
O diálogo entre o ensino e a aprendizagem, de Telma Weisz, consiste em uma relevante leitura à orientação pedagógica, à formação de professores e à avaliação e planejamento do ensino. Com clareza na linguagem, a autora chama ao diálogo não somente os profissionais da educação, mas os pais que buscam exercer um papel mais ativo na educação dos seus filhos, oferecendo-lhes subsídios para compreender o processo de ensino e de aprendizagem com base na sua vasta experiência sob a ótica construtivista. Weisz consegue sintetizar sua experiência na educação em oito capítulos distribuídos em 133 páginas, questionando a discrepância entre os recursos de sobrevivência da criança fora da escola e seu desempenho em sala de aula. Ela explicita isso com o exemplo de uma criança acostumada a calcular o troco ao vender balas na rua, porém com dificuldades de resolver um problema matemático na escola. A autora convida-nos a pensar sobre o risco da escola ser uma armadilha quando os saberes do cotidiano não são reconhecidos.
A inquietação da autora procede ao afirmar que o professor continua chegando à escola com as mesmas insuficiências que lhe eram comuns há meio século, quando Weisz iniciava sua docência e ainda incapaz de ter ciência da sua responsabilidade política. Para a autora, o professor acaba adquirindo experiência e também algum conhecimento de natureza intuitiva, mas pode manter-se tão cego e perdido como ela mesma admite ter vivido. Com meu batismo de fogo a autora inicia o primeiro capítulo do livro, relatando seu afastamento da escola por 12 anos, por entender que havia um abismo entre sua formação inicial e sua atuação pedagógica. Para ela, a ignorância que tangenciava a educação não dava conta do problema do ensino.   
      Comprometida com a aprendizagem, a autora questiona e, ao longo da sua escrita, traz respostas sobre como fazer para que as crianças tenham sucesso escolar. Com um novo olhar sobre a aprendizagem, a autora convida à reflexão acerca do como democratizar o acesso à informação e à construção do conhecimento. Weisz critica o olhar adultocêntrico, incapaz de ver a criança como alguém que tem suas próprias formas de aprender. Para ela, as crianças que mais precisam da compreensão e da atenção da professora são as que tiveram reforçadas as suas dificuldades por métodos mecânicos de alfabetização. Weisz fecha o segundo capítulo com uma importante contribuição sobre as funções da escola de hoje. Para ela é preciso levar os estudantes a aprender a aprender, ensinar-lhes os fundamentos acadêmicos e equalizar as enormes diferenças no repertório de conhecimentos com que eles chegam à escola.
No capítulo seguinte Weisz instiga a pensar acerca do que sabe uma criança que parece não saber nada. O olhar cuidadoso aos possíveis equívocos da produção infantil pode ajudar a entender o caminho realizado pelo aprendiz. A psicogênese da língua escrita é abordada como um importante conhecimento aos profissionais da educação para compreender que a criança utiliza-se da lógica para aprender. Telma, sabiamente, escreve que todas as crianças têm muitos conhecimentos. Ela salienta que os docentes, além de reconhecer esses saberes nos educandos, também deveriam promover vivências culturais, pois acredita que a cultura é uma questão de inserção social, logo, direito de todas as crianças.
No quarto capítulo são abordadas as concepções e teorias que sustentam a prática do professor, mesmo quando ele não tem consciência sobre elas. Telma critica a educação que considera o aprendiz como alguém vazio de conhecimento. Afirma, ainda, que um olhar suficientemente informado do professor permite-lhe tomar decisões importantes, seja na formação das parcerias entre alunos, seja nas questões que propõe no desenrolar da atividade.
Como fazer o conhecimento do aluno avançar é detalhadamente abordado no quinto capítulo. A autora refere que os estudantes põem em jogo tudo que sabem, têm problemas a resolver e decisões a tomar. Para ela é a organização da tarefa que garante a máxima circulação de informação possível e o conteúdo trabalhado deve manter suas características de objeto sociocultural real.
Quando corrigir, quando não corrigir consiste em uma dúvida muito frequente na docência. O sexto capítulo traz respostas para este importante dilema. Weisz alerta para a importância de perceber quando corrigir o erro, que nem sempre corresponde ao exato momento em que foi cometido. Levantar questões que ajudem o aprendiz a pensar sobre aspectos que ainda não havia
pensado é uma das maneiras de intervir, pois o objetivo do ensino é que o estudante produza cada vez mais e melhor.
O que fazer com os estudantes que chegam ao final do período letivo sem aprender o que a escola almejava é discutido no sétimo capítulo da obra. Weisz chama a atenção para os recursos necessários ao professor para poder avaliar o que acontece com seus alunos e, então, poder refletir sobre a relação entre as suas propostas didáticas e as aprendizagens conquistadas por eles.
No último capítulo, o desenvolvimento profissional permanente, a autora discute sobre a necessidade do professor de hoje ser capaz de criar ou adaptar situações de aprendizagem adequadas aos estudantes reais, reconhecendo seus percursos de aprendizagem. Sugere, ainda, a realização de registros diários do trabalho para serem olhados de maneira crítica e reflexiva, com o
intuito de melhorar a qualificação do professor e do ensino, valorizando o processo de aprender a ser professor nos anos iniciais.
Consideramos que os construtos teóricos apresentados por Weisz são imprescindíveis a um trabalho sério e comprometido com a aprendizagem.
O processo de reflexão da autora sobre sua prática docente, somado à vasta experiência com a formação de professores, permitiu-lhe chegar a valiosas conclusões que aqui são compartilhas, encurtando caminhos a outros docentes que buscam aprimorar sua formação. Enfim, Telma cumpre com maestria sua profissão de educadora, cativando os leitores com uma linguagem recheada de exemplos práticos que não deixam dúvidas de como se deve tratar temática tão complexa e importante como a educação.


WINNICOTT, Donald Woods
O brincar e a realidade
Exercendo a função de pediatra, Donald Wottods Winnicott desenvolveu sua psicanálise com base nas relações familiares entre a criança e o ambiente. Todo ser humano, de acordo com Winnicott, tem um potencial para o desenvolvimento. Entretanto, para tornar esse potencial como algo real, o ambiente se faz necessário. Inicialmente, esse ambiente é a mãe – ou alguém que exerça a função materna – e apoiada especialmente pelo pai.
Para se chegar ao desenvolvimento completo, a criança passa por fases de dependência rumo à independência – até chegar na fase adulta e estabelecer um padrão que seja uma junção desafiadora entre copiar os pais e formar uma identidade pessoal.
Segundo a psicanalista Maria José Ferreira Mota, que tem como orientação principal a psicanálise winnicottiana, há principalmente três motivos para o pensamento de Winnicott sobre a formação do ‘eu’ se apoiar na família:
1) esta tem (ou teria…) uma disposição e condição maior de favorecer o desenvolvimento;
2) supõe-se que uma família seja uma constante que não varie muito, essencial para uma criança que precisa, especialmente no seu início, que o seu entorno seja constante, regular, amigável e não caótico;
3) a família costuma ter, embora nem todas tenham, uma condição maior de tolerância para lidar com períodos em que o ambiente é testado, em que a criança precisa experimentar algum tipo de confronto.
Mas, lembrando, para se chegar a esse desenvolvimento completo, é necessário um ambiente agradável e, daí, surge o conceito winnicottiano de good enough mother (mãe suficientemente boa). Não é uma mãe perfeita, porque essa não existe. Mas é a mãe que sabe a hora certa para favorecer a ilusão no bebê e, logo após, a desilusão.
A ilusão é criada quando a mãe se adapta às necessidades do bebê e este projeta o que ele mesmo criou daquilo de que ele necessita. Aliás, o bebê percebe a mãe dele como sendo parte sua: os dois são um só – o que dá sustento ao pensamento de dependência para com a mãe. Winnicott escreveu em O Brincar & a Realidade: “A mãe, no começo, através da adaptação quase completa, propicia ao bebê, a oportunidade para a ilusão de que o seio dela faz parte do bebê, de que está, por assim dizer, sob o controle mágico do bebê.” É este o período de dependência absoluta, que vai de 4 a 6 meses. É importante notar que o bebê não tem percepção dessa situação, mas adquire uma sensação de onipotência.
Logo após esse período, é tarefa da mãe desiludir a criança, não atendendo tudo tão prontamente. Ou seja, a mãe, progressivamente, começa a fazer com que a criança suporte algumas frustrações. De confrontos em confrontos, o desenvolvimento do ego da criança será facilitado e ela passa a esperar certas atitudes que anteriormente queria na hora.
Na desilusão, os objetos transicionais são fundamentais. Eles são, segundo Maria José, a primeira possessão não-eu. Ou seja, são objetos, geralmente macios, que o bebê adota e faz o uso que quiser. São chamados de transicionais, pois estariam no espaço entre o mundo interno e o externo, sendo os dois ao mesmo tempo e fazendo parte dos dois. É uma etapa importante, pois indica que o bebê está a lidar com a separação da mãe, saindo de um estado uno em relação a ela e percebendo o mundo de fora, sem deixar de manter um elo entre os dois mundos. O valor do objeto transicional é tão importante, que quando os pais vem a saber de seu valor, até levam consigo em viagens. É o caso, por exemplo, de um cobertor. A mãe permite que fique sujo e até mesmo mal-cheiroso, pois sabe que se lavá-lo pode destruir o significado e o valor do objeto para a criança. E, quando eles o usam para dormir, caso seja lavado, a criança pode ter dificuldades maiores para cair no sono.
O apego a esses objetos é notado, também, em momentos de solidão, conforme escreveu Winnicott em O Brincar & a Realidade: “Os padrões estabelecidos na tenra infância podem persistir na infância propriamente dita, de modo que o objeto macio original continua a ser absolutamente necessário na hora de dormir, em momentos de solidão, ou quando um humor depressivo ameaça manifestar-se”. Não há diferença, segundo Winnicott, digna de nota entre meninos e meninas em seu uso de objetos transicionais.  Já na adolescência, o pai começa a ter um papel importante no ambiente familiar, por causa de sua autoridade. Entretanto, um adolescente já, obviamente, passou pela fase de criança, e se nessa não fora propiciado um ambiente favorável, é possível que ele reviva situações emocionais que não ficaram resolvidas.
Quando a fase de frustrações não foi proporcionada no desenvolvimento infantil, o adolescente passa a atentar ainda mais o juízo dos pais, das autoridades todas: ele quer que o ambiente faça o que não fez anteriormente e essa seria a origem da tendência anti-social como sinal de esperança.
As psicoses podem se manifestar na fase adulta também. Vale ressaltar que, para Winnicott, somente o ambiente familiar é o responsável por formar um ser humano que sinta que a vida vale a pena ser vivida. Os problemas psíquicos seriam, portanto, resultados de falhas graves nas etapas iniciais do desenvolvimento. O papel do psicanalista nesse contexto, em que falhas iniciais de grande significado ocorreram na vida do paciente, é o da recriação de um processo inicial da vida, para que o paciente se sinta em um ambiente terapêutico especial e consiga regredir a fases iniciais de dependência, possibilitando que seu desenvolvimento emocional seja, finalmente, completado. Para o analista, é uma situação de muita vulnerabilidade e só se recomenda (segundo Winnicott) que aconteça com psicoterapeutas experientes e já bastante treinados em situações mais comuns de análise.
Para se regressar à fase do desenvolvimento inicial do paciente, o analista fica sendo como se fosse a mãe e nele são projetados dos mais diversos afetos que têm a ver com essa relação. Entretanto, ele não se comportará como tal, mesmo fazendo parte do processo terapêutico, do ponto de vista do analista, que ele se sinta como várias personagens do mundo do paciente e em várias situações. “Lidar bem com isso é que é a arte”, explica a psicanalista.
Ela ainda esclarece que usar Winnicott é aceitar algumas idéias básicas da Psicanálise – já que ele era psicanalista – como a existência do inconsciente, a idéia de transferência, entre outras. Mas, a diferença é que, segundo Winnicott, toda a psicanálise freudiana é baseada na idéia de que o paciente teve um início de vida em que as coisas correram bem o bastante para que, na pior das hipóteses, ele tenha desenvolvido uma neurose clássica – e isso, de acordo com Winnicott, nem sempre é verdade. “A Psicanálise clássica – que é como ele chama – é para pacientes que tiveram um início de vida que os capacitaram a desenvolver o complexo de Édipo. Entretanto, algumas pessoas tiveram, no seu início, condições que dificultaram seu desenvolvimento emocional e necessitariam de outro ambiente.” O sonho, para Winnicott, não tem um papel especial, relevante, como tem para Freud.
A visão de Winnicott em relação às crianças se deve ao fato de ele ter sido pediatra. Durante a Segunda Guerra Mundial, aliás, Winnicott teve grande atuação junto às crianças, pois ele ficou encarregado de acolhê-las fora de Londres – pois havia o temor da cidade ser bombardeada e as pessoas achavam que a as crianças deviam sair dali para poderem preservar o futuro do país. “Ora, justamente quando as crianças foram separadas de seus pais, como é de se supor, mesmo nas melhores condições (o que nem sempre era o caso), essa situação propiciou que aparecessem todos os problemas emocionais – dos quais Winnicott se encarregou.”
ZABALA, Antoni
A Prática Educativa
INTRODUÇÃO
As investigações que os membros do LETPEF vêm realizando têm referenciado algumas obras utilizadas na elaboração de documentos oficiais para o sistema educacional brasileiro, como os PCNs3, as DCNs4 e os RCNs5. Nesse sentido, trabalhos como os de César Coll e Antoni Zabala foram revisados criticamente, a fim de aprofundar estudos sobre a compreensão do papel da Educação Física no contexto escolar.
A resenha que se segue reporta alguns pontos de uma dessas obras1, de acordo com pressupostos norteadores do LETPEF, como o ensino reflexivo, a preocupação com a cidadania, e a contextualização da Educação Física. Assim, relações foram tecidas quanto à Educação Física Escolar, balizadas pela proposta de Zabala.
Quanto aos capítulos analisados, sua sequência pode ser apreendida mais adequadamente se considerarmos que foram textos avulsos sobre temas da prática docente. Por isso, sua organização requereu certas digressões. Acerca das críticas em relação às dimensões do conteúdo, pensamos que sua principal contribuição pode ser uma tentativa de superação da exclusividade procedimental nas aulas de Educação Física.
A PRÁTICA EDUCATIVA: UNIDADES DE ANÁLISE
Buscar a competência em seu ofício é característica de qualquer bom profissional. Zabala elabora um modelo que seria capaz de trazer subsídios para a análise da prática profissional. Como opção, utiliza-se do modelo de interpretação, que se contrapõe àquele em que o professor é um aplicador de fórmulas herdadas da tradição, fundamentando-se no pensamento prático e na capacidade reflexiva do docente. Recomenda-se, assim, uma constante avaliação do trabalho por parte do profissional.
Como encaminhamento para o modelo, utiliza-se de uma perspectiva processual, onde as fases de planejamento, aplicação e avaliação, devem assegurar um sentido integral às variáveis metodológicas que caracterizam as unidades de intervenção pedagógica. Também as condicionantes do contexto educativo, como as pressões sociais, a trajetória profissional dos professores, entre outras, assumem uma posição de relevância. Na Educação Física Escolar, este modelo pode ser entendido como um conjunto de ações que efetivamente revigore e potencialize a prática educativa
A FUNÇÃO SOCIAL DO ENSINO E A CONCEPÇÃO SOBRE OS PROCESSOS DE APRENDIZAGEM: INSTRUMENTOS DE ANÁLISE
A finalidade da escola é promover a formação integral dos alunos, segundo Zabala, que critica as ênfases atribuídas ao aspecto cognitivo. Para ele, é na instituição escolar, através das relações construídas a partir das experiências vividas, que se estabelecem os vínculos e as condições que definem as concepções pessoais sobre si e os demais. A partir dessa posição ideológica acerca da finalidade da educação escolarizada, é conclamada a necessidade de uma reflexão profunda e permanente da condição de cidadania dos alunos, e da sociedade em que vivem.
Sobre os conteúdos da aprendizagem, seus significados são ampliados para além da questão do que ensinar, encontrando sentido na indagação sobre por que ensinar. Deste modo, acabam por envolver os objetivos educacionais, definindo suas ações no âmbito concreto do ambiente de aula.
Esses conteúdos assumem o papel de envolver todas as dimensões da pessoa, caracterizando as seguintes tipologias de aprendizagem: factual e conceitual (o que se deve aprender?); procedimental (o que se deve fazer?); e atitudinal (como se deve ser?). Para a Educação Física Escolar, essa caracterização dos conteúdos parece apontar avanços, na medida em que chama atenção para a dimensão conceitual, bem como, operacionaliza o antigo conceito denominado afetivo (atitudinal), tradicionalmente desenvolvido em nossa área de maneira espontaneísta.
Sobre a concepção de aprendizagem, o autor afirma que não é possível ensinarmos sem nos determos nas referências de como os alunos aprendem, chamando a atenção para as particularidades dos processos de aprendizagem de cada aluno (diversidade). O construtivismo é eleito como concepção metodológica em virtude da validação empírica de uma série de princípios psicopedagógicos: os esquemas de conhecimento; o nível de desenvolvimento e dos conhecimentos prévios, e a aprendizagem significativa. Baseada nessa concepção, a aprendizagem dos conteúdos apresenta características específicas para cada tipologia.
AS SEQÜÊNCIAS DIDÁTICAS E AS SEQÜÊNCIAS DE CONTEÚDO
Zabala explicita que a ordenação articulada das atividades seria o elemento diferenciador das metodologias, e que o primeiro aspecto característico de um método seria o tipo de ordem em que se propõem as atividades. Ressalta que o parcelamento da prática educativa tem certo grau de artificialidade, explicável pela dificuldade em encontrar um sistema interpretativo adequado, que deveria permitir o estudo conjunto de todas as variáveis incidentes nos processos educativos.
A sequência considera a importância das intenções educacionais na definição dos conteúdos de aprendizagem e o papel das atividades que são propostas. Alguns critérios para análise das sequências reportam que os conteúdos de aprendizagem agem explicitando as intenções educativas, podendo abranger as dimensões: conceituais; procedimentais; conceituais e procedimentais; ou conceituais, procedimentais e atitudinais.
Certos questionamentos pareceram-nos relevantes: na sequência há atividades que nos permitam determinar os conhecimentos prévios?; Atividades cujos conteúdos sejam propostos de forma significativa e funcional?; Atividades em que possamos inferir sua adequação ao nível de desenvolvimento de cada aluno?; Atividades que representem um desafio alcançável?; Provoquem um conflito cognitivo e promovam a atividade mental?; Sejam motivadoras em relação à aprendizagem dos novos conteúdos?; Estimulem a autoestima e o autoconceito?; Ajudem o aluno a adquirir habilidades relacionadas com o aprender a aprender, sendo cada vez mais autônomo em suas aprendizagens?
     Em relação às questões, convém expor sua relevância para a Educação Física Escolar no nosso entendimento, salientando que o conflito mental proposto pode ser também de ordem motora – de modo integrado, ao contrário de uma conotação dual que a pergunta do autor permite supor.
Consideramos também uma outra unidade de análise, as sequências de conteúdo, que requer uma interação entre as três dimensões, com ênfase na conceitual, bem como um aumento da complexidade e aprofundamento ao longo das unidades.
AS RELAÇÕES INTERATIVAS EM SALA DE AULA8: O PAPEL DOS PROFESSORES E DOS ALUNOS
Preferimos empregar, entretanto, o termo “ambiente de aula” para designar mais amplamente o espaço em que ocorrem tais relações interativas que caracterizam o processo ensino e aprendizagem, especialmente nas aulas de Educação Física, que quase invariavelmente são ministradas fora das salas.
O autor expõe o valor das relações que se estabelecem entre os professores, os alunos e os conteúdos no processo ensino e aprendizagem. Comenta que essas se sobrepõem às sequências didáticas, visto que o professor e os alunos possuem certo grau de participação nesse processo, diferente do ensino tradicional, caracterizado pela transmissão/recepção e reprodução de conhecimentos. Examina, dentro da concepção construtivista, a natureza dos diferentes conteúdos, o papel dos professores e dos alunos, bem como a relação entre eles no processo, colocando que o professor necessita diversificar as estratégias, propor desafios, comparar, dirigir e estar atento à diversidade dos alunos, o que significa estabelecer uma interação direta com eles.
O professor possui uma série de funções nessas relações interativas: o planejamento e a plasticidade na aplicação desse plano, o que permite uma adaptação às necessidades dos alunos; levar em conta as contribuições dos alunos no início e durante as atividades; auxiliá-los a encontrar sentido no que fazem, comunicando objetivos, levando-os a enxergar os processos e o que se espera deles; estabelecer metas alcançáveis; oferecer ajuda adequada no processo de construção do aluno; promover o estabelecimento de relações com o novo conteúdo apresentado, e exigir dos alunos análise, síntese e avaliação do trabalho; estabelecer um ambiente e relações que facilitem a autoestima e o autoconceito; promover canais de comunicação entre professor/aluno, aluno/aluno; potencializar a autonomia, possibilitando a metacognição; avaliar o aluno conforme sua capacidade e esforço.
Em seguida, aborda a influência dos tipos dos conteúdos procedimentais e atitudinais na estruturação das interações educativas na aula. Nos procedimentais, o professor necessita perceber e criar condições adequadas às necessidades específicas de cada aluno; nos atitudinais, é preciso articular ações formativas, não bastando propor debates e reflexões sobre comportamento cooperativo, tolerância, justiça, respeito mútuo etc.; é preciso viver o clima de solidariedade, tolerância... E trabalhar conteúdos atitudinais é muito difícil, envolvendo em primeiro lugar a contradição entre o que é trabalhado na escola e o sistema social, ou o que é veiculado pela mídia.
Parece que na Educação Física Escolar, por conta da sua especificidade, ainda faltam reflexões e discussões por parte dos professores e estudiosos da área9. Contudo, em relação ao modelo militar vigente anteriormente já houve certos avanços consideráveis no processo das relações interativas.
A ORGANIZAÇÃO SOCIAL DA CLASSE
Antoni Zabala procurou analisar as diferentes formas de organização social dos alunos vivenciadas na escola e sua relação com o processo de aprendizagem. Observou duas características pelas quais esses grupos são tradicionalmente organizados: a heterogeneidade e a homogeneidade, procurando discutir as vantagens e as desvantagens de cada opção e os tipos de conteúdos que elas desenvolvem prioritariamente.
Percebeu que todo tipo de organização grupal dos alunos, assim como todas as atividades a serem programadas/desenvolvidas pela escola e a própria forma de gestão que esta emprega, devem levar em consideração os tipos de aprendizagens que estão proporcionando a seus alunos e os objetivos expressos pela própria escola. Desse modo, alertou para o fato de que inconscientemente a instituição escolar, ao não refletir sobre esses aspectos, pode acabar por desenvolver uma aprendizagem inversa àquilo que apregoa.
Tais considerações apresentam-se bastante úteis aos profissionais da educação, para que reflitam sobre a importância de se organizar o grupo de alunos, levando em consideração o tipo de aprendizagem e conteúdo que esperam desenvolver nestes, percebendo que a organização social da classe tem relação direta com a aprendizagem. O mesmo se aplica à Educação Física que parece não ter atentado, ainda, para a importância de se organizar o grupo de alunos de diferentes maneiras durante as aulas, para que eles consigam aprender os diversos conteúdos.
A ORGANIZAÇÃO DOS CONTEÚDOS
São analisadas as relações e a forma de vincular os diferentes conteúdos de aprendizagem.
Ao longo da história, os conhecimentos foram alocados em disciplinas, em uma lógica da organização curricular. Contudo, nos últimos anos é cada vez mais comum encontrarmos propostas que rompem com a organização por unidades centradas exclusivamente em disciplinas; o autor denominou tais métodos de globalizadores.
Ele defende a organização dos conteúdos nesses métodos, pois os conteúdos de aprendizagem só podem ser considerados relevantes na medida em que desenvolvam nos alunos a capacidade para compreender uma realidade que se manifesta globalmente. No tocante aos métodos globalizadores, o autor descreve as possibilidades dos centros de interesse de Decroly, os métodos de projetos de Kilpatrick, o estudo do meio, e os projetos de trabalhos globais.
No nosso entendimento, a temática de organização dos conteúdos de aprendizagem não poderia ser mais atual e significativa para a educação brasileira de maneira geral, e particularmente para a Educação Física. Os PCNs, nos seus documentos do Ensino Fundamental, dão um papel de destaque para os temas transversais. Daí a importância da compreensão do significado da transversalidade. Por outro lado, as DCNs do Ensino Médio referenciam como princípio básico para este nível a interdisciplinaridade. Portanto, o conhecimento sobre as novas formas de organização é necessário para a compreensão e reflexão destes documentos, e para o encaminhamento de novas propostas de ensino.
OS MATERIAIS CURRICULARES E OUTROS RECURSOS DIDÁTICOS
Materiais curriculares são os instrumentos que proporcionam referências e critérios para tomar decisões: no planejamento, na intervenção direta no processo de ensino/aprendizagem e em sua avaliação. São meios que ajudam os professores a responder aos problemas concretos que as diferentes fases dos processos de planejamento, execução e avaliação lhes apresentam.
Na relação entre os materiais curriculares e a dimensão dos conteúdos, temos: para os conteúdos conceituais, quadro negro, audiovisuais e livros didáticos; para os conteúdos procedimentais, textos, dados estatísticos, revistas, jornais; para os conteúdos atitudinais, vídeos e textos que estimulem o debate. Todos os materiais curriculares utilizados por professores e alunos são veiculadores de mensagens e atuam como transmissores de determinadas visões da sociedade, da história e da cultura, devendo ser analisados a sua dependência ideológica e o modelo de aula a que induzem.
No ensino da Educação Física, constata-se o predomínio das dimensões atitudinais e procedimentais dos conteúdos, não enfatizando a dimensão conceitual e os respectivos materiais curriculares (quadro negro, audiovisuais, livros didático e paradidático).
A AVALIAÇÃO
Realiza-se uma severa crítica à forma como habitualmente é compreendida a avaliação. A pergunta inicial “por que temos que avaliar”, necessária para que se entenda qual deve ser o objeto e o sujeito da avaliação, demora um pouco a ser respondida. A proposta elimina a ideia da avaliação apenas do aluno como sujeito que aprende e propõe também uma avaliação de como o professor ensina. Elabora a ideia de que devemos realizar uma avaliação que seja inicial, reguladora (prefere esse termo ao invés de formativa, por entender que explica melhor as características de adaptação e adequação, ou seja, é capaz de acompanhar o progresso do ensino), final e integradora. Esta divisão é empregada como necessária para se continuar fazendo o que se faz, ou o que se deve fazer de novo, o que é mais uma justificativa para a avaliação, o por quê avaliar.
Em o que avaliar propõe a avaliação de fatos, conceitos, procedimentos e atitudes, chegando a justificar a prova escrita para fatos e conceitos, seja-a do tipo mais rápido ou exaustivo. Uma nota importante diz respeito à observação de que os conceitos podem ser mais bem avaliados quando a expressão verbal é possível, e não apenas a escrita, da mesma forma que vê nas pessoas a necessidade de uma expressão de gestos, citando o exemplo do uso das mãos que os indivíduos fazem para explicar melhor esses conceitos.
Esclarece que os procedimentos só podem ser avaliados enquanto um saber fazer, propondo uma avaliação sistemática em situações naturais ou artificialmente criadas. Afirma que os conteúdos atitudinais implicam na observação das atitudes em diferentes situações e levanta a possibilidade das pessoas não darem o devido valor às atitudes enquanto um conteúdo, pelo fato das mesmas não poderem ser quantificadas. Utiliza a metáfora do médico que não possui instrumentos para medir dor, enjoo ou estresse e, nem por isso deixa de diagnosticar e medicar. Neste ponto, pode-se fazer uma transposição dos objetivos referentes à avaliação de conceitos, procedimentos e atitudes para a Educação Física. Também para esta área é mais fácil a utilização de avaliações sobre conceitos e procedimentos do que sobre as atitudes, mas a observação continua a ser a forma preferida de avaliação para atitudes e procedimentos. Acredita que esta deva ser compartilhada e não tratada como uma filosofia do engano ou do caçador e da caça. Para isto ela precisa ser vista como pertencente a um clima de cooperação e cumplicidade entre professores e alunos.
Por último, deixa dúvidas sobre se as notas ou classificações deveriam ser totalmente públicas, da forma como é atualmente, pois entende que isto esbarra em uma dimensão ética, ou seja, além da dimensão pública existe uma privada e íntima que precisa ser respeitada. Duvida o autor dos efeitos estimulantes desta divulgação da forma como é feita.
     CONSIDERAÇÕES FINAIS
A prática educativa parece ter inúmeras facetas, algumas contempladas por essa obra de Antoni Zabala. Contudo, generalizações do trabalho docente podem incorrer em engodos, pela superficialidade referente ao contexto de atuação de cada professor. Quanto às especificidades contextuais, as considerações do autor pareceram superar essa limitação, pois a obra tratou de princípios.
Não obstante, ponderamos a prática educativa em Educação Física, mesmo que o autor tenha se reportado à prática docente genérica. Essa ampliação do universo de análise ocasionou extrapolações que vão ao encontro de expectativas apontadas na área de Educação Física Escolar.
Tais inferências abrangeram: problematização das vivências, inclusão dos alunos, organização das condições de ensino e aprofundamento significativo e integral dos conteúdos nas três dimensões.
Essa indissociação dos conteúdos parece ser o ponto central para o trabalho dos professores, relacionado com a obra resenhada. Em Educação Física, a superação do tratamento isolado da dimensão procedimental constitui um desafio para a intervenção docente. Por isso, a prática reflexiva e demais componentes da função docente podem ser o direcionamento necessário à escola, integrando os componentes curriculares.

ZABALA, Antoni.

Enfoque Globalizador e Pensamento Complexo: uma proposta para o currículo escolar.
ENFOQUE GLOBALIZADOR – UMA VISÃO INTEGRADORA
- O objeto de estudo do ensino é a realidade: a compreensão da realidade para intervir nela e transformá-la – derivação de critérios para a seleção dos conteúdos escolares e, por conseguinte, o sentido e o papel das diferentes fontes de conhecimento, ou seja, uma aproximação da realidade de caráter multidisciplinar.
- A realidade, e os problemas que a intervenção apresenta são complexos
– a atuação implica sobre estruturas compostas por múltiplas variáveis extremamente inter-relacionadas.
- Necessidade de utilização dos instrumentos de interpretação e de investigação para dar resposta a todas as questões que o seu conhecimento ou intervenção pode provocar. Dada a fragmentação do saber, a maioria dos conhecimentos disciplinares é insuficiente para aprender em todas as dimensões o conhecimento da realidade, mas, apesar desses déficits, tais conhecimentos são os únicos instrumentos rigorosos de que dispomos. É, portanto, necessário possuir esses conhecimentos com o rigor disciplinar, mas denotando suas limitações e buscar sua integração para uma visão mais completa da realidade na aprendizagem.
FASES:
1 - Apresentação dos objetos de estudo me sua complexidade.
2 - Processo de análise: identificação e explicação das diferentes questões que o conhecimento coloca e a intervenção na realidade.
3 - Delimitação do objeto de estudo.
4 - Identificação dos instrumentos conceituais e metodológicos que podem ajudar-nos a dar respostas aos problemas colocados.
5 - Utilização do saber disciplinar ou dos saberes disciplinares para chegar a um conhecimento que é parcial.
6 - Identificação das diferentes contribuições e reconstrução.
7 - Visão global e ampliada – retorno ao ponto de partida, à realidade que foi objeto de
conhecimento.
QUATRO MÉTODOS GLOBALIZADOS
CENTROS DE INTERESSE – Decroly – partem de um núcleo temático motivador para os alunos e, seguindo os processos de observação, associação e expressão, integram conteúdos de diferentes áreas de conhecimento.
MÉTODO DE PROJETOS – Kilpatrick – elaboração de algum objeto ou na confecção de uma montagem (audiovisual, jornal, etc.).
INVESTIGAÇÃO DO MEIO – tenta construir o conhecimento através da sequência do método científico (problemas, hipóteses, confirmação).
PROJETOS DE TRABALHOS GLOBAIS – objetivo de reconhecer um tema que os alunos escolheram, propõem que é preciso elaborar um dossiê ou uma monografia como resultado de uma pesquisa pessoal ou de grupo.

MIGUEL ZABALZA

Diários de Aula: Um Instrumento de Pesquisa e Desenvolvimento
  Registrar = Escrever sobre a prática, pensar refletir sobre cada decisão que for ou será tomada, permitindo aprimorar o trabalho diário e adequá-lo com frequência ás necessidades dos alunos.
  Todo professor deve colocar suas idéias e reflexões no papel, para aumentar a possibilidade de alcançar seus objetivos.
  Existem várias formas de registrar, segue alguma delas:
  Planejamento: Dotado de atividades que podem ser: Atividades Permanentes, Sequência Didática ou Projeto Didático.
  Registros de Classe: Notas, Pautas de Observação e Diários.
  Avaliação: Relatórios Individuais e Coletivos.
  PLANEJAMENTO: O QUE É?
  É colocar as idéias da aula no papel, deverá ser feito para antecipar o que se pretende alcançar em sala de aula e a forma com que será desenvolvida a prática de ensino.
Ao final, todo seu planejamento deverá ser observado e avaliado.
  Perguntas como: - A organização da sala, colaborou ou não para atingir os objetivos propostos?
  Dentro do Planejamento deverão existir algumas atividades:
Atividade Permanente = Trabalho Didático realizado regularmente (diária, semanal ou quinzenal).
Exs: Ler para os alunos, Rodas de Conversa ou uma Produção de Pinturas.
Objetivos: Familiarizar a turma com um conteúdo, Formar hábitos (Ao fazer as leituras diárias por exemplo as crianças aprendem sobre a linguagem da escrita e desenvolvem comportamentos leitores).
Como Organizar? Prever objetivos, conteúdos, duração da atividade, materiais necessários e como será feita a avaliação.
Lembre-se Realizar atividades permanentes não significa fazer sempre a mesma coisa.
A proposta deve ser empregada com regularidade durante o ano ou um semestre e oferecer novos desafios (rodas de leitura em que os livros lidos pelo professor, se tornem mais difíceis)
Sequência Didática = Série de atividades envolvendo um mesmo conteúdo com aumento do grau de dificuldade, planejada para possibilitar o desenvolvimento da próxima.
Objetivo: Ensinar conteúdos que exijam tempo para aprender e aprofundamento gradual.
Como Organizar? Ao planejar, deverá prever a ordem das atividades, objetivos, conteúdos, materiais, etapas do desenvolvimento, duração e a maneira de avaliar.
Projeto Didático = Conjunto de Ações para elaboração de um produto final.
Os alunos deverão participar do planejamento do Projeto.
Objetivos: Reunir conteúdos abrangentes, atingindo propósitos didáticos e sociais.
Como Organizar? Prever os momentos do Planejamento e discussão em grupo e os de trabalhos individuais.
Colocar justificativas, aprendizagens desejadas, etapas do desenvolvimento, produção, maneiras de divulgar o produto final, duração e avaliação final.
Como executar? Duração variada (2 meses) ou +
Não Esqueça!  Ao realizar um projeto, não abandone as atividades permanentes e as sequências didáticas.
REGISTROS DE CLASSE O QUE É?  
Podem ser: Notas, Pautas de Observação e Diários.
Objetivos: Ajudam a acompanhar o desenvolvimento dos alunos e são uma fonte de aprendizado para o professor.
Notas = Anotações curtas feitas nas aulas.
Exemplos: Frases ou comentários dos alunos, perguntas, dúvidas, conteúdos a serem pesquisados, informações para checagem etc.
Objetivos: Lembrar momentos importantes e não perder dados significativos do processo ensino aprendizagem.
Organização: Deixar uma prancheta, sulfite e caneta sempre a disposição.
Importância: Útil para base de planejamentos futuros.
Pautas de Observação = Tabelas de duas ou mais entradas, nas quais aparecem o nome dos alunos e os conteúdos didáticos ou atitudinais a ser observados.
Objetivo: Acompanhar a evolução do aprendizado de 1 ou + conteúdos ao longo do ano.
Organização: Tabular os nomes e os aspectos a serem analisados.
Legendar a tabela com conceitos cores referentes a um estágio de aprendizagem.
Preencher durante ou logo após a  aula.
Como usar? De tempos em tempos é preciso fazer a análise e comparação das tabelas.
Quanto maior a frequência com que elas forem preenchidas, ,mais informações se tem sobre o avanço de cada estudante e mais rápido é possível fazer intervenções.
Diário de Aula = Narrativas sobre o que aconteceu na sala de aula, tanto em relação a comentários e produções dos alunos como em relação a si mesmo, (impressões e reflexões).
Objetivo: Refletir sobre o planejamento e sua adequação ás necessidades dos alunos.
Como usar? Uma das principais utilidades é o compartilhamento com o Coordenador Pedagógico, pois permite a reavaliação da prática pedagógica, possibilitando futuro planejamento e avaliação.
Avaliação =  Registro onde reúnem diversas atividades produzidas pelos alunos, no qual contribui para relembrar as vivências em sala e transformar em relatório.
Requer dedicação!
Relatório = É a avaliação do desempenho de uma criança ou do grupo durante um determinado período.
Objetivo: Documentar o desempenho dos estudantes para comunicar ás famílias as aprendizagens.
Organização: Utilizar das pautas, notas, diários para elaborar relatórios.
Como usar? Fica a critério de cada escola, bimestral, trimestral ou semestralmente.
Magistério 2012 - fdrh


















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